PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA: ele está no meio de nós
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O Reino já está aqui.

 



   16 de novembro de 2023.   

Quinta-feira da 32ª Semana do Tempo Comum


   Evangelho.   


Lc 17,20-25

Naquele tempo, 20os fariseus perguntaram a Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus. Jesus respondeu: “O Reino de Deus não vem ostensivamente. 21Nem se poderá dizer: ‘Está aqui’ ou ‘Está ali’, porque o Reino de Deus está entre vós”.
22E Jesus disse aos discípulos: “Dias virão em que desejareis ver um só dia do Filho do Homem e não podereis ver. 23As pessoas vos dirão: ‘Ele está ali’ ou ‘Ele está aqui’. Não deveis ir, nem correr atrás. 24Pois, como o relâmpago brilha de um lado até o outro do céu, assim também será o Filho do Homem, no seu dia. 25Antes, porém, ele deverá sofrer muito e ser rejeitado por esta geração”.



   Meditação.   


O Reino de Deus está entre vocês (Lc 17, 21)

Os fariseus perguntaram a Jesus quando chegaria o Reino de Deus. Jesus respondeu que o Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem pode ser apontado aqui ou ali, porque ele já está no meio de nós.

A gente fica esperando o Reino como uma intervenção poderosa de Deus em nosso mundo. Uma coisa forte, visível que todo mundo reconheça e se submeta. Como falamos de ‘reino’, ficamos imaginando os impérios deste mundo, os reinados de senhores poderosos e violentos de quem a história dá notícia.

Jesus, que tanto falou do Reino de Deus, não deixou uma definição do que é o Reino. Antes, fez comparações que desfazem completamente nossas expectativas. O Reino é como uma semente de mostarda que vai se tornar uma árvore. É como uma rede de pescar que pega todo tipo de peixe. O Reino é como uma festa de casamento, para a qual estamos convidados. É como o semeador que sai semeando a boa semente em terreno de todo tipo. É como a plantação, onde o inimigo semeou o joio. É melhor a gente desistir de querer definir o que é o Reino de Deus. Parece que é um jeito de Deus agir neste mundo.

E Jesus anunciou fortemente o Reino de Deus. Avisou, desde o início, que ele estava próximo, que o seu tempo tinha chegado. A presença de Jesus libertando, restaurando, salvando é o Reino acontecendo. As ações e as palavras de Jesus instauram o reinado de Deus entre nós. Esse anúncio do Reino que chegou é uma comunicação que muda nossa vida, que dá novo sentido à realidade. Não é apenas uma notícia entre outras, uma manchete a mais. É a resposta que a humanidade estava esperando, o tempo do Messias, o tempo de Deus que Israel esperou por séculos.

O Evangelho é a revelação desse evento maravilhoso: o Reino está ao nosso alcance, está batendo à nossa porta, está próximo de nós, está entre nós. Deus está cumprindo sua promessa: “Eis que faço novas todas as coisas”. É por essa razão que o Evangelho, em confirmação das palavras de Jesus, narra tantos milagres, curas, exorcismos. É o Reino se instalando como luz, como saúde, como paz, como perdão.


















Guardando a mensagem

Mesmo com tanta crise, com tanta coisa ruim acontecendo, com tanto desmantelo no mundo, experimentamos cada dia que o Reino está entre nós. Deus, por meio do seu filho Jesus, está semeando um mundo novo de comunhão, de paz, de reconciliação. Jesus está conosco até a consumação dos séculos, como prometeu. Não nos abandona. O seu Santo Espírito atualiza a sua presença e a sua ação redentora. O Reino está entre nós.

O Reino de Deus está entre vocês (Lc 17, 21)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,

na Missa, quando o sacerdote que preside faz a saudação “O Senhor esteja convosco” respondemos “Ele está no meio de nós”. Tu estás entre nós, tu estás conosco na assembleia que se reúne, na Palavra que é proclamada, no Pão eucarístico que nos alimenta. É isso que experimentamos cada dia e que celebramos na Missa: a tua presença redentora entre nós, nos instruindo, nos abençoando, nos conduzindo. O Reino, de que tanto falaste, é a tua presença salvando esse mundo, reconduzindo o pecador à comunhão com Deus, nos conduzindo no caminho da justiça e da paz. Tu és o Emanuel, Deus conosco. Seja o teu santo nome bendito, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Recordando o evangelho de hoje, reze, muitas vezes durante o dia: “Venha a nós o vosso Reino!”.

Comunicando

Como todas as quintas-feiras, temos hoje a Santa Missa das 11 horas, transmitida pela Rádio Amanhecer e pelo nosso Canal do Youtube. Para colocar suas intenções na celebração, use o formulário que nós enviamos ou mande pelo whatsapp 81 3224-9284.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

Domingo da Ascensão do Senhor: enviados em missão.





21 de maio de 2023

   Domingo da Ascensão do Senhor.  

Dia Mundial das Comunicações Sociais


     Evangelho.     


Mt 28,16-20

Naquele tempo, 16os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. 17Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram. 18Então Jesus aproximou-se e falou: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. 19Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, 20e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo”.


     Meditação      


Eis que estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo (Mt 28, 20)

Este é o domingo da ascensão de Jesus ao céu. A ascensão é o coroamento de toda sua vida e sua obra: vida, paixão, morte e ressurreição. Pela ascensão, o vemos entrando na glória de Deus, inserindo-se definitivamente em Deus. E lá se foi ele com a nossa humanidade. Sempre foi o filho, no seio da Trindade. Mas, agora, é também um de nós, filho da nossa humanidade. O primeiro de todos nós, vencedor do mal, do pecado e da morte. Foi à nossa frente e vai nos preparar um lugar para estarmos sempre com ele. Os discípulos, no monte, ficaram olhando para o alto, absortos com esse mistério tão grande. Jesus está em Deus.

