PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA

VAI ENTRAR OU FICAR DO LADO DE FORA?


Tua mãe e teus irmãos estão aí fora e querem te ver (Lc 8, 19).
O evangelho mostra as muitas oposições que Jesus sofreu dos seus conterrâneos, dos fariseus, das autoridades religiosas e até mesmo de sua família. Houve um momento em que os parentes de Jesus acharam que ele estava ficando louco. Herodes chegou a pensar que ele era a reencarnação de João Batista. Os mestres da lei julgaram que ele estivesse possuído pelo demônio.
A resposta de Jesus à família foi: ‘Meus verdadeiros parentes são os que fazem a vontade de Deus’.  A Pilatos Jesus deu essa resposta: ‘Quem é da verdade, ouve a minha voz’. Sua resposta aos Mestres da lei foi essa: ‘Uma casa dividida é uma casa destruída’. Isso quer dizer que, rejeitando quem pensasse diferente deles, acabariam levando o país à destruição, como de fato aconteceu com o massacre romano, anos depois.
A uns e outros, aos Mestres da lei e aos parentes, Jesus deixou um recado forte:  ‘Pecando contra o Espírito Santo, não tem mais jeito’. Eles estavam, com aquelas suas atitudes, lutando contra o próprio Deus, negando-se a acolher a sua luz, opondo-se à ação do enviado, do Messias.
O Espírito Santo ungiu Jesus para a missão e o sustentava em suas palavras e suas atitudes, pelas quais inaugurava o Reino de Deus. Pecar contra o Espírito é bloquear a ação da graça de Deus na própria vida, negar-se a escutar os seus conselhos ou seguir suas moções. E os Mestres da Lei estavam agindo assim: bloqueando a luz do Santo Espírito. Os parentes de Jesus estavam na mesma pisada, fechando-se à comunicação da verdade de Deus.
Essa expressão “tua mãe e teus irmãos” é uma forma semita de falar da família. Não tem nenhum sentido negativo contra sua mãe Maria. “Tua mãe e teus irmãos” é uma forma de se referir à família dele, uma vez que não tinha mais o pai. Isso quer dizer que um grupo de seus parentes estava do lado de fora. Não entraram. De fato, do lado de fora ficaram Adão e Eva (expulsos do paraíso), as moças distraídas (foram comprar óleo, quando chegaram a porta já estava fechada) e o irmão mais velho do filho pródigo (indignado com a festa que o pai preparou, não quis entrar em casa).
O lugar dos discípulos é dentro da casa, rodeando o Mestre para aprender o caminho do Reino. Eles estão do lado de fora. A palavra de Jesus é um convite para eles se tornarem seus discípulos.
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O texto não diminui a importância da Virgem Maria. Ninguém mais do que ela soube ser obediente à vontade de Deus. A expressão “tua mãe e teus irmãos” é uma forma semita de se referir à família, neste caso à família de Jesus, uma vez que não tinha mais pai. Também não tinha irmãos. “Irmãos” aqui são seus primos ou parentes próximos. Como é fácil compreender, os parentes de Jesus tiveram dificuldade de entender a sua identidade de filho de Deus e a sua missão de Messias. Num certo momento, acharam que ele tinha perdido o juízo. Nessa passagem, eles aparecem do lado de fora, chamando Jesus. Jesus os chama para a condição de discípulos, os convida a ingressarem no círculo dos seus seguidores, a entrarem na casa. Seus verdadeiros parentes são os que, como ele, fazem a vontade de Deus.
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Tua mãe e teus irmãos estão aí fora e querem te ver (Lc 8, 19).

