PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA: preconceitos
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A SUJEIRA DE DENTRO

O que torna a pessoa impura não é o que vem de fora, mas o que sai do seu interior (Mc 7, 15).

12 de fevereiro de 2020.

No tempo de Jesus, havia uma preocupação exagerada com a pureza ritual. A pureza era a condição de quem estava limpo, de quem não foi contaminado por alguma coisa externa. Muita coisa podia contaminar uma pessoa e torná-la impura. E uma vez impura, a pessoa tinha que passar por muitos rituais para se limpar: quarentena, banho, abluções, sacrifícios de animais e outras coisas mais. A pessoa impura ficava afastada das coisas de Deus, não podia praticar a religião publicamente, não estava em condições de se apresentar a Deus. Nem podia estar junto dos outros, para não contaminá-los.

E o que causava impureza para uma pessoa? A lista é longa. O sangue era o elemento mais perturbador da harmonia religiosa do povo de Deus. Nisto, a mulher saía muito prejudicada pela menstruação mensal e pelo parto. Muitos alimentos estavam proibidos, pois transmitiam impureza, por exemplo, carne de porco e de outros animais. Também se tornava impuro quem tocasse num morto, quem tivesse qualquer aproximação com pagãos, quem tivesse qualquer contato com um leproso. Era um crime um impuro se aproximar de uma pessoa e, impensável, que viesse a tocá-la. Isto contaminaria gravemente a pessoa que fosse tocada.

Você já percebeu que as leis da pureza no tempo de Jesus representavam uma grande opressão para as pessoas, impedindo que se cuidasse melhor dos doentes, discriminando os pobres e marginalizando ainda mais a mulher. Os fariseus, que formavam uma numerosa confraria de homens praticantes da Lei, ficavam antenados para recriminar ou denunciar qualquer um que não andasse segundo essas leis da pureza. E Jesus, você sabe, não estava muito preocupado com essas leis, fruto de uma religiosidade feita de coisas exteriores e fomentadora de discriminação entre as pessoas.

O grave era que Jesus era tocado por pessoas impuras. A mulher do fluxo de sangue tocou na franja do seu manto. Ele tocou no leproso para curá-lo. Pegou no caixão do morto em Naim, e mandou o rapaz se levantar. Desculpou os discípulos que estavam comendo sem terem lavado as mãos... Jesus não era um bom cumpridor das leis da pureza ritual do seu tempo. E os fariseus ficavam revoltados com isso. O raciocínio de Jesus era simples: não é o que entra pela boca que suja o homem, que o torna impuro. O que torna impura uma pessoa é o que sai dela, as coisas ruins que vêm do seu coração. O coração, para o povo da Bíblia, é onde se tomam as decisões. Aí ele fez uma lista: más intenções, imoralidades, roubos, assassinatos, adultérios, ambições, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho,... Tudo isso sai do coração de uma pessoa, disse Jesus. Isso, sim, torna a pessoa impura.


Guardando a mensagem

O que faz impura uma pessoa não é o que vem de fora, mas o que sai de dentro do seu coração. Foi esse o ensinamento de Jesus. O que vamos guardar da palavra dele, hoje? Uma lição pode ser essa: se uma prática, religiosa ou não, servir de alguma forma para desprezar, discriminar, afastar, cercear a liberdade, com certeza não é uma coisa de Deus. Outra lição: Com certeza, há muitos preconceitos que nós introjetamos durante a vida de que deveríamos nos libertar. Jesus era uma pessoa livre e libertadora. Por amor a Deus e aos irmãos, procure libertar-se dos preconceitos.

O que torna a pessoa impura não é o que vem de fora, mas o que sai do seu interior (Mc 7, 15).

Acolhendo a mensagem

Senhor Jesus,

Ficamos olhando, com curiosidade e admiração, para tua pessoa, vivendo na Galileia, naqueles anos 30. Eras um judeu piedoso, conhecedor das Escrituras como muitos outros, fiel às celebrações da sinagoga e às peregrinações anuais, respeitoso da bela história de fé do teu povo. Quando falavas do Reino, do amor misericordioso de Deus, revelando-o como pai amoroso dos seus filhos e filhas, o povo ficava encantado. Essa verdade de um Deus próximo e amoroso mexia com a religião de Israel, ou melhor, punha em xeque aquela religiosidade marcada por normas e ritos externos. Foi por isso que os fariseus e os mestres da lei reagiram tão ferozmente. Eles saíram em defesa da tradição como eles a entendiam e de sua posição de liderança ameaçada. Dá-nos, Senhor, que essa novidade, que é o teu evangelho, seja sempre um fermento para nos libertar de qualquer farisaísmo e de toda opressão. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Hoje, no seu diário espiritual (ou na sua agenda ou no seu caderno), anote as 13 coisas ruins que saem do coração. Isso sim torna a pessoa impura, disse Jesus. Para saber quais, leia Marcos 7, 14-23.

