PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA

O AMOR FAZ A DIFERENÇA



11 de março de 2022

10º dia da Quaresma

EVANGELHO


Mt 5,20-26

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 20“Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus.
21Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não matarás! Quem matar será condenado pelo tribunal’. 22Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo; quem disser ao seu irmão: ‘Patife!’ será condenado pelo tribunal; quem chamar o irmão de ‘tolo’ será condenado ao fogo do inferno.
23Portanto, quando tu estiveres levando a tua oferta para o altar, e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24deixa a tua oferta ali diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão. Só então vai apresentar a tua oferta.
25Procura reconciliar-te com teu adversário, enquanto caminha contigo para o tribunal. Senão o adversário te entregará ao juiz, o juiz te entregará ao oficial de justiça, e tu serás jogado na prisão. 26Em verdade eu te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo”.

MEDITAÇÃO


Se a justiça de vocês não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino dos Céus (Mt 5, 20)

Temos que começar procurando entender bem o que é essa ‘justiça’ de que Jesus está falando. “Se a justiça de vocês não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus...”. “Justiça” aqui vem de justificar, isto é, de alguém ser considerado justo, abençoado. De São José, por exemplo, se diz, no evangelho, que ele era um homem justo. “Justo” aqui quer dizer praticante da Lei, o que fazia tudo certinho segundo a Lei de Moisés explicada pelos mestres da Lei.

Então, deu para entender? “Se a justiça de vocês não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus...”. Jesus está falando da forma como os fariseus e os mestres da Lei julgavam que uma pessoa estava abençoada, perdoada, justificada.

Os fariseus e seus mestres procuravam cumprir bem a Lei de Moisés. Assim, eles se achavam justos, isto é, santos, abençoados por Deus. Para eles, então, a bênção de Deus seria um direito adquirido por sua fidelidade na prática da Lei. Jesus não pensava assim. E ensinou bem diferente. Por mais que eu me esforce e cumpra todas as normas da Lei de Deus, eu não sou justificado porque sou bom e fiel. O que me salvou mesmo foi o amor de Jesus que deu sua vida por mim, na cruz. Ninguém adquire direito à bênção de Deus. Ele nos abençoa, porque nos ama, não porque temos crédito.

São Paulo explicou que não somos justificados pelas obras da Lei (Gl 2, 16). Não se fica santo simplesmente porque se pratica a Lei de Deus. A justificação, o perdão, a vida nova são obras de Deus em nós (Rm 8, 33). É ele quem nos santifica, por sua graça. É pela fé que temos acesso a essa bênção do Senhor, a salvação.

Os fariseus e mestres da Lei se julgavam justificados (tornados justos) porque cumpriam bem a Lei de Moisés. Nós reconhecemos que o que nos justifica, nos torna dignos, santos, é o amor de Deus que nos alcançou em Jesus Cristo. É Cristo quem nos justifica, por sua morte redentora. Fomos justificados pelo seu sangue, diz a carta aos Romanos (Rm 5, 9).

Cumprir bem a Lei de Deus é nosso dever. Mas, não é isso que nos justifica, que nos salva. E Jesus quer que, pela nossa condição de justificados por seu amor na cruz, sejamos capazes de fazer mais do que a Lei de Moisés nos manda. Não apenas fazer o que a letra da Lei determina, mas, pela experiência do amor de Deus e pela caridade, ir mais adiante, fazer bem mais. Não é só não matar, o quinto mandamento da Lei de Deus. É mais do que isso. É também não desconsiderar o outro, não discriminá-lo, não excluí-lo.


Guardando a mensagem

No Sermão da Montanha, está como Jesus explicou a Lei e como devemos realizá-la. Devemos seguir a Lei de Deus com a LIBERDADE que ele nos deu. É na liberdade que escolhemos o bem, a verdade e rejeitamos o mal. Deus nos fez livres para escolher o bem. Devemos seguir a Lei de Deus com a SABEDORIA que ele nos dá. Não a sabedoria do mundo, nem a sabedoria dos poderosos. A Sabedoria de Deus. Ele preparou coisas maravilhosas para nós, um mistério que só o Espírito Santo nos revela. Devemos seguir a Lei de Deus com CARIDADE para os com irmãos. O que está escrito na Lei? Não matarás. Perfeito. Mas, não matar quer dizer também não odiar o irmão, não desqualificá-lo, não humilhá-lo. A caridade é uma das marcas da nossa vivência da Lei.

Se a justiça de vocês não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino dos Céus (Mt 5, 20)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
disseste que quem praticar e ensinar os mandamentos de Deus, este é grande no Reino. Praticar e ensinar os outros a fazerem o mesmo – é essa graça que te pedimos hoje. Queremos nos empenhar em conhecer sempre mais a vontade do Pai, manifesta de maneira especial nas Escrituras. Igualmente, precisamos fugir do jeito fariseu de ler e interpretar a Palavra. Conforme, nos alertaste, eles sobrecarregavam o povo de obrigações, aferravam-se a mandamentos humanos e usavam seu conhecimento como fonte de prestígio para si mesmos. Ajuda-nos, Senhor, pela assistência do teu santo Espírito, a conhecer a vontade de Deus e realizá-la em nossas vidas. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a Palavra

No caderno espiritual, faça a lista dos 10 mandamentos da Lei de Deus, como aprendemos da Igreja. Se precisar de ajuda, recorra à lista que estou deixando no final do texto da Meditação.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb.


MANDAMENTOS DA LEI DE DEUS


1. Amar a Deus sobre todas as coisas;
2. Não tomar seu santo nome em vão;
3. Guardar os domingos e dias santos de preceito;
4. Honrar pai e mãe;
5. Não matar;
6. Não pecar contra a castidade;
7. Não furtar
8. Não levantar falso testemunho;
9. Não desejar a mulher do próximo;
10. Não cobiçar as coisas alheias.