A LUZ DA SALA

Coloca a luz no candeeiro, a fim de que todos os que entram vejam a luz (Lc 8, 16).
Nos evangelhos, é dito com insistência que nós somos luz. Luz para iluminar, para clarear a vida dos outros. Jesus se proclamou “luz do mundo”. Ele nos ilumina e nos faz também luz para o mundo. Nós, como cidadãos do Reino, pessoas abençoadas por Deus, somos testemunhas do amor de Deus, um sinal luminoso do seu Reino no mundo.
Nesse sentido, somos luz no mundo, cidade edificada na montanha, lamparina no lugar alto da casa. Testemunhamos que, em nossa pequenez, fomos resgatados por seu amor. Em nós, a sua graça e o seu amor resplendem, nos fazendo luz para os outros. Luz de Deus para a vida dos outros. Outros podem encontrar sentido em suas vidas, à luz do nosso testemunho. Quem está peregrinando neste mundo, em nós pode encontrar uma referência, como um viajante que avista de longe a cidade sobre o monte e se localiza em seu trajeto. Minha família não vai ficar na escuridão, porque a luz de Deus que preenche a minha vida pode iluminá-la como uma lamparina pendurada no teto. Por nossas boas obras que testemunham o amor de Deus pelos seus filhos, muita gente pode encontrá-lo e bendizê-lo.
Na verdade, você não é luz porque é um exemplo de vida, uma pessoa sem defeitos, um anjo de criatura. Não, você torna-se uma luz para o mundo, porque Deus enche de luz a sua vida (é o que nos dizem as bem-aventuranças). Você é bem-aventurado porque Deus lhe deu o seu Reino, fez-lhe seu filho/sua filha, consolou você em sua aflição. É isso que você testemunha, é disso que você fala, é esse brilho que está em seu sorriso e em suas obras: a luz de Deus que inunda a sua vida.
Então, não se esconda. Não se camufle. Hoje, mostre a sua cara. Fale, sorria, aconselhe, testemunhe. Seja hoje um canal da luz de Deus para a vida de sua família, de seus amigos, dos que hoje encontrarem você.
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O Senhor com a sua graça e com sua Palavra enche nossa vida de luz. Somos chamados a difundir essa luz para iluminar os ambientes humanos em que vivemos: nossa casa, nossa vizinhança, nosso local de trabalho. Seus ensinamentos, as verdades que proclamou, ditos ontem e hoje em ambientes reservados, precisam ser proclamados e difundidos abertamente. Ele é a luz do mundo. Nós, iluminados por ele, temos a vocação de lâmpada acesa no lugar alto da sala, estamos aí para iluminar a vida dos outros.
Coloca a luz no candeeiro, a fim de que todos os que entram vejam a luz (Lc 8, 16).
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Senhor Jesus,
Quando eras uma criancinha e foste levado ao Templo para a consagração dos primogênitos, o profeta Simeão te tomou nos braços e disse que tu eras a luz para iluminar as nações do mundo. Tu mesmo admitiste na presença dos teus discípulos: ‘Eu sou a luz do mundo, quem me segue não anda nas trevas’. Uma vez iluminados com a tua luz, chamaste a nossa atenção para sermos também iluminadores dos outros. Hoje, te pedimos, Senhor, que a tua luz não se apague em nosso coração e em nossa vida. E que essa luz que vem de tua Palavra, de tua presença através da Igreja, da Eucaristia seja a luz que eu reflito para os que comigo convivem ou comigo se encontram. Seja o bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Pe. João Carlos Ribeiro- 19.09.2016/25.09.2017

QUE DEUS É ESSE?


O Reino dos Céus é como a historia do patrão que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha (Mt 20, 1).

Quase todo mundo diz que crê em Deus. Ficamos até satisfeitos com isso. Mas, em que Deus realmente crêem? Claro, só há um Deus, é nesse que cremos. Certo. Mas, o que conhecemos desse Deus? Será que o pensamos que ele seja bate realmente com o que ele é? Não será que muita gente tem uma imagem confusa de Deus? E, na verdade, crê é nessa imagem confusa que ele faz de Deus? Pode ser, não é verdade?

Quem sabe direitinho quem é Deus? Bom, o povo de Israel compreendeu muita coisa de Deus, ao longo de sua história. Deus fez aliança com eles, se revelou a esse seu povo. Então, seu testemunho de fé, nas Escrituras, nos mostra muito desse Deus que se manifestou a Moisés e aos profetas, libertando o povo da escravidão, dando-lhes uma lei e uma terra. Esse Deus libertador prometeu-lhes também o Messias. E o Messias veio, foi Jesus. Mas, eles tiveram dificuldade de reconhecê-lo.