Antes dessa partida, Jesus tinha instruído os discípulos. Duas coisas importantíssimas ele explicou. A primeira: Nele, estava todo o cumprimento das Escrituras Sagradas. Como eles diziam “a lei, os profetas, os salmos”, tudo apontava para ele que veio anunciar o Reino de Deus. Na sua paixão, morte e ressurreição estava o cumprimento de todas as promessas aos antigos. E a segunda: Voltando, ele enviaria o Espírito Santo, a força do alto que seria derramada sobre eles. O Espírito, que vinha da parte do Pai e dele, os ajudaria a entender o seu legado e a ser fieis à grande tarefa que ele lhes deixaria.

A grande tarefa seria a continuação de sua missão. Eles seriam suas testemunhas. Falariam a todos sobre sua vida e seus ensinamentos, anunciando a conversão e o perdão dos pecados em seu nome. Começariam isso por Jerusalém. Foi ali que Jesus concluiu a sua parte. Ali, começaria a deles. Em pouco tempo, receberiam o mesmo Espírito que conduziu Jesus em sua vida missionária.

Com este Domingo da Ascensão do Senhor, estamos celebrando o 57º. Dia Mundial das Comunicações. O Papa Francisco dedicou uma bela mensagem, para esta jornada, escrevendo sobre a narração, as histórias boas que ajudam o mundo a encontrar o caminho de Deus. Estamos encarregados de levar ao mundo a história das histórias, a de Jesus, a maior história do amor de Deus pelo homem e do amor do homem por Deus. Como disse São Paulo, nós somos a Carta de Cristo, escrita pelo Espírito Santo em nossos corações. Somos as testemunhas de Jesus. E a história de Jesus não é história do passado, é a nossa história com ele.

A ascensão não é a ausência de Jesus. Certo, não está mais presente fisicamente. Mas, é uma nova forma de estar presente. É ele quem anuncia o Reino, quem vai atrás da ovelha perdida, quem purifica o leproso, quem redime os pecadores. Agora, ele age por meio de seus discípulos, de suas comunidades, de sua Igreja, o seu corpo. A sua presença é obra do Espírito Santo na vida e na missão dos que o amam e guardam a sua palavra. Depois de dar aos discípulos o mandato de realizar a missão pelo mundo todo, ele fez uma promessa: “Eis que estarei com vocês, todos os dias, até a consumação dos séculos”. A ascensão é uma nova e eficiente forma dele estar presente.


Guardando a mensagem

Jesus despediu-se dos seus discípulos e foi elevado ao céu. É lá onde Jesus agora está, sentado à direita do Pai. Pela ascensão, entrou definitivamente na esfera de Deus, levando consigo a nossa humanidade. Agora, sabemos: é lá também o nosso lugar. O coroamento de nossa vida será também o nosso ingresso definitivo em Deus. Mas, estar na glória de Deus não quer dizer que Jesus esteja ausente. Pelo contrário, pela ascensão ele está entre nós de uma maneira nova e surpreendente. E isso é possível pela atuação do Espírito Santo que ele derramou sobre nós, com o qual fomos batizados. Revestidos do Espírito Santo, agimos, agora, em seu nome, isto é, em comunhão com ele. Reeditamos os seus gestos de amor pelos irmãos, de inclusão dos desprezados, de defesa dos injustiçados. A todos, com nossa palavra e nossas atitudes, falamos de sua dignidade de filhos de Deus e do grande sonho da fraternidade neste mundo. Em seu nome, abençoamos. Em seu nome, convidamos o filho pródigo à conversão. Em seu nome, os irmãos são perdoados e nos alimentamos do pão de sua Palavra e de sua presença sacramental na Eucaristia. Ele está presente. Ele está no meio de nós.

Eis que estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo (Mt 28, 20)

Rezando a palavra

Rezemos a oração com que o Papa Francisco termina sua mensagem para este Dia Mundial das Comunicações:

Senhor Jesus, 
Palavra pura que brota do coração do Pai,  
ajuda-nos a tornar a nossa comunicação livre, limpa e cordial.
Senhor Jesus, Palavra que Se fez carne, 
ajuda-nos a colocar-nos à escuta do palpitar dos corações, para nos reconhecermos como irmãos e irmãs e desativarmos a hostilidade que divide.
Senhor Jesus, Palavra de verdade e caridade, 
ajuda-nos a dizer a verdade no amor, para nos sentirmos guardiões uns dos outros.
Amém.

Vivendo a palavra

“Ele está no meio de nós” – é a resposta que nós damos na Missa. Seja a sua prece hoje, muitas vezes, durante a sua jornada. E na Missa que você vai participar, responda com gosto: “Ele está no meio de nós”.

Comunicando

Junto com o texto da Meditação de hoje, estou deixando a mensagem do Papa Francisco para este Dia Mundial das Comunicações. 

Hoje, presido a Missa com Ouvintes da Rádio Boa Nova, em Praia Grande, no litoral santista, na Paróquia N. Senhora das Graças, às 10 horas. 

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb



MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
PARA O 57º DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

(21 de maio de 2023)


«Falar com o coração. “Testemunhando a verdade no amor” (Ef 4, 15)»

 

Estimados irmãos e irmãs!