O JEITO CERTO DE SE PEDIR A DEUS



10 de março de 2022

9º dia da Quaresma

EVANGELHO


Mt 7,7-12

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7“Pedi e vos será dado! Procurai e achareis! Batei e a porta vos será aberta! 8Pois todo aquele que pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate a porta será aberta.
9Quem de vós dá ao filho uma pedra, quando ele pede um pão? 10Ou lhe dá uma cobra, quando ele pede um peixe? 11Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe pedirem! 12Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. Nisto consiste a Lei e os Profetas”.

MEDITAÇÃO


Peçam e lhes será dado! Procurem e acharão! Batam e a porta lhes será aberta! (Mt 7, 7)

E a quaresma vai avançando. Já estamos no nono dia, o nono passo da escada de 40 degraus. Quando começamos esta caminhada, ouvimos três recomendações: a oração, a penitência e a caridade. A cada dia, a Palavra vai nos explicando melhor essas três práticas. Ultimamente, ouvimos Jesus nos indicando uma escola de oração, na prece do Pai Nosso. Uma prece com sete pedidos, três para a glória de Deus e quatro para o nosso bem.

Escutemos hoje, o próprio Senhor nos indicando a oração de súplica: “Peçam e lhes será dado! Procurem e acharão! Batam e a porta lhes será aberta!”. Bom, em matéria de pedir, nós já somos bem treinados, não é verdade? Mas, podemos aprender muito mais com o Senhor.

Em primeiro lugar, pedimos a quem? Eu queria muito ouvir sua resposta, pedir a quem? A Deus, claro. Melhor dizendo, ao Pai. A oração de Jesus e a oração dos seus seguidores dirige-se, em primeiro lugar, ao Pai. Ele é a fonte de todo o bem, ele é o Criador e Pai de todos nós. Claro, também pedimos a Jesus.

E por que o Pai nos atende? Porque é ele bom, primeira resposta. Jesus comentou: “vocês, que não são lá essas coisas, sabem dar coisas boas aos seus filhos, quanto mais o Pai dá coisas boas a quem lhe pede”. Por que o Pai nos atende? Porque estamos unidos a Jesus, o seu filho unigênito, segunda resposta. Desde o batismo, temos parte com ele, somos membros do seu corpo. Olhando para nós, o Pai nos reconhece seus filhos, unidos a Cristo, em comunhão com ele. Por que o Pai nos atende? Porque vivemos na fé, terceira resposta. “A fé é uma adesão filial a Deus, acima daquilo que sentimos e compreendemos” (Catecismo da Igreja Católica 2608). Pela fé, abrimos as portas de nossa vida para a ação de Deus.

E o que pedimos a Deus? A primeira coisa que pedimos ao Senhor, porque o amamos como nosso Deus e Pai, é a sua honra, a sua glória: “venha a nós o vosso Reino”. Em primeiro lugar, queremos que Deus seja amado, respeitado, obedecido. Esse é o primeiro desejo de um filho que venceu o impulso egoísta de apenas querer tirar proveito dos seus pais. A segunda coisa que pedimos ao Senhor, reconhecendo nossa fragilidade, são os bens necessários para a nossa vida e nossa realização: o trabalho, a saúde, a segurança, o perdão, a superação das adversidades. A terceira coisa que pedimos a Deus, como filhos na comunhão dos irmãos, é o bem dos outros, sobretudo dos mais frágeis e desprotegidos.

E como pedimos a Deus? Com a confiança de filhos amados. Com a humildade de quem reconhece não ter merecimentos, mas contar unicamente com a misericórdia e o amor do seu Pai. Com a perseverança da fé, sabendo que a provação purifica o coração. E em nome de Cristo, certos do que ele nos disse: “E o que vocês pedirem em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho” (Jo 14,13).


Guardando a mensagem

Jesus nos ensina a rezar. Hoje, nos estimula a fazer oração de súplica, a pedir, a bater, a procurar. Nós nos dirigimos, em súplica, ao Pai, mas também a Jesus. O Pai nos atende porque ele é bom, porque estamos em comunhão com Cristo, porque temos fé. Pedimos a Deus, em primeiro lugar, a sua glória; e depois, o nosso próprio bem e o bem dos outros, intercedendo em favor de suas necessidades. Pedimos, com confiança, com humildade, com perseverança e em nome de Cristo.

Peçam e lhes será dado! Procurem e acharão! Batam e a porta lhes será aberta! (Mt 7, 7)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
aprendemos a rezar, contigo, como os primeiros discípulos. Aprendemos com teus ensinamentos e, sobretudo, com o teu modo de rezar. Aprendeste com Maria e com José, e com tua comunidade de Nazaré, a rezar com o livro santo da Palavra de Deus. De tua comunhão com o Pai, brotava uma oração filial comprometida com a glória de Deus e a felicidade e salvação dos teus irmãos. Em todos os momentos de decisão, te encontramos rezando no Monte, deixando-te conduzir pelo Santo Espírito. Obrigado, Senhor, pelas lições de tua vida e de tuas palavras sobre a oração. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Repita, hoje, muitas vezes, essa prece a Jesus, como os discípulos: “Senhor, ensina-nos a orar!” (Lc 11,1).