Os que acolheram o Messias enviado na pessoa de Jesus, reconheceram que ele era o filho unigênito de Deus. Perceberam que sua vida, suas atitudes, sua morte e ressurreição manifestavam com maior clareza quem era esse Deus que havia se revelado a Israel.  O filho é quem sabe quem é o Pai. E o filho revelou que o Deus único que Israel conheceu é Pai, um pai onipotente, não simplesmente um senhor poderoso e distante. Um pai de família, preocupado com os seus filhos, não um fiscal marcando o que a gente faz de bom e de ruim. Pai, não só dos filhos de Israel, mas Pai amoroso de cada homem ou mulher vindo a esse mundo à sua imagem e semelhança. Pai, que é Deus junto com o Filho. E os dois nos comunicam uma terceira pessoa, o Santo Espírito, os três compondo a Trindade Santa, o único Deus. Pela obra de Jesus, o Pai dá a cada filho o seu Espírito. Assim, quem se une a Jesus, pelo batismo, recebe a adoção filial, fica filho de Deus.

A maior parte dos religiosos do tempo de Jesus irritou-se com essas coisas que Jesus revelou sobre Deus. Isso abalava o seu modo de viver a religião e de organizar a vida em sociedade. Jesus mostrava, com suas palavras e suas atitudes, que Deus estava mais preocupado com as pessoas do que com as leis, as normas, por mais religiosas que fossem. Os fariseus viam nisso uma falta de respeito ao sábado, uma coisa tão sagrada para louvar a Deus.  Jesus mostrou que o mais agradava a Deus era amar o irmão necessitado, com atitudes e obras, como o fez o samaritano da história que ele contou. Sacerdotes e levitas, a turma do Templo, ficaram com raiva dessa história. Nela, eles é que não acudiram o pobre. Quando prenderam Jesus, a principal acusação no Sinédrio foi que Jesus se dizia filho de Deus. O que Jesus revelou sobre Deus foi o que mais escandalizou o seu povo. Isso abalava o modo deles crerem e de organizarem a vida em sociedade.

A SEMENTE NA ESTRADA

Enquanto semeava, uma parte caiu à beira do caminho; foi pisada e os pássaros do céu a comeram (Lc 8, 5).
Jesus contou a história da semente que foi plantada em vários terrenos. Quatro terrenos. À beira da estrada, em terra muita pedregosa, em um terreno coberto de espinhos e em uma terra boa, bem preparada. E aí, é claro, colheu somente no bom terreno. E explicou o que significam os terrenos e a semente. A semente é a palavra de Deus. E os terrenos representam o modo como nós recebemos a Palavra.
Eu nunca prestei muita atenção nessa parte da semente que caiu à beira da estrada. Mas, outro dia fiquei pensando no assunto, e concluí que se trata de uma coisa bastante comum em nossa vida. É que, às vezes, estamos tão distraídos, que não fica nada do que foi semeado. Ou então deixamos todo mundo passar por nós e pisotear tudo o que nos é caro. É por isso que Jesus falou da semente que caiu no caminho: é que nossa vida assim vira um estrada, onde todo mundo passa, onde todo mundo pisa. A palavra semeada nem tem a chance de germinar. Como disse Jesus, vêm os pássaros e a comem. Os homens passam e a pisoteiam. A semeadura à beira da estrada não produz nada.
É de se pensar: você não tem uma área de sua vida reservada, o melhor de você mesmo para acolher o que Deus lhe diz? Você não tem um cantinho importante de sua vida, onde ninguém pisa, onde ninguém manda, um lugar reservado onde você pensa sua vida e toma suas decisões? Sabe o porquê dessa essa pergunta? Porque se a gente escuta todo mundo, e qualquer opinião nos influencia, no meio de tantas vozes cada um puxando para o seu lado, a voz de Deus fica apenas mais uma opinião. A gente vira um caminho onde todo mundo passa, uma passarela de opiniões, onde tudo parece ter o mesmo peso... e a voz de Deus, que seria a nossa referência maior, não é mais ouvida ou não é levada a sério.
Você conhece a ventoinha, aquele espécie de bandeira-saquinho que marca a direção do vento nos aeroportos. A ventoinha enche-se de ar e fica a favor do vento. Mostra a direção da corrente de ar. Pra onde o vento der, ela se vira. Quem manda é o vento. Uma pessoa não pode ser uma ventoinha. Muda de opinião, faz opções segundo o vento, isto é, a opinião pública, o quê os outros estão valorizando ou o que a mídia define como o melhor. Uma pessoa precisa ter um rumo certo pra seguir, valores onde afirmar a própria caminhada. Só a voz de Deus pode dar um rumo certo à minha vida. O seu Espírito, que me habita desde o batismo, é quem vai dialogando comigo, no meu íntimo, e me ajudando a andar no rumo certo. Eu não sou uma ventoinha. E a minha vida não pode ser uma estrada onde todo mundo pisa.
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Uma parte da semente caiu à beira do caminho. As sementes foram pisadas. Os pássaros a comeram. Jesus explicou que se trata de quem ouviu a Palavra, mas o diabo a tirou do coração dele. Há pessoas recebendo a Palavra de Deus como um caminho. A Palavra é só mais uma entre tantas, não reservaram o melhor de sua atenção e do seu coração para acolhê-la. Por esse caminho todo mundo anda e pisa. E claro, não faltam passarinhos para roubar a semente. Os passarinhos são as distrações ou mesmo pequenas preocupações que nos fazem esquecer a Palavra que recebemos.
Enquanto semeava, uma parte caiu à beira do caminho; foi pisada e os pássaros do céu a comeram (Lc 8, 5).

