Neste mês de fevereiro, estamos rezando, com o Papa Francisco, pelos jovens que sentem o chamado da missão de Cristo na vida sacerdotal e religiosa.
Zaqueu, a nossa cara
O rico e o inferno
Compreender a Palavra
Semente na estrada
Jesus contou a história da semente que foi plantada em vários terrenos. Quatro terrenos. À beira da estrada, em terra muita pedregosa, em um terreno coberto de espinhos e em uma terra boa, bem preparada. E aí, é claro, colheu somente no bom terreno. E explicou o que significam os terrenos e a semente. A semente é a palavra de Deus. E os terrenos representam o modo como nós recebemos a Palavra.
Eu nunca prestei muita atenção nessa parte da semente que caiu à beira da estrada. Mas, outro dia fiquei pensando no assunto, e concluí que se trata de uma coisa bastante comum em nossa vida. É que, às vezes, estamos tão distraídos, que não fica nada do que foi semeado. Ou então deixamos todo mundo passar por nós e pisotear tudo o que nos é caro. É por isso que Jesus falou da semente que caiu no caminho: é que nossa vida assim vida vira um estrada, onde todo mundo passa, onde todo mundo pisa. A palavra semeada nem tem a chance de germinar. Como disse Jesus, vêm os pássaros e a comem. Os homens passam e a pisoteiam. A semeadura à beira da estrada não produz nada.
Calcular pra não fracassar
Uma coisa só te falta
Eu preciso do seu perdão
A cruz da vitória
Compreender a Palavra
Como enfrentar as ofensas
Palavra libertadora
A limonada
Apresentaram um limão a duas pessoas. O que fazer com um limão? Uma fez cara feia: azedo, nem pensar! O outro abriu um sorriso, teve uma ideia: vai dar uma gostosa limonada. O primeiro teve um olhar negativo, deixou-se levar peloimpacto da ideia que lhe veio em mente: o sabor azedo. O outro teve um olhar positivo, viu possibilidades naquele limão: uma gostosa limonada.
O que para um parece uma dificuldade, para outro revela-se uma oportunidade. A dificuldade, o problema pode se tornar em uma oportunidade de crescimento, de uma nova solução, de um salto adiante. É preciso superar obstáculos, superando-se na própria percepção dos problemas. Porque problemas não faltam na vida de ninguém. E é possível que um problema possa gerar novas soluções, novas oportunidades.
Fico olhando para Jesus na Última Ceia e me encanto em ver como ele fez da traição de Judas uma oportunidade para sua missão. "Um que come comigo, levantou contra mim o calcanhar". Era Judas, preparando-se para oferecer sua consultoria aos chefes do Templo de Jerusalém. Pelos seus serviços de entrega de Jesus no Horto, receberia 30 moedas de prata. E olha que Judas tinha sido escolhido por Jesus e o tinha acompanhado nos três anos de missão. Vira Jesus preocupado com o povo, defendendo os fracos e curando os doentes. Ainda assim, venceu nele o instinto de busca de interesse pessoal, suas expectativas de se dar bem a qualquer custo. Traiu o Mestre. Entregou-o aos seus inimigos. E Jesus ficou um tanto triste na Ceia, mas logo se recuperou. Aproveitaria da mancada do discípulo para oferecer a sua própria vida em remissão dos pecados do povo. Judas ajudou Jesus a realizar sua tarefa até o fim. De uma dificuldade, Jesus fez uma oportunidade. Da traição de um discípulo, Jesus deu uma finalização redentora à sua paixão e morte. Ninguém tomaria a pulso sua vida, ele a entregaria livremente.
E a história dos discípulos Paulo e Barnabé em Antioquia da Pisídia. Paulo pregou na Sinagoga. Os judeus de lá ficaram primeiro curiosos, mas depois sentiram-se ameaçados. E não permitiram mais que falasse. Rejeitaram sua pregação em que anunciava Jesus como o filho de Deus enviado para a salvação do povo. Proibiram que os apóstolos falassem. Paulo deu a volta por cima. "Já que vocês judeus não querem saber dessa boa notícia, vamos anuncia-la aos pagãos". E olha que a acolhida dos pagãos foi entusiasta, muitos se converteram e se batizaram. O cristianismo espalhou-se por todo o mediterrâneo entre uma grande maioria pagã. De uma dificuldade, Paulo fez uma grande oportunidade. De barrada nas sinagogas dos judeus, a Palavra penetrou em amplos ambientes do mundo greco-romano.