Depois de ter refletido, nos anos anteriores, sobre os verbos «ir e ver» e «escutar» como condição necessária para uma boa comunicação, com esta Mensagem para o LVII Dia Mundial das Comunicações Sociais gostaria de me deter sobre o «falar com o coração». Foi o coração que nos moveu para ir, ver e escutar, e é o coração que nos move para uma comunicação aberta e acolhedora. Após o nosso treino na escuta, que requer saber esperar e paciência, e o treino na renúncia a impor em detrimento dos outros o nosso ponto de vista, podemos entrar na dinâmica do diálogo e da partilha que é, em concreto, comunicar cordialmente. E, se escutarmos o outro com coração puro, conseguiremos também falar testemunhando a verdade no amor (cf. Ef 4, 15). Não devemos ter medo de proclamar a verdade, por vezes incómoda, mas de o fazer sem amor, sem coração. Com efeito «o programa do cristão – como escreveu Bento XVI – é “um coração que vê”» [1]. Trata-se de um coração que revela, com o seu palpitar, o nosso verdadeiro ser e, por essa razão, deve ser ouvido. Isto leva o ouvinte a sintonizar-se no mesmo comprimento de onda, chegando ao ponto de sentir no próprio coração também o pulsar do outro. Então pode ter lugar o milagre do encontro, que nos faz olhar uns para os outros com compaixão, acolhendo as fragilidades recíprocas com respeito, em vez de julgar a partir dos boatos semeando discórdia e divisões.

Jesus chama-nos a atenção de que cada árvore se conhece pelo seu fruto (cf. Lc 6, 44). De igual modo «o homem bom, do bom tesouro do seu coração, tira o que é bom; e o mau, do mau tesouro, tira o que é mau; pois a boca fala da abundância do coração» (6, 45). Por conseguinte, para se poder comunicar testemunhando a verdade no amor, é preciso purificar o próprio coração. Só ouvindo e falando com o coração puro é que podemos ver para além das aparências, superando o rumor confuso que, mesmo no campo da informação, não nos ajuda a fazer o discernimento na complexidade do mundo em que vivemos. O apelo para se falar com o coração interpela radicalmente este nosso tempo, tão propenso à indiferença e à indignação, baseada por vezes até na desinformação que falsifica e instrumentaliza a verdade.

Comunicar cordialmente

Comunicar cordialmente quer dizer que a pessoa que nos lê ou escuta é levada a deduzir a nossa participação nas alegrias e receios, nas esperanças e sofrimentos das mulheres e homens do nosso tempo. Quem assim fala, ama o outro, pois preocupa-se com ele e salvaguarda a sua liberdade, sem a violar. Podemos ver este estilo no misterioso Viandante que dialoga com os discípulos a caminho de Emaús depois da tragédia que se consumou no Gólgota. A eles, Jesus ressuscitado fala com o coração, acompanhando com respeito o caminho da sua amargura, propondo-Se e não Se impondo, abrindo-lhes amorosamente a mente à compreensão do sentido mais profundo do sucedido. De facto, eles podem exclamar com alegria que o coração lhes ardia no peito enquanto Ele conversava pelo caminho e lhes explicava as Escrituras (cf. Lc 24, 32).

Num período da história marcado por polarizações e oposições – de que, infelizmente, nem a comunidade eclesial está imune – o empenho em prol duma comunicação «de coração e braços abertos» não diz respeito exclusivamente aos agentes da informação, mas é responsabilidade de cada um. Todos somos chamados a procurar a verdade e a dizê-la, fazendo-o com amor. De modo particular nós, cristãos, somos exortados a guardar continuamente a língua do mal (cf. Sl 34, 14), pois com ela – como ensina a Escritura – podemos bendizer o Senhor e amaldiçoar os homens feitos à semelhança de Deus (cf. Tg 3, 9). Da nossa boca, não deveriam sair palavras más, «mas apenas a que for boa, que edifique, sempre que necessário, para que seja uma graça para aqueles que a escutam» (Ef 4, 29).

Por vezes, o falar amável abre uma brecha até nos corações mais endurecidos. Encontramos vestígios disto na própria literatura; penso naquela página memorável do cap. XXI do livro Promessi Sposi, onde Luzia fala com o coração ao Inominável até que este, desarmado e atormentado por uma benéfica crise interior, cede à força gentil do amor. Experimentamo-lo na convivência social, onde a gentileza não é questão apenas de «etiqueta», mas um verdadeiro antídoto contra a crueldade, que pode, infelizmente, envenenar os corações e intoxicar as relações. Precisamos daquele falar amável no âmbito dos mass media, para que a comunicação não fomente uma aversão que exaspere, gere ódio e conduza ao confronto, mas ajude as pessoas a refletir calmamente, a decifrar com espírito crítico e sempre respeitoso a realidade onde vivem.