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Senhor Jesus,
Às vezes, recebemos a tua Palavra como um caminho, uma estrada, por onde circula gente pisando a terra e onde a Palavra fica vulnerável à investida dos pássaros. Assim, a Palavra não tem a chance de germinar, brotar, crescer e frutificar. É diferente quando a gente reserva um terreno bom para receber a Palavra. E um terreno bom significa tempo que eu dedico para ouvir e meditar a Palavra, a importância e o peso que eu dou a esta Palavra e o cuidado para que nem a opinião dos outros, nem as distrações ou as preocupações da vida roubem os preciosos ensinamentos do nosso Deus. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Pe. João Carlos Ribeiro – 13.07.2014/23.09.2017

JESUS E AS DISCÍPULAS

Os doze iam com ele; e também algumas mulheres que haviam sido curadas de maus espíritos e doenças (Lucas 8, 1-2)

A situação da mulher no tempo de Jesus não era das melhores. A gente hoje conhece um pouco mais dos costumes dos povos do Oriente Médio e vê que ainda hoje a mulher vive uma condição de grande submissão e inferioridade.  Na Palestina, a terra de Jesus, se vivia uma estrutura social patriarcal. O homem é que contava.

O evangelho é uma permanente proclamação de liberdade para os oprimidos, incluídas as mulheres. Ele foi proclamado e vivido por Jesus numa sociedade que discriminava a mulher. Jesus não estava de acordo com aquele jeito da sociedade menosprezar a mulher e só dar valor ao homem. O evangelho mostra ele conversando, no poço de Jacó, com uma mulher estrangeira, de outra religião, de reconhecida má conduta, a samaritana. Ele hospeda-se na casa de Marta e Maria, suas amigas e discípulas. Algumas mulheres inclusive andavam com ele, no seu grupo de discípulos, e o evangelho guarda até o nome de algumas delas. É o que está no evangelho de hoje. Elas andavam com Jesus e seus discípulos e lhes davam suporte em suas atividades. Eram discípulas também.

Na verdade, as mulheres são apresentadas no evangelho como as mais fiéis a Jesus. Foram elas que chegaram até o final do caminho, na cruz. Os discípulos homens, quase todos, desapareceram na hora da paixão. Restaram as mulheres, com toda fidelidade. E mais: numa cultura em que o testemunho da mulher não valia nada, foram elas as primeiras testemunhas da ressurreição de Cristo.