"Quando se fecha uma porta, Deus abre uma janela", é a sabedoria popular. E São Paulo: "Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus" (Rm 8,28). Então, em vez de pensar que tudo está perdido, procure logo onde apoiar os pés para um salto de qualidade. E, afinal, transformar o azedo do limão numa gostosa limonada.
Pe. João Carlos – 20.05.2011
Analfabetismo bíblico
São vários os tipos de analfabetismo. Em matéria de analfabetismo absoluto, o Brasil ainda tem ainda 10% de pessoas nessa faixa. É triste isso. E mais 20% de analfabetos funcionais, os que não conseguem interpretar um texto. Mas, hoje se fala também em analfabetismo digital. E com razão, pois muita gente que sabe ler e escrever ainda não sabe se comunicar com os recursos digitais: computador, internet, ipod, terminais eletrônicos, etc. Outro analfabetismo é o que Bertold Brecht descreveu: o analfabeto político. Mas, está me ocorrendo um outro analfabetismo igualmente grave para os tempos de hoje: o analfabeto bíblico. Alguns nessa área são analfabetos absolutos. E muitos outros, são analfabetos bíblicos funcionais.
Essa forma de analfabetismo me parece grave nos dias de hoje, especialmente entre os cristãos. O analfabeto bíblico seria alguém que, por desconhecer o livro dos cristãos, não consegue uma compreensão e uma comunicação adequada sobre a sua fé. "E não basta crer?", perguntaria alguém. Não. É preciso mais: é preciso dar as razões da própria fé, como está escrito na Carta de Pedro. E a fé cristã está assentada fundamentalmente nas Escrituras Sagradas e na Tradição que a transmite e explica. Sem um conhecimento bíblico mínimo, não se consegue compreender boa parte do discurso religioso católico, protestante, evangélico ou ortodoxo.
É claro que o Novo Testamento é a parte mais conhecida pelas pessoas, onde se encontra a história da vida de Jesus, seus ensinamentos e o desenvolvimento das comunidades cristãs após a sua ressurreição. Mas, o Novo Testamento não se entende sem o Antigo. As raízes da fé cristã estão na história religiosa do povo de Israel, o povo em Aliança com o Deus único. A comunidade dos seguidores de Jesus está em continuidade com a grande tradição religiosa do povo eleito: os seus patriarcas (Abraão, Isac, Jacó), os seus profetas (Amós, Oséias, Isaías, Jeremias, Jonas, Malaquias, Daniel), os seus reis (Davi, Salomão, Josias), a Torah, a lei de Moisés, suas festas religiosas (páscoa, pentecostes, cabanas), etc. Não dá para compreender o Novo Testamento sem uma referência direta às Escrituras de Israel, os 46 livros do Antigo Testamento.
E não se pode achar que está tudo bem assim. Não está. Não é possível, nos dias de hoje, um cristão ser leigo na Bíblia. Leigo aqui, de maneira pejorativa. Estamos em uma sociedade com um leque enorme de modelos, possibilidades e opções. Quem for cristão tem que ser de verdade, e saber bem os fundamentos de sua fé. Em um mundo como o nosso, o cristão tem que fazer a diferença. E atitudes, comportamentos e projetos de vida alinhados com o Evangelho não se sustentam na superficialidade. Eles têm que ter um sólido alicerce. O conhecimento bíblico é uma dessas pedras fundamentais na construção de uma vida marcada pela fé em Cristo.