12 de fevereiro de 2020
Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

POR FAVOR, DEFENDA JESUS

Eu não vim para chamar justos, mas sim pecadores (Mc 2, 17)
18 de janeiro de 2020
Eu queria saber se você gosta de coalhada. E que tal leite ou queijo de cabra? Ah... É que eu ia convidar você para um jantar na casa de uma pessoa muito especial, na casa de Seu Levi... Mas, de frutas você gosta? Talvez lá sirvam frutas secas como tâmara, uva-passa, figo... Pão integral feito em casa vai ter na mesa, com certeza. E, claro, é possível que sirvam vinho. Um conselho: ponha água no seu vinho, porque é meio grosseiro, muito forte. Mas, é gostoso. Então, está feito o convite. Jantar, hoje, na casa de Seu Levi. Quem vai estar lá? Além de você? Ah, lá vai estar um convidado muito especial: Jesus. Ah, que bom, então você vai! Ótimo.  
É o seguinte. Jesus chamou Seu Levi para fazer parte do grupo dele. Seu Levi é empregado na coletoria de impostos, aqui em Cafarnaum, mas largou tudo para andar com Jesus. E hoje, Jesus vai jantar na casa dele. E ele está convidando os amigos para estarem lá. Vai ter um bocado de gente. Jesus, com certeza, vai com o grupo dele. Agora, como você também vai, eu preciso lhe dar umas dicas para você se ambientar melhor. Você sabe, já começam as críticas contra Jesus. Pode ser que alguém, sentado perto de você, faça alguma insinuação maldosa contra o Mestre. Por isso, eu queria lhe passar algumas informações. É bom pra você depois não ficar com a mente confusa ou até mesmo você ter condições de defender Jesus dessas línguas ferinas.  
O que você precisa saber é o seguinte. Seu Levi é um cobrador de impostos. Bom, isso você já sabe. O cobrador de impostos não é bem visto por aqui. E eu lhe digo o porquê. Eles cobram o imposto para os dominadores romanos. Cobrar o imposto é tratá-los como um povo dominado pelos estrangeiros, a quem devem entregar boa parte do fruto do seu trabalho. No fundo, os cobradores de impostos são colaboradores dos romanos. Além do mais, os romanos são pagãos, com quem os hebreus não deviam ter nenhuma amizade. Então, com certeza, você vai encontrar pessoas que estão estranhando essa aproximação entre Jesus e Levi. E, pior, Levi convidou seus amigos cobradores de impostos para estarem lá também. Os fariseus não vão perdoar isso. Os cobradores de impostos são tidos como pecadores. Vai rolar muita crítica. Mas, não vá se assustar com isso.
Repare só a cabeça das pessoas aqui: elas não querem se misturar com pecadores. Todo o povo na Palestina pensa assim. Tem os que praticam a Lei, a Lei de Moisés. Esses são os justos. E tem os que fazem tudo errado, são os pecadores. Justo não deve se misturar com pecador. Jesus não devia ser amigo de cobradores de impostos. Mesa, mesa é coisa sagrada. Um justo não pode comer com um pecador. Um hebreu não pode comer com um pagão. A mesa é um sinal de amizade. O povo de Deus não tem comunhão de mesa com os pagãos ou com os pecadores. Se você entendeu isso, você vai entender alguma crítica que você venha a escutar hoje, no jantar, na casa de seu Levi.
Com certeza, alguém vai olhar pra você de cara feia e vai lhe perguntar: Por que ele come com os cobradores de impostos e com os pecadores? ... Veja lá o que você vai responder.
Guardando a mensagem
Jesus chamou um cobrador de impostos para ser seu discípulo. Esse foi Levi, chamado depois de Mateus. O chamado de Jesus já foi uma surpresa, porque mostrou uma nova mentalidade, sem discriminação, nem preconceitos. A resposta de Levi foi também surpreendente: aceitou imediatamente o convite de Jesus e deixou tudo para segui-lo. No jantar em sua casa, houve muitas críticas sobre essa aproximação de Jesus com os pecadores. Jesus deu uma razão muito simples: só quem está doente é que precisa de médico. Nós vivemos num mundo que se acha muito liberal, mas nos movemos no meio de muitos preconceitos. Pelo preconceito, excluímos as pessoas, desrespeitamos sua dignidade e seus direitos. É hora de aprender com Jesus a incluir, a integrar, a defender quem foi marginalizado, a viver com outra lógica.
Eu não vim para chamar justos, mas sim pecadores (Mc 2, 17)
Rezando a palavra
Senhor Jesus,
Fechando o coração, como os fariseus, nós perdemos a novidade que vem de tuas ações e de tuas palavras, do teu evangelho. Dá-nos, Senhor, que a novidade do Reino que tu inauguraste neste mundo, com um novo olhar e com novas atitudes, encontre abrigo em nossos corações e nos capacite a também sermos construtores de novas relações e de uma nova sociedade. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.
Vivendo a palavra
Se você já tiver o seu diário espiritual, o seu caderno de anotações, responda lá à pergunta que lhe fizeram no jantar na casa de Levi: Por que ele come com os pecadores? Não tendo o caderno, escreva a resposta em outro lugar.
18 de janeiro de 2020
Pe. João Carlos Ribeiro, sdb