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Inspirados na prática de Jesus, nós precisamos continuar trabalhando para que a novidade do evangelho que ele viveu e anunciou não se perca e acabemos reforçando os preconceitos que ainda persistem discriminando as mulheres. Precisamos viver a grande novidade que ele nos legou. Jesus nos libertou para vivermos a igualdade e a fraternidade. O papel dos cristãos é fermentar a sociedade com o bom fermento do evangelho. E o evangelho, que foi anunciado por Jesus dentro de uma sociedade patriarcal, liberta a mulher de sua condição de inferioridade e também o homem de sua condição de desumanização ao discriminar a mulher.

Os doze iam com ele; e também algumas mulheres que haviam sido curadas de maus espíritos e doenças (Lucas 8, 1-2)

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Senhor Jesus,
Somos cristãos, abraçamos o teu evangelho, mas ainda andamos longe de viver integralmente a tua palavra. No teu modo humano de viver, em tuas palavras guardadas no livro santo, há uma proclamação da igualdade fundamental entre todos os seres humanos. Mas, infelizmente, continuamos repetindo o modo preconceituoso, excludente que herdamos de nossa cultura machista e autoritária, mal suportando as conquistas que as mulheres fizeram ao longo de séculos para serem  respeitadas em seus direitos fundamentais. Dá-nos, Senhor, compreender e ensinar o que o apóstolo Paulo escreveu na carta aos Gálatas:  “Não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Jesus Cristo” (Gl 3, 28). Seja o teu santo nome bendito, hoje e sempre Amém.


Pe. João Carlos Ribeiro – 16.09.2016/21.09.2017

MATEUS NÃO ESPERAVA

Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: “Segue-me!” Ele se levantou e seguiu Jesus (Mt 9 , 9)
A escolha de Jesus foi surpreendente. Ele chamou um cobrador de impostos para segui-lo, para fazer parte do seu grupo. Um cobrador de impostos? Era o tipo de gente detestada, porque arrancava o dinheiro do povo em favor dos dominadores romanos. Estavam a serviço dos pagãos, eram, portanto, tidos como traidores e impuros. E ainda assim, Jesus o chamou. “Segue-me”. O homem vê a cara, mas Deus vê o coração. Jesus o chamou para ser seu discípulo. Ele mesmo explicou depois: “eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores”.
 
A resposta de Mateus também foi surpreendente, foi imediata e generosa. Ele se levantou e seguiu Jesus. Deixou a sua posição cômoda, seu emprego de funcionário de uma rede de serviço associada ao Império e seguiu Jesus. Estava sentado na coletoria de impostos e levantou-se, acompanhando Jesus prontamente. E mais: deu um jantar em sua casa para Jesus e seus discípulos e convidou seus amigos de profissão, razão de escândalo e crítica para os fariseus. Mateus, desta forma, está homenageando seu Mestre e aproximando-o de outros pecadores como ele. Seu exemplo certamente levou outros a abraçarem o convite de Jesus, tornando-se discípulos do Reino de Deus.
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Jesus chamou um cobrador de impostos para ser seu discípulo. Fez dele um apóstolo. Mateus, o convidado, aceitou com prontidão e generosidade o convite. E logo arrumou um jeito de colocar Jesus em contato com seus colegas de profissão. E qual é a lição que você pode tirar desse evangelho? Bom, não aja como um fariseu, se escandalizando porque Jesus continua se misturando com os pecadores e os convidando a se tornarem seus discípulos. Ele veio para chamar os pecadores. Encante-se com Jesus, que age de uma forma assim tão surpreendente. E mais: Reconheça que também você é um pecador, uma pecadora que precisa se levantar de seu comodismo, de sua zona de conforto para por o pé na estrada, na companhia de Jesus. E prepare-se para enfrentar a língua dos fariseus, porque de fariseu o mundo está cheio.
Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: “Segue-me!” Ele se levantou e seguiu Jesus (Mt 9 , 9).
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Senhor Jesus,
A prontidão de Mateus em largar tudo e te seguir nos encanta. Chamado, não ficou protelando a sua adesão. Entendendo que o convite para te seguir comportava largar aquele vínculo de serviço ao Império como cobrador de impostos e a segurança do seu emprego, ele soube largar tudo, sem demora, nem desculpas. É um exemplo para nós, Senhor, esse teu apóstolo e evangelista. Também nos encanta o fato de tu, Senhor,  não o teres discriminado por sua condição de colaborador dos romanos, mas o teres convocado para a missão, ao teu lado. Precisamos aprender contigo, Senhor, a dar valor às pessoas. Precisamos aprender com Mateus a responder com generosidade ao teu chamado. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Pe. João Carlos Ribeiro - 21 de setembro de 2017