Aliás, devemos estender esse pensamento para todo mundo, mesmo para quem não é membro de nenhuma igreja. Estamos em uma cultura ocidental onde quase tudo continua fazendo referência ao mundo religioso cristão, ancorado na Bíblia. E mais ainda, os valores com que hoje pretendemos pautar nossa vida privada e social, continuam a se alicerçar todos eles nos ensinamentos religiosos do livro dos cristãos. Assim é a justiça, a equidade social, a tolerância, o respeito à vida, a defesa da família, os direitos humanos, a solidariedade, a fraternidade, a honestidade... Enfim, não conhecer a Bíblia é uma grave lacuna na base cultural da nação. Analfabetismo bíblico, absoluto ou funcional, é um sério problema a ser enfrentado.
Pe. João Carlos – 07.07.2011
Águas mais profundas
Avancem para águas mais profundas. Orientação de Jesus a Pedro e aos seus companheiros de pesca. Convite de Jesus a todos nós.
Águas mais profundas na convivência. O corre-corre da vida pode ir nos fazendo superficiais nos nossos relacionamentos. Sem verdadeiro encontro de pessoas ninguém se sente integrado, valorizado, feliz. É aí que chega Jesus e nos diz: Avancem para águas mais profundas no relacionamento com os outros. Passar de um relacionamento de frieza, indiferença, desconfiança, superficialidade para um relacionamento de cordialidade, amizade, interesse pelo bem do outro.
Águas mais profundas na vida de família. O Pe. Zezinho já cantou: "o amor virou consórcio, compromisso de ninguém". Ser família é um dom, um presente de Deus. O nosso amor pela família se mostra no cuidado da casa e das pessoas, na atenção às situações de doença, de solidão, de crise. Família é o contrário de egoísmo, de individualismo, de indiferença. Família tem que ser lugar do respeito, do amor verdadeiro, do diálogo. Passar do eu para o nós, do meu para o nosso. Dar o primeiro passo, perdoar... ir além das aparências, ir além da obrigação... aprofundar mais a vida de família.
Águas mais profundas na luta pela sobrevivência. Está tão difícil ganhar o pão de cada dia com o suor do próprio rosto. É tanto desemprego, tanta exploração... A gente pode sair cada dia para o trabalho ou para procurar um emprego com um sentimento negativo, de quem está fazendo uma coisa aborrecida e dolorosa. É aí que chega Jesus e nos diz: Avancem para águas mais profundas. Passem de um corre-corre mal-humorado, aborrecido, indo em frente por obrigação para um modo de buscar ganhar a vida com otimismo, sentindo-se útil no que faz, servindo com generosidade, realizando bem as próprias tarefas, enfrentando com criatividade e perseverança as dificuldades do mundo do trabalho.
Águas mais profundas na sua vida cristã. Não basta ser religioso. É preciso, pela religiosidade, aproximar-se do Deus verdadeiro, para estar em comunhão com ele e realizar a sua vontade. Há muita atitude religiosa superficial, sem profundidade, sem conversão. É aí que chega Jesus e nos diz: Avancem para águas mais profundas na religiosidade. Passem de um estilo interesseiro, supersticioso, movido à obrigação para a gratuidade do louvor e da ação de graças a Deus, o sentimento de reparação pelas próprias faltas e as dos outros, disposição para a conversão, uma religiosidade movida a amor, não à obrigação.
Em águas rasas não dá para pescar com abundância. Sem esforço, sem entrega, sem sacrifício não se colhe com fartura. É preciso arriscar mais, engajar-se mais, aderir com maior profundidade. Nos relacionamentos, na vida de família, na luta pela sobrevivência, na vivência da religião. É preciso avançar para águas mais profundas. É hora de escutar o que Jesus está nos dizendo. E levá-lo a sério.
Pe. João Carlos
O recado tem pressa
A Conferência de Aparecida falou de discípulos e missionários. Missionário é quem tem um recado para dar. Não é o dono do recado. Mas, tem pressa em desincumbir-se do mandado que recebeu. Foi encarregado de dar o recado. E o recado é importante para o destinatário. E tem pressa de chegar ao conhecimento do interessado.