A comunicação de coração a coração: «Basta amar bem para dizer bem»

Um dos exemplos mais luminosos e, ainda hoje, fascinantes deste «falar com o coração» temo-lo em São Francisco de Sales, Doutor da Igreja, a quem dediquei recentemente a Carta Apostólica Totum amoris est, nos 400 anos da sua morte. A par deste aniversário importante e relacionado com a mesma circunstância, apraz-me recordar outro que se celebra neste ano de 2023: o centenário da sua proclamação como padroeiro dos jornalistas católicos, feita por Pio XI com a Encíclica Rerum omnium perturbationem. Mente brilhante, escritor fecundo, teólogo de grande profundidade, Francisco de Sales foi bispo de Genebra no início do século XVII, em anos difíceis marcados por animadas disputas com os calvinistas. A sua mansidão, humanidade e predisposição a dialogar pacientemente com todos, e de modo especial com quem se lhe opunha, fizeram dele uma extraordinária testemunha do amor misericordioso de Deus. Dele se pode dizer que as suas «palavras amáveis multiplicam os amigos, a linguagem afável atrai muitas respostas agradáveis» ( Sir 6, 5). Aliás uma das suas afirmações mais célebres – «o coração fala ao coração» – inspirou gerações de fiéis, entre os quais se conta São John Henry Newman que a escolheu para seu lema: Cor ad cor loquitur. «Basta amar bem para dizer bem»: constituía uma das suas convicções. Isto prova como, para ele, a comunicação nunca deveria reduzir-se a um artifício, a uma estratégia de marketing – diríamos nós hoje –, mas era o reflexo do íntimo, a superfície visível dum núcleo de amor invisível aos olhos. Para São Francisco de Sales, precisamente «no coração e através do coração é que se realiza aquele subtil e intenso processo unitário em virtude do qual o homem reconhece a Deus» [2]. «Amando bem», São Francisco conseguiu comunicar com o surdo-mudo Martinho tornando-se seu amigo, e daí ser recordado também como protetor das pessoas com deficiências comunicativas.

É a partir deste «critério do amor» que o santo bispo de Genebra nos recorda, através dos seus escritos e do próprio testemunho de vida, que «somos aquilo que comunicamos»: uma lição contracorrente hoje, num tempo em que, como experimentamos particularmente nas redes sociais, a comunicação é muitas vezes instrumentalizada para que o mundo nos veja, não por aquilo que somos, mas como desejaríamos ser. São Francisco de Sales difundiu em grande número cópias dos seus escritos na comunidade de Genebra. Esta intuição «jornalística» valeu-lhe uma fama que superou rapidamente o perímetro da sua diocese e perdura ainda nos nossos dias. Como observou São Paulo VI, os seus escritos suscitam «uma leitura sumamente agradável, instrutiva e estimulante» [3]. Pensando no atual panorama da comunicação, não são estas precisamente as caraterísticas de que se deveriam revestir um artigo, uma reportagem, um serviço radiotelevisivo ou uma mensagem nas redes sociais? Possam os agentes da comunicação sentir-se inspirados por este Santo da ternura, procurando e narrando a verdade com coragem e liberdade, mas rejeitando a tentação de usar expressões sensacionalistas e agressivas.

Falar com o coração no processo sinodal

Como já tive oportunidade de salientar, «também na Igreja há grande necessidade de escutar e de nos escutarmos. É o dom mais precioso e profícuo que podemos oferecer uns aos outros» [4]. Duma escuta sem preconceitos, atenta e disponível, nasce um falar segundo o estilo de Deus, que se sustenta de proximidade, compaixão e ternura. Na Igreja, temos urgente necessidade duma comunicação que inflame os corações, seja bálsamo nas feridas e ilumine o caminho dos irmãos e irmãs. Sonho uma comunicação eclesial que saiba deixar-se guiar pelo Espírito Santo, gentil e ao mesmo tempo profética, capaz de encontrar novas formas e modalidades para o anúncio maravilhoso que é chamada a proclamar no terceiro milénio. Uma comunicação que coloque no centro a relação com Deus e com o próximo, especialmente o mais necessitado, e esteja mais preocupada em acender o fogo da fé do que em preservar as cinzas duma identidade autorreferencial. Uma comunicação, cujas bases sejam a humildade no escutar e o desassombro no falar e que nunca separe a verdade do amor.

Desarmar os ânimos promovendo uma linguagem de paz

«A língua branda pode até quebrarossos»: lê-se no livro dos Provérbios (25, 15). Hoje é tão necessário falar com o coração para promover uma cultura de paz, onde há guerra; para abrir sendas que permitam o diálogo e a reconciliação, onde campeiam o ódio e a inimizade. No dramático contexto de conflito global que estamos a viver, urge assegurar uma comunicação não hostil. É necessário vencer «o hábito de denegrir rapidamente o adversário, aplicando-lhe atributos humilhantes, em vez de se enfrentarem num diálogo aberto e respeitoso» [5]. Precisamos de comunicadores prontos a dialogar, ocupados na promoção dum desarmamento integral e empenhados em desmantelar a psicose bélica que se aninha nos nossos corações, como exortava profeticamente São João XXIII na Encíclica Pacem in terris: «a verdadeira paz entre os povos não se baseia em tal equilíbrio [de armamentos], mas sim e exclusivamente na confiança mútua» (n.º 113). Uma confiança que precisa de comunicadores não postos à defesa, mas ousados e criativos, prontos a arriscar na procura dum terreno comum onde encontrar-se. Também agora, como há 60 anos, a humanidade vive uma hora escura temendo uma escalada bélica, que deve ser travada o mais depressa possível, inclusivamente em termos de comunicação. Fica-se apavorado ao ouvir com quanta facilidade se pronunciam palavras que invocam a destruição de povos e territórios; palavras que, infelizmente, se convertem muitas vezes em ações bélicas de celerada violência. Por isso mesmo há que rejeitar toda a retórica belicista, assim como toda a forma de propaganda que manipula a verdade, deturpando-a com finalidades ideológicas. Em vez disso seja promovida, a todos os níveis, uma comunicação que ajude a criar as condições para se resolverem as controvérsias entre os povos.