Como todas as quintas-feiras, hoje, celebramos a Santa Missa às 11 horas, com transmissão pelo rádio e pelas redes sociais. Para colocar sua intenção, use o formulário que está no final do texto da Meditação. Siga o link que estou lhe enviando.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb


A GRAÇA DA CONVERSÃO




09 de março de 2022

8º dia da Quaresma

EVANGELHO


Lc 11,29-32

Naquele tempo, 29quando as multidões se reuniram em grande quantidade, Jesus começou a dizer: “Esta geração é uma geração má. Ela busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas.
30Com efeito, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também será o Filho do Homem para esta geração. 31No dia do julgamento, a rainha do Sul se levantará juntamente com os homens desta geração, e os condenará. Porque ela veio de uma terra distante para ouvir a sabedoria de Salomão. E aqui está quem é maior que Salomão.
32No dia do julgamento, os ninivitas se levantarão juntamente com esta geração e a condenarão. Porque eles se converteram quando ouviram a pregação de Jonas. E aqui está quem é maior do que Jonas”.

MEDITAÇÃO


No dia do julgamento, os ninivitas se levantarão juntamente com esta geração e a condenarão (Lc 11, 32)

Parece que Jesus andava meio decepcionado... A pregação do Reino bem merecia uma acolhida mais entusiasta. Sua palavra, seus milagres... tanto esforço, tanto compromisso da parte dele e, ao que parece, pouco resultado. Certamente, por isso, ele estava dizendo: “Esta geração é uma geração má. Ela busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas”.

Jonas foi um sinal para o povo de Nínive. Ele, a mando de Deus, pregou por três dias na grande cidade, anunciando o castigo de Deus sobre todo aquele povo. Castigo por conta de sua impenitência, de sua vida de maldade e violência. E o povo de Nínive, diante daquela pregação do profeta, tomou consciência de sua condição e implorou a misericórdia de Deus. Acolheu a pregação de Jonas como um convite urgente à penitência e à conversão. Do pequeno ao grande, do pobre ao rei, todos se sentaram em cinzas e pediram perdão de seus pecados. Jonas foi um sinal para o povo de Nínive. Uma convocação à conversão. Mas, também um sinal da misericórdia de Deus, pois Deus, tendo desistido do seu intento de destruir tudo, mostrou a sua misericórdia, dando o seu perdão.

Esse sinal de Jonas para o povo do seu tempo estava sendo reeditado na presença de Jesus, na sua pregação. Como Jonas foi um sinal para o povo de Nínive, assim Jesus seria para o povo do seu tempo. Jonas pregou por três dias, cobrindo toda aquela cidade pagã. Jesus pregou por três anos, percorrendo todo o país. Ele também trazia um convite urgente à conversão. Ele começou sua missão, convidando todos a acolherem o Reino que estava se aproximando: convertam-se e creiam no evangelho. O convite à conversão, na verdade, é um convite à acolhida da misericórdia de Deus.

Jesus estava lembrando que o povo de Nínive recebeu melhor o profeta Jonas do que o seu povo a ele. Converteu-se à pregação de Jonas. E ali, Jesus não estava encontrando a mesma acolhida, nem a mesma disposição para a conversão. O povo de Nínive iria ser juiz daquele povo do tempo de Jesus. E iria condená-lo. E quem estava ali anunciando a mensagem de Deus para eles não era simplesmente alguém como Jonas. Como ele mesmo disse, ali estava alguém maior que Jonas, o próprio filho de Deus.


Guardando a mensagem

O povo pagão de Nínive converteu-se à pregação de Jonas. O povo de Deus do tempo de Jesus respondeu com indiferença à sua pregação. E um bom grupo reagiu com violência à boa notícia anunciada por ele. A pregação do Evangelho, que anuncia o Reino de Deus, continua hoje e chega até você e à sua família. Como é que vocês estão reagindo a esse anúncio que pede conversão e acolhida do amor de Deus? Como o povo de Nínive? Como o povo do tempo de Jesus?

No dia do julgamento, os ninivitas se levantarão juntamente com esta geração e a condenarão (Lc 11, 32)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
essa página do Evangelho vem reforçar nossa caminhada cristã, que é um permanente convite à conversão, à acolhida da vida nova que tu nos alcançaste em tua cruz. Concede-nos, Senhor, que vençamos a indiferença, que é atitude típica do nosso tempo: o não ligar, o deixar pra lá, o não dar importância. Que a tua Palavra encontre abrigo em nossos corações e em nossas vidas, nos animando num processo de verdadeira conversão. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

A conversão é a nossa resposta à Palavra de Deus. A conversão é obra nossa e do Espírito Santo de Deus em nós. Assim, hoje, peça ao Santo Espírito, mais de uma vez, a graça da conversão.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

INSTRUÇÃO SOBRE A ORAÇÃO




08 de março de 2022

7º dia da Quaresma

EVANGELHO


Mt 6,7-15

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7“Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras.
8Não sejais como eles, pois vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que vós o peçais. 9Vós deveis rezar assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; 10venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. 11O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. 12Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, 13e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.
14De fato, se vós perdoardes aos homens as faltas que eles cometeram, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. 15Mas, se vós não perdoardes aos homens, vosso Pai também não perdoará as faltas que vós cometestes”.

MEDITAÇÃO


Vocês devem rezar assim (Mt 6, 9)

Nossa caminhada quaresmal chega hoje ao sétimo dia. E o tema para nosso crescimento hoje é a Oração. O Pai Nosso é mais do que uma oração. É uma escola de oração. É como um discípulo ou uma discípula deve rezar sempre. No Pai Nosso, podemos encontrar as quatro características da oração dos discípulos do Senhor.