Antigamente, quando se falava de missionário, vinha logo à mente a figura das santas missões que os frades pregavam por toda parte. Missionários eram os frades pregadores. Graças a Deus, hoje, a mentalidade já mudou bastante. Hoje podemos encontrar, em muitos lugares, até crianças que se dizem missionárias. Elas pertencem à Infância Missionária. Elas são muitas e muito animadas e ativas. Desde cedo vão aprendendo que a missão é atributo de todo cristão. Desde pequeno vão crescendo nessa mentalidade e no exercício de um cristianismo ativo, preocupado com os mais pobres e os mais afastados.
O fervor missionário foi o segredo da expansão do cristianismo nas suas origens. E o fervor missionário se explica pelo amor a Jesus Cristo. Nos primeiros anos que se passaram após a ressurreição de Jesus, os discípulos movidos em parte pela perseguição, em parte pelo zelo do anúncio, espalharam-se pelo Oriente Médio e depois por todo o Mediterrâneo. Em cada lugar, comunicavam os acontecimentos da vinda salvadora de Jesus e criavam comunidades. Foi uma explosão de testemunho e de fé.
Os missionários, além das grandes distâncias que tinham que percorrer, tinham que enfrentar muita resistência dos judeus espalhados pelas cidades do império romano e quase sempre colheram perseguições por conta do governo imperial. Foi um tempo de grande fervor missionário, regado com o sangue de muitos mártires. Não há missão sem uma boa de martírio, de imolação, de sofrimento. Não foi à toa o alerta de Jesus: segui-lo significaria a renúncia de si mesmo e um caminho diário de cruz. É o caminho do missionário.
Mas, não é só de cruz o caminho do cristão que assume a missão. Na verdade, o missionário vive da alegria da entrega de si mesmo em favor da boa nova que vai sendo comunicada. Alegria também. É só lembrar o missionário Jesus naquela prece de ação de graças: Pai, eu te dou graças porque estás revelando o Reino aos pequeninos. As dores do parto não têm nem comparação com a alegria pelo nascimento da criança. É ouvir seu choro, tomá-lo nos braços e todas as dores que o precederam são esquecidas ou ao menos relevadas. As incompreensões, canseiras, dificuldades, perseguições com que os missionários e as missionárias semeiam seu testemunho não têm comparação com a alegria de ver alguém sendo restaurado, encontrando a vida e a felicidade em crer. É como diz o salmo 126: "os que vão semeando entre lágrimas, colherão cantando os seus feixes".
O recado é o de Cristo, do amor do Pai revelado nele. O missionário precisa levar esse recado a todo mundo, em todo canto. O missionário, a missionária é você. A única coisa que pode explicar seu zelo missionário é o seu amor a Jesus Cristo. Levar o recado tem seu preço, renúncias, incompreensões... mas, quando contemplamos o rosto de quem recebeu de coração aberto o recado do Mestre, aí sabemos que valeu a pena.
Pe. João Carlos – 01.07.2011
O Mestre e o discípulo
Por alguma razão, Jesus e os seus seguidores adotaram um relacionamento de tipo discípulos-Mestre. Foi assim desde o começo. Aqueles que se deixavam tocar pelo anúncio do Reino, eram convidados por Jesus a segui-lo. Faziam-se discípulos dele. Para muitos, seguir Jesus era também andar com ele, peregrinar com ele por todo o país, conviver com ele em sua peregrinação apostólica. Para outros, segui-lo era tê-lo como referência, ouvir suas pregações, participar de suas reuniões e voltar pra casa. Mas, no ritmo cotidiano de sua vida, manter-se atentos aos seus ensinamentos, à sua maneira de viver.
Certamente esse modelo discípulo-mestre era já conhecido pelo povo de Deus. Alguns profetas tiveram discípulos. E esse modelo era praticado por alguns grupos do tempo de Jesus, por exemplo os fariseus e os essênios. Os mestres tinham seus discípulos, seus alunos. Mas Jesus não era um simples professor, um sábio ou um doutor da Lei. Tinha algo de diferente, uma marca particular que o fazia único e admirado. Seu ensinamento renovava pessoas, revigorava gente cansada do sofrimento. Os prodígios e milagres que aconteciam confirmavam suas sábias palavras. Ele falava do Reino de Deus. E, como dizia o povo, falava com autoridade. Convocava à conversão, como o Batista. Acolhia os pecadores e denunciava a presunção dos que se pensavam santos e justos.