Como cristãos, sabemos que é precisamente na conversão do coração que se decide o destino da paz, pois o vírus da guerra provém do íntimo do coração humano [6]. Do coração brotam as palavras certas para dissipar as sombras dum mundo fechado e dividido e construir uma civilização melhor do que aquela que recebemos. É um esforço que é exigido a todos e cada um de nós, mas faz apelo de modo particular ao sentido de responsabilidade dos agentes da comunicação a fim de realizarem a própria profissão como uma missão.

Que o Senhor Jesus, Palavra pura que brota do coração do Pai, nos ajude a tornar a nossa comunicação livre, limpa e cordial.

Que o Senhor Jesus, Palavra que Se fez carne, nos ajude a colocar-nos à escuta do palpitar dos corações, para nos reconhecermos como irmãos e irmãs e desativarmos a hostilidade que divide.

Que o Senhor Jesus, Palavra de verdade e caridade, nos ajude a dizer a verdade no amor, para nos sentirmos guardiões uns dos outros.

Roma – São João de Latrão, na Memória de São Francisco de Sales, 24 de janeiro de 2023.

 

FRANCISCO

 


[1] Carta enc. Deus caritas est (25/XII/2005), 31.

[2] Carta ap. Totum amoris est (28/XII/2022).

[3] Epístola apostólica Sabaudiae gemma, no IV centenário do nascimento de São Francisco de Sales, Doutor da Igreja (29/I/1967).

[4] Mensagem para o LVI Dia Mundial das Comunicações Sociais (24/I/2022).

[5] Francisco, Carta enc. Fratelli tutti (03/X/2020), 201.

[6] Cf. Francisco, Mensagem para o LVI Dia Mundial da Paz a 1 de janeiro de 2023 (08/XII/2022), 4.

O anúncio do Reino muda a nossa vida




10 de novembro de 2022

Memória Litúrgica de São Leão Magno

EVANGELHO


Lc 17,20-25

Naquele tempo, 20os fariseus perguntaram a Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus. Jesus respondeu: “O Reino de Deus não vem ostensivamente. 21Nem se poderá dizer: ‘Está aqui’ ou ‘Está ali’, porque o Reino de Deus está entre vós”.
22E Jesus disse aos discípulos: “Dias virão em que desejareis ver um só dia do Filho do Homem e não podereis ver. 23As pessoas vos dirão: ‘Ele está ali’ ou ‘Ele está aqui’. Não deveis ir, nem correr atrás. 24Pois, como o relâmpago brilha de um lado até o outro do céu, assim também será o Filho do Homem, no seu dia. 25Antes, porém, ele deverá sofrer muito e ser rejeitado por esta geração”.



MEDITAÇÃO


O Reino de Deus está entre vocês (Lc 17, 21)


Os fariseus perguntaram a Jesus quando chegaria o Reino de Deus. Jesus respondeu que o Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem pode ser apontado aqui ou ali, porque ele já está no meio de nós.

A gente fica esperando o Reino como uma intervenção poderosa de Deus em nosso mundo. Uma coisa forte, visível que todo mundo reconheça e se submeta. Como falamos de ‘reino’, ficamos imaginando os impérios deste mundo, os reinados de senhores poderosos e violentos de quem a história dá notícia.

Jesus, que tanto falou do Reino de Deus, não deixou uma definição do que é o Reino. Antes, fez comparações que desfazem completamente nossas expectativas. O Reino é como uma semente de mostarda que vai se tornar uma árvore. É como uma rede de pescar que pega todo tipo de peixe. O Reino é como uma festa de casamento, para a qual estamos convidados. É como o semeador que sai semeando a boa semente em terreno de todo tipo. É como a plantação, onde o inimigo semeou o joio. É melhor a gente desistir de querer definir o que é o Reino de Deus. Parece que é um jeito de Deus agir neste mundo.

E Jesus anunciou fortemente o Reino de Deus. Avisou, desde o início, que ele estava próximo, que o seu tempo tinha chegado. A presença de Jesus libertando, restaurando, salvando é o Reino acontecendo. As ações e as palavras de Jesus instauram o reinado de Deus entre nós. Esse anúncio do Reino que chegou é uma comunicação que muda nossa vida, que dá novo sentido à realidade. Não é apenas uma notícia entre outras, uma manchete a mais. É a resposta que a humanidade estava esperando, o tempo do Messias, o tempo de Deus que Israel esperou por séculos.

O Evangelho é a revelação desse evento maravilhoso: o Reino está ao nosso alcance, está batendo à nossa porta, está próximo de nós, está entre nós. Deus está cumprindo sua promessa: “Eis que faço novas todas as coisas”. É por essa razão que o Evangelho, em confirmação das palavras de Jesus, narra tantos milagres, curas, exorcismos. É o Reino se instalando como luz, como saúde, como paz, como perdão.
















Guardando a mensagem

Mesmo com tanta crise, com tanta coisa ruim acontecendo, com tanto desmantelo no mundo, experimentamos cada dia que o Reino está entre nós. Deus, por meio do seu filho Jesus, está semeando um mundo novo de comunhão, de paz, de reconciliação. Jesus está conosco até a consumação dos séculos, como prometeu. Não nos abandona. O seu Santo Espírito atualiza a sua presença e a sua ação redentora. O Reino está entre nós.

O Reino de Deus está entre vocês (Lc 17, 21)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,

na Missa, quando o sacerdote que preside faz a saudação “O Senhor esteja convosco” respondemos “Ele está no meio de nós”. Tu estás entre nós, tu estás conosco na assembleia que se reúne, na Palavra que é proclamada, no Pão eucarístico que nos alimenta. É isso que experimentamos cada dia e que celebramos na Missa: a tua presença redentora entre nós, nos instruindo, nos abençoando, nos conduzindo. O Reino, de que tanto falaste, é a tua presença salvando esse mundo, reconduzindo o pecador à comunhão com Deus, nos conduzindo no caminho da justiça e da paz. Tu és o Emanuel, Deus conosco. Seja o teu santo nome bendito, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Recordando o evangelho de hoje, reze, muitas vezes durante o dia: “Venha a nós o vosso Reino!”.

Comunicando

Como todas as quintas-feiras, temos hoje a Santa Missa das 11 horas, rezando nas intenções dos ouvintes e associados. Para colocar suas intenções na celebração, use o formulário que nós estamos lhe enviando.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

ASCENSÃO DE JESUS



Eis que estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo (Mt 28, 20)

24 de maio de 2020



Este é o domingo da ascensão de Jesus ao céu. A ascensão é o coroamento de toda sua vida e sua obra: vida, paixão, morte e ressurreição. Pela ascensão, o vemos entrando na glória de Deus, inserindo-se definitivamente em Deus. E lá se foi ele com a nossa humanidade. Sempre foi o filho, no seio da Trindade. Mas, agora, é também um de nós, filho da nossa humanidade. O primeiro de todos nós, vencedor do mal, do pecado e da morte. Foi à nossa frente e vai nos preparar um lugar para estarmos sempre com ele. Os discípulos, no monte, ficaram olhando para o alto, absortos com esse mistério tão grande. Jesus está em Deus.

Antes dessa partida, Jesus tinha instruído os discípulos. Duas coisas importantíssimas ele explicou. A primeira: Nele, estava todo o cumprimento das Escrituras Sagradas. Como eles diziam “a lei, os profetas, os salmos”, tudo apontava para ele que veio anunciar o Reino de Deus. Na sua paixão, morte e ressurreição estava o cumprimento de todas as promessas aos antigos. E a segunda: Voltando, ele enviaria o Espírito Santo, a força do alto que seria derramada sobre eles. O Espírito, que vinha da parte do Pai e dele, os ajudaria a entender o seu legado e a ser fieis à grande tarefa que ele lhes deixaria.

A grande tarefa seria a continuação de sua missão. Eles seriam suas testemunhas. Falariam a todos sobre sua vida e seus ensinamentos, anunciando a conversão e o perdão dos pecados em seu nome. Começariam isso por Jerusalém. Foi ali que Jesus concluiu a sua parte. Ali, começaria a deles. Em pouco tempo, receberiam o mesmo Espírito que conduziu Jesus em sua vida missionária.

Com este Domingo da Ascensão do Senhor, estamos celebrando o 54º. Dia Mundial das Comunicações. O Papa Francisco dedicou uma bela mensagem, para esta jornada, escrevendo sobre a narração, as histórias boas que ajudam o mundo a encontrar o caminho de Deus. Estamos encarregados de levar ao mundo a história das histórias, a de Jesus, a maior história do amor de Deus pelo homem e do amor do homem por Deus. Como disse São Paulo, nós somos a Carta de Cristo, escrita pelo Espírito Santo em nossos corações. Somos as testemunhas de Jesus. E a história de Jesus não é história do passado, é a nossa história com ele.

A ascensão não é a ausência de Jesus. Certo, não está mais presente fisicamente. Mas, é uma nova forma de estar presente. É ele quem anuncia o Reino, quem vai atrás da ovelha perdida, quem purifica o leproso, quem redime os pecadores. Agora, ele age por meio de seus discípulos, de suas comunidades, de sua Igreja, o seu corpo. A sua presença é obra do Espírito Santo na vida e na missão dos que o amam e guardam a sua palavra. Depois de dar aos discípulos o mandato de realizar a missão pelo mundo todo, ele fez uma promessa: “Eis que estarei com vocês, todos os dias, até a consumação dos séculos”. A ascensão é uma nova e eficiente forma dele estar presente.

Guardando a mensagem

Jesus despediu-se dos seus discípulos e foi elevado ao céu. É lá onde Jesus agora está, sentado à direita do Pai. Pela ascensão, entrou definitivamente na esfera de Deus, levando consigo a nossa humanidade. Agora, sabemos: é lá também o nosso lugar. O coroamento de nossa vida será também o nosso ingresso definitivo em Deus. Mas, estar na glória de Deus não quer dizer que Jesus esteja ausente. Pelo contrário, pela ascensão ele está entre nós de uma maneira nova e surpreendente. E isso é possível pela atuação do Espírito Santo que ele derramou sobre nós, com o qual fomos batizados. Revestidos do Espírito Santo, agimos, agora, em seu nome, isto é, em comunhão com ele. Reeditamos os seus gestos de amor pelos irmãos, de inclusão dos desprezados, de defesa dos injustiçados. A todos, com nossa palavra e nossas atitudes, falamos de sua dignidade de filhos de Deus e do grande sonho da fraternidade neste mundo. Em seu nome, abençoamos. Em seu nome, convidamos o filho pródigo à conversão. Em seu nome, os irmãos são perdoados e nos alimentamos do pão de sua Palavra e de sua presença sacramental na Eucaristia. Ele está presente. Ele está no meio de nós.

Eis que estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo (Mt 28, 20)

Rezando a palavra

Rezemos a oração com que o Papa Francisco termina sua mensagem para este Dia Mundial das Comunicações:

Ó Maria, mulher e mãe, tu teceste em teu seio a Palavra divina, tu narraste com a tua vida as maravilhosas obras de Deus. Ouve as nossas histórias, guarda-as no teu coração e faz tuas também as histórias que ninguém quer escutar. Ensina-nos, mãe, a reconhecer o fio bom que guia a história. Olha a quantidade de ‘nós’ em que se emaranhou a nossa vida, paralisando a nossa memória. Pelas tuas mãos delicadas, todos os ‘nós’ podem ser desatados. Mulher do Espírito, Mãe da confiança, inspira-nos, Senhora. Ajuda-nos a construir histórias de paz, histórias de futuro. E indica-nos o caminho para as percorrermos juntos. Amém.

Vivendo a palavra

“Ele está no meio de nós” – é a resposta que nós damos na Missa. Seja a sua prece hoje, muitas vezes, durante a sua jornada. E na Missa que você vai participar, possivelmente, pelas redes sociais, responda com gosto: “Ele está no meio de nós”.

No final da apresentação da Meditação de hoje, no seu aplicativo, estou deixando um link pra você ler a mensagem do Papa Francisco para este Dia Mundial das Comunicações, uma página breve e inspiradora.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

EM CASA, DE PORTAS FECHADAS


Estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco” (Jo 20, 19)

19 de abril de 2020 – 2º. Domingo da Páscoa, Festa da Divina Misericórdia


O evangelho deste segundo domingo de Páscoa nos conta a história de Tomé que só creu porque tocou nas chagas de Jesus. Assim, assegurou-se que o ressuscitado era mesmo o crucificado. Esta cena nos fala da fé que precisamos ter no Senhor ressuscitado, mesmo sem nunca tê-lo visto. Jesus esteve presente em duas reuniões dos discípulos, em dois domingos seguidos, mostrando-se vivo e enviando-os em missão.  

Lendo este evangelho, dentro deste nosso contexto de isolamento social, saltam aos olhos alguns detalhes que até agora certamente nos passaram despercebidos. As portas estavam fechadas. E os discípulos estavam trancados em casa. Olha que interessante! Nas duas aparições, Jesus encontra os discípulos reunidos dentro de casa, com as portas trancadas. E por que? Porque estavam com muito medo, medo da perseguição que tinham movido contra Jesus e que, com certeza, os poderia atingir. Com o seu Mestre preso, condenado e executado, eles ficaram malvistos e poderiam sofrer mais do que suspeitas, grosserias e agressões. Assim, para não se exporem, estavam a portas fechadas. E o que eles estavam fazendo? O texto diz que eles estavam reunidos. Com certeza, conversavam e rezavam. Mas, com medo.

A situação dos discípulos naquele segundo domingo da páscoa bem parece com a nossa, não é verdade? Inclusive, tem sempre um Tomé pelo meio do mundo, que por alguma razão não está presente na reunião. Nossas famílias estão em casa e estão temerosas, com o avanço do vírus.

Muito interessante que os discípulos estivessem reunidos em casa. Nos primeiros tempos da Igreja, não havia templos. Nem estavam autorizados a construí-los. No livro dos Atos dos Apóstolos, está a informação de que os discípulos e convertidos, em Jerusalém, frequentavam o Templo e partiam o pão pelas casas e unidos, tomavam a refeição com alegria e simplicidade de coração (At 2). ‘Partiam o pão pelas casas’. Partir o pão é um gesto que lembra a última ceia, é um modo de se referir à celebração da Eucaristia nos primeiros tempos. E partiam o pão, em refeição, com alegria e simplicidade. Jesus também tinha valorizado muito a casa das pessoas, visitando os doentes, fazendo refeição ou reunindo as pessoas em casa. Nos primeiros séculos, a casa era o lugar de reunião dos cristãos.

Mesmo com as portas fechadas, Jesus ressuscitado entrou e se apresentou ao grupo reunido. Fez-lhe a saudação de paz. “A paz esteja com vocês!”. A paz é nova situação inaugurada na cruz: perdão para os pecadores, reconciliação com Deus. A paz é remédio para o medo e para a divisão.

Este encontro de Jesus com os discípulos nos deixa três lições maravilhosas. A primeira: Ele está presente. Por sua ressurreição, agora ele está conosco sempre. Ele lhes mostrou as mãos e o lado rasgado pela lança. Eles ficaram muito felizes por vê-lo. Na missa, sempre fazemos a saudação da paz, como ele fez, e o povo de Deus responde: “Ele está no meio de nós”. A segunda lição: Ele nos envia em missão. A morte e ressurreição de Jesus nos reconciliaram com Deus. Jesus soprou comunicando o Espírito Santo e os mandou reconciliar o povo com Deus, perdoar os seus pecados. A terceira lição é esta: Crendo, temos a vida em seu nome. Jesus reclamou com Tomé: “não seja incrédulo, mas fiel”. A fé é a nossa resposta. Trata-se de acolher a verdade que ele está vivo, presente na comunidade, reconciliando os pecadores por meio do ministério dos seus discípulos.

Vamos guardar a mensagem.

Neste domingo da Divina Misericórdia, no clima da páscoa, estamos em nossas casas, de portas fechadas, com medo da ameaça do coronavírus. Tem sempre um Tomé circulando por aí, às vezes por necessidade, às vezes por falta de consciência. A casa sempre foi a igreja dos cristãos, desde o tempo que não tínhamos templos. E mesmo com as igrejas, os cristãos nascem, crescem e vivem em suas igrejas domésticas. Foi assim que Jesus, no domingo da ressurreição e no domingo seguinte, se apresentou aos discípulos que estavam reunidos, numa casa, a portas trancadas. Três lições podemos guardar dessa visita de Jesus ressuscitado. Primeira: Ele está no meio de nós. Sua paz nos faz vencer o medo. Sua presença viva, permanente, entre nós é fruto da ressurreição. Segunda: Ele nos envia em missão, nos comunicando o dom do seu Espírito e dando autoridade à sua Igreja para administrar o perdão aos pecadores. A reconciliação e o Santo Espírito são dons preciosos que nos chegam pela ressurreição. E a terceira lição: Crendo, temos a vida em seu nome. A fé nos faz reconhecer que ele está presente entre nós e nos faz povo portador da reconciliação para todos.

Estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco” (Jo 20, 19)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
Nós te agradecemos porque estás conosco. Pela tua ressurreição, és de fato o Emanuel, o Deus conosco. O teu Santo Espírito, Senhor, atualiza a tua presença em nossa convivência, na meditação de tua Palavra, na solidariedade com os mais sofridos, em nossas celebrações. Na tua ressurreição, tu nos fazes um povo missionário portador da Palavra e do Perdão de Deus a todos os filhos pródigos. Na tua paz, vencemos o medo. Somos, agora, agentes da vida nova que começou na manhã da ressurreição. Abençoa, Senhor, nossas casas, nossas famílias, a tua Igreja. Livra-nos do vírus da incredulidade e desse coronavírus, também. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Na sua Bíblia, leia João 20, 19-31, o evangelho de hoje. Participando da Missa pelos meios de comunicação, ouça com muita atenção e respeito as leituras da Palavra de Deus e a homilia. É Jesus mesmo nos instruindo e nos confortando.  

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

VENHA A NÓS O VOSSO REINO


O Reino de Deus está entre vocês (Lc 17, 21)
14 de novembro de 2019.
Os fariseus perguntaram a Jesus quando chegaria o Reino de Deus. Jesus respondeu que o Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem pode ser apontado aqui ou ali, porque ele já está no meio de nós.
A gente fica esperando o Reino como uma intervenção poderosa de Deus em nosso mundo. Uma coisa forte, visível que todo mundo reconheça e se submeta. Como falamos de ‘reino’, ficamos imaginando os impérios deste mundo, os reinados de senhores poderosos e violentos de quem a história dá notícia.
Jesus, que tanto falou do Reino de Deus, não deixou uma definição do que é o Reino. Antes, fez comparações que desfazem completamente nossas expectativas. O Reino é como uma semente de mostarda que vai se tornar uma árvore. É como uma rede de pescar que pega todo tipo de peixe. O Reino é como uma festa de casamento, para a qual estamos convidados. É como o semeador que sai semeando a boa semente em terreno de todo tipo. É como a plantação, onde o inimigo semeou o joio. É melhor a gente desistir de querer definir o que é o Reino de Deus. Parece que é um jeito de Deus agir neste mundo.
E Jesus anunciou fortemente o Reino de Deus. Avisou, desde o início, que ele estava próximo, que o seu tempo tinha chegado. A presença de Jesus libertando, restaurando, salvando é o Reino acontecendo. As ações e as palavras de Jesus instauram o reinado de Deus entre nós. Esse anúncio do Reino que chegou é uma comunicação que muda nossa vida, que dá novo sentido à realidade. Não é apenas uma notícia entre outras, uma manchete a mais. É a resposta que a humanidade estava esperando, o tempo do Messias, o tempo de Deus que Israel esperou por séculos.
O Evangelho é a revelação desse evento maravilhoso: o Reino está ao nosso alcance, está batendo à nossa porta, está próximo de nós, está entre nós. Deus está cumprindo sua promessa: “Eis que faço novas todas as coisas”. É por essa razão que o Evangelho, em confirmação das palavras de Jesus, narra tantos milagres, curas, exorcismos. É o Reino se instalando como luz, como saúde, como paz, como perdão.
Guardando a mensagem
Mesmo com tanta crise, com tanta coisa ruim acontecendo, com tanto desmantelo no mundo, experimentamos cada dia que o Reino está entre nós. Deus, por meio do seu filho Jesus, está semeando um mundo novo de comunhão, de paz, de reconciliação. Jesus está conosco até a consumação dos séculos, como prometeu. Não nos abandona. O seu Santo Espírito atualiza a sua presença e a sua ação redentora. O Reino está entre nós.
O Reino de Deus está entre vocês (Lc 17, 21)
Rezando a palavra
Senhor Jesus,
Na Missa, quando o sacerdote que preside faz a saudação “O Senhor esteja convosco” respondemos “Ele está no meio de nós”. Tu estás entre nós, tu estás conosco na assembleia que se reúne, na Palavra que é proclamada, no Pão eucarístico que nos alimenta. É isso que experimentamos cada dia e que celebramos na Missa: a tua presença redentora entre nós, nos instruindo, nos abençoando, nos conduzindo. O Reino, de que tanto falaste, é a tua presença salvando esse mundo, reconduzindo o pecador à comunhão com Deus, nos conduzindo no caminho da justiça e da paz. Tu és o Emanuel, Deus conosco. Seja o teu santo nome bendito, hoje e sempre. Amém.
Vivendo a palavra
Recordando o evangelho de hoje, reze, muitas vezes durante o dia: “Venha a nós o vosso Reino!”.
Pe. João Carlos Ribeiro – 14 de novembro de 2019

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