PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA

O sétimo filho.


   20 de março de 2025   

Quinta-feira da 2ª Semana da Quaresma

   Evangelho   


Lc 16,19-31

Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: 19“Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias.
20Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico. 21Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas.
22Quando o pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. 23Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado. 24Então gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’.
25Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te de que recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. 26E, além disso, há grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós’.
27O rico insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa do meu pai, 28porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormento’. 29Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os profetas, que os escutem!’
30O rico insistiu: ‘Não, Pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente vão se converter’. 31Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos”’.

   Meditação   


Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico (Lc 16, 20)

Neste 16º dia da Quaresma, uma insistência da palavra do Senhor sobre a caridade. Amar o pobre, acolher o mais fraco, incluir o marginalizado.

Por que será que o rico foi parar no inferno? Estou falando da parábola que Jesus contou. O rico foi parar no inferno, puxa vida! Jesus começou descrevendo o rico: roupas finas e elegantes, e todo dia dava esplêndidos banquetes. E o pobre: coberto de feridas, sentado à porta do rico. Ele tinha nome, Lázaro. Jesus não colocou um nome no rico, por alguma razão ficou anônimo. O pobre com fome, coitado, esperando pelo menos as migalhas que caíam da mesa do banquete do rico. E nada. Morreram os dois. Um se encontrou no calorão, em meio às chamas, lá em baixo. O outro, no bem-bom, lá em cima, no lugar do consolo, junto do pai Abraão. O rico gritou lá de baixo, pedindo ajuda. Não há jeito, foi a resposta de Abraão. Pelo menos, implorou o desafortunado, mande Lázaro avisar aos meus cinco irmãos. Não dá, voltou a resposta, os seus cinco irmãos já têm Moisés e os Profetas. Moisés e os Profetas é um modo de se referir à Torá, à Palavra de Deus. Eles têm a Palavra de Deus que orienta, exorta, indica o caminho certo. Que a escutem!

A pergunta permanece: afinal, por que o rico foi parar no inferno? Não se pode dizer que foi porque ele tinha muitos bens, porque era muito rico. Talvez isso lhe tenha fechado o coração. Mas, a parábola de Jesus só diz que o pobre Lázaro, à sua porta, não conseguia nem as migalhas que caíam de sua mesa, nem os restos. Nada. Só cães para lamberem as suas feridas. O rico nem notou a sua presença, não o amou, não o ajudou, não o incluiu em suas festas. O rico não teve misericórdia do pobre.

E ser misericordioso era tudo o que Jesus estava ensinando. Sejam misericordiosos, como o pai do céu é misericordioso. Amem, ajudem, emprestem, doem, perdoem, defendam... isto é ser misericordioso, explicava Jesus. Dá pra lembrar aquela cena do julgamento, desenhada pelo próprio Jesus. Venham para o repouso que lhes foi preparado, porque eu tive fome e vocês me deram de comer; era peregrino, e vocês me acolheram; estive doente e preso, e vocês me visitaram. E vão para o castigo eterno vocês que não me fizeram isso. Toda vez que não fizeram isso ao menor dos meus irmãos, não o fizeram a mim. Então, deixando de servir a Lázaro, o pobre pestilento sentado à sua porta, o tal rico deixou de servir e honrar o próprio Senhor.




Guardando a mensagem

Por que o rico foi parar no inferno? Porque não repartiu sua mesa farta com Lázaro, um irmão menor do Senhor. Deixou de dar de comer ao próprio Jesus. Porque não amou seu irmão pobre. Porque o desprezou, não o enxergou, não o acudiu, não o incluiu. Provou que não amava a Deus, pois não amava seu irmão. Não honrava a Deus, prestigiando seu irmão. Aliás, o homem disse que tinha cinco irmãos, mas se enganou. Ele tinha seis irmãos. E quem era o sexto irmão? Lázaro. Ele pensou que eram seis filhos, ele e mais cinco irmãos, engano. Aliás, o número seis na Bíblia não é um número bom, é um número falho, um número imperfeito. Não eram seis filhos, eram sete: o rico, os seus cinco irmãos e Lázaro. Sete! E sete, na Escritura, é um número perfeito. O rico da história de Jesus foi parar no inferno porque não reconheceu Lázaro como seu irmão, o sétimo filho. Não o reconheceu como um irmão, membro da única família de Deus.

Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico (Lc 16, 20)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
tu nos disseste que temos Moisés e os Profetas, isto é, temos a tua santa Palavra a nos indicar o bom caminho. Não é possível, nem necessário, que venha um morto nos avisar que estamos procedendo de maneira errada em nossa vida. A tua Palavra proclamada pela Igreja já nos avisa, nos corrigindo, nos chamando à comunhão com Deus. É hora de levarmos a sério o mandamento da caridade, do amor aos irmãos. Dá-nos, Senhor, a graça da conversão. Que nesta quaresma, não esqueçamos o pobre do lado de fora. Que não façamos pouco caso da Campanha da Fraternidade sobre a Ecologia Integral. Abre, Senhor, nossos olhos para ver as consequências produzidas por nossa relação destrutiva e predadora dos bens da criação; consequências visíveis nas mudanças climáticas que impactam diretamente na vida das populações mais pobres e desprotegidas. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Comente, hoje, essa história contada por Jesus sobre Lázaro com algum dos seus amigos ou amigas. Jesus vai gostar de ver você comentando a sua palavra e participando com ele da evangelização.

Comunicando

Hoje, na programação da quinta-feira eucarística, temos a Santa Missa às 11 horas. E você nos acompanha por uma rede de rádios e pelo Youtube. Presido a Missa na Basílica do Sagrado Coração de Jesus, igreja dos salesianos, no Recife, no bairro da Boa Vista. Quem morar por perto, sinta-se convidado. Você já pode deixar o seu pedido de oração nos comentários no link do Youtube.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

José teve um sonho.




   19 de março de 2024.   

Solenidade de São José,
esposo da bem-aventurada Virgem Maria
e patrono da Igreja

   Evangelho.   


Mt 1,16.18-21.24a

16Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo. 18A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. 19José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria em segredo. 20Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”. 24aQuando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado.

ou Lc 2,41-51a

41Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa. 42Quando ele completou doze anos, subiram para a festa, como de costume. 43Passados os dias da Páscoa, começaram a viagem de volta, mas o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o notassem. 44Pensando que ele estivesse na caravana, caminharam um dia inteiro. Depois começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. 45Não o tendo encontrado, voltaram para Jerusalém à sua procura. 46Três dias depois, o encontraram no Templo. Estava sentado no meio dos mestres, escutando e fazendo perguntas. 47Todos os que ouviam o menino estavam maravilhados com sua inteligência e suas respostas. 48Ao vê-lo, seus pais ficaram muito admirados e sua mãe lhe disse: “Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e eu estávamos, angustiados, à tua procura”.
49Jesus respondeu: “Por que me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai?” 50Eles, porém, não compreenderam as Palavras que lhes dissera. 51aJesus desceu então com seus pais para Nazaré, e era-lhes obediente.

   Meditação.   


José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo  (Mt 1,20)

Eles estavam noivos e ela apareceu grávida. Na verdade, já tinham feito as demoradas cerimônias de casamento. Mas, como era costume, não se ia logo morar juntos. Foi nesse tempo, em que ela ainda estava com os pais, que apareceu grávida. Mas, não era dele. Ele ficou desnorteado. Por que ela fez isso comigo? Casamento pronto, tudo arrumado... Num caso como esse, a Lei previa que ele devia denunciá-la ao conselho dos anciãos de sua vila, no caso Nazaré. Ela seria julgada e sentenciada. Certamente, o caso seria reconhecido como adultério.... e a Lei era rigorosa com esse gravíssimo deslize. Devia ser apedrejada. José estava triste e confuso. O casamento estava acabado. E o que ele iria fazer? Denunciá-la? Não, isso não, de jeito nenhum. Ele amava demais sua noiva para fazer isso. Resolveu fugir... a culpa recairia sobre ele. Iria tentar a vida bem longe. Era melhor. Ela criaria seu filho, com o apoio da família. Ele sairia por mau e irresponsável. Foi dormir, assim, triste, sofrido, com essa decisão na cabeça.

Dormindo, José teve um sonho. O anjo do Senhor veio lhe explicar que o que aconteceu com Maria foi da vontade de Deus, que ela concebeu pela ação do Espírito Santo; que ele não tivesse medo de recebê-la como esposa; e que desse ao filho o nome de Jesus. José acordou assustado, mas decidido. Fez como o anjo do Senhor havia mandado.

O que será que o anjo realmente mandou José fazer? Primeiro, receber Maria por esposa. Estar ao lado de Maria, em sua gravidez, na educação do seu filho e em tudo, como esposo, companheiro, apoiando-a, protegendo-a, partilhando com ela as responsabilidades de uma família. E José, que tanto amor tinha por Maria, abraçou essa missão de esposo. Segundo, o anjo mandou que ele desse o nome de Jesus ao menino. E a missão do menino já estava expressa no seu nome: salvar o seu povo dos seus pecados. Dar o nome ao menino significava reconhecê-lo publicamente como filho, garantir sua pertença à família de Davi. Por meio de José, o filho de Deus seria também filho de Davi, seu descendente. E foi assim que José assumiu a condição de pai da criança.





Guardando a mensagem

Festejamos, hoje, uma figura muito especial, o esposo de Maria, pai legal de Jesus, patrono da Santa Igreja. José é o homem obediente a Deus. Ele faz a vontade de Deus, assim que a conhece, com toda dedicação e enfrentando qualquer dificuldade. A sua acolhida da vontade de Deus é um grande exemplo para nós. José é também uma testemunha de Jesus. Com sua vida de pai e de esposo, ele nos diz quem é esse Jesus, que vai aprender com ele a ser um homem justo, um judeu piedoso, um carpinteiro útil na comunidade: ele foi concebido pela ação do Espírito Santo em Maria Virgem, ele veio salvar o seu povo dos seus pecados, ele é o filho de Deus e o filho de Davi.

José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. (Mt 1,20)

Rezando a Palavra

No final da carta apostólica sobre São José, o Papa lhe dedicou uma breve oração, que rezamos agora:

Salve, guardião do Redentor 
e esposo da Virgem Maria!
A vós, Deus confiou o seu Filho;
em vós, Maria depositou a sua confiança;
convosco, Cristo tornou-Se homem.

Ó Bem-aventurado José, mostrai-vos pai também para nós e guiai-nos no caminho da vida.
Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem,
e defendei-nos de todo o mal. Amen.

Vivendo a Palavra

Procure conhecer mais a pessoa de São José, para imitá-lo e pedir a sua intercessão em suas dificuldades.

Comunicando

Que tal dar uma olhada na carta apostólica que o Papa escreveu, em 2020, sobre São José?! Ela se intitula PATRIS CORDE (Com coração de pai). 

Eu lembro a você que está participando da Segunda Bíblica que hoje, como em todas as quartas-feiras, o seu grupo de estudo no WhatsApp estará aberto para receber sua resposta da tarefa da semana.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb





Patris Corde - Carta Apostólica sobre São José



CARTA APOSTÓLICA

   PATRIS CORDE.  

DO PAPA FRANCISCO
POR OCASIÃO DO 150º ANIVERSÁRIO
DA DECLARAÇÃO DE SÃO JOSÉ
COMO PADROEIRO UNIVERSAL DA IGREJA


Com coração de pai: assim José amou a Jesus, designado nos quatro Evangelhos como «o filho de José».[1]

Os dois evangelistas que puseram em relevo a sua figura, Mateus e Lucas, narram pouco, mas o suficiente para fazer compreender o género de pai que era e a missão que a Providência lhe confiou.

Sabemos que era um humilde carpinteiro (cf. Mt 13, 55), desposado com Maria (cf. Mt 1, 18; Lc 1, 27); um «homem justo» (Mt 1, 19), sempre pronto a cumprir a vontade de Deus manifestada na sua Lei (cf. Lc 2, 22.27.39) e através de quatro sonhos (cf. Mt 1, 20; 2, 13.19.22). Depois duma viagem longa e cansativa de Nazaré a Belém, viu o Messias nascer num estábulo, «por não haver lugar para eles» (Lc 2, 7) noutro sítio. Foi testemunha da adoração dos pastores (cf. Lc 2, 8-20) e dos Magos (cf. Mt 2, 1-12), que representavam respetivamente o povo de Israel e os povos pagãos.

Teve a coragem de assumir a paternidade legal de Jesus, a quem deu o nome revelado pelo anjo: dar-Lhe-ás «o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados» (Mt 1, 21). Entre os povos antigos, como se sabe, dar o nome a uma pessoa ou a uma coisa significava conseguir um título de pertença, como fez Adão na narração do Génesis (cf. 2, 19-20).

No Templo, quarenta dias depois do nascimento, José – juntamente com a mãe – ofereceu o Menino ao Senhor e ouviu, surpreendido, a profecia que Simeão fez a respeito de Jesus e Maria (cf. Lc 2, 22-35). Para defender Jesus de Herodes, residiu como forasteiro no Egito (cf. Mt 2, 13-18). Regressado à pátria, viveu no recôndito da pequena e ignorada cidade de Nazaré, na Galileia – donde (dizia-se) «não sairá nenhum profeta» (Jo 7, 52), nem «poderá vir alguma coisa boa» (Jo 1, 46) –, longe de Belém, a sua cidade natal, e de Jerusalém, onde se erguia o Templo. Foi precisamente durante uma peregrinação a Jerusalém que perderam Jesus (tinha ele doze anos) e José e Maria, angustiados, andaram à sua procura, acabando por encontrá-Lo três dias mais tarde no Templo discutindo com os doutores da Lei (cf. Lc 2, 41-50).

Depois de Maria, a Mãe de Deus, nenhum Santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício como José, seu esposo. Os meus antecessores aprofundaram a mensagem contida nos poucos dados transmitidos pelos Evangelhos para realçar ainda mais o seu papel central na história da salvação: o Beato Pio IX declarou-o «Padroeiro da Igreja Católica»,[2] o Venerável Pio XII apresentou-o como «Padroeiro dos operários»;[3] e São João Paulo II, como «Guardião do Redentor».[4] O povo invoca-o como «padroeiro da boa morte».[5]

Assim ao completarem-se 150 anos da sua declaração como Padroeiro da Igreja Católica, feita pelo Beato Pio IX a 8 de dezembro de 1870, gostaria de deixar «a boca – como diz Jesus – falar da abundância do coração» (Mt 12, 34), para partilhar convosco algumas reflexões pessoais sobre esta figura extraordinária, tão próxima da condição humana de cada um de nós. Tal desejo foi crescendo ao longo destes meses de pandemia em que pudemos experimentar, no meio da crise que nos afeta, que «as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo, mas que hoje estão, sem dúvida, a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiras e enfermeiros, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho. (…) Quantas pessoas dia a dia exercitam a paciência e infundem esperança, tendo a peito não semear pânico, mas corresponsabilidade! Quantos pais, mães, avôs e avós, professores mostram às nossas crianças, com pequenos gestos do dia a dia, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração! Quantas pessoas rezam, se imolam e intercedem pelo bem de todos».[6] Todos podem encontrar em São José – o homem que passa despercebido, o homem da presença quotidiana discreta e escondida – um intercessor, um amparo e uma guia nos momentos de dificuldade. São José lembra-nos que todos aqueles que estão, aparentemente, escondidos ou em segundo plano, têm um protagonismo sem paralelo na história da salvação. A todos eles, dirijo uma palavra de reconhecimento e gratidão.

1. Pai amado

A grandeza de São José consiste no facto de ter sido o esposo de Maria e o pai de Jesus. Como tal, afirma São João Crisóstomo, «colocou-se inteiramente ao serviço do plano salvífico».[7]

São Paulo VI faz notar que a sua paternidade se exprimiu, concretamente, «em ter feito da sua vida um serviço, um sacrifício, ao mistério da encarnação e à conjunta missão redentora; em ter usado da autoridade legal que detinha sobre a Sagrada Família para lhe fazer dom total de si mesmo, da sua vida, do seu trabalho; em ter convertido a sua vocação humana ao amor doméstico na oblação sobre-humana de si mesmo, do seu coração e de todas as capacidades no amor colocado ao serviço do Messias nascido na sua casa».[8]

Por este seu papel na história da salvação, São José é um pai que foi sempre amado pelo povo cristão, como prova o facto de lhe terem sido dedicadas numerosas igrejas por todo o mundo; de muitos institutos religiosos, confrarias e grupos eclesiais se terem inspirado na sua espiritualidade e adotado o seu nome; e de, há séculos, se realizarem em sua honra várias representações sacras. Muitos Santos e Santas foram seus devotos apaixonados, entre os quais se conta Teresa de Ávila que o adotou como advogado e intercessor, recomendando-se instantemente a São José e recebendo todas as graças que lhe pedia; animada pela própria experiência, a Santa persuadia os outros a serem igualmente devotos dele.[9]

Em todo o manual de orações, há sempre alguma a São José. São-lhe dirigidas invocações especiais todas as quartas-feiras e, de forma particular, durante o mês de março inteiro, tradicionalmente dedicado a ele.[10]

A confiança do povo em São José está contida na expressão «ite ad Joseph», que faz referência ao período de carestia no Egito, quando o povo pedia pão ao Faraó e ele respondia: «Ide ter com José; fazei o que ele vos disser» (Gn 41, 55). Tratava-se de José, filho de Jacob, que acabara vendido, vítima da inveja dos seus irmãos (cf. Gn 37, 11-28); e posteriormente – segundo a narração bíblica – tornou-se vice-rei do Egito (cf. Gn 41, 41-44).

Enquanto descendente de David (cf. Mt 1, 16.20), de cuja raiz deveria nascer Jesus segundo a promessa feita ao rei pelo profeta Natan (cf. 2 Sam 7), e como esposo de Maria de Nazaré, São José constitui a dobradiça que une o Antigo e o Novo Testamento.

2. Pai na ternura

Dia após dia, José via Jesus crescer «em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens» (Lc 2, 52). Como o Senhor fez com Israel, assim ele ensinou Jesus a andar, segurando-O pela mão: era para Ele como o pai que levanta o filho contra o seu rosto, inclinava-se para Ele a fim de Lhe dar de comer (cf. Os 11, 3-4).

Jesus viu a ternura de Deus em José: «Como um pai se compadece dos filhos, assim o Senhor Se compadece dos que O temem» (Sal 103, 13).

Com certeza, José terá ouvido ressoar na sinagoga, durante a oração dos Salmos, que o Deus de Israel é um Deus de ternura,[11] que é bom para com todos e «a sua ternura repassa todas as suas obras» (Sal 145, 9).

A história da salvação realiza-se, «na esperança para além do que se podia esperar» (Rm 4, 18), através das nossas fraquezas. Muitas vezes pensamos que Deus conta apenas com a nossa parte boa e vitoriosa, quando, na verdade, a maior parte dos seus desígnios se cumpre através e apesar da nossa fraqueza. Isto mesmo permite a São Paulo dizer: «Para que não me enchesse de orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás, para me ferir, a fim de que não me orgulhasse. A esse respeito, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Mas Ele respondeu-me: “Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza”» (2 Cor 12, 7-9).

Se esta é a perspetiva da economia da salvação, devemos aprender a aceitar, com profunda ternura, a nossa fraqueza.[12]

O Maligno faz-nos olhar para a nossa fragilidade com um juízo negativo, ao passo que o Espírito trá-la à luz com ternura. A ternura é a melhor forma para tocar o que há de frágil em nós. Muitas vezes o dedo em riste e o juízo que fazemos a respeito dos outros são sinal da incapacidade de acolher dentro de nós mesmos a nossa própria fraqueza, a nossa fragilidade. Só a ternura nos salvará da obra do Acusador (cf. Ap 12, 10). Por isso, é importante encontrar a Misericórdia de Deus, especialmente no sacramento da Reconciliação, fazendo uma experiência de verdade e ternura. Paradoxalmente, também o Maligno pode dizer-nos a verdade, mas, se o faz, é para nos condenar. Entretanto nós sabemos que a Verdade vinda de Deus não nos condena, mas acolhe-nos, abraça-nos, ampara-nos, perdoa-nos. A Verdade apresenta-se-nos sempre como o Pai misericordioso da parábola (cf. Lc 15, 11-32): vem ao nosso encontro, devolve-nos a dignidade, levanta-nos, ordena uma festa para nós, dando como motivo que «este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado» (Lc 15, 24).

A vontade de Deus, a sua história e o seu projeto passam também através da angústia de José. Assim ele ensina-nos que ter fé em Deus inclui também acreditar que Ele pode intervir inclusive através dos nossos medos, das nossas fragilidades, da nossa fraqueza. E ensina-nos que, no meio das tempestades da vida, não devemos ter medo de deixar a Deus o timão da nossa barca. Por vezes queremos controlar tudo, mas o olhar d’Ele vê sempre mais longe.

3. Pai na obediência

De forma análoga a quanto fez Deus com Maria, manifestando-Lhe o seu plano de salvação, também revelou a José os seus desígnios por meio de sonhos, que na Bíblia, como em todos os povos antigos, eram considerados um dos meios pelos quais Deus manifesta a sua vontade.[13]

José sente uma angústia imensa com a gravidez incompreensível de Maria: mas não quer «difamá-la»,[14] e decide «deixá-la secretamente» (Mt 1, 19). No primeiro sonho, o anjo ajuda-o a resolver o seu grave dilema: «Não temas receber Maria, tua esposa, pois o que Ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados» (Mt 1, 20-21). A sua resposta foi imediata: «Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo» (Mt 1, 24). Com a obediência, superou o seu drama e salvou Maria.

No segundo sonho, o anjo dá esta ordem a José: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar» (Mt 2, 13). José não hesitou em obedecer, sem se questionar sobre as dificuldades que encontraria: «E ele levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito, permanecendo ali até à morte de Herodes» (Mt 2, 14-15).

No Egito, com confiança e paciência, José esperou do anjo o aviso prometido para voltar ao seu país. Logo que o mensageiro divino, num terceiro sonho – depois de o informar que tinham morrido aqueles que procuravam matar o menino –, lhe ordena que se levante, tome consigo o menino e sua mãe e regresse à terra de Israel (cf. Mt 2, 19-20), de novo obedece sem hesitar: «Levantando-se, ele tomou o menino e sua mãe e voltou para a terra de Israel» (Mt 2, 21).

Durante a viagem de regresso, porém, «tendo ouvido dizer que Arquelau reinava na Judeia, em lugar de Herodes, seu pai, teve medo de ir para lá. Então advertido em sonhos – e é a quarta vez que acontece – retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré» (Mt 2, 22-23).

Por sua vez, o evangelista Lucas refere que José enfrentou a longa e incómoda viagem de Nazaré a Belém, devido à lei do imperador César Augusto relativa ao recenseamento, que impunha a cada um registar-se na própria cidade de origem. E foi precisamente nesta circunstância que nasceu Jesus (cf. 2, 1-7), sendo inscrito no registo do Império, como todos os outros meninos.

São Lucas, de modo particular, tem o cuidado de assinalar que os pais de Jesus observavam todas as prescrições da Lei: os ritos da circuncisão de Jesus, da purificação de Maria depois do parto, da oferta do primogénito a Deus (cf. 2, 21-24).[15]

Em todas as circunstâncias da sua vida, José soube pronunciar o seu «fiat», como Maria na Anunciação e Jesus no Getsémani.

Na sua função de chefe de família, José ensinou Jesus a ser submisso aos pais (cf. Lc 2, 51), segundo o mandamento de Deus (cf. Ex 20, 12).

Ao longo da vida oculta em Nazaré, na escola de José, Ele aprendeu a fazer a vontade do Pai. Tal vontade torna-se o seu alimento diário (cf. Jo 4, 34). Mesmo no momento mais difícil da sua vida, vivido no Getsémani, preferiu que se cumprisse a vontade do Pai, e não a sua,[16] fazendo-Se «obediente até à morte (…) de cruz» (Flp 2, 8). Por isso, o autor da Carta aos Hebreus conclui que Jesus «aprendeu a obediência por aquilo que sofreu» (5, 8).

Vê-se, a partir de todas estas vicissitudes, que «José foi chamado por Deus para servir diretamente a Pessoa e a missão de Jesus, mediante o exercício da sua paternidade: desse modo, precisamente, ele coopera no grande mistério da Redenção, quando chega a plenitude dos tempos, e é verdadeiramente ministro da salvação».[17]

4. Pai no acolhimento

José acolhe Maria, sem colocar condições prévias. Confia nas palavras do anjo. «Anobreza do seu coração fá-lo subordinar à caridade aquilo que aprendera com a lei; e hoje, neste mundo onde é patente a violência psicológica, verbal e física contra a mulher, José apresenta-se como figura de homem respeitoso, delicado que, mesmo não dispondo de todas as informações, se decide pela honra, dignidade e vida de Maria. E, na sua dúvida sobre o melhor a fazer, Deus ajudou-o a escolher iluminando o seu discernimento».[18]

Na nossa vida, muitas vezes sucedem coisas, cujo significado não entendemos. E a nossa primeira reação, frequentemente, é de desilusão e revolta. Diversamente, José deixa de lado os seus raciocínios para dar lugar ao que sucede e, por mais misterioso que possa aparecer a seus olhos, acolhe-o, assume a sua responsabilidade e reconcilia-se com a própria história. Se não nos reconciliarmos com a nossa história, não conseguiremos dar nem mais um passo, porque ficaremos sempre reféns das nossas expectativas e consequentes desilusões.

A vida espiritual que José nos mostra, não é um caminho que explica, mas um caminho que acolhe. Só a partir deste acolhimento, desta reconciliação, é possível intuir também uma história mais excelsa, um significado mais profundo. Parecem ecoar as palavras inflamadas de Job, quando, desafiado pela esposa a rebelar-se contra todo o mal que lhe está a acontecer, responde: «Se recebemos os bens da mão de Deus, não aceitaremos também os males?» (Job 2, 10).

José não é um homem resignado passivamente. O seu protagonismo é corajoso e forte. O acolhimento é um modo pelo qual se manifesta, na nossa vida, o dom da fortaleza que nos vem do Espírito Santo. Só o Senhor nos pode dar força para acolher a vida como ela é, aceitando até mesmo as suas contradições, imprevistos e desilusões.

A vinda de Jesus ao nosso meio é um dom do Pai, para que cada um se reconcilie com a carne da sua história, mesmo quando não a compreende totalmente.

O que Deus disse ao nosso Santo – «José, Filho de David, não temas…» (Mt 1, 20) –, parece repeti-lo a nós também: «Não tenhais medo!» É necessário deixar de lado a ira e a desilusão para – movidos não por qualquer resignação mundana, mas com uma fortaleza cheia de esperança – dar lugar àquilo que não escolhemos e, todavia, existe. Acolher a vida desta maneira introduz-nos num significado oculto. A vida de cada um de nós pode recomeçar miraculosamente, se encontrarmos a coragem de a viver segundo aquilo que nos indica o Evangelho. E não importa se tudo parece ter tomado já uma direção errada, e se algumas coisas já são irreversíveis. Deus pode fazer brotar flores no meio das rochas. E mesmo que o nosso coração nos censure de qualquer coisa, Ele «é maior que o nosso coração e conhece tudo» (1 Jo 3, 20).

Reaparece aqui o realismo cristão, que não deita fora nada do que existe. A realidade, na sua misteriosa persistência e complexidade, é portadora dum sentido da existência com as suas luzes e sombras. É isto que leva o apóstolo Paulo a dizer: «Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus» (Rm 8, 28). E Santo Agostinho acrescenta: tudo, «incluindo aquilo que é chamado mal».[19] Nesta perspetiva global, a fé dá significado a todos os acontecimentos, sejam eles felizes ou tristes.

Assim, longe de nós pensar que crer signifique encontrar fáceis soluções consoladoras. Antes, pelo contrário, a fé que Cristo nos ensinou é a que vemos em São José, que não procura atalhos, mas enfrenta de olhos abertos aquilo que lhe acontece, assumindo pessoalmente a responsabilidade por isso.

O acolhimento de José convida-nos a receber os outros, sem exclusões, tal como são, reservando uma predileção especial pelos mais frágeis, porque Deus escolhe o que é frágil (cf. 1 Cor 1, 27), é «pai dos órfãos e defensor das viúvas» (Sal 68, 6) e manda amar o forasteiro.[20] Posso imaginar ter sido do procedimento de José que Jesus tirou inspiração para a parábola do filho pródigo e do pai misericordioso (cf. Lc 15, 11-32).

5. Pai com coragem criativa

Se a primeira etapa de toda a verdadeira cura interior é acolher a própria história, ou seja, dar espaço no nosso íntimo até mesmo àquilo que não escolhemos na nossa vida, convém acrescentar outra caraterística importante: a coragem criativa. Esta vem ao de cima sobretudo quando se encontram dificuldades. Com efeito, perante uma dificuldade, pode-se estacar e abandonar o campo, ou tentar vencê-la de algum modo. Às vezes, são precisamente as dificuldades que fazem sair de cada um de nós recursos que nem pensávamos ter.

Frequentemente, ao ler os «Evangelhos da Infância», apetece-nos perguntar por que motivo Deus não interveio de forma direta e clara. Porque Deus intervém por meio de acontecimentos e pessoas: José é o homem por meio de quem Deus cuida dos primórdios da história da redenção; é o verdadeiro «milagre», pelo qual Deus salva o Menino e sua mãe. O Céu intervém, confiando na coragem criativa deste homem que, tendo chegado a Belém e não encontrando alojamento onde Maria possa dar à luz, arranja um estábulo e prepara-o de modo a tornar-se o lugar mais acolhedor possível para o Filho de Deus, que vem ao mundo (cf. Lc 2, 6-7). Face ao perigo iminente de Herodes, que quer matar o Menino, de novo em sonhos José é alertado para O defender e, no coração da noite, organiza a fuga para o Egito (cf. Mt 2, 13-14).

Numa leitura superficial destas narrações, a impressão que se tem é a de que o mundo está à mercê dos fortes e poderosos, mas a «boa notícia» do Evangelho consiste precisamente em mostrar como, não obstante a arrogância e a violência dos dominadores terrenos, Deus encontra sempre a forma de realizar o seu plano de salvação. Às vezes também a nossa vida parece à mercê dos poderes fortes, mas o Evangelho diz-nos que Deus consegue sempre salvar aquilo que conta, desde que usemos a mesma coragem criativa do carpinteiro de Nazaré, o qual sabe transformar um problema numa oportunidade, antepondo sempre a sua confiança na Providência.

Se, em determinadas situações, parece que Deus não nos ajuda, isso não significa que nos tenha abandonado, mas que confia em nós com aquilo que podemos projetar, inventar, encontrar.

Trata-se da mesma coragem criativa demonstrada pelos amigos do paralítico que, desejando levá-lo à presença de Jesus, fizeram-no descer pelo teto (cf. Lc 5, 17-26). A dificuldade não deteve a audácia e obstinação daqueles amigos. Estavam convencidos de que Jesus podia curar o doente e, «não achando por onde introduzi-lo, devido à multidão, subiram ao teto e, através das telhas, desceram-no com a enxerga, para o meio, em frente de Jesus. Vendo a fé daqueles homens, disse: “Homem, os teus pecados estão perdoados”» (5, 19-20). Jesus reconhece a fé criativa com que aqueles homens procuram trazer-Lhe o seu amigo doente.

O Evangelho não dá informações relativas ao tempo que Maria, José e o Menino permaneceram no Egito. Mas certamente tiveram de comer, encontrar uma casa, um emprego. Não é preciso muita imaginação para colmatar o silêncio do Evangelho a tal respeito. A Sagrada Família teve que enfrentar problemas concretos, como todas as outras famílias, como muitos dos nossos irmãos migrantes que ainda hoje arriscam a vida acossados pelas desventuras e a fome. Neste sentido, creio que São José seja verdadeiramente um padroeiro especial para quantos têm que deixar a sua terra por causa das guerras, do ódio, da perseguição e da miséria.

No fim de cada acontecimento que tem José como protagonista, o Evangelho observa que ele se levanta, toma consigo o Menino e sua mãe e faz o que Deus lhe ordenou (cf. Mt 1, 24; 2, 14.21). Com efeito, Jesus e Maria, sua mãe, são o tesouro mais precioso da nossa fé.[21]

No plano da salvação, o Filho não pode ser separado da Mãe, d’Aquela que «avançou pelo caminho da fé, mantendo fielmente a união com seu Filho até à cruz».[22]

Sempre nos devemos interrogar se estamos a proteger com todas as nossas forças Jesus e Maria, que misteriosamente estão confiados à nossa responsabilidade, ao nosso cuidado, à nossa guarda. O Filho do Todo-Poderoso vem ao mundo, assumindo uma condição de grande fragilidade. Necessita de José para ser defendido, protegido, cuidado e criado. Deus confia neste homem, e o mesmo faz Maria que encontra em José aquele que não só Lhe quer salvar a vida, mas sempre A sustentará a Ela e ao Menino. Neste sentido, São José não pode deixar de ser o Guardião da Igreja, porque a Igreja é o prolongamento do Corpo de Cristo na história e ao mesmo tempo, na maternidade da Igreja, espelha-se a maternidade de Maria.[23] José, continuando a proteger a Igreja, continua a proteger o Menino e sua mãe; e também nós, amando a Igreja, continuamos a amar o Menino e sua mãe.

Este Menino é Aquele que dirá: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40). Assim, todo o necessitado, pobre, atribulado, moribundo, forasteiro, recluso, doente são «o Menino» que José continua a guardar. Por isso mesmo, São José é invocado como protetor dos miseráveis, necessitados, exilados, aflitos, pobres, moribundos. E pela mesma razão a Igreja não pode deixar de amar em primeiro lugar os últimos, porque Jesus conferiu-lhes a preferência ao identificar-Se pessoalmente com eles. De José, devemos aprender o mesmo cuidado e responsabilidade: amar o Menino e sua mãe; amar os Sacramentos e a caridade; amar a Igreja e os pobres. Cada uma destas realidades é sempre o Menino e sua mãe.

6. Pai trabalhador

Um aspeto que carateriza São José – e tem sido evidenciado desde os dias da primeira encíclica social, a Rerum novarum de Leão XIII – é a sua relação com o trabalho. São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho.

Neste nosso tempo em que o trabalho parece ter voltado a constituir uma urgente questão social e o desemprego atinge por vezes níveis impressionantes, mesmo em países onde se experimentou durante várias décadas um certo bem-estar, é necessário tomar renovada consciência do significado do trabalho que dignifica e do qual o nosso Santo é patrono e exemplo.

O trabalho torna-se participação na própria obra da salvação, oportunidade para apressar a vinda do Reino, desenvolver as próprias potencialidades e qualidades, colocando-as ao serviço da sociedade e da comunhão; o trabalho torna-se uma oportunidade de realização não só para o próprio trabalhador, mas sobretudo para aquele núcleo originário da sociedade que é a família. Uma família onde falte o trabalho está mais exposta a dificuldades, tensões, fraturas e até mesmo à desesperada e desesperadora tentação da dissolução. Como poderemos falar da dignidade humana sem nos empenharmos para que todos, e cada um, tenham a possibilidade dum digno sustento?

A pessoa que trabalha, seja qual for a sua tarefa, colabora com o próprio Deus, torna-se em certa medida criadora do mundo que a rodeia. A crise do nosso tempo, que é económica, social, cultural e espiritual, pode constituir para todos um apelo a redescobrir o valor, a importância e a necessidade do trabalho para dar origem a uma nova «normalidade», em que ninguém seja excluído. O trabalho de São José lembra-nos que o próprio Deus feito homem não desdenhou o trabalho. A perda de trabalho que afeta tantos irmãos e irmãs e tem aumentado nos últimos meses devido à pandemia de Covid-19, deve ser um apelo a revermos as nossas prioridades. Peçamos a São José Operário que encontremos vias onde nos possamos comprometer até se dizer: nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho!

7. Pai na sombra

O escritor polaco Jan Dobraczyński, no seu livro A Sombra do Pai,[24] narrou a vida de São José em forma de romance. Com a sugestiva imagem da sombra, apresenta a figura de José, que é, para Jesus, a sombra na terra do Pai celeste: guarda-O, protege-O, segue os seus passos sem nunca se afastar d’Ele. Lembra o que Moisés dizia a Israel: «Neste deserto (…) vistes o Senhor, vosso Deus, conduzir-vos como um pai conduz o seu filho, durante toda a caminhada que fizeste até chegar a este lugar» (Dt 1, 31). Assim José exerceu a paternidade durante toda a sua vida.[25]

Não se nasce pai, torna-se tal... E não se torna pai, apenas porque se colocou no mundo um filho, mas porque se cuida responsavelmente dele. Sempre que alguém assume a responsabilidade pela vida de outrem, em certo sentido exercita a paternidade a seu respeito.

Na sociedade atual, muitas vezes os filhos parecem ser órfãos de pai. A própria Igreja de hoje precisa de pais. Continua atual a advertência dirigida por São Paulo aos Coríntios: «Ainda que tivésseis dez mil pedagogos em Cristo, não teríeis muitos pais» (1 Cor 4, 15); e cada sacerdote ou bispo deveria poder acrescentar como o Apóstolo: «Fui eu que vos gerei em Cristo Jesus, pelo Evangelho» (4, 15). E aos Gálatas diz: «Meus filhos, por quem sinto outra vez dores de parto, até que Cristo se forme entre vós!» (Gl 4, 19).

Ser pai significa introduzir o filho na experiência da vida, na realidade. Não segurá-lo, nem prendê-lo, nem subjugá-lo, mas torná-lo capaz de opções, de liberdade, de partir. Talvez seja por isso que a tradição, referindo-se a José, ao lado do apelido de pai colocou também o de «castíssimo». Não se trata duma indicação meramente afetiva, mas é a síntese duma atitude que exprime o contrário da posse. A castidade é a liberdade da posse em todos os campos da vida. Um amor só é verdadeiramente tal, quando é casto. O amor que quer possuir, acaba sempre por se tornar perigoso: prende, sufoca, torna infeliz. O próprio Deus amou o homem com amor casto, deixando-o livre inclusive de errar e opor-se a Ele. A lógica do amor é sempre uma lógica de liberdade, e José soube amar de maneira extraordinariamente livre. Nunca se colocou a si mesmo no centro; soube descentralizar-se, colocar Maria e Jesus no centro da sua vida.

A felicidade de José não se situa na lógica do sacrifício de si mesmo, mas na lógica do dom de si mesmo. Naquele homem, nunca se nota frustração, mas apenas confiança. O seu silêncio persistente não inclui lamentações, mas sempre gestos concretos de confiança. O mundo precisa de pais, rejeita os dominadores, isto é, rejeita quem quer usar a posse do outro para preencher o seu próprio vazio; rejeita aqueles que confundem autoridade com autoritarismo, serviço com servilismo, confronto com opressão, caridade com assistencialismo, força com destruição. Toda a verdadeira vocação nasce do dom de si mesmo, que é a maturação do simples sacrifício. Mesmo no sacerdócio e na vida consagrada, requer-se este género de maturidade. Quando uma vocação matrimonial, celibatária ou virginal não chega à maturação do dom de si mesmo, detendo-se apenas na lógica do sacrifício, então, em vez de significar a beleza e a alegria do amor, corre o risco de exprimir infelicidade, tristeza e frustração.

A paternidade, que renuncia à tentação de decidir a vida dos filhos, sempre abre espaços para o inédito. Cada filho traz sempre consigo um mistério, algo de inédito que só pode ser revelado com a ajuda dum pai que respeite a sua liberdade. Um pai sente que completou a sua ação educativa e viveu plenamente a paternidade, apenas quando se tornou «inútil», quando vê que o filho se torna autónomo e caminha sozinho pelas sendas da vida, quando se coloca na situação de José, que sempre soube que aquele Menino não era seu: fora simplesmente confiado aos seus cuidados. No fundo, é isto mesmo que dá a entender Jesus quando afirma: «Na terra, a ninguém chameis “Pai”, porque um só é o vosso “Pai”, aquele que está no Céu» (Mt 23, 9).

Todas as vezes que nos encontramos na condição de exercitar a paternidade, devemos lembrar-nos que nunca é exercício de posse, mas «sinal» que remete para uma paternidade mais alta. Em certo sentido, estamos sempre todos na condição de José: sombra do único Pai celeste, que «faz com que o sol se levante sobre os bons e os maus, e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores» (Mt 5, 45); e sombra que acompanha o Filho.

* * *

«Levanta-te, toma o menino e sua mãe» (Mt 2, 13): diz o anjo da parte de Deus a são José.

O objetivo desta carta apostólica é aumentar o amor por este grande Santo, para nos sentirmos impelidos a implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo.

Com efeito, a missão específica dos Santos não é apenas a de conceder milagres e graças, mas de interceder por nós diante de Deus, como fizeram Abraão[26] e Moisés,[27] como faz Jesus, «único mediador» (1 Tm 2, 5), que junto de Deus Pai é o nosso «advogado» (1 Jo 2, 1), «vivo para sempre, a fim de interceder por [nós]» (Heb 7, 25; cf. Rm 8, 34).

Os Santos ajudam todos os fiéis «a tender à santidade e perfeição do próprio estado».[28] