PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA: Mc 6
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NÃO ESQUECER A LIÇÃO DOS PÃES

Jesus logo lhes disse: “Coragem! Sou eu. Não tenham medo! (Mc 6, 50)
08 de janeiro de 2020.
O evangelho de hoje conta que Jesus foi ao encontro dos discípulos, andando sobre o mar. E quando entrou na barca, o vento se acalmou. E que os discípulos estavam apavorados e assustados. E por quê? Disse o evangelho: porque eles não tinham compreendido nada a respeito dos pães. Vamos ver se a gente entende isso.
Você se lembra da cena dos pães, de ontem, não lembra? Jesus encontrou-se com um povo numeroso e encheu-se de compaixão. Ensinou muitas coisas e, no fim do dia, repartiu cinco pães e dois peixes com todo mundo. Foi uma refeição farta, pelas sobras que se recolheram. Quando tudo terminou, Jesus obrigou os discípulos a tomarem a barca e irem a uma cidade do outro lado do mar, o grande lago da Galileia. Depois que despediu o povo, Jesus foi rezar no monte.
A travessia na barca foi se complicando. Escureceu, o vento foi ficando forte e contrário. Já perto de amanhecer o dia, eles cansados de remar, viram um vulto andando sobre o mar, vindo na direção deles. Foi um medo só. Pensaram que fosse um fantasma. Jesus de lá gritou: “Tenham coragem. Sou eu. Tenham medo não”. Jesus se aproximou, subiu na barca e ficou com eles. O vento cessou e a viagem foi tranquila. Os discípulos estavam pasmos, espantados.
O que aconteceu com os discípulos, podemos resumir, foram duas coisas. Primeiro, eles não estavam conseguindo atravessar o lago, por causa da escuridão e do vento contrário. E segundo, eles não reconheceram Jesus que foi ajudá-los, por causa do medo de que estavam possuídos.
Eles remavam noite adentro e não conseguiam avançar. Essa travessia na barca é uma representação da missão que Jesus lhes confiou. Representa também as dificuldades que experimentamos hoje no cumprimento de nossa missão. As dificuldades vinham de fora (a ventania) e deles mesmos (a escuridão). Eles podiam ter pensado: ‘Gente, ontem, nós vimos aquele povo na mesma situação, ovelhas sem pastor, enfrentando a ventania da dispersão, da doença, da fome. E nós vimos: Deus mandou um pastor para cuidar do seu rebanho, Jesus ensinou e alimentou aquele povo todo. Ele não nos abandona. Deus está conosco’. Mas, eles não tinham aprendido a lição dos pães.
Aí Jesus, com pena deles, foi em seu socorro, andando sobre o mar. Eles conheciam as Escrituras. Sabiam que só Deus é quem anda sobre o mar. Já tinham ouvido isso no livro de Jó: “Só ele estende os céus e anda sobre as ondas do mar” (Jó 9,8). Mas, ao verem Jesus que vinha sobre as águas eles quase morreram de medo. Não tinham aprendido a lição da multiplicação dos pães. Em Jesus, age o próprio Deus, na sua grandeza, no seu poder. Jesus disse “Sou eu”, uma palavra que se repete na Bíblia como uma apresentação do próprio Deus.
Guardando a mensagem

Contando a história da travessia do lago, naquela noite de ventos fortes, o evangelista São Marcos comentou que os discípulos não tinham compreendido o que acontecera com os pães, estavam com o coração endurecido. E não entenderam, pelo menos, duas coisas. Primeiro, que Deus não abandona seus filhos. Foi o que Jesus tinha explicado e mostrado na prática: Deus, no seu amor de pai, não dá as costas ao povo necessitado, nem desampara seus filhos nas travessias difíceis. E a segunda coisa que eles não entenderam: Jesus é Deus que vem em nosso auxílio. De fato, mesmo depois da morte de Jesus, não foi fácil eles se convencerem da  sua ressurreição. E quando não se crê no poder de Deus que nos liberta do mal e da morte, vive-se com medo.
Jesus logo lhes disse: “Coragem! Sou eu. Não tenham medo! (Mc 6, 50)

Vamos rezar a palavra
Senhor Jesus,
Tu acalmaste os discípulos, dizendo: “Sou eu. Não tenham medo”. Disseste SOU EU. O Pai tinha falado assim, no Monte Sinai, a Moisés: ‘Diga ao Faraó que EU SOU mandou dizer que liberte o meu povo'. EU SOU é Deus. No meio daquele vendaval, naquela noite escura, os discípulos fizeram uma experiência maravilhosa: a tua revelação como Deus. Tu, Senhor Jesus, és o Deus que domina o mar, que acalma a tempestade. Em nossas travessias difíceis, enche-nos de confiança. Em nossas noites escuras, reveste-nos da fé. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.
Vivendo a palavra
É possível que, hoje, se apresente uma oportunidade para você dizer uma palavra de fé que ajude a acalmar alguma tempestade. Se aparecer essa oportunidade, dê seu testemunho sobre Jesus: anuncie que é ele quem acalma o mar.

08 de janeiro de 2020.
Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

ANTES DE TUDO, A COMPAIXÃO



Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor (Mc 6, 34)

07 de janeiro de 2020.

A pregação da Palavra de Deus é uma coisa maravilhosa. Ninguém duvida. A celebração ou liturgia, outra coisa fantástica. Mas, nem a pregação, nem a celebração se explicam sem a compaixão, a caridade. A evangelização e a celebração começam e terminam na caridade. Está tudo no evangelho de hoje.


“Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor”. Aí começa tudo, na compaixão. Jesus viu aquele povo que o procurava e lhe doeu o coração vê-lo tão necessitado, tão fragilizado. Para uma pessoa do interior como Jesus, dava pena ver um rebanho sem pastor: as ovelhas se dispersam, os carneirinhos viram presas fáceis para as feras e os ladrões, não têm quem os guie a um bom pasto. E olha que Jesus estava levando os discípulos para um lugar afastado para eles descansarem um pouco, pois estavam voltando, muito cansados, de uma missão. Diante daquela cena – ovelhas sem pastor – esqueceu-se o descanso e Jesus começou a “ensinar-lhes muitas coisas”, diz o evangelho.


O que será que Jesus ensinou àquela gente? Podemos imaginar, pois o que ele disse ao povo, certamente, é o que está no evangelho. Ele explicava, contando parábolas, como Deus ama os seus filhos, como fica feliz quando um filho ou uma filha escolhe o bom caminho; como o Pai cuida das aves e das plantas e mais ainda cuida de cada filho. E ainda: como são felizes aqueles que Deus ama. E Deus preza antes de tudo os mais pobres e os mais sofridos. Aí, ele lhes falava do Reino de Deus. Ah, esse mundo fica melhor se Deus for obedecido como bom pai que é e se cada filho for fraterno e bom com seu irmão, com sua irmã. Quanta coisa Jesus tinha para dizer àquele povo maltratado pela violência, pela doença, pela pobreza! E aqueles corações amargurados iam se enchendo de paz, de esperança. Riam com as histórias de Jesus (‘Imagine, o filho disse que ia, mas não foi, mas que malandro!’ - ‘E a festa que o Pai fez pra receber o filho que saiu de casa, ô festão!’ –‘ ‘Mas aquelas moças que foram para o casamento e esqueceram o óleo, que povo sem juízo!). Gente, olha a hora!

Quem falou “olha a hora!”? Os discípulos. Já está ficando tarde. Isso aqui é um lugar deserto. Esse povo precisa voltar pra casa. Já está tudo com cara de fome. Tenha paciência Jesus, a conversa está muito boa, mas está na hora de mandar o povo embora. ‘Mandar o povo embora, como assim? Sem comer nada? Vocês providenciem alguma coisa’. Aí a coisa esquentou... Providenciar, nós? Aí, eles foram pragmáticos, como muitos administradores de hoje. Gastar dinheiro para alimentar essa gente? Não tem dinheiro que chegue. Mande esse povo embora enquanto é tempo. Eles se viram por aí... Olha a mentalidade deles: gastar dinheiro, despedir, mandar embora, não se sentir responsável por ninguém. E Jesus acalmou o grupo. Pera aí... O que vocês têm aí pra comer? Vão, vão ver... Cinco pães e dois peixes? Tragam pra cá. Aí Jesus mandou todo mundo se sentar, formaram grandes grupos, pegou aqueles poucos pães e peixes, deu graças a Deus, fez a oração da bênção dos alimentos, partiu (preste atenção a este “partiu”) e ia dando os pedaços aos discípulos para que eles distribuíssem com o povo. Depois, dividiu também os peixes. O resultado, você já sabe. E até a sobra recolhida foi grandiosa. Olha a mentalidade de Jesus: alimentar, por em comum, partilhar, repartir, dividir, somos responsáveis uns pelos outros.

Guardando a mensagem

Antes de tudo, a compaixão. Jesus viu o povo e sentiu seu coração amargurado por vê-lo tão sofrido, tão fragilizado. Ele deixou de lado outro projeto e dedicou-se a “ensinar-lhe muitas coisas”. Isto é a evangelização. A evangelização é o anúncio do amor do Pai pelo seu povo, que nos mandou Jesus como pastor e salvador. A evangelização nasce da compaixão. E gera compaixão, caridade, amor a Deus e ao próximo.

Antes de tudo, a compaixão. Era tarde, o lugar deserto, o povo faminto. Jesus envolveu os discípulos numa linda celebração. Pode ver que todos os detalhes lembram a última ceia, como se fosse uma preparação para a Santa Missa. A celebração nasce da compaixão de Deus pelo seu povo e de nossa compaixão pelo próximo. E gera compaixão, solidariedade, caridade, novas relações.

Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor (Mc 6, 34)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,

Hás de nos desculpar. Nós continuamos a pensar igualzinho aos discípulos naquela cena da multiplicação dos pães. Vemos as situações de sofrimento e abandono e cruzamos os braços. Ficamos paralisados por nossa mentalidade pragmática: não temos dinheiro, não temos condições, não é responsabilidade nossa. A solução que temos é mandar embora, cada um se virar. Senhor, ajuda-nos em nossa conversão. Na evangelização e na celebração, aprendemos contigo outra forma de ver e agir: sermos responsáveis uns pelos outros, fazer alguma coisa com o que temos e, sobretudo, confiar na providência de Deus que se manifesta na partilha e na solidariedade. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Leia o texto do evangelho de hoje em sua Bíblia: Marcos 6,34-44. Anote alguma frase deste evangelho no seu caderno espiritual.