A primeira característica é que é feita com INTIMIDADE e CONFIANÇA EM DEUS. Não se trata de uma audiência de um servo com seu patrão. Trata-se do diálogo amoroso entre pai e filho ou filha. Por isso, Jesus ensina a invocar a Deus como “pai”, “Pai Nosso”. Esse modo de falar com Deus era inteiramente novo na história do seu povo. Falar com Deus com intimidade e confiança. No sermão da montanha, Jesus chamou a atenção dos discípulos para não imitarem os fariseus, nem os pagãos. Em contraposição ao exibicionismo dos fariseus e mestres de lei, Jesus os orientou a proceder como um filho que conversa com seu pai ou sua mãe, a portas fechadas no seu quarto. Nunca imitar os pagãos nesse assunto da oração, recomendou Jesus. Eles recorrem à força de muitas palavras para serem ouvidos. O Pai já está sabendo de nossas necessidades antes que abramos a boca. INTIMIDADE E CONFIANÇA EM DEUS. É a primeira característica.

A segunda característica da oração cristã, sublinhada no Pai Nosso, é que ela busca, em primeiro lugar, A GLÓRIA DE DEUS. É quando a oração vira louvor, adoração. Os primeiros pedidos do Pai Nosso, no evangelho de São Mateus, referem-se a Deus, buscando a sua honra e a sua glória. “Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”. São três pedidos, todos dirigidos à glória de Deus: a santificação do seu nome, a vinda do seu Reino, a realização de sua vontade. Buscar, em primeiro lugar, a GLÓRIA DE DEUS. É a segunda característica.

A terceira característica da oração cristã é o pedido a Deus pelo NOSSO BEM temporal e espiritual. É o que nós precisamos para viver com dignidade e em santidade. No Pai Nosso, são quatro os pedidos em nosso favor. “O pão nosso de cada dia, nos dai hoje. Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”. O pão de cada dia, o perdão dos pecados, a vitória sobre a tentação e a libertação do mal. O ‘pão de cada dia’ compreende o emprego, o trabalho, o alimento, a segurança... São as necessidades de nossa sobrevivência. Mas, nem só de pão vive o homem. Também precisamos do perdão dos pecados e da restauração da vida, a partir da conversão e do crescimento do homem novo. Igualmente, precisamos da vitória sobre a tentação e a libertação do mal. A BUSCA DO NOSSO BEM é a terceira característica.

A quarta característica da oração cristã é o COMPROMISSO. Nos três primeiros pedidos do Pai Nosso, desejando a glória de Deus, na verdade estamos nos comprometendo em santificar o seu nome, acolher o seu Reino, realizar a sua vontade. Nos quatro pedidos em nosso favor, não estamos delegando tudo a Deus, para ficar de braços cruzados esperando ele agir. Reconhecendo a mão de Deus em nossa vida, estamos nos comprometendo a ganhar o pão de cada dia com o nosso trabalho, a nos esforçar no caminho da conversão e do perdão aos nossos agressores, a fugir das ocasiões de pecado e a lutar contra o mal. A oração nos compromete. COMPROMISSO é a quarta característica.


Guardando a mensagem

Em nossa caminhada quaresmal, somos hoje instruídos por Jesus sobre a Oração. Ele ensinou o Pai Nosso, uma verdadeira escola de oração. Nele, encontramos as quatro características da oração dos discípulos do Senhor: intimidade e confiança em Deus, busca de sua glória, busca do nosso bem, e o compromisso em realizar a sua vontade.

Vocês devem rezar assim (Mt 6, 9)

Rezando a palavra

Rezemos como Jesus nos ensinou:

Pai nosso que estás nos céus,
santificado seja o Vosso nome.
Venha a nós o Vosso Reino.
Seja feita a Vossa vontade,
assim na terra como no Céu.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje.
Perdoai as nossas ofensas
assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.
E não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do mal.

Amém.

Vivendo a palavra

A dica de hoje está evidente: rezar o PAI NOSSO, bem rezado. Eu sei, eu sei que você já reza bem. Mas, pode rezá-lo ainda melhor. Reze com atenção ao que está dizendo. Reze deixando espaço para o Espírito Santo rezar em você.

Nossa homenagem, hoje, às mulheres pela passagem do Dia Internacional da Mulher, com o tema “Igualdade de gênero hoje para um amanhã sustentável” (ONU). Fiquemos com as palavras do Papa Francisco na Encíclica “Fratelli Tutti” (n.23): “A organização das sociedades em todo o mundo ainda está longe de refletir claramente que as mulheres têm exatamente a mesma dignidade e direitos que os homens. É um fato que duplamente pobres são as mulheres que sofrem de situações de exclusão, maus tratos e violência, pois muitas vezes se encontram com menos oportunidades de defender seus direitos”.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

NÃO TE VIMOS COM FOME




07 de março de 2022

6º dia da Quaresma

EVANGELHO


Mt 25,31-46

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 31“Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. 32Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. 33E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. 34Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! 35Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; 36eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’. 37Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Com sede e te demos de beber? 38Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? 39Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?’ 40Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!’ 41Depois o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. 42Pois eu estava com fome e não me destes de comer; eu estava com sede e não me destes de beber; 43eu era estrangeiro e não me recebestes em casa; eu estava nu e não me vestistes; eu estava doente e na prisão e não fostes me visitar’. 44E responderão também eles: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome, ou com sede, como estrangeiro, ou nu, doente ou preso, e não te servimos?’ 45Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes!’ 46Portanto, estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna”.


MEDITAÇÃO


Senhor, quando foi que te vimos com fome ou com sede, como estrangeiro ou nu, doente ou preso, e não te servimos? (Mt 25, 44)

Estamos fazendo, juntos, o caminho da Quaresma. Já estamos no sexto dia de nossa caminhada. O foco de hoje está no serviço da caridade, uma das áreas de atenção neste tempo de penitência.