CRIANÇA EMBURRADA


Tocamos flauta para vocês e não dançaram; fizemos lamentações e não choraram (Lc 7, 32)
Brincadeira de criança é coisa séria. Nas brincadeiras, as crianças podem representar e reproduzir sentimentos e atitudes que estão à sua volta. A brincadeira é uma fonte de socialização para as crianças, mas também de elaboração da compreensão do mundo que as rodeia.  Nas brincadeiras, na forma de brincar, vão sendo cultivadas  atitudes positivas e generosas como a partilha, o perdão, a alegria pelo êxito do outro, o cuidado, a atenção ao mais frágil. Mas, também nas brincadeiras, aparecem tendências ruins para a violência, o egoísmo, a ganância, o isolamento, a discriminação.
Os adultos precisam estar sempre atentos às brincadeiras das crianças. E, precisam estar por perto especialmente, nos impasses, nas brigas, nos descontentamentos.  É aí que entram a mãe, o pai, os avós, os tios... corrigindo tendências negativas, estimulando os bons sentimentos, reforçando a melhor perspectiva, numa palavra, educando. E mais: evangelizando: levando as crianças a entender a bondade de Deus no sentido da festa, da alegria, do amor e a ver a sacralidade do outro coleguinha, imagem também de Deus. Afinal, fazendo da brincadeira um espaço de crescimento na fraternidade, no amor ao próximo.
E por que eu estou dizendo isso tudo? Para valorizar a palavra de Jesus, que partiu da observação das brincadeiras de crianças do seu tempo. Ele comparou o povo do tempo dele a uma cena que ele já tinha vivido com seus coleguinhas na infância em Nazaré ou visto nas brincadeiras das crianças nas ruas de Cafarnaum, a cidade onde ele estava morando.  A cena era essa: crianças emburradas que não estavam satisfeitas com nada. Olha a palavra dele:  “Com quem vou comparar essa geração? Ah, são como crianças sentadas nas praças, que gritam para os colegas, dizendo: ‘Tocamos flauta e vocês não dançaram. Entoamos lamentações e vocês não bateram no peito!”.
As crianças do tempo de Jesus brincavam com as situações que eles viam: festas de casamento, por exemplo; funerais celebrados em família com seus ritos. Podemos imaginar as brincadeiras a que Jesus está se referindo... “tocamos flauta e vocês não dançaram”: brincar de festa; “entoamos lamentações e vocês não bateram no peito”: brincar de alguma coisa triste, como enterro, exílio... As brincadeiras de criança imitam o mundo real.
Sempre acontecia nas brincadeiras, podemos supor, que um grupo emburrado se negava a participar da brincadeira. Uns começaram a brincar de festa e eles não topavam. Então, para contentá-los, tentavam brincar de uma coisa mais parada e eles também se negavam a participar. Olha, não tem coisa pior do que criança emburrada, que não quer brincar e fica pondo mau  gosto na brincadeira dos outros, não é verdade?
Jesus aplicou esse impasse das brincadeiras infantis ao que estava acontecendo ao seu redor. João Batista era um pregador austero, falava do julgamento de Deus. Um grupo ficou contra e falava mal do profeta. Veio Jesus, que pregou o Reino de Deus como uma festa, frequentava a casa do povo e falava do perdão de Deus. O mesmo grupo ficou contra, emburrado. Negou-se a participar.

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