07 de janeiro de 2020.

Pe. João Carlos Ribeiro, SDB.



UM MISSIONÁRIO ÍNTEGRO E FIEL

Ela saiu e perguntou à mãe: “O que vou pedir?” A mãe respondeu: “A cabeça de João Batista (Mc 6, 24).
29 de agosto de 2019 – Memória do Martírio de São João Batista
No aniversário de Herodes, certamente no palácio de sua capital Tiberíades, oferece-se um banquete aos grandes da Galileia: a corte, os oficiais, os cidadãos importantes. Herodes se casara com a cunhada, Herodíades, mulher do seu irmão Filipe. Além de cunhada, a mulher era sua sobrinha. A filha dela, enteada do rei, portanto sua sobrinha-neta, boa dançarina, apresentou-se dançando na festa. A dança e os gingados da moça agradaram em cheio os convidados e o rei. Este lhe prometeu um presente, o que ela pedisse, mesmo que fosse metade do seu reino. A mãe combinou com ela que pedisse a cabeça de João Batista. O rei, mesmo entristecido com o pedido, cumpriu sua promessa. Mandou degolar o profeta em sua prisão. É a triste história do martírio de João Batista.
Por que o evangelho de Marcos nos conta essa história tão triste? Uma razão é preparar o terreno, nos seus leitores, para a morte de Jesus. Na história de João Batista, o ódio da mulher do rei desencadeou a morte do profeta. Na história de Jesus, foi o ódio das lideranças do seu povo que o levaram à morte. Herodes mostrou-se fraco, reticente, objeto de manipulação de Herodíades. Na história de Jesus, foi Pilatos, o governante fraco e manipulado pelo Sinédrio dos hebreus.                                   
Por que o evangelho de Marcos nos conta essa história de tanta violência? Para podermos fazer uma comparação entre o banquete da morte e a multiplicação dos pães, o banquete da vida, que vem logo em seguida. No banquete de Herodes, o prato é a violência, a cabeça decapitada de João Batista. No banquete de Jesus, o prato é a partilha, a providência divina, a própria vida de Jesus entregue. Cinco mil homens se alimentaram com o que seria cinco pães e dois peixes.
Por que o evangelho de Marcos nos conta essa história de final tão desalentador? Para aprendermos o caminho da fidelidade com o profeta João Batista. No anúncio, ele foi claro e forte, denunciando os desmandos e o mau exemplo da vida irregular do rei e sua concubina. João foi fiel até o fim, sem se acovardar, nem recuar na palavra que devia proclamar.
Por que, afinal, o evangelista Marcos nos conta essa história? Para nos indicar que o caminho de João Batista continua no caminho de Jesus. Exatamente depois que João foi preso, Jesus voltou para a Galileia e começou a pregação, proclamando o evangelho do Reino de Deus.
Guardando a mensagem
Em todos os tempos, os profetas são perseguidos. Jesus disse que, em contraponto, os falsos profetas são aplaudidos. Lendo o fim de João Batista, voltamos nosso olhar para a paixão de Jesus. Ele tomará o caminho dos profetas, homens da verdade de Deus, que terminam incompreendidos pelo povo e perseguidos pelas autoridades. Também nos ajuda a entender a graça da multiplicação dos pães que prepara a Eucaristia: Jesus comunica vida, dando-se a si mesmo. Herodes comunica morte, poupando-se a si mesmo. João Batista foi fiel à sua missão, denunciando o erro e perseverando na provação. Esse é o caminho do cristão. Não desistir, não se intimidar diante das dificuldades. Jesus continua o caminho de João. Nós continuamos o caminho de Jesus.
Ela saiu e perguntou à mãe: “O que vou pedir?” A mãe respondeu: “A cabeça de João Batista (Mc 6, 24).
Rezando a palavra
Senhor Jesus,
A atuação do governante Herodes, violento no exercício do poder e escandaloso em sua vida pessoal, produziu morte na história do seu povo: exploração, fome, perseguição política. É o que nos diz essa cena do martírio de João Batista. Já a tua atuação, Jesus, a atenção às necessidades daquela gente e o compromisso com Deus produziram vida na história do teu povo: acolhimento, partilha, fartura. É o que nos diz a cena da multiplicação dos pães que vem logo em seguida. Dá-nos, Senhor, tomar distância dos banquetes dos Herodes de hoje e pautarmos nossa vida e nossas opções pelo teu banquete no deserto. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.
Vivendo a palavra
Hoje é um dia bom pra você fazer um exame de consciência. Pergunte-se, em um momento de recolhimento do seu dia, se está sendo fiel ao que Deus tem lhe confiado como missão.
Pe. João Carlos Ribeiro - 29 de agosto de 2019.

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