Os discípulos acompanhavam o Mestre, aprendiam com ele que estava sempre em movimento. Em particular, ele lhes explicava as parábolas e revelava coisas importantes sobre seu relacionamento com o Pai. A certa altura de sua breve trajetória, começou a antecipar-lhes a rejeição e o sofrimento que enfrentaria até à morte. Mantinha perto de si um grupo mais próximo, a quem chamava de apóstolos. No grande grupo de discípulos, havia mulheres e homens. E com certeza não era um grupo pequeno. Uma vez enviou em missão um grupo de 72 discípulos. Era um grupo considerável, com certeza.
E qual era o relacionamento que existia entre Jesus e os seus discípulos? Uma grande afeição, além do sentimento de admiração e confiança. Uma grande afeição, uma amizade profunda. É só pensar no que Jesus disse na última ceia: eu não chamo vocês de servos. Vocês são meus amigos. E aquela outra palavra: ninguém tem maior amor do que aquele dá a vida por seus amigos. Jesus era amigo dos seus discípulos, lhes queria bem, daria a vida por eles. Rezou naquela bela oração: Pai, quero que onde eu estiver, estejam aqueles que me deste. É verdade que os discípulos foram fracos e na hora "h" quase todas ficaram com medo e se acovardaram. As discípulas mostram-se mais fiéis: na hora da cruz elas estavam lá, sem poder fazer nada, mas ao lado do amigo fiel.
Tudo isso eu estou lembrando pra dizer que o seu relacionamento com Jesus só pode ser o de discípulo. Você é discípulo dele, discípula dele. E entre o discípulo e o Mestre Jesus, o relacionamento é de amizade, de confiança, de confidência. Ele é o seu amigo fiel. Verdadeiramente ele ama você, tanto que ofereceu sua vida para lhe resgatar, para abrir as portas da felicidade e da comunhão com Deus. Não fale com ele como se ele fosse um desconhecido. Vou lhe dizer uma coisa: o que define o cristão não é ser uma pessoa religiosa. O que define um cristão é ser uma pessoa apaixonada pelo Mestre.
Pe. João Carlos – 30.06.2011
Como vencer a tempestade
Quem é que não tem problemas na vida? Qual é a vida que não tem sofrimento, crises, desencontros? Pois é, todo mundo tem a sua tempestade. Aliás, muitas tempestades. As coisas vão andando bem, tudo em ordem, de repente, um problema, uma turbulência.
Na história dos discípulos de Jesus tem uma cena que dá o que pensar. Estão no barco em pleno mar da Galiléia. De repente, vento forte, ondas revoltas, tempestade no mar. E o pessoal ficou com muito medo, porque o barco estava afundando. Era gente experiente no mar, mas a coisa estava ficando feia. O resto vocês lembram bem: Jesus estava dormindo no barco, eles o acordaram pedindo ajuda, Jesus acalmou o vento e o mar. Mas também reclamou que eles tivessem uma fé tão fraca.
Penso que a história do evangelho responde a uma inquietante pergunta: como é que a gente faz pra vencer uma tempestade? Eles, naquela situação-limite (a tempestade no mar), tiveram uma profunda experiência de Deus. Viram de perto a atuação salvadora de Deus. Admiraram-se com aquele homem, a quem o vento e o mar obedecem. Em Jesus, eles viram o próprio Deus agindo para salvá-los.
Como é que se faz pra vencer a tempestade? A história dos discípulos dá a resposta em três tempos. Primeiro: Tenha Jesus no seu barco. Tenha Jesus no seu barco. O barco é uma representação de sua vida, de seu casamento, de sua profissão, de sua comunidade. Aliás, no evangelho, a barca de Pedro é a própria Igreja, singrando os mares do mundo. É uma representação da igreja missionária. Se Jesus não estiver no barco, a coisa fica mais difícil ou mesmo sem solução. É preciso que Jesus esteja presente em sua vida, em sua profissão, em sua família. Mesmo que ele pareça ausente (na história, estava dormindo). Então, tenha Jesus no seu barco.