Santo de casa

Aquilo que Jesus falou "o profeta não é bem recebido em sua própria pátria" foi uma afirmação, uma reclamação ou uma lamentação? Ele disse "o profeta não é bem recebido em sua própria pátria" na Sinagoga de Nazaré, diante da má acolhida dos seus conterrâneos. Eles não quiseram lhe dar crédito. Ele estava explicando que as palavras do livro santo estavam se cumprindo naquela ocasião, em sua missão. Começaram a murmurar, achando que Jesus estava indo longe demais. Todos o conheciam, era o filho do carpinteiro. Seus parentes eram todos conhecidos naquela vila de Nazaré. De onde lhe viria tanta sabedoria? E outros comentavam descrentes: "ele anda fazendo milagre por todo canto, vamos ver se ele faz um milagre aqui". E chegaram a expulsá-lo da sinagoga e da Vila.  A acolhida fria, desconfiada e violenta dos seus conterrâneos dava razão ao ditado "o profeta não é bem recebido em sua própria pátria". Foi uma lamentação o que Jesus disse, não foi uma afirmação. Não é que tem que ser assim. Infelizmente, é assim que vem acontecendo.

Superando preconceitos

Quantos preconceitos nos impedem de realizar o mandamento de Jesus de amar o próximo como a si mesmo?!

Vocês se lembram da parábola que Jesus contou para explicar bem o mandamento do amor ao próximo? A parábola do bom samaritano. Um homem foi assaltado e deixado semimorto. Muitos preconceitos impediam que alguém pudesse se aproximar dele para ajudá-lo. Para os judeus, as leis da pureza, ensinadas pela elite que controlava o Tempo de Jerusalém, impediam que alguém tocasse num morto. Por isso, seus irmãos judeus, embora muito religiosos, como o sacerdote e o levita, não o puderam ajudar. Passaram, viram-no e foram embora. Para os samaritanos,  também os preconceitos impediam que alguém ajudasse o cidadão assaltado e espancado: sobretudo a fobia que eles tinham contra os judeus, tidos como inimigos e hereges. E vice-versa.

Foi precisamente vencendo todos os preconceitos, que o samaritano aproximou-se do judeu semimorto e o ajudou. Curou-lhe as feridas, levou-o para uma hospedaria e pagou pelos cuidados que lhe seriam dispensados. Para ele, não contou que o socorrido fosse um judeu, um estrangeiro, um herege voltando de uma romaria. Contou que ele precisava de sua ajuda, do seu apoio, do seu tempo, do seu prestígio de comerciante, do seu dinheiro. Empenhou tudo, serviu com tudo que ele era e tinha. Esqueceu os preconceitos, não viu mais o inimigo, o estrangeiro, o de outra religião. Viu o irmão precisando de ajuda.

Jesus estava contando isso aos fariseus, uma gente cheia de preconceitos... que discriminava os samaritanos como hereges, os estrangeiros como impuros, os leprosos como amaldiçoados por Deus; gente que desprezava os cobradores de impostos como traidores e os pobres como ignorantes da Lei; gente mesquinha que se achava santa demais, em detrimento dos outros que eles julgavam pecadores, não praticantes da religião, indignos e desprezíveis. Sua autoestima desclassificava as mulheres, as crianças, os doentes, os presos, os doentes mentais...

Os fariseus de ontem continuam nos fariseus de hoje, sobretudo em nós. Quando alcançamos um pouco mais de estudo, olhamos para trás e classificamos de ignorantes, analfabetos, burros os que não tiveram as mesmas oportunidades que nós. Quando olhamos para as mulheres no volante, já calculamos que vão fazer "barbeiragem". Somos os mesmo fariseus. Quando olhamos para um menino pobre na rua, o coração dispara como se estivesse na frente de um perverso inimigo. E é apenas uma criança. Quando do alto de nossa espiritualidade e da agenda repleta de compromissos pastorais, olhamos para a simplicidade da fé das pessoas que nos cercam e balançamos a cabeça imaginando-as gente sem instrução religiosa, gente sem Deus, gente precisando de conversão. Os fariseus de ontem continuam nos fariseus de hoje. Em nós.

Os nossos preconceitos não nos permitem enxergar homens e mulheres destruídos olhando a vida passar nas grades de uma penitenciária. Nossos preconceitos não enxergam gente que precisa de apoio e compreensão por trás da máscara hilariante de um travesti. Nossos preconceitos só enxergam invasores, lá onde pais de famílias desesperados, pelo desemprego, pela fome, pela inércia do poder público lutam por reforma agrária.

O samaritano passou por cima de todos os preconceitos que a sua sociedade lhe tinha ensinado contra os judeus. Olhou e viu um irmão precisando de ajuda. Não viu nem o judeu, nem o inimigo, nem o herege. Viu o próximo. E o serviu, com tudo o que tinha e com tudo que era. Vamos viver essa palavra de Jesus.  Não dá pra gente continuar sendo fariseu, movido a preconceito.

Pe. João Carlos Ribeiro 

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