PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA

ATENÇÃO PARA O SINAL DE JONAS


11 de outubro de 2021

EVANGELHO


Lc 11,29-32

Naquele tempo, 29quando as multidões se reuniram em grande quantidade, Jesus começou a dizer: “Esta geração é uma geração má. Ela busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas.
30Com efeito, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também será o Filho do Homem para esta geração. 31No dia do julgamento, a rainha do Sul se levantará juntamente com os homens desta geração e os condenará. Porque ela veio de uma terra distante para ouvir a sabedoria de Salomão. E aqui está quem é maior do que Salomão.
32No dia do julgamento, os ninivitas se levantarão juntamente com esta geração e a condenarão. Porque eles se converteram quando ouviram a pregação de Jonas. E aqui está quem é maior do que Jonas”.


MEDITAÇÃO


No dia do julgamento, os ninivitas se levantarão juntamente com esta geração e a condenarão (Lc 11, 32)

Parece que Jesus andava meio decepcionado... A pregação do Reino bem merecia uma acolhida mais entusiasta. Sua palavra, seus milagres... tanto esforço, tanto compromisso da parte dele e, ao que parece, pouco resultado. Certamente, por isso, ele estava dizendo: “Esta geração é uma geração má. Ela busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas”.

Jonas foi um sinal para o povo de Nínive. Ele, a mando de Deus, pregou por três dias na grande cidade, anunciando o castigo de Deus sobre todo aquele povo. Castigo por conta de sua impenitência, de sua vida de maldade e violência. E o povo de Nínive, diante daquela pregação do profeta, tomou consciência de sua condição e implorou a misericórdia de Deus. Acolheu a pregação de Jonas como um convite urgente à penitência e à conversão. Do pequeno ao grande, do pobre ao rei, todos se sentaram em cinzas e pediram perdão de seus pecados. Jonas foi um sinal para o povo de Nínive. Uma convocação à conversão. Mas, também um sinal da misericórdia de Deus, pois Deus, tendo desistido do seu intento de destruir tudo, mostrou a sua misericórdia, dando o seu perdão.

Esse sinal de Jonas para o povo do seu tempo estava sendo reeditado na presença de Jesus, na sua pregação. Como Jonas foi um sinal para o povo de Nínive, assim Jesus seria para o povo do seu tempo. Jonas pregou por três dias, cobrindo toda aquela cidade pagã. Jesus pregou por três anos, percorrendo todo o país. Ele também trazia um convite urgente à conversão. Ele começou sua missão, convidando todos a acolherem o Reino que estava se aproximando: convertam-se e creiam no evangelho. O convite à conversão, na verdade, é um convite à acolhida da misericórdia de Deus.

Jesus estava lembrando que o povo de Nínive recebeu melhor o profeta Jonas do que o seu povo a ele. Converteu-se à pregação de Jonas. E ali, Jesus não estava encontrando a mesma acolhida, nem a mesma disposição para a conversão. O povo de Nínive iria ser juiz daquele povo do tempo de Jesus. E iria condená-lo. E quem estava ali anunciando a mensagem de Deus para eles não era simplesmente alguém como Jonas. Como ele mesmo disse, ali estava alguém maior que Jonas, o próprio filho de Deus.

Guardando a mensagem

O povo pagão de Nínive converteu-se à pregação de Jonas. O povo de Deus do tempo de Jesus respondeu com indiferença à sua pregação. E um bom grupo reagiu com violência à boa notícia anunciada por ele. A pregação do Evangelho, que anuncia o Reino de Deus, continua hoje e chega até você e à sua família. Como é que vocês estão reagindo a esse anúncio que pede conversão e acolhida do amor de Deus? Como o povo de Nínive? Como o povo do tempo de Jesus?

No dia do julgamento, os ninivitas se levantarão juntamente com esta geração e a condenarão (Lc 11, 32)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
essa página do Evangelho vem reforçar nossa caminhada cristã, que é um permanente convite à conversão, à acolhida da vida nova que tu nos alcançaste em tua cruz. Concede-nos, Senhor, que vençamos a indiferença, que é atitude típica do nosso tempo: o não ligar, o deixar pra lá, o não dar importância. Que a tua Palavra encontre abrigo em nossos corações e em nossas vidas, nos animando num processo de verdadeira conversão. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

A conversão é a nossa resposta à Palavra de Deus. A conversão é obra nossa e do Espírito Santo de Deus em nós. Assim, nesta segunda-feira, peça ao Santo Espírito, mais de uma vez, a graça da conversão.

Neste final de semana, a gente se encontra no 4º Acampamento Missionário. Na sexta-feira, a Missa de abertura será transmitida pela Rede Vida e, no sábado, uma movimentada tarde online com testemunhos, pregação, adoração eucarística e momento musical. Contamos com sua participação.


Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

UMA NOVA DIREÇÃO DA SUA VIDA


 

10 de outubro de 2021

28º Domingo do Tempo Comum


EVANGELHO


Mc 10,17-30

Naquele tempo, 17quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo, ajoelhou-se diante dele e perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?”
18Jesus disse: “Por que me chamas de bom? Só Deus é bom, e mais ninguém. 19Tu conheces os mandamentos: não matarás; não cometerás adultério; não roubarás; não levantarás falso testemunho; não prejudicarás ninguém; honra teu pai e tua mãe”.
20Ele respondeu: “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude”.
21Jesus olhou para ele com amor, e disse: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!”
22Mas quando ele ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico.
23Jesus então olhou ao redor e disse aos discípulos: “Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!”
24Os discípulos se admiravam com estas palavras, mas ele disse de novo: “Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! 25É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!”
26Eles ficaram muito espantados ao ouvirem isso, e perguntavam uns aos outros: “Então, quem pode ser salvo?”
27Jesus olhou para eles e disse: “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível”.
28Pedro então começou a dizer-lhe: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”.
29Respondeu Jesus: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, 30receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna.

MEDITAÇÃO


Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna? (Mc 10, 17)

A religião cristã não é apenas um conjunto de práticas religiosas que realizamos para o louvor de Deus e para o nosso bem pessoal. A religião cristã é, especialmente, seguimento de Jesus Cristo. Seguimento. O que nos define não é um título de pertença a uma instituição bimilenar. O que nos define é sermos discípulos de Jesus. É sermos seus seguidores, suas seguidoras. Percorremos com ele o seu caminho. Vamos com ele a Jerusalém.

Jesus e os discípulos estão indo a Jerusalém. Essa é a grande viagem que marca a sua vida. Em Jerusalém, acontecerá o drama da paixão. Essa caminhada é propriamente a direção da vida de Jesus. Neste caminho, a uma certa altura, vem alguém correndo, ajoelha-se aos seus pés e lhe pergunta o que deve fazer para ganhar a vida eterna. Ele já cumpria os mandamentos da Lei, desde a sua juventude. ‘Então, concluiu Jesus, só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!”. O homem ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico.

Essa pessoa buscava a felicidade, a realização, como todos nós. Era uma pessoa religiosa, praticante da Lei desde pequeno. Pelo que respondeu a Jesus, praticava certinho os mandamentos de Deus. Mas, estava inquieto. Sabia que lhe faltava alguma coisa. O que ele poderia fazer para ganhar a vida eterna, para participar da herança da completa felicidade? Ele percebeu que Jesus tinha a resposta. Ele poderia lhe indicar o que realmente tinha que fazer. E lhe pediu isso de joelhos, de coração aberto, com toda sinceridade.

Ele ouviu a resposta de Jesus. A resposta foi dada com muito respeito, muita consideração e como sinal de um amor sincero por ele. Está escrito: “Jesus o olhou com amor”. Não foi uma resposta para afastá-lo, para desanimá-lo em sua busca de felicidade, da herança da vida eterna. Foi uma resposta verdadeira, exigente. Ele, que estava ansioso em busca da felicidade, da vida eterna, ouvindo isso, ficou abatido e desistiu, foi embora cheio de tristeza. Não aceitou a proposta de Jesus, o caminho que ele lhe indicou. Optou por continuar sua vidinha. Optou por não ser seguir Jesus, não ser seu discípulo.