A segunda pista também está no texto. Os discípulos acordaram Jesus e pediram que os salvasse. A segunda pista é essa: Recorra ao Senhor, pela oração. Deus já sabe de que precisamos, mas precisamos pedir. É uma forma de afirmar nossa dependência de Deus, nossa confiança nele. Então, recorra a Jesus, pela oração. Pede quem precisa e confia. É claro que a oração não é só na hora da necessidade, mas também nela. Na tempestade, recorra a Jesus, reze.
A terceira pista é essa: tenha uma atitude de fé e de confiança em Deus. Jesus achou que os discípulos, pelo desespero que demonstraram, tinham uma fé ainda fraca. Especialmente nessas horas é preciso ter uma atitude de fé e de confiança em Deus. A fé nos dá serenidade nas horas difíceis, tranqüilidade para enfrentar os problemas, sem desespero e sem angústias.
Na canção "Tempestade", que compus e gravei no Cd Profetas expliquei o porquê vou ficar tranqüilo no meio da tempestade. "Porque quem manda o vento serenar e diz pro mar revolto se aquietar é o Senhor, o Senhor que acalma o mar".
Pe. João Carlos – 29. 06.2011
Sem amor, não tem religião
Religião não é obrigação, é paixão. Não é lei, é amor. O amor supera a lei. O amor supera a obrigação. Vem do profeta Oséias a palavra que Jesus repetiu: Eu quero amor, não sacrifícios. Sem o amor, a religião vira uma coisa chata, uma obrigação enfadonha, um peso. Só o amor faz a religião ser uma coisa doce, agradável, prazerosa.
Mas não é qualquer amor que explica a religião. É o amor a Deus. E, antes de tudo, o amor de Deus. Deus nos ama e manifesta esse amor ao longo da história. Numa pessoa, apareceu ainda mais claro o amor apaixonado de Deus por nós. Em Jesus. Ele enviou o seu filho único, porque amou muito o mundo. E quis muito nos resgatar e assim estendeu a mão para nós. Ou melhor, abriu os braços para nos receber num abraço de reconciliação, como na história do filho pródigo. Jesus realizou isso que o Pai queria. Ele abriu os seus braços humanos e divinos na cruz para nos acolher. E nos abraçar na comunhão do Pai e do Santo Espírito. O amor de Deus é um lado da moeda.
O outro lado da moeda é o amor da gente por Deus. E por Jesus, o enviado, que nos tratou como amigos e ofereceu sua vida para nos resgatar. O amor a Cristo é o outro lado da medalha. Aí existe a religião cristã: o amor de Deus por nós e o nosso amor por ele. O apóstolo João tinha razão. Ele se achava o discípulo amado. Todo discípulo é o discípulo amado. Só se faz discípulo quem se sente profundamente compreendido, acolhido, amado. É o amor que explica o seguimento de Jesus.
Dá pra escutar Jesus conversando com Simão Pedro, passando a limpo a sua traição. "Simão, tu me amas?" Se o ama, dá pra recomeçar. Se o discípulo ama de verdade o Mestre, então tudo pode ser superado e remediado. É assim que o remédio do perdão pode ser tomado e faz efeito. E o amor ao Mestre é um amor acima de qualquer outro amor. Acima da família, acima do amor ao pai e à mãe, acima do amor aos filhos. O amor a Jesus está em primeiro lugar. É o primeiro mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas.
Então, podemos pensar assim: se a sua vivência religiosa está esfriada, se você anda distante da fé, se se sente desmotivado nas coisas da religião... é bem possível que o seu amor ao Mestre ande meio superficial, meio faz de conta. Talvez você não o conheça bem. Talvez você olhe a religião apenas pelo lado da obrigação. Vou lembrar a você: a Palavra de Deus não é um livro, é uma pessoa. Lembra da passagem: "E o verbo se fez carne e habitou entre nós"? A palavra é a comunicação do amor com que Deus nos ama. E a palavra de Deus, o Verbo, finalmente fez-se uma pessoa na história humana: Jesus. Uma pessoa que nos ama. Uma pessoa que merece o seu amor.
