PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA

Santo de casa

Aquilo que Jesus falou "o profeta não é bem recebido em sua própria pátria" foi uma afirmação, uma reclamação ou uma lamentação? Ele disse "o profeta não é bem recebido em sua própria pátria" na Sinagoga de Nazaré, diante da má acolhida dos seus conterrâneos. Eles não quiseram lhe dar crédito. Ele estava explicando que as palavras do livro santo estavam se cumprindo naquela ocasião, em sua missão. Começaram a murmurar, achando que Jesus estava indo longe demais. Todos o conheciam, era o filho do carpinteiro. Seus parentes eram todos conhecidos naquela vila de Nazaré. De onde lhe viria tanta sabedoria? E outros comentavam descrentes: "ele anda fazendo milagre por todo canto, vamos ver se ele faz um milagre aqui". E chegaram a expulsá-lo da sinagoga e da Vila.  A acolhida fria, desconfiada e violenta dos seus conterrâneos dava razão ao ditado "o profeta não é bem recebido em sua própria pátria". Foi uma lamentação o que Jesus disse, não foi uma afirmação. Não é que tem que ser assim. Infelizmente, é assim que vem acontecendo.

O rico e o inferno

Por que será que o rico foi parar no inferno? Estou falando da parábola que Jesus contou. O rico foi parar no inferno, puxa vida. Jesus começou descrevendo o rico: roupas finas e elegantes, e todo dia dava esplêndidos banquetes. E o pobre: coberto de feridas, sentado à porta do rico. Ele tinha nome, Lázaro. Jesus não colocou um nome no rico, por alguma razão ficou anônimo. O pobre com fome, coitado, esperando pelo menos as migalhas que caiam da mesa do banquete do rico. E nada. Morreram os dois. Um se encontrou no calorão, em meio às chamas, lá em baixo. O outro, no bem-bom, lá em cima, no lugar do consolo, junto do pai Abraão. O rico gritou lá de baixo, pedindo ajuda. Nada a fazer, foi a resposta de Abraão. Pelo menos, implorou o desgradaçado, mandar Lázaro avisar aos seus cinco irmãos. Não dá, voltou a resposta, os seus cinco irmãos já têm Moisés e os Profetas. Moisés e os Profetas é um modo de se referir à Torá, à Palavra de Deus. Eles têm a palavra de Deus que orienta, exorta, repreende. Que a escutem.
A pergunta permanece: afinal, por que o rico foi parar no inferno? Não se pode dizer que foi porque ele tinha muitos bens, porque era muito rico. Talvez isso lhe tenha fechado o coração. Ou talvez sua riqueza não tenha sido conseguida de maneira honesta. Mas, a parábola de Jesus, salvo engano, não fala disso. Só diz que o pobre Lázaro, à sua porta, não conseguia nem as migalhas que caiam de sua mesa. Nem os restos. Nada, só cães para lamberem-lhe as feridas. O rico nem notou a sua presença, não o amou, não o ajudou, não o incluiu em suas festas. O rico não teve misericórdia para com o pobre. Não foi misericordioso.
E ser misericordioso era tudo o que Jesus estava ensinando. Sejam misericordiosos, como o pai do céu é misericordioso. Amem, ajudem, emprestem, doem, perdoem, defendam... isso é ser misericordioso, explicava Jesus. Dá pra lembrar aquela cena do julgamento, desenhada pelo próprio Jesus. Venham para o repouso que lhes foi preparado, porque eu tive fome e vocês me deram de comer; era peregrino, e vocês me acolheram; estive doente e preso, e me vocês me visitaram. E vão para o castigo eterno vocês que não me fizeram isso. Toda vez que não fizeram isso ao menor dos meus irmãos, não o fizeram a mim. Então, deixando de servir a Lázaro, o pobre pestilento sentado à sua porta, o tal rico deixou de servir e honrar o próprio Senhor.

O Francisco do Papa

O Papa adotou o nome de Francisco e isso nos deixou muito felizes. Felizes pelo que isso significa. Ele mesmo explicou o sentido desta escolha no encontro com a imprensa nos primeiros dias do seu pontificado. Quando, no Conclave, os votos alcançaram dois terços, seu amigo brasileiro cardeal Claudio Hummes o abraçou e lhe disse: "Não se esqueça dos pobres". Aquela palavra ficou na cabeça dele. E logo ele pensou em Francisco de Assis.  As palavras agora são dele: "E Francisco é o homem da paz, o homem que ama e tutela a Criação... neste momento em que nosso relacionamento com o meio-ambiente não é tão bom..." E disse mais: "Francisco é o homem que nos dá esse espírito de paz, o homem pobre... Ah, como gostaria de uma Igreja pobre e pelos pobres!".

O Papa, em poucas palavras, deu uma bela explicação do nome que ele escolheu. Francisco é o homem pobre, o homem da paz, o homem do meio-ambiente. De verdade, São Francisco de Assis escolheu a pobreza, a solidariedade com os mais vulneráveis e marginalizados. Foi assim no final do século XII, quando deixou a casa e a fortuna do seu pai Bernardone para viver uma vida de simplicidade e de comunhão com os pobres. Nisso havia uma denúncia da burguesia nascente e da igreja do seu tempo tentadas pelo luxo e pela riqueza. Simplicidade e confiança na providência divina foi o que ele lembrou ao Papa Inocencio III, quando o visitou em sua corte. O Papa Francisco anseia por uma Igreja pobre e pelos pobres. Foi o que ele disse. Esse era também o pensamento do outro Francisco, o de Assis. Numa visão, na Igreja de São Damião, ele ouviu esse pedido de Jesus: "Francisco, restaura a minha Igreja".

O Papa ao lembrar-se das guerras de hoje em tantos lugares do planeta, lembrou de novo do poverello de Assis. Francisco de Assis tinha integrado uma Cruzada e tocado de perto a insanidade da guerra. "Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver discórdia, que eu leve a união". É a oração de São Francisco e de qualquer pessoa que queira viver o Evangelho de Jesus, a prece de quem quer merecer a bem-aventurança do Senhor: "Felizes os que constroem a paz. Serão chamados filhos de Deus".

Mas Francisco de Assis evoca também o amor e o respeito por todos os seres criados. O Papa mesmo reconhece: "estamos vivendo num momento em que o relacionamento com o meio-ambiente não é tom bom". Na verdade, é predador, destruidor, poluidor. Esse é o tipo de relacionamento que temos hoje com os rios, a terra, o ar, as plantas, os animais.

Frei Betto, escritor e frade dominicano, disse em uma entrevista nesta semana: "Nunca houve um Papa com este nome, São Francisco de Assis. E isso é muito significativo por três razões: é símbolo da ação pelos pobres; da ecologia, pelo amor à natureza; e terceiro, foi um santo que sonhou que a Igreja estava desmoronando e que precisava reconstruí-la".

Nosso cardeal brasileiro Cláudio Hummes disse que "Francisco é um nome que diz uma imensidade: programa de vida, programa de Igreja; é um programa para um Papa, um programa maravilhoso porque é evangélico".

A Revista Veja  fez essa análise: "A opção pelo nome "Francisco" constitui uma carta de intenções. A escolha do nome indica que o novo pontificado será marcado pela austeridade".

Nós estamos seguros que o 'Francisco" do Papa é o modo como ele está exercendo seu ministério petrino: em solidariedade com os pobres, no respeito pelos bens da criação, na busca da paz entre os povos e as religiões e na simplicidade de servidor do Evangelho.

Pe. João Carlos Ribeiro – 16.03.2013

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