O que é que Jesus lhe pediu e pede a mim e a você, hoje? Ele o chamou para segui-lo. Só isso. “Vem e segue-me”. Segui-lo no seu caminho, sendo livre e solidário como ele. Livre de qualquer carga ou amarra. Solidário com os pobres e sofredores. Foi o que ele pediu àquele homem: o desapego dos seus bens e a solidariedade com quem nada tem. ‘Vende o que tens e dá aos pobres”. Em outras palavras, Jesus lhe indicou um modo novo de se relacionar com os bens e com os seus semelhantes. No trato com os bens, ser livre. Não viver para o dinheiro. Não ser possuído pelos seus bens. No trato com os seus semelhantes, ser solidário. Importar-se com sua dor, partilhar, não lhes ser indiferente.

Guardando a mensagem

Muitos cristãos estão ocupados na posse de muitos bens, usufruindo do seu bem-estar e fazendo da religião apenas um complemento para sua felicidade. No fundo, são infelizes, vivem tristes. Está lhes faltando alguma coisa. Eles também perguntam a Jesus o que precisam fazer para alcançar a felicidade completa, para ter direito à herança da vida eterna? Esperam que Jesus lhe passe uma receita de algumas coisas a serem feitas. Mas, Jesus lhe dá uma nova orientação para as suas vidas. Jesus os chama para segui-lo. Duas condições são necessárias para o seu seguimento: estar livre e ser solidário. Jesus os chama a ter um novo relacionamento com os bens (a liberdade) e com seus semelhantes (a solidariedade). A verdadeira felicidade está em sermos irmãos, a caminho com Jesus, para a casa do Pai.

Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna? (Mc 10, 17)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
fica-nos a impressão que foste muito exigente com aquele que se apresentou no caminho, querendo fazer alguma coisa para ganhar a vida eterna. Tu o chamaste para te seguir. Para isso, ele precisava estar livre (não mais voltado para os seus bens) e ser solidário (não mais indiferente à sorte dos pobres). Ele não teve coragem de dar uma nova direção à sua vida. Na sua tristeza, vemos a tristeza de quem vive voltado para si mesmo. Por sorte, esse mesmo evangelho nos mostra que houve quem deixasse tudo e te seguisse, como foi o caso dos teus apóstolos. Livres e solidários, eles teriam tudo que deixaram cem vezes mais e a vida eterna no mundo futuro. Obrigado, Senhor, pelo exemplo de tantos irmãos e irmãs que seguem contigo, livres e solidários, pelo caminho da vida. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Será muito importante que você abra hoje sua Bíblia e leia essa passagem que toda a Igreja está meditando neste domingo: Marcos 10,17-30.

No próximo final de semana, a gente se encontra no 4º Acampamento Missionário. Na sexta-feira, a Missa de abertura transmitida pela Rede Vida e, no sábado, uma movimentada tarde online com testemunhos, pregação, adoração eucarística e momento musical. 

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

A BEM-AVENTURADA

 



09 de outubro de 2021

EVANGELHO


Lc 11,27-28

Naquele tempo, 27enquanto Jesus falava, uma mulher levantou a voz no meio da multidão e lhe disse: “Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram”. 28Jesus respondeu: “Muito mais felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”.

MEDITAÇÃO


Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram (Lc 11, 27)

E às vésperas de duas grandes festas marianas - N. Sra. de Nazaré e N. Sra. Aparecida, um texto do evangelho muito especial...

O elogio da mulher foi maravilhoso. Ela gritou alto no meio da multidão. “Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram”. Ela louvou a mãe daquele profeta maravilhoso, Jesus, ali presente, encantando as pessoas com sua pregação e seus milagres. Parece ser essa uma forma comum no povo do Oriente de saudar assim uma pessoa muito querida e importante. Na verdade, é sempre assim em qualquer lugar: quer homenagear o filho, honre a sua mãe, não é verdade? A mulher louvou Jesus, por meio de sua mãe que o gerou e o amamentou.

E olha que esse detalhe da amamentação é uma coisa muito especial. Hoje, se sabe que o período da amamentação de uma criança é um tempo de grande influência na vida daquele ser humano. Amamentar é um ato em continuidade com a gestação, garantindo desenvolvimento físico, social e mental da criança. Da criança e da mãe também.

Na mesma linha, Izabel tinha feito o seu elogio. Nós, inclusive, continuamos a honrar a mãe do Salvador com suas palavras: “Bendito o fruto do teu ventre”. Izabel, cheia do Espírito Santo, louvou o fruto do ventre de Maria, louvou o filho, Jesus. Mesmo louvando quem foi gerado, não esqueceu a mãe, mencionando apropriadamente o seu ventre, o seu útero.

Jesus aproveitou o elogio da mulher à maternidade de Maria, que o gerou, para elevar ainda mais a louvação à sua mãe. Mais feliz ainda é ela por “ouvir a palavra de Deus e pô-la em prática”. Maria gerou o filho e o amamentou em atenção à palavra de Deus que o anjo lhe transmitira. Sua maternidade, antes de tudo, é obediência a Deus, realização de sua vontade. Nesse sentido, ela é um exemplo para todos os seguidores de Jesus. Todos podem participar de sua bem-aventurança: “ouvir a palavra de Deus e pô-la em prática”.

Guardando a mensagem

O elogio que a mulher fez, no meio da multidão, a Jesus foi cheio de sensibilidade. Ela o honrou, louvando sua mãe que o gerou e o amamentou. Hoje, a ciência conhece a importância que tem os nove meses de gestação e o tempo de amamentação para a vida de um ser humano. É um tempo sagrado em que a vida desabrocha como um verdadeiro milagre. Jesus completou o elogio que a mulher fez à sua mãe. ‘Muito mais feliz é ela por ter ouvido a palavra de Deus e tê-la praticado’. De verdade, a maternidade de Maria é fruto de sua obediência à vontade de Deus. Essa é a sua verdadeira bem-aventurança. Nós também participamos dessa bem-aventurança de Maria, na medida em que também realizarmos em nossa vida a Palavra do Senhor.

Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram (Lc 11, 27)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
Estamos no mês do Rosário. Nessa oração tão simples e tão popular que é o Terço, meditamos, todos os dias, os mistérios de tua vida e de tua páscoa. E ao contemplarmos os passos de tua encarnação, pregação, paixão, morte e ressurreição, reconhecemos a presença amorosa e fiel de tua santa Mãe ao teu lado, fortalecendo tua obediência com a sua, sustentando tua missão com a sua incessante oração. E, com a tua volta ao Pai, ela continua cuidando da nova família que nasceu aos pés da tua cruz, o povo redimido pelo teu sacrifício redentor. Senhor, que nós a amemos sempre mais e a honremos como nossa mãe e modelo. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Na preparação da festa de N. Sra. de Nazaré (amanhã) e de N. Sra. Aparecida (na terça), hoje é um dia especial para você rezar o Terço Mariano. Faça isso como uma ressonância do evangelho de hoje. 

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

O MAL TRABALHA PARA DIVIDIR



08 de outubro de 2021

EVANGELHO


Lc 11,15-26

Naquele tempo, Jesus estava expulsando um demônio. 15Mas alguns disseram: “É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios”.
16Outros, para tentar Jesus, pediram-lhe um sinal do céu. 17Mas, conhecendo seus pensamentos, Jesus disse-lhes: “Todo reino dividido contra si mesmo será destruído; e cairá uma casa por cima da outra. 18Ora, se até Satanás está dividido contra si mesmo, como poderá sobreviver o seu reino? Vós dizeis que é por Belzebu que eu expulso os demônios. 19Se é por meio de Belzebu que eu expulso demônios, vossos filhos os expulsam por meio de quem? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes. 20Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então chegou para vós o Reino de Deus.
21Quando um homem forte e bem armado guarda a própria casa, seus bens estão seguros. 22Mas, quando chega um homem mais forte do que ele, vence-o, arranca-lhe a armadura na qual ele confiava, e reparte o que roubou.
23Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, dispersa. 24Quando o espírito mau sai de um homem, fica vagando em lugares desertos, à procura de repouso; não o encontrando, ele diz: ‘Vou voltar para minha casa de onde saí’. 25Quando ele chega encontra a casa varrida e arrumada. 26Então ele vai, e traz consigo outros sete espíritos piores do que ele. E, entrando, instalam-se aí. No fim, esse homem fica em condição pior do que antes”.