Sem uma amizade profunda entre o discípulo e o Mestre não há religião cristã. Entre o pastor e a ovelha há um vínculo de amizade, de confiança, de afeto. Você é o discípulo amado. Ele é o pastor que dá a vida por você, porque o ama. Deixe-se convencer por esse amor tão grande. Deixe-se vencer por esse amor tão forte. Responda ao amor com o amor.
E quando a medida é o amor, então a gente faz as coisas com gosto e faz mais do que a norma manda, porque o amor não tem medida. É, sem o amor, não tem religião.
Pe. João Carlos – 28.06.2011
Amor e obrigação
O cristianismo não é primariamente uma lei, um código de normas de conduta ou um conjunto de prescrições cultuais. O cristianismo não é uma lei. O povo da antiga aliança colocou, no centro de sua experiência religiosa, a Lei, a Torah. No tempo de Jesus, o grupo mais preocupado com a fidelidade à Lei eram os fariseus. Os mais estudados deles, os escribas, desenvolveram centenas de normas e obrigações. Assim, a Lei, ou seja a Torah, tornou-se algo muito pesado, rigoroso e opressor. Um fardo pesado. Jesus denunciou o rigorismo e a hipocrisia dos doutores da Lei. Alertou os seus discípulos nesse tom: "eles amarram fardos pesados e insuportáveis e os põem nos ombros dos outros, mas eles mesmos não querem movê-los, nem sequer com um dedo" (Mateus 23, 4). Jesus, opondo-se a esse olhar legalista sobre os escritos sagrados, marcou a diferença: "o meu jugo é suave, o meu fardo é leve" (Mateus 11, 30), disse ele. Definitivamente, a religião cristã não pode ser uma lei.
É claro que o cristianismo, com a sua Bíblia e mesmo com o direito canônico, tem normas e leis. Tem leis, mas não é uma lei. O que Jesus revelou com sua vida e suas palavras não foram leis e regras de conduta. Ele revelou o amor de Deus. O evangelista explicou assim essa presença de Jesus: "Deus amou tanto o mundo que enviou o seu filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16). Deus amou o mundo, por isso enviou seu filho. O que se espera do discípulo de Jesus, em primeiro lugar, não é o cumprimento de normas. Mas, uma resposta de amor ao amor de Deus revelado nele.
Lembram da pergunta que Jesus fez a Simão Pedro, depois de ressuscitado: "Tu me amas?". Simão tinha negado Jesus. Precisava retornar ao primeiro passo, à condição fundamental para ser um discípulo: o seu amor a Jesus. "Tu sabes tudo. Tu sabes que eu te amo", foi a resposta de Pedro. O cristianismo é a resposta de amor do discípulo ao amor de Deus manifestado em Cristo. Não é uma lei, é um amor correspondido.
Mas também no Antigo Testamento já era assim, só que num certo momento apareceu mais a obrigação do que o amor. A oração por excelência de Israel era: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a alma e com todas as tuas forças" (Deuteronômio 6, 4-5). O amor é a resposta esperada. E amor apaixonado, total. "Com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças".
O cristianismo é o amor dos discípulos por Jesus. Amor que faz de nós seus seguidores. Amor acima de tudo e de todos. Como está no primeiro mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas. Assim, Jesus cobrou dos seus seguidores: "Quem ama pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim. E quem ama filho ou filha mais do que a mim, não é digno de mim" (Mateus 7, 37-38). Amar a Jesus de maneira cabal, acima de tudo e de todos: é isso que nos faz ser cristãos.
É certo que fica a preocupação: mas, e as normas, e as leis, e os mandamento? Tudo tem seu lugar, mas bem depois do amor. São expressões do amor do discípulo para com o seu Mestre e a sua comunidade. Mas só o amor dá sentido a tudo isso. Sem amor a Jesus, isso tudo vira um peso, uma obrigação e caímos de novo no farisaísmo.
Pe. João Carlos – 27.06.2011
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