Ontem, meditamos sobre as tentações. Uma das tentações de Jesus, e nossa também, é a do poder opressor. O diabo disse que estava no comando dos reinos do mundo e que passaria tudo pra Jesus, contanto que ele o adorasse. Adorá-lo seria trair Deus, trocar Deus pelo diabo. A resposta de Jesus foi: “Adorarás o Senhor teu Deus e só a ele servirás”. Veja como aí aparece serviço. “Só a ele servirás”. Jesus definiu a sua missão como serviço. “Eu não vim para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate de muitos”. Os seus seguidores participarão do seu Reino, na medida em que forem servidores, como ele.

No evangelho de hoje, aparece claramente este tema do serviço, da caridade. Em Mateus, capítulo 25, Jesus fala de si mesmo como o rei pastor que, no final da história, reúne todos os povos, separando as ovelhas dos cabritos. As ovelhas irão para a vida eterna, os cabritos irão para o castigo eterno. O critério do juízo é muito simples e prático: você ter servido aos necessitados, mesmo sem se dar conta de que era a Jesus que estava servindo. Só isso. Se você amou a Jesus, servindo os irmãos em suas necessidades, você tem acesso ao Reino preparado pelo Pai desde que o mundo começou. “Venham benditos do meu Pai!” Se não amou Jesus nos irmãos sofredores, o final é triste. “Afastem-se de mim, malditos!”.

Jesus faz uma lista de seis tipos de necessitados: o faminto, o sedento, o estrangeiro, o nu, o doente e o preso. É uma lista simbólica de todos os sofredores. Estranhamente não é uma lista de sete, como se podia esperar, para ser uma obra perfeita. Acho que a resposta é muito simples: o sétimo é o próprio Jesus.

O discípulo é um imitador do Mestre. Jesus, em sua missão redentora entre nós, foi um servidor. Para não ficar qualquer margem de dúvida, no final, ele lavou os pés dos discípulos. Nossa avaliação, diante de Deus, será sobre nossa imitação de Jesus: se servimos aos irmãos necessitados, como Jesus que, cheio de compaixão, aproximou-se dos pobres, dos enfermos, dos oprimidos como servidor.


Guardando a mensagem

Esta página do evangelho é um ensinamento precioso sobre o serviço, sobre a caridade, mas tem uma grande novidade. Já sabíamos que o amor ao pobre, ao necessitado e ao sofredor se realiza com ações, com compromisso, com a construção de uma sociedade inclusiva, com respeito pela dignidade humana de cada um, de cada uma. E Jesus acrescentou uma grande novidade: No amor aos “irmãos mais pequeninos”, como ele os chamava, está-se amando, servindo e honrando a ele mesmo. Jesus se sente defendido, protegido, promovido, amado quando fazemos isso aos sofredores. Ao servir os pequeninos, estamos imitando Jesus e mostrando nosso amor por ele. A Campanha da Fraternidade é uma escola quaresmal de caridade. Com a Campanha deste ano, por exemplo, podemos repensar nossos compromissos com a educação. Pela educação, garantimos o acesso a uma vida digna, útil, consciente, cidadã. 

Senhor, quando foi que te vimos com fome ou com sede, como estrangeiro ou nu, doente ou preso, e não te servimos? (Mt 25, 44)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
ajudar os pobres até que ajudamos. Somos todos sensíveis às campanhas de solidariedade, à esmola, ao socorro aos humilhados neste mundo. Ajudar os pobres não é tão difícil. Amar os pobres, como tu o fizeste, aí já é mais difícil. Difícil, porque amar é reconhecer a grandeza daquela pessoa desfigurada pela doença, pela droga, pelo desamparo; porque amar é engajamento na conquista dos seus direitos, no compromisso cidadão por uma sociedade justa e sem violência. Amar é comprometer-se com o outro, é entrar na comunhão com ele. Aí é bem mais difícil. Dá-nos, Senhor, que nesta quaresma, passemos de “ajudar os pobres” a “amar os pobres”. Que a nossa preocupação com o coronavírus e com a dengue com a pandemia, a guerra, a educação seja expressa com atitudes, cuidados, ações preocupadas com o bem de todos, especialmente dos mais frágeis e desprotegidos. Seja bendito o teu santo nome. hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Se você ainda não tem o seu caderno espiritual, adquira-o. Não é nada de muito especial. Qualquer agenda ou caderno serve. É um lugarzinho onde você possa ir anotando as inspirações que o Senhor lhe der e os compromissos de crescimento que você vai assumindo. No seu caderno, reproduza a lista dos necessitados que o evangelho repete quatro vezes hoje.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

O DOMINGO DAS TENTAÇÕES



06 de março de 2022

1º Domingo da Quaresma

EVANGELHO


Lc 4,1-13

Naquele tempo, 1Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão, e, no deserto, ele era guiado pelo Espírito. 2Ali foi tentado pelo diabo durante quarenta dias. Não comeu nada naqueles dias e, depois disso, sentiu fome. 3O diabo disse, então, a Jesus: “Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se mude em pão”. 4Jesus respondeu: “A Escritura diz: ‘Não só de pão vive o homem’”
5O diabo levou Jesus para o alto, mostrou-lhe por um instante todos os reinos do mundo 6e lhe disse: “Eu te darei todo este poder e toda a sua glória, porque tudo isto foi entregue a mim e posso dá-lo a quem quiser. 7Portanto, se te prostrares diante de mim em adoração, tudo isso será teu”.
8Jesus respondeu: “A Escritura diz: ‘Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás’”.
9Depois o diabo levou Jesus a Jerusalém, colocou-o sobre a parte mais alta do Templo e lhe disse: “Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo! 10Porque a Escritura diz: ‘Deus ordenará aos seus anjos a teu respeito, que te guardem com cuidado!’ 11E mais ainda: ‘Eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’”.
12Jesus, porém, respondeu: “A Escritura diz: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’”.
13Terminada toda a tentação, o diabo afastou-se de Jesus, para retornar no tempo oportuno.


MEDITAÇÃO


Terminada toda a tentação, o diabo afastou-se de Jesus, para retornar no tempo oportuno (Lc 4, 13)

Eu começo bendizendo a Deus por você estar escutando essa palavra, neste primeiro domingo da Quaresma. Louvo a Deus por seu esforço e a ele rogo que lhe dê perseverança neste caminho de quarenta dias de retiro espiritual do povo cristão, em direção à Páscoa do Senhor. O número quarenta nos recorda um tempo de provação, o tempo do povo de Israel peregrinando no deserto, preparando–se para entrar na terra prometida. Aliás, nossa vida toda é como essa peregrinação, cheia de provas e provações.

O evangelista Lucas resume, hoje, todo o caminho de Jesus, com todas as suas provas ou tentações. Ele nos conta que, durante quarenta dias, Jesus esteve no deserto e foi tentado pelo diabo. E, mais do que isso, ele nos diz que Jesus venceu todas as tentações.

Por trás do relato do evangelho, está a história do povo de Deus, palco de tentações, onde o povo de Deus foi infiel. Ao apresentar sua oferta dos primeiros frutos do trabalho no Templo, os fieis confessavam, agradecidos, que Deus os tinha libertado da escravidão no Egito e os tinha trazido pelo deserto para a terra em que habitavam. É o que lemos no livro do Deuteronômio. O deserto foi um lugar de tentação. Em certo momento, instigado pela fome, o povo se revoltou contra Deus, preferindo sua condição anterior de escravo no Egito, mas de barriga cheia. Jesus passou por essa situação na primeira tentação. Olha o tinhoso: “Para que continuar com fome? Transforme a pedra em pão!”. Desconsiderar a encarnação, o caminho humano e suado para resolver os problemas. “Não, Anjo Decaído. Não só de pão vive o homem”, lembrou Jesus. A liberdade tem seu preço.

Quando Israel entrou na terra da promessa, começou a encantar-se com os reinos vizinhos e copiar seus costumes, imitar a desigualdade social e a exploração desses impérios e adorar os seus deuses. Jesus passou por essa situação na segunda tentação. O diabo apresentou-lhes os reinos do mundo, sua glória e seu poder. E propôs um acordo pra Jesus ter tudo aquilo: “Eu vou ser o seu deus, me adore!”. “Sai pra lá! Eu só sirvo a um Deus, ao único e verdadeiro. Na minha missão, não vou copiar o poder do mundo, nem agir como os poderosos da terra. Eu quero servir, como Deus me manda”.

Depois que Israel organizou a monarquia, com rei, corte, exército e tudo o mais, construiu um grande e único Templo para o Senhor. Aos poucos, o Templo de Deus foi se tornando um poderoso instrumento de opressão do povo, de poder e enriquecimento das classes dirigentes. Claro, tudo em nome de Deus. Jesus viveu essa situação em sua terceira tentação. O diabo levou Jesus para o lugar mais alto do Templo de Jerusalém. “Ô cara, quero ver agora sua confiança em Deus. Pule daqui. Na Bíblia, está escrito que Deus vai mandar seus anjos para proteger e amparar você. Esse Deus tem poder ou não tem?”. “Alto lá! Ninguém tem o direito de por Deus à prova, de testá-lo, de usar seu nome indevidamente”.

Jesus venceu todas as tentações do diabo. E ele se afastou de Jesus, para retornar no tempo oportuno. Que tempo oportuno é esse? O momento da paixão. Na paixão, estão as maiores tentações do diabo: escapar da morte humilhante, revoltar-se contra Deus ou querer que Deus o livrasse da cruz, desconsiderando a sua encarnação. A gozação dos soldados foi uma provocação igualzinha a do tentador: “Se és filho de Deus, desce da cruz”. Jesus venceu todas as tentações: aceitou cumprir a vontade de Deus, entregou-se livremente em nosso favor, perdoou os seus algozes, foi fiel até o fim. Por sua morte e ressurreição, Jesus venceu definitivamente o mal, abrindo um caminho de fidelidade para todos os que o seguirem.


Guardando a mensagem

A cena das tentações, bem no início de sua vida pública, resume a vitória do Filho de Deus encarnado e dos seguidores, nós, sobre todas as armadilhas, tentações e provas que a vida pode nos reservar.  O momento mais forte da vida de Jesus - a sua paixão e morte - foi o momento onde as tentações foram mais fortes. A morte redentora de Jesus e sua ressurreição foram a vitória avassaladora e total sobre o mal, representado por Satanás. Por sua influência, desde Adão, a humanidade tinha sido infiel a Deus. O próprio povo de Deus tinha caído em momentos decisivos de sua história. Jesus, o novo Adão, restaurador da aliança com Deus Pai, foi fiel até o fim. Assim, venceu o pecado, a morte (consequência do pecado) e o mal e o seu inspirador, Satanás. O mundo já não está mais sob o domínio do diabo, embora ele continue agindo. Cabe-nos, já com a vitória na mão, continuar resistindo às suas insinuações maldosas e às inclinações para o mal que as marcas do pecado deixaram em nós.

Terminada toda a tentação, o diabo afastou-se de Jesus, para retornar no tempo oportuno (Lc 4, 13)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
neste primeiro domingo da Quaresma, celebramos a tua vitória contra as tentações do diabo, em toda a tua vida humana. Esta cena nos prepara para a grande vitória de tua cruz. Nela, venceste o pecado, a morte e o mal. Em nossa vida, somos submetidos, nós também, às tuas mesmas tentações: a busca de solução mágica para os nossos problemas, a idolatria do poder opressor que impede uma cultura de fraternidade e serviço e manipulação do nome de Deus em favor dos próprios interesses. Mas, a tua vitória é a nossa vitória também. Com o teu exemplo, a tua graça e o teu Santo Espírito, nós também somos vencedores. Por isso, nos ensinaste a pedir ao Pai: “Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal”. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Escute essa palavra de hoje, na Santa Missa. A comunidade cristã é onde melhor ecoa a palavra de Deus. Ela proclama o senhorio de Cristo: “Ele é o Senhor!”

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

ELE DEIXOU TUDO PARA TRÁS E SEGUIU JESUS




05 de março de 2022

Sábado após as cinzas

4º Dia da Quaresma


EVANGELHO


Lc 5,27-32

Naquele tempo, 27Jesus viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado na coletoria. Jesus lhe disse: “Segue-me”. 28Levi deixou tudo, levantou-se e o seguiu.
29Depois, Levi preparou em casa um grande banquete para Jesus. Estava aí grande número de cobradores de impostos e outras pessoas sentadas à mesa com eles. 30Os fariseus e seus mestres da Lei murmuravam e diziam aos discípulos de Jesus: “Por que vós comeis e bebeis com os cobradores de impostos e com os pecadores?”
31Jesus respondeu: “Os que são sadios não precisam de médico, mas sim os que estão doentes. 32Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão”.
Levi deixou tudo, levantou-se e o seguiu (Lc 5, 28)

MEDITAÇÃO


Levi deixou tudo, levantou-se e o seguiu (Lc 5, 28)

Chegamos ao 4º dia da Quaresma. A Quaresma é um programa de crescimento espiritual. A cada dia, um novo passo. Nestes primeiros dias, o convite é claro: seguir Jesus. Hoje, temos o exemplo de Levi, o cobrador de impostos. Um exemplo de resposta ao chamado do Mestre.

Jesus viu um cobrador de impostos (o tal Levi). Ele estava sentado na coletoria. Jesus o chamou: “Segue-me”. Agora, preste atenção à resposta dele: Deixou tudo, levantou-se e o seguiu. Depois, preparou em casa um grande banquete pra Jesus. No banquete, estava um grande número de cobradores de impostos e outras pessoas sentadas à mesa com eles.

O evangelista narra a resposta de Levi em quatro ações: deixou tudo, levantou-se, seguiu Jesus e preparou, para ele, um banquete em sua casa.

Ele trabalhava coletando impostos para os romanos, profissão mal vista pelo seu povo. Deixou tudo. Tudo o quê? Tudo o que representava segurança, estabilidade, ser um elo na rede de arrecadação pública de impostos. Largou isso. Deu outro rumo à sua vida. Zaqueu também era um cobrador de impostos, mal afamado. Ao que parece, ele não deixou a sua profissão, como Levi, mas também deu novo rumo a ela. Prometeu reparar a quem prejudicou. Vá então pensando no seu caso. 'Deixar tudo' pode significar dar um rumo novo ao seu trabalho, à sua profissão, ao seu casamento.

Curiosamente, o evangelista anotou que Levi, que deixou tudo, levantou-se. Parece uma observação sem importância. Mas, veja: Jesus o viu sentado e o chamou; Ele, deixando tudo, levantou-se. Sentado é o sinal de instalação, acomodação, enquadramento. Levantar-se é a atitude de quem está se desinstalando, saindo de uma posição cômoda para enfrentar um novo desafio. Levantar-se para pôr-se a caminho. O Papa Francisco escreveu na sua primeira Exortação Apostólica (Evangelii Gaudium) a Igreja tem que ser assim, “em saída”. O seguidor de Jesus, o cristão, há de ser uma pessoa “em saída”, disposta a caminhar, a empreender, a crescer, a partir. A igreja não é a casa dos acomodados, é o caminho dos que seguem Jesus.

Bom, ele deixou tudo (deu um novo rumo ao que era e ao que fazia), levantou-se (venceu a acomodação de sua situação) e seguiu Jesus. Seguir é fazer-se aluno, discípulo. E segue Jesus, com os outros discípulos, faz comunidade com eles. Isso é a Igreja, que nasce por obra do Espírito Santo unindo a Cristo os que se põem a caminho com ele.

E a quarta ação de Levi foi o banquete em sua casa. O banquete é o sinal de alegria, de festa, de celebração da ressurreição. Levi é um novo homem. Ressuscitado em Cristo. É o que se vai fazer na Igreja todo domingo: celebrar a ressurreição, com Cristo.



Guardando a mensagem

A Quaresma é um programa de crescimento em Cristo. Hoje, olhamos para a resposta de Levi. Jesus o chamou para o seu seguimento, como me chama e chama você. E Levi, numa resposta maravilhosa, completa (representada nas quatro ações), deixou tudo (deu novo rumo ao que era e fazia), levantou-se (rompeu com sua acomodação), seguiu Jesus (tomou Jesus como a direção de sua vida) e organizou um banquete em casa (celebrou, em comunidade, a vida nova em Cristo). É assim que deve ser a nossa resposta ao chamado de Jesus.

Levi deixou tudo, levantou-se e o seguiu (Lc 5, 28)
 
Rezando a palavra

Senhor Jesus,
obrigado por tua santa Palavra. Ela hoje me faz compreender que a conversão envolve toda a minha vida: é um novo rumo em tudo o que sou e faço, sob a tua direção. Na verdade, como disseste, tu és o caminho. Vamos por ti, andamos contigo, em ti está a realização completa do ser humano. Ajuda-nos, Senhor, a responder ao teu chamado com generosidade, com radicalidade, com alegria, como Levi. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Neste quarto dia da quaresma, vá se preparando para o banquete da vida nova, a Eucaristia, que celebramos em comunidade, no dia do Senhor. Programe, prepare-se, convide outros. Amanhã, vamos celebrar o primeiro domingo da Quaresma.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

POR QUE JEJUAR?




04 de março de 2022

Sexta-feira depois das cinzas

3º dia da Quaresma

EVANGELHO


Mt 9,14-15

Naquele tempo, 14os discípulos de João aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Por que razão nós e os fariseus praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?”
15Disse-lhes Jesus: “Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão”.

MEDITAÇÃO

Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão (Mt 9, 15)

Chegamos ao terceiro dia da Quaresma. É muito importante que a gente não perca nenhum dia desse programa de crescimento que é a Quaresma. O passo a ser dado hoje é sobre o jejum, como expressão de nossa conversão.

A pergunta veio de um grupo muito querido de Jesus, os discípulos de João. Jesus tinha participado do batismo de João Batista, no rio Jordão. João o tinha apontado como cordeiro de Deus. E alguns dos discípulos do Batista tinham se tornado discípulos seus. Então, a pergunta deles era séria. Não tinha segundas intenções. E o que eles queriam saber? Queriam saber por que os seus discípulos não praticavam o jejum como eles e os fariseus? A resposta de Jesus foi essa: “Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão”. O que Jesus quis dizer com isso?

Podemos entender todo o ministério de Jesus como a renovação da aliança com Deus. Jesus veio pra isso: para restaurar a comunhão com Deus que foi destruída pelo pecado (desde Adão) e pela infidelidade de Israel, o povo da Aliança. Não é à toa que o evangelho de São João praticamente comece com as bodas de Caná, o casamento que precisou da intervenção de Jesus para dar certo. A aliança, à moda do casamento, é entre Deus e o seu povo. Jesus é o noivo. Veja o que ele respondeu: enquanto o noivo está presente (ele), os amigos do noivo (os discípulos) não podem jejuar. Mas, depois que o noivo for tirado do meio deles (a sua morte), eles jejuarão.

O jejum é uma expressão de nossa conversão. Bom, nossa primeira conversão foi celebrada no batismo, nas águas, sinal sacramental da ação do Santo Espírito. Lá, fomos lavados dos nossos pecados. Mas, infelizmente, continuamos a cair, a falhar, a pecar. Por isso, precisamos estar em permanente atitude de conversão. Deus sempre nos perdoa. Mas, para isso, precisamos da conversão do nosso coração. O jejum é uma forma de cultivamos essa conversão. Ficamos tristes pelo pecado que cometemos. Esse sentimento do reconhecimento de nosso pecado, da dor que sentimos por nossa infidelidade a Deus, é expresso também nas práticas externas do jejum, da esmola e da oração. Essas práticas nos ajudam a cultivar a conversão interior e a implorar a misericórdia de Deus, o seu perdão. Ele que já nos purificou pela água do batismo, pode também nos purificar pelas lágrimas do nosso arrependimento.

O jejum tem, então, essa conexão com Deus, a quem ofendemos e a quem demonstramos nosso arrependimento, cultivando a conversão do nosso coração. Mas, o jejum tem também uma conexão com minhas atitudes em relação aos meus irmãos. No livro do Profeta Isaías, o próprio Deus nos diz qual a verdadeira obra que ele espera de nós, o jejum que ele prefere. São obras pelas quais procuramos, em relação ao nosso próximo, o alívio do seu sofrimento, a libertação da opressão, a partilha do pão, do teto e da roupa com os mais sofridos.


Guardando a mensagem

O jejum é uma forma de penitência, pela qual me uno ao padecimento de Cristo, em sua paixão. É também um gesto de amor fraterno, no sentido de que me faço solidário com quem está em dificuldade. Você pode jejuar em qualquer dia na Quaresma. O mínimo está previsto pela disciplina da Igreja: na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira da paixão. A abstinência de carne às sextas-feiras da Quaresma também faz parte de nossa caminhada penitencial, nesse período. Além do alimento, a gente pode fazer jejum de televisão, de barzinho, de bebida alcoólica, de cigarro, de internet, de whatsapp. Renunciar, pra ficar mais resistente, pra ter mais força interior, para unir-se a Cristo em sua cruz e aos irmãos em suas necessidades.

Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão (Mt 9, 15)

Rezando a palavra

Senhor nosso Deus,
Que te deixas comover pelos que se humilham e te reconcilias com os que reparam suas faltas, ouve como um pai as nossas súplicas. Derrama a graça da tua bênção sobre nós que estamos em Quaresma, desejosos de ouvir a palavra do teu filho Jesus, de ser fieis à vida de oração pessoal, e de praticar a penitência e a caridade, em preparação das celebrações da Santa Páscoa que se aproximam. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

Vivendo a palavra

Bom, não temos pra onde correr. A prática da palavra de hoje é o jejum, jejuar. Se você passou batido(a) na quarta-feira de cinzas, tem ainda a sexta-feira da paixão. E, hoje, como todas as sextas da quaresma, é dia de abstinência de carne. Você sabe, essas práticas externas têm valor se cultivarem a conversão do coração em relação a Deus e aos sofredores.

Ontem, junto com o formulário das intenções para a Missa, fizemos uma pergunta: Você tem o Caderno Espiritual, de que temos falamos aqui, na Meditação? Das quase mil respostas recebidas, 35,4% disseram que têm um Caderno Espiritual (graças a Deus!); 36% disseram que não o têm; e 35,9% disseram que vão adquiri-lo. Quer um conselho? Arrume um caderno e o transforme no seu caderno de anotações nesta quaresma, o seu Caderno Espiritual. 

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

Postagem em destaque

Venham a mim!

   17 de julho de 2025   Memória do Bem-aventurado Inácio de Azevedo, presbítero, e companheiros, mártires    Evangelho.    Mt 11,28-30 Naqu...

POSTAGENS MAIS VISTAS