MEDITAÇÃO


Todo reino dividido contra si mesmo será destruído (Lc 11, 17).

Jesus está realizando a sua missão. Qual é a missão de Jesus? Anunciar o Reino de Deus entre nós, aproximar as pessoas de Deus, refazer a aliança de Deus como o seu povo, salvar a humanidade que se separou do Criador pelo pecado. Esses são modos como tentamos explicar a missão de Jesus. Nós o vemos no seu trabalho redentor: anunciando o amor de Deus, convidando as pessoas à conversão, perdoando os pecadores, libertando pessoas da dominação do mal.

Que os demônios se opusessem a Jesus, isso a gente entende. Que os grupos privilegiados de Jerusalém o odiassem, até dá para entender. Mas, que pessoas religiosas, praticantes da Lei, se indispusessem contra Jesus, a ponto de o difamarem, tentando desmoralizá-lo ou até tramando a sua prisão, isto nos deixa perplexos. Pois, foi o que aconteceu. No evangelho de hoje, vê-se como eles começaram a espalhar que Jesus expulsava demônios com a autoridade do próprio satanás. Olha que jogo baixo: espalhar que Jesus agia em nome do diabo. Haja paciência! Era gente de má vontade procurando desqualificar a vitória de Jesus sobre o mal. Agora, o pior é que se tratava de gente muito religiosa.

Jesus chamou para a lógica. Se for assim, se o mal estiver combatendo contra si mesmo, diabo contra diabo, então estão realmente perdidos, pois ‘todo reino dividido contra si mesmo será destruído’, acaba se esfacelando, se autodestruindo. Não tem a menor lógica. Mas, essa palavra de Jesus também poderia ser entendida a respeito dos seus opositores. Esse grupo de gente maldosa estava cavando o buraco para o seu próprio povo. Se eles ficassem contra Jesus, fazendo propaganda contra ele, dividindo o povo, causando desunião... qual seria o fim do seu povo? “Todo reino dividido contra si mesmo será destruído”. De fato, 40 anos depois da morte de Jesus, houve uma guerra dos romanos contra os judeus e não ficou pedra sobre pedra. Os judeus perderam tudo. Um reino dividido não prospera.

O que Jesus diz no evangelho de hoje nos espanta. Ele tão tolerante, um dia não quis que os discípulos proibissem alguém que pregava e curava em seu nome sem pertencer ao grupo deles. Deixa, ele disse, “quem não está contra nós, está a nosso favor”. Mas, no evangelho de hoje, ele diz, a respeito dos que o estavam difamando: “Quem não está comigo está contra mim. E quem não recolhe comigo, dispersa”. Disse tudo.

Guardando a mensagem

Jesus, no exercício do seu ministério, encontrou muita oposição. Oposição das elites e de muitas lideranças populares, como foi o caso dos fariseus. Foi acusado de muita coisa. Uma dessas acusações dizia que ele agia em aliança com Satanás. Coisa triste, gente dividindo o povo. A difamação, as falsas acusações geram desconfiança e divisão na comunidade cristã. Hoje, com as redes sociais, é muito fácil falar mal de uma pessoa, difamá-la, destruir a sua imagem. E tem muita gente ruim interessada em desmoralizar a Igreja Católica e sua opção pelos pobres. Não repasse acusações maldosas contra a Igreja ou seus ministros. Não aceite que a defesa dos pobres seja taxada de comunismo. Trabalhe pela comunhão, pela unidade.

Todo reino dividido contra si mesmo será destruído (Lc 11, 17).

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
Tu nos chamas a reconhecer o Reino de Deus que chegou com tua presença, com tua palavra, com tua ação. Disseste: “Se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então chegou para vocês o Reino de Deus”. Cremos em ti, Senhor, e não queremos apenas usufruir de tua graça e de teus dons. Queremos também estar ao teu lado, tomar tua defesa, quando maldosos continuarem te difamando ou te injuriando em tua Igreja, em teus ministros, em nossas pastorais. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

A unidade da Igreja não é só uma construção humana. É, sobretudo, dom do Espírito Santo que nos une a Cristo, cabeça do corpo, e a todos os membros. Hoje, reze pela unidade de todos os que estão unidos a Cristo pela fé e pelo batismo.

Agradeço, de coração, todas as orações e manifestações de proximidade à minha família, pela páscoa de minha irmã Ângela Maria. O Senhor Deus os recompense. 

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

O SIM DE MARIA



07 de outubro de 2021

Dia de Nossa Senhora do Rosário

EVANGELHO


Lc 1,26-38

Naquele tempo, 26o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da Virgem era Maria. 28O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!”
29Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. 30O anjo, então, disse-lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. 31Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. 32Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. 33Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim”.
34Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?” 35O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. 36Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, 37porque para Deus nada é impossível”.
38Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o anjo retirou-se.

MEDITAÇÃO


Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1, 38)

Primeiro, Maria ficou assustada. De repente, o anjo com uma saudação estranha. “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo”. O que está acontecendo? O que isso significa? ‘Não tenha medo, Maria. Deus está muito feliz com você. Você vai conceber e gerar o filho dele, o filho que vai herdar o trono de Davi’. Maria ainda estava assustada, mas já tinha uma resposta. Deus estava feliz com ela e comunicando-lhe uma grande missão.

Depois do susto, veio a dúvida. ‘Não é possível uma coisa dessas... eu nem casada sou. Como é que uma virgem pode ser mãe?’ E o anjo: ‘Para Deus não tem isso não, Maria, tudo é possível para ele. Quer um exemplo? Izabel. Estéril, idosa, agora está grávida de seis meses’. ‘Como Deus é grande, como ele é bom’, pensou Maria. Desvaneceu-se a dúvida. Ele é o todo-poderoso. Ele faz maravilhas.

Passado o susto, ela dialogou responsavelmente para ver o alcance do que lhe estava sendo comunicado. A dúvida foi esclarecida. Vem agora a entrega. “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Entrega-se ao cumprimento da vontade do Senhor manifestada na palavra do anjo. Realizará a vontade do Senhor, como serva. Entrega humilde, generosa, total.

É, Deus sempre nos surpreende. Manda-nos seus recados. Ele nos pega de surpresa. Suas propostas alteram profundamente a normalidade do nosso caminho, de nossa vida. Ele tem planos diferentes dos nossos. Mas, não é uma ordem do dia, uma distribuição aleatória de tarefas que se dá a qualquer um. É, antes de tudo, uma escolha amorosa. É um voto de confiança de quem ama a quem ele cumula de toda graça, de toda bênção. A escolha é antes de tudo um sinal distintivo do seu amor. “Não foram vocês que me escolheram, fui eu que escolhi vocês”, afirmou Jesus.

Guardando a mensagem

O sim de Maria foi muito especial. Depois do susto, ela procurou saber o alcance daquele convite tão especial da parte de Deus. Convenceu-se de que ele pode tudo e que, com ele, ela poderia vencer qualquer obstáculo, começando por fazer fecunda a sua virgindade. Teve fé. Izabel fez-lhe um elogio por sua fé: “Bem-aventurada a que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor se cumprirá”. A primeira reação à entrada surpreendente de Deus em nossa vida, integrando-nos ao seu projeto de salvação, é o susto, a surpresa. Depois vem a dúvida. E por fim, a resposta. Às vezes, ela não é como a de Maria, a de entrega generosa e humilde. Às vezes, é presunçosa e egoísta. É, muitas vezes, Deus tem recebido um “não”. ‘Não vou, porque já tenho o meu projeto, vou cuidar da minha vida ao meu modo’... Mas hoje, dia de Nossa Senhora do Rosário, não é dia de “não”, hoje é dia de “sim”, do “sim” de Maria e do “sim” generoso e fiel de muitos e muitas como ela.

Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1, 38)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
Tu nos chamas ao teu seguimento. “Vem e segue-me!”. Esta é a vocação para a qual tu nos convocas: ser cristãos. Nossa vocação é viver como teus discípulos e missionários do teu evangelho. Na resposta ao teu chamado, queremos nos espelhar em Maria, tua santa mãe. Concede, Senhor, que a nossa resposta ao teu chamado seja generosa, humilde e fiel como o de nossa mãe, Maria Santíssima. Na Senhora do Rosário, celebramos a obra de Deus em nossa história, atribuindo à sua intercessão o livramento de tua Igreja em momentos de grave perseguição. A ela, queremos recomendar a acolhida da Encíclica do Papa Francisco 'Fratelli Tutti', uma verdadeira carta de navegação para os novos tempos da Igreja e do mundo. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Neste dia de Nossa Senhora do Rosário, faça todo esforço para rezar o Terço, hoje meditando os mistérios luminosos.

Em suas orações, inclua, hoje, o nome de minha irmã Ângela Maria, que faleceu serenamente ontem, depois de um ano de luta contra um câncer. Descanse em paz. 

Hoje é dia de celebrar a Santa Missa por você e por suas intenções. Você pode acompanhar a celebração às 11 horas, pelo meu canal no Youtube e no Facebook.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

SENHOR, ENSINA-NOS A REZAR




06 de outubro de 2021

EVANGELHO


Lc 11,1-4

1Um dia, Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos”. 2Jesus respondeu: “Quando rezardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. 3Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos,4e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação’”.

MEDITAÇÃO

Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos (Lc 11, 3)

‘Senhor, ensina-nos a rezar’, foi o pedido dos discípulos. No Pai Nosso, Jesus ensinou como e o quê dizer em oração. Está aí um modelo de oração. Era assim que ele rezava. É assim que um discípulo deve rezar. Nos evangelhos, ficaram duas versões dessa prece do Senhor. A de hoje, a de Lucas, é um pouco mais enxuta. Mas, nas duas versões – a de Mateus e a de Lucas – pede-se ao Pai o pão de cada dia.

Jesus nos ensinou a pedir ao Pai “Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos”. Pedimos o necessário para a nossa sobrevivência, não riqueza, fortuna. Nossa confiança está em Deus, não no dinheiro. É o Senhor quem nos sustenta, quem nos guarda, quem cuida de nós. Como disse Jesus, é só olhar como ele alimenta os pardais e veste de maneira tão bela as flores do mato. Com maior empenho, ele cuida dos seus filhos e de suas filhas, de sua comida, de sua roupa, de suas contas. Nossa confiança não pode estar no dinheiro, na segurança econômica. Nossa confiança só pode estar em Deus, nosso Pai providente. A nossa escolha de vida é o trabalho honesto, no qual, com a providência de Deus, garantimos a sobrevivência de nossa casa, vivendo com sobriedade e essencialidade. Nosso ideal não é a riqueza e o luxo. Amamos o trabalho e valorizamos a partilha. Confiamos em Deus.

Jesus sentenciou: “Mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”. Não é ter muita coisa, muito dinheiro, muitos bens que resolve. A felicidade não está em ter bens. Precisamos ter o suficiente para viver com dignidade. Na verdade, o acúmulo de coisas, de dinheiro, de valores pode nos dar a falsa impressão de segurança, de independência, de autonomia, de felicidade. De falsa felicidade. O coração humano não se contenta com coisas. Um coração voltado para a riqueza desvia-se de Deus e faz do dinheiro o seu senhor. Não por a confiança no dinheiro. Como diz o salmo 131: “Põe tua esperança no Senhor”.

Jesus nos ensinou a pedir ao Pai: “Venha o teu Reino”. Em nossa realidade, muitos entre nós estão vivendo dias muito difíceis, numa situação de desemprego. E muitos outros sobrevivendo precariamente na informalidade ou no subemprego. Nosso modelo econômico é perverso: não se preocupa com o emprego e a distribuição de renda. A oração de Jesus nos ajuda a enfrentar essa situação com esperança. Temos um Pai que não nos abandona, que cuida de nós; um Pai que nos abre à solidariedade e ao sentido do bem comum. Ele nos sustenta na esperança que não nos deixa desistir, nos abre oportunidades, nos estimula a buscar alternativas e nova qualificação, nos educa no caminho da justiça e da fraternidade. 

Guardando a mensagem

Os discípulos pediram que Jesus os ensinasse a rezar. Jesus lhes ensinou como estar em oração, com as palavras do Pai Nosso. Nessa oração-modelo de toda oração cristã, Jesus nos disse para pedir ao Pai, entre outras coisas, o pão de cada dia. Não pedir riquezas, nem para ganhar na loteria. Pedir a graça da sobrevivência com dignidade. É a graça do trabalho, da remuneração decente. Pedir é querer estar em sintonia com o projeto de Deus, que é o Reino. Pedir o pão de cada dia é reconhecer que dele dependemos e prometer que tudo faremos para acolher o seu dom e a sua graça pelo estudo sério, pela qualificação profissional, pelo trabalho honesto, pela solidariedade, pelo compromisso com o bem de todos. 

Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos (Lc 11, 3)

Rezando a palavra

“Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação” (Lc 11,1-4)

Vivendo a palavra

Reze muitas vezes, no dia de hoje, à moda de jaculatória: “O pão nosso de cada dia, nos dai hoje”.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

Marta, Marta!




05 de outubro de 2021
Dia de São Benedito e Santa Faustina Kowalska

EVANGELHO


Lc 10,38-42

Naquele tempo, 38Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. 39Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra. 40Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!” 41O Senhor, porém, lhe respondeu: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. 42Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”.

MEDITAÇÃO


Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas (Lc 10, 41)

Normalmente, vivemos ocupados e preocupados com muita coisa. Imaginamos que estamos fazendo muita coisa pela família, pelos outros e até mesmo para Deus. Talvez sua família precise de mais atenção do que de coisas. Com certeza, mais importante do que sua frenética ação é a direção do que você faz.

Jesus entrou num povoado e hospedou-se na casa de Marta. Sua irmã, Maria, sentou-se aos pés do Senhor e escutava sua palavra. Marta, ocupada com muitos afazeres, reclamou porque sua irmã não a estava ajudando no serviço da casa. Jesus observou que Marta estava muito ocupada com tanta coisa, quando uma só coisa é necessária.

Marta mostrou-se muito trabalhadora, muito preocupada com os afazeres da casa, super atarefada, tudo para receber bem o Senhor. Uma excelente anfitriã. Maria sentou-se aos pés de Jesus, como faziam os discípulos nas escolas dos rabinos. Estava escutando a sua palavra. Como discípula, estava aprendendo, atenta, interessada nos ensinamentos do Mestre. Ouvir a palavra do Senhor é fundamental para encontrar o sentido e a direção do que precisamos fazer. Na palavra do Senhor, o discípulo encontra a orientação de sua ação. Maria é modelo de discípula.

Jesus corrigiu Marta. ‘Uma coisa só é necessária, Marta. Você se preocupa e anda agitada com tanta coisa!’. O que será essa coisa necessária? A coisa necessária foi a que Maria escolheu. Podemos pensar assim: Marta está se ocupando com muitas coisas. Maria está se ocupando de Jesus. Marta atira para todos os lados, nos seus compromissos de dona de casa. Maria, escutando Jesus, está acolhendo uma direção para sua existência e para os seus compromissos.

De verdade, a gente, normalmente, faz muita coisa, corre muito, e sempre há mais o que fazer. O mais importante não é fazer muitas coisas, mesmo que seja para Deus. O necessário mesmo é ocupar-se de Deus, curtir a sua presença, acolher a sua palavra. E assim, encontrar um sentido e uma direção para sua vida e para suas atividades.

Guardando a mensagem

Marta foi uma boa anfitriã, fazendo coisas pra Jesus, ocupada com tantos afazeres na preparação da casa e do almoço. Maria foi uma discípula exemplar, ocupando-se de Jesus, atenta à sua pessoa, à sua palavra. Como estamos na Semana da Criança, podemos aplicar isso também aos pais. O principal não é fazer coisas para a criança, por mais necessário que pareça, como é trabalhar, fazer a feira, arrumar a casa, levar o filho para a escola. O mais importante não é fazer coisas pelos filhos ou enchê-los de presentes. É estar ao seu lado, participar de sua vida e do seu crescimento, curtir a sua presença, estar com eles. Estar presente. Isso é o mais importante. Marta se ocupa com muito trabalho. Precisa fazer como Maria: ocupar-se de Jesus.

Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas (Lc 10, 41)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
É muito nobre a ação, como também o compromisso do trabalho e o exercício da missão. É santo o tempo da oração, da escuta amorosa da tua palavra, para encontrar sentido para a ação, pra gente não virar escravo do trabalho, mas sermos sempre operários de tua vinha. Sem a oração, Senhor, nossa correria fica estéril. Fazemos muito e colhemos pouco. Com a oração, nosso esforço ganha luz e sentido. Fazemos menos e colhemos mais. Senhor, dá-nos um pouco de Maria, porque de Marta já temos bastante. Tranquiliza-nos aos teus pés, orienta-nos com tua palavra, conduze-nos com a tua luz. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Estamos no Mês Missionário, um mês para nos ajudar a crescer no compromisso da missão. E a missão se faz com o anúncio, o testemunho, a caridade, sustentados pela oração, pela contemplação. Este é o clima de nosso programa de hoje, terça-feira, no meu Canal do Youtube, começando às 20 horas.  O convite está feito. Espero por você.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

O BOM SAMARITANO E O SONHO DA FRATERNIDADE



04 de outubro de 2021

Dia de São Francisco de Assis

1º Aniversário da Encíclica Fratelli Tutti, sobre a fraternidade e a amizade social


EVANGELHO


Lc 10,25-37

Naquele tempo, 25um mestre da Lei se levantou e, querendo pôr Jesus em dificuldade, perguntou: “Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?”
26Jesus lhe disse: “Que está escrito na Lei? Como lês?” 27Ele então respondeu: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e a teu próximo como a ti mesmo!”
28Jesus lhe disse: “Tu respondeste corretamente. Faze isso e viverás”. 29Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?”
30Jesus respondeu: “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes. Estes arrancaram-lhe tudo, espancaram-no, e foram-se embora deixando-o quase morto.
31Por acaso, um sacerdote estava descendo por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu adiante, pelo outro lado. 32O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante, pelo outro lado.
33Mas um samaritano que estava viajando, chegou perto dele, viu e sentiu compaixão. 34Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal e levou-o a uma pensão, onde cuidou dele. 35No dia seguinte, pegou duas moedas de prata e entregou-as ao dono da pensão, recomendando: “Toma conta dele! Quando eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais”.
E Jesus perguntou: 36“Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” 37Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Então Jesus lhe disse: “Vai e faze a mesma coisa”.

MEDITAÇÃO


Então Jesus lhe disse: “Vá e faça a mesma coisa” (Lc 10, 37)

O evangelho nos conta, hoje, a parábola do bom samaritano. Um texto que tem tudo a ver com São Francisco de Assis, festejado hoje, e com a Carta Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, da qual celebramos hoje o primeiro aniversário. Um ano atrás, nesta data, o Papa assinou este documento no túmulo de São Francisco, na cidade de Assis. Nesta encíclia sobre a fraternidade e a amizade social, o Papa dedica um capítulo inteiro precisamente à parábola do bom samaritano. Assim, demos hoje a palavra ao nosso Papa.

“Conta Jesus que havia um homem ferido, estendido por terra no caminho, que fora assaltado. Passaram vários ao seu lado, mas… foram-se, não pararam. Eram pessoas com funções importantes na sociedade, que não tinham no coração o amor pelo bem comum. Não foram capazes de perder uns minutos para cuidar do ferido ou, pelo menos, procurar ajuda. Um parou, ofereceu-lhe proximidade, curou-o com as próprias mãos, pôs também dinheiro do seu bolso e ocupou-se dele. Sobretudo deu-lhe algo que, neste mundo apressado, regateamos tanto: deu-lhe o seu tempo. Tinha certamente os seus planos para aproveitar aquele dia a bem das suas necessidades, compromissos ou desejos. Mas conseguiu deixar tudo de lado à vista do ferido e, sem o conhecer, considerou-o digno de lhe dedicar o seu tempo.

Com quem te identificas? É uma pergunta sem rodeios, direta e determinante: a qual deles te assemelhas? Precisamos reconhecer a tentação que nos cerca de nos desinteressar pelos outros, especialmente dos mais frágeis. Digamos que crescemos em muitos aspectos, mas somos analfabetos no acompanhar, cuidar e sustentar os mais frágeis e vulneráveis das nossas sociedades desenvolvidas. Habituamo-nos a olhar para o outro lado, passar à margem, ignorar as situações até elas nos caírem diretamente em cima.

Assaltam uma pessoa na rua, e muitos fogem como se não tivessem visto nada. Sucede muitas vezes que pessoas atropelam alguém com o seu carro e fogem. Pensam só em evitar problemas; não importa se um ser humano morre por sua culpa. Mas estes são sinais dum estilo de vida generalizado, que se manifesta de várias maneiras, porventura mais sutis. Além disso, como estamos todos muito concentrados nas nossas necessidades, ver alguém que está mal incomoda-nos, perturba-nos, porque não queremos perder tempo por culpa dos problemas alheios. São sintomas duma sociedade enferma, pois procura construir-se de costas para o sofrimento.

É melhor não cair nesta miséria. Fixemos o modelo do bom samaritano. É um texto que nos convida a fazer ressurgir a nossa vocação de cidadãos do próprio país e do mundo inteiro, construtores dum novo vínculo social. Embora esteja inscrito como lei fundamental do nosso ser, é um apelo sempre novo: que a sociedade se oriente para a prossecução do bem comum e, a partir deste objetivo, reconstrua incessantemente a sua ordem política e social, o tecido das suas relações, o seu projeto humano. Com os seus gestos, o bom samaritano fez ver que «a existência de cada um de nós está ligada à dos outros: a vida não é tempo que passa, mas tempo de encontro».[57]

Esta parábola é um ícone iluminador, capaz de manifestar a opção fundamental que precisamos tomar para reconstruir este mundo que nos está a peito. Diante de tanta dor, à vista de tantas feridas, a única via de saída é ser como o bom samaritano. Qualquer outra opção deixa-nos ou com os salteadores ou com os que passam ao largo, sem se compadecer com o sofrimento do ferido na estrada. A parábola mostra-nos as iniciativas com que se pode refazer uma comunidade a partir de homens e mulheres que assumem como própria a fragilidade dos outros, não deixam constituir-se uma sociedade de exclusão, mas fazem-se próximos, levantam e reabilitam o caído, para que o bem seja comum".

Guardando a mensagem

É ainda a palavra do Papa Francisco: “O samaritano do caminho partiu sem esperar reconhecimentos nem obrigados. A dedicação ao serviço era a grande satisfação diante do seu Deus e na própria vida e, consequentemente, um dever. Todos temos uma responsabilidade pelo ferido que é o nosso povo e todos os povos da terra. Cuidemos da fragilidade de cada homem, cada mulher, cada criança e cada idoso, com a mesma atitude solidária e solícita, a mesma atitude de proximidade do bom samaritano”.

Então Jesus lhe disse: “Vá e faça a mesma coisa” (Lc 10, 37)

Rezando a palavra

Rezemos uma das preces com que o Papa encerra a sua bela Encíclica:
Senhor e Pai da humanidade,
que criastes todos os seres humanos com a mesma dignidade,
infundi nos nossos corações um espírito fraterno.
Inspirai-nos o sonho de um novo encontro, de diálogo,
de justiça e de paz.
Estimulai-nos a criar sociedades mais sadias e um mundo mais digno,
sem fome, sem pobreza, sem violência, sem guerras.
Amém.

Vivendo a palavra

Seria muito bom você, hoje, ler alguma página desta Encíclica Fratelli Tutti (Todos irmãos), que trata da fraternidade e da amizade social. 

Para você que recebe diretamente a Meditação, estou enviando um link do capítulo 02 da nova Encíclica que fala sobre a Parábola do Bom Samaritano (é só continuar lendo).

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb


CARTA ENCÍCLICA

FRATELLI TUTTI
DO SANTO PADRE
FRANCISCO
SOBRE A FRATERNIDADE
E A AMIZADE SOCIAL


Capítulo II

UM ESTRANHO NO CAMINHO

56. Tudo o que mencionei no capítulo anterior é mais do que uma asséptica descrição da realidade, pois «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração».[53] Com a intenção de procurar uma luz no meio do que estamos a viver e antes de propor algumas linhas de ação, quero dedicar um capítulo a uma parábola narrada por Jesus Cristo há dois mil anos. Com efeito, apesar desta encíclica se dirigir a todas as pessoas de boa vontade, independentemente das suas convicções religiosas, a parábola em questão é expressa de tal maneira que qualquer um de nós pode deixar-se interpelar por ela:

«Levantou-se, então, um doutor da Lei e perguntou [a Jesus], para O experimentar: “Mestre, que hei de fazer para possuir a vida eterna?” Disse-lhe Jesus: “Que está escrito na Lei? Como lês?” O outro respondeu: “Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo”. Disse-lhe Jesus: “Respondeste bem; faz isso e viverás”. Mas ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?” Tomando a palavra, Jesus respondeu: “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: ‘Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar’. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?” Respondeu: “O que usou de misericórdia para com ele”. Jesus retorquiu: “Vai e faz tu também o mesmo”» (Lc 10, 25-37).

A perspetiva de fundo

57. Esta parábola recolhe uma perspetiva de séculos. Pouco depois da narração da criação do mundo e do ser humano, a Bíblia propõe o desafio das relações entre nós. Caim elimina o seu irmão Abel, e ressoa a pergunta de Deus: «Onde está Abel, teu irmão?» A resposta é a mesma que damos nós muitas vezes: «Sou, porventura, guarda do meu irmão?» (Gn 4, 9). Com a sua pergunta, Deus coloca em questão todo o tipo de determinismo ou fatalismo que pretenda justificar como única resposta possível a indiferença. E, ao invés, habilita-nos a criar uma cultura diferente, que nos conduza a superar as inimizades e cuidar uns dos outros.

58. O livro de Job invoca o facto de ter um mesmo Criador como base para sustentar alguns direitos em comum: «Pois Aquele que me criou no ventre, também o criou a ele; um só nos formou a ambos no seio materno» (31, 15). Muitos séculos depois, Santo Ireneu de Lião expressará o mesmo conceito recorrendo à imagem da melodia: «Assim, quem ama a verdade não deve deixar-se enganar pela diferença entre cada um dos sons, nem imaginar que um músico seja o artífice e o criador deste som, e outro o artífice e o criador do outro (…), mas há de pensar que um único músico os produziu a ambos».[54]

59. Nas tradições judaicas, o dever de amar o outro e cuidar dele parecia limitar-se às relações entre os membros duma mesma nação. O antigo preceito «amarás o teu próximo como a ti mesmo» (Lv 19, 18) geralmente entendia-se como referido aos compatriotas. Todavia, especialmente no judaísmo que se desenvolveu fora da terra de Israel, as fronteiras foram-se ampliando. Aparece o convite a não fazer aos outros o que não queres que te façam a ti (cf. Tob 4, 15). E a propósito dizia, no século I (a.C.), o sábio Hillel: «Isto é a Lei e os Profetas. Todo o resto é comentário».[55] O desejo de imitar o comportamento divino levou a superar aquela tendência de limitar o amor aos mais próximos: «A compaixão do homem tem por objeto o próximo, mas a misericórdia divina estende-se a todo o ser vivo» (Sir 18, 13).

60. O preceito de Hillel recebeu uma formulação positiva no Novo Testamento: «O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas» (Mt 7, 12). Este apelo é universal, tende a abraçar a todos, apenas pela sua condição humana, porque o Altíssimo, o Pai do Céu, «faz com que o Sol se levante sobre os bons e os maus» (Mt 5, 45). Em consequência, exige-se: «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso» (Lc 6, 36).

61. Como motivo para alargar o coração a fim de não excluir o estrangeiro, invoca-se a memória que o povo judeu conserva de ter vivido como estrangeiro no Egito. E tal motivo aparece já nos textos mais antigos da Bíblia: «Não usarás de violência contra o estrangeiro residente nem o oprimirás, porque foste estrangeiro residente na terra do Egito» (Ex 22, 20). «Não oprimirás um estrangeiro residente; vós conheceis a vida do estrangeiro residente, porque fostes estrangeiros residentes na terra do Egito» (Ex 23, 9). «Se um estrangeiro vier residir contigo na tua terra, não o oprimirás. O estrangeiro que reside convosco será tratado como um dos vossos compatriotas e amá-lo-ás como a ti mesmo, porque fostes estrangeiros na terra do Egito» (Lv 19, 33-34). «Quando vindimares a tua vinha, não rebusques o que ficou; deixa-o para o estrangeiro, o órfão e a viúva. Lembra-te que foste escravo na terra do Egito» (Dt 24, 21-22).

No Novo Testamento, ressoa intensamente o apelo ao amor fraterno: «Toda a Lei se cumpre plenamente nesta única palavra: ama o teu próximo como a ti mesmo» (Gl 5, 14). «Quem ama o seu irmão permanece na luz e não corre perigo de tropeçar. Mas quem tem ódio ao seu irmão está nas trevas» (1 Jo 2, 10-11). «Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama, permanece na morte» (1 Jo 3, 14). «Aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê» (1 Jo 4, 20).

62. Mesmo esta proposta de amor podia ser mal compreendida. Foi por alguma razão que, perante a tentação das primeiras comunidades cristãs criarem grupos fechados e isolados, São Paulo exortava os seus discípulos a ter caridade uns para com os outros «e para com todos» (1 Ts 3, 12) e, na comunidade de João, pedia-se que fossem bem recebidos os irmãos, «mesmo sendo estrangeiros» (3 Jo 5). Esse contexto ajuda a entender o valor da parábola do bom samaritano: ao amor não lhe interessa se o irmão ferido vem daqui ou dacolá. Com efeito, é o «amor que rompe as cadeias que nos isolam e separam, lançando pontes; amor que nos permite construir uma grande família onde todos nos podemos sentir em casa (…). Amor que sabe de compaixão e dignidade».[56]

O abandonado

63. Conta Jesus que havia um homem ferido, estendido por terra no caminho, que fora assaltado. Passaram vários ao seu lado, mas… foram-se, não pararam. Eram pessoas com funções importantes na sociedade, que não tinham no coração o amor pelo bem comum. Não foram capazes de perder uns minutos para cuidar do ferido ou, pelo menos, procurar ajuda. Um parou, ofereceu-lhe proximidade, curou-o com as próprias mãos, pôs também dinheiro do seu bolso e ocupou-se dele. Sobretudo deu-lhe algo que, neste mundo apressado, regateamos tanto: deu-lhe o seu tempo. Tinha certamente os seus planos para aproveitar aquele dia a bem das suas necessidades, compromissos ou desejos. Mas conseguiu deixar tudo de lado à vista do ferido e, sem o conhecer, considerou-o digno de lhe dedicar o seu tempo.

64. Com quem te identificas? É uma pergunta sem rodeios, direta e determinante: a qual deles te assemelhas? Precisamos de reconhecer a tentação que nos cerca de se desinteressar dos outros, especialmente dos mais frágeis. Digamos que crescemos em muitos aspetos, mas somos analfabetos no acompanhar, cuidar e sustentar os mais frágeis e vulneráveis das nossas sociedades desenvolvidas. Habituamo-nos a olhar para o outro lado, passar à margem, ignorar as situações até elas nos caírem diretamente em cima.

65. Assaltam uma pessoa na rua, e muitos fogem como se não tivessem visto nada. Sucede muitas vezes que pessoas atropelam alguém com o seu carro e fogem. Pensam só em evitar problemas; não importa se um ser humano morre por sua culpa. Mas estes são sinais dum estilo de vida generalizado, que se manifesta de várias maneiras, porventura mais subtis. Além disso, como estamos todos muito concentrados nas nossas necessidades, ver alguém que está mal incomoda-nos, perturba-nos, porque não queremos perder tempo por culpa dos problemas alheios. São sintomas duma sociedade enferma, pois procura construir-se de costas para o sofrimento.

66. É melhor não cair nesta miséria. Fixemos o modelo do bom samaritano. É um texto que nos convida a fazer ressurgir a nossa vocação de cidadãos do próprio país e do mundo inteiro, construtores dum novo vínculo social. Embora esteja inscrito como lei fundamental do nosso ser, é um apelo sempre novo: que a sociedade se oriente para a prossecução do bem comum e, a partir deste objetivo, reconstrua incessantemente a sua ordem política e social, o tecido das suas relações, o seu projeto humano. Com os seus gestos, o bom samaritano fez ver que «a existência de cada um de nós está ligada à dos outros: a vida não é tempo que passa, mas tempo de encontro».[57]

67. Esta parábola é um ícone iluminador, capaz de manifestar a opção fundamental que precisamos de tomar para reconstruir este mundo que nos está a peito. Diante de tanta dor, à vista de tantas feridas, a única via de saída é ser como o bom samaritano. Qualquer outra opção deixa-nos ou com os salteadores ou com os que passam ao largo, sem se compadecer com o sofrimento do ferido na estrada. A parábola mostra-nos as iniciativas com que se pode refazer uma comunidade a partir de homens e mulheres que assumem como própria a fragilidade dos outros, não deixam constituir-se uma sociedade de exclusão, mas fazem-se próximos, levantam e reabilitam o caído, para que o bem seja comum. Ao mesmo tempo, a parábola adverte-nos sobre certas atitudes de pessoas que só olham para si mesmas e não atendem às exigências ineludíveis da realidade humana.

68. A narração – digamo-lo claramente – não desenvolve uma doutrina feita de ideais abstratos, nem se limita à funcionalidade duma moral ético-social. Mas revela-nos uma caraterística essencial do ser humano, frequentemente esquecida: fomos criados para a plenitude, que só se alcança no amor. Viver indiferentes à dor não é uma opção possível; não podemos deixar ninguém caído «nas margens da vida». Isto deve indignar-nos de tal maneira que nos faça descer da nossa serenidade alterando-nos com o sofrimento humano. Isto é dignidade.

Uma história que se repete

69. A narração é simples e linear, mas contém toda a dinâmica da luta interior que se verifica na elaboração da nossa identidade, que se verifica em toda a existência projetada na realização da fraternidade humana. Enquanto caminhamos, inevitavelmente embatemos no homem ferido. Hoje, há cada vez mais feridos. A inclusão ou exclusão da pessoa que sofre na margem da estrada define todos os projetos económicos, políticos, sociais e religiosos. Dia a dia enfrentamos a opção de ser bons samaritanos ou viandantes indiferentes que passam ao largo. E se estendermos o olhar à totalidade da nossa história e ao mundo no seu conjunto, reconheceremos que todos somos, ou fomos, como estas personagens: todos temos algo do ferido, do salteador, daqueles que passam ao largo e do bom samaritano.

70. Digno de nota é o facto de as diferenças entre as personagens na parábola ficarem completamente transformadas ao confrontar-se com a dolorosa aparição do caído, do humilhado. Já não há distinção entre habitante da Judeia e habitante da Samaria, não há sacerdote nem comerciante; existem simplesmente dois tipos de pessoas: aquelas que cuidam do sofrimento e aquelas que passam ao largo; aquelas que se debruçam sobre o caído e o reconhecem necessitado de ajuda e aquelas que olham distraídas e aceleram o passo. De facto, caem as nossas múltiplas máscaras, os nossos rótulos e os nossos disfarces: é a hora da verdade. Debruçar-nos-emos para tocar e cuidar das feridas dos outros? Abaixar-nos-emos para levar às costas o outro? Este é o desafio atual, de que não devemos ter medo. Nos momentos de crise, a opção torna-se premente: poderíamos dizer que, neste momento, quem não é salteador e quem não passa ao largo, ou está ferido ou carrega aos ombros algum ferido.

71. A história do bom samaritano repete-se: torna-se cada vez mais evidente que a incúria social e política faz de muitos lugares do mundo estradas desoladas, onde as disputas internas e internacionais e o saque de oportunidades deixam tantos marginalizados, atirados para a margem da estrada. Na sua parábola, Jesus não propõe vias alternativas, como, por exemplo, no caso daquele homem ferido ou de quem o ajudou terem dado espaço nos seus corações ao ódio ou à sede de vingança, que sucederia? Jesus não Se detém nisso. Confia na parte melhor do espírito humano e, com a parábola, anima-o a aderir ao amor, reintegrar o ferido e construir uma sociedade digna de tal nome.

As personagens

72. A parábola começa com os salteadores. O ponto de partida escolhido por Jesus é um assalto já consumado. Não nos faz deter na lamentação do facto, nem dirige o nosso olhar para os salteadores. São coisas do nosso conhecimento. Vimos avançar no mundo as sombras densas do abandono, da violência usada para mesquinhos interesses de poder, acúmulo e repartição. A questão poderia ser: deixaremos ali estirado por terra o homem maltratado para correr cada qual a esconder-se da violência ou a perseguir os ladrões? Será o ferido a justificação das nossas divisões irreconciliáveis, das nossas cruéis indiferenças, dos nossos confrontos internos?

73. De imediato a parábola faz-nos pousar o olhar claramente naqueles que passam ao largo. Esta perigosa indiferença que leva a não parar, inocente ou não, fruto do desprezo ou duma triste distração, faz das duas personagens – o sacerdote e o levita – um reflexo não menos triste daquela distância menosprezadora que te isola da realidade. Há muitas maneiras de passar ao largo, que são complementares: uma é ensimesmar-se, desinteressar-se dos outros, ficar indiferente; outra seria olhar só para fora. Relativamente a esta última maneira de passar ao largo, nalguns países ou em certos setores deles, verifica-se um desprezo dos pobres e da sua cultura, bem como um viver com o olhar voltado para fora, como se um projeto de país importado procurasse ocupar o seu lugar. Assim se pode justificar a indiferença de alguns, pois aqueles que poderiam tocar os seus corações com as suas reivindicações simplesmente não existem; estão fora do seu horizonte de interesses.

74. Nas pessoas que passam ao largo, há um detalhe que não podemos ignorar: eram pessoas religiosas. Mais ainda, dedicavam-se a dar culto a Deus: um sacerdote e um levita. Isto é uma forte chamada de atenção: indica que o facto de crer em Deus e O adorar não é garantia de viver como agrada a Deus. Uma pessoa de fé pode não ser fiel a tudo o que essa mesma fé exige dela e, no entanto, sentir-se perto de Deus e julgar-se com mais dignidade do que os outros. Mas há maneiras de viver a fé que facilitam a abertura do coração aos irmãos, e esta será a garantia duma autêntica abertura a Deus. São João Crisóstomo expressou, com muita clareza, este desafio que se apresenta aos cristãos: «Queres honrar o Corpo de Cristo? Não permitas que seja desprezado nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir, nem O honres aqui no templo com vestes de seda, enquanto lá fora O abandonas ao frio e à nudez».[58] O paradoxo é que, às vezes, quantos dizem que não acreditam podem viver melhor a vontade de Deus do que os crentes.

75. Habitualmente os «salteadores do caminho» têm, como aliados secretos, aqueles que «passam pelo caminho olhando para o outro lado». O círculo encerra-se entre aqueles que usam e enganam a sociedade para chupá-la, e aqueles que julgam manter a pureza na sua função crítica, mas ao mesmo tempo vivem desse sistema e seus recursos. Verifica-se uma triste hipocrisia, quando a impunidade do delito, o uso das instituições para interesses pessoais ou corporativos e outros males que não conseguimos banir, se associam a uma desqualificação permanente de tudo, à constante sementeira de suspeitas que gera desconfiança e perplexidade. Ao engano de que «tudo está mal» corresponde o dito «ninguém o pode consertar. Sendo assim, que posso fazer eu?» Deste modo, alimenta-se o desencanto e a falta de esperança; e isto não estimula um espírito de solidariedade e generosidade. Fazer um povo precipitar no desânimo é o epílogo dum perfeito círculo vicioso: assim procede a ditadura invisível dos verdadeiros interesses ocultos, que se apoderaram dos recursos e da capacidade de ter opinião e pensamento próprios.

76. Olhemos enfim o ferido. Às vezes sentimo-nos como ele, gravemente feridos e atirados para a margem da estrada. Sentimo-nos também abandonados pelas nossas instituições desguarnecidas e carentes, ou voltadas para servir os interesses de poucos, fora e dentro. Com efeito, «na sociedade globalizada, existe um estilo elegante de olhar para o outro lado, que se pratica de maneira recorrente: sob as aparências do politicamente correto ou das modas ideológicas, olhamos para aquele que sofre mas não o tocamos, transmitimo-lo ao vivo e até proferimos um discurso aparentemente tolerante e cheio de eufemismos».[59]

Recomeçar

77. Cada dia é-nos oferecida uma nova oportunidade, uma etapa nova. Não devemos esperar tudo daqueles que nos governam; seria infantil. Gozamos dum espaço de corresponsabilidade capaz de iniciar e gerar novos processos e transformações. Sejamos parte ativa na reabilitação e apoio das sociedades feridas. Hoje temos à nossa frente a grande ocasião de expressar o nosso ser irmãos, de ser outros bons samaritanos que tomam sobre si a dor dos fracassos, em vez de fomentar ódios e ressentimentos. Como o viandante ocasional da nossa história, é preciso apenas o desejo gratuito, puro e simples de ser povo, de ser constantes e incansáveis no compromisso de incluir, integrar, levantar quem está caído; embora muitas vezes nos vejamos imersos e condenados a repetir a lógica dos violentos, de quantos nutrem ambições só para si mesmos, espalhando confusão e mentira. Deixemos que outros continuem a pensar na política ou na economia para os seus jogos de poder. Alimentemos o que é bom, e coloquemo-nos ao serviço do bem.

78. É possível começar por baixo e caso a caso, lutar pelo mais concreto e local, até ao último ângulo da pátria e do mundo, com o mesmo cuidado que o viandante da Samaria teve por cada chaga do ferido. Procuremos os outros e ocupemo-nos da realidade que nos compete, sem temer a dor nem a impotência, porque naquela está todo o bem que Deus semeou no coração do ser humano. As dificuldades que parecem enormes são a oportunidade para crescer, e não a desculpa para a tristeza inerte que favorece a sujeição. Mas não o façamos sozinhos, individualmente. O samaritano procurou um estalajadeiro que pudesse cuidar daquele homem, como nós estamos chamados a convidar outros e a encontrar-nos num «nós» mais forte do que a soma de pequenas individualidades; lembremo-nos de que «o todo é mais do que a parte, sendo também mais do que a simples soma delas».[60] Renunciemos à mesquinhez e ao ressentimento de particularismos estéreis, de contraposições sem fim. Deixemos de ocultar a dor das perdas e assumamos os nossos delitos, desmazelos e mentiras. A reconciliação reparadora ressuscitar-nos-á, fazendo perder o medo a nós mesmos e aos outros.

79. O samaritano do caminho partiu sem esperar reconhecimentos nem obrigados. A dedicação ao serviço era a grande satisfação diante do seu Deus e na própria vida e, consequentemente, um dever. Todos temos uma responsabilidade pelo ferido que é o nosso povo e todos os povos da terra. Cuidemos da fragilidade de cada homem, cada mulher, cada criança e cada idoso, com a mesma atitude solidária e solícita, a mesma atitude de proximidade do bom samaritano.

O próximo sem fronteiras

80. Jesus propôs esta parábola para responder a uma pergunta: «Quem é o meu próximo?» (Lc 10, 29). A palavra «próximo» na sociedade do tempo de Jesus costumava indicar a pessoa que está mais vizinha, mais próxima. Pensava-se que a ajuda devia encaminhar-se em primeiro lugar para aqueles que pertencem ao próprio grupo, à própria raça. Para alguns judeus de então, um samaritano era considerado um ser desprezível, impuro, e, por conseguinte, não estava incluído entre o próximo a quem se deveria ajudar. O judeu Jesus transforma completamente esta impostação: não nos convida a interrogar-nos quem é vizinho a nós, mas a tornar-nos nós mesmos vizinhos, próximos.

81. A proposta é fazer-se presente a quem precisa de ajuda, independentemente de fazer parte ou não do próprio círculo de pertença. Neste caso, o samaritano foi quem se fez próximo do judeu ferido. Para se tornar próximo e presente, ultrapassou todas as barreiras culturais e históricas. A conclusão de Jesus é um pedido: «Vai e faz tu também o mesmo» (Lc 10, 37). Por outras palavras, desafia-nos a deixar de lado toda a diferença e, em presença do sofrimento, fazer-nos vizinhos a quem quer que seja. Assim, já não digo que tenho «próximos» a quem devo ajudar, mas que me sinto chamado a tornar-me eu um próximo dos outros.

82. O problema é que Jesus destaca explicitamente que o homem ferido era um judeu – habitante da Judeia –, enquanto aquele que se deteve e o ajudou era um samaritano – habitante da Samaria –. Este detalhe reveste-se duma importância excecional ao refletirmos sobre um amor que se abre a todos. Os samaritanos habitavam numa região que fora contagiada por ritos pagãos, o que – aos olhos dos judeus – os tornava impuros, detestáveis, perigosos. De facto, um antigo texto hebraico, que menciona as nações odiadas, refere-se à Samaria afirmando até que «nem sequer é um povo», e acrescenta que é «o povo insensato que habita em Siquém» (Sir 50, 25.26).

83. Isto explica por que uma mulher samaritana, quando Jesus lhe pediu de beber, tenha observado: «Como é que Tu, sendo judeu, me pedes de beber a mim que sou samaritana?» (Jo 4, 9). E noutra ocasião, ao procurar acusações que pudessem desacreditar Jesus, a coisa mais ofensiva que encontraram foi dizer-Lhe: «tens um demónio» e «és um samaritano» (Jo 8, 48). Portanto, este encontro misericordioso entre um samaritano e um judeu é uma forte provocação, que desmente toda a manipulação ideológica, desafiando-nos a ampliar o nosso círculo, a dar à nossa capacidade de amar uma dimensão universal capaz de ultrapassar todos os preconceitos, todas as barreiras históricas ou culturais, todos os interesses mesquinhos.

A provocação do forasteiro

84. Por fim, lembro que Jesus diz noutra parte do Evangelho: «Era forasteiro e recolheste-me» (Mt 25, 35). Jesus podia dizer estas palavras, porque tinha um coração aberto que assumia os dramas dos outros. São Paulo exortava: «Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram» (Rm 12, 15). Quando o coração assume esta atitude, é capaz de se identificar com o outro sem se importar com o lugar onde nasceu nem donde vem. Entrando nesta dinâmica, em última análise, experimenta que os outros são «a sua carne» (Is 58, 7).

85. Para os cristãos, as palavras de Jesus têm ainda outra dimensão, transcendente. Implicam reconhecer o próprio Cristo em cada irmão abandonado ou excluído (cf. Mt 25, 40.45). Na realidade, a fé cumula de motivações inauditas o reconhecimento do outro, pois quem acredita pode chegar a reconhecer que Deus ama cada ser humano com um amor infinito e que «assim lhe confere uma dignidade infinita».[61] Além disso, acreditamos que Cristo derramou o seu sangue por todos e cada um, pelo que ninguém fica fora do seu amor universal. E, se formos à fonte suprema que é a vida íntima de Deus, encontramo-nos com uma comunidade de três Pessoas, origem e modelo perfeito de toda a vida em comum. A teologia continua a enriquecer-se graças à reflexão sobre esta grande verdade.

86. Às vezes deixa-me triste o facto de, apesar de estar dotada de tais motivações, a Igreja ter demorado tanto tempo a condenar energicamente a escravatura e várias formas de violência. Hoje, com o desenvolvimento da espiritualidade e da teologia, não temos desculpas. Todavia, ainda há aqueles que parecem sentir-se encorajados ou pelo menos autorizados pela sua fé a defender várias formas de nacionalismo fechado e violento, atitudes xenófobas, desprezo e até maus-tratos àqueles que são diferentes. A fé, com o humanismo que inspira, deve manter vivo um sentido crítico perante estas tendências e ajudar a reagir rapidamente quando começam a insinuar-se. Para isso, é importante que a catequese e a pregação incluam, de forma mais direta e clara, o sentido social da existência, a dimensão fraterna da espiritualidade, a convicção sobre a dignidade inalienável de cada pessoa e as motivações para amar e acolher a todos.

Postagem em destaque

Quando o amor sai em missão.

  10 de julho de 2025   Quinta-feira da 14ª Semana do Tempo Comum       Evangelho.      Mt 10,7-15 Naquele tempo, disse Jesus aos seus discí...

POSTAGENS MAIS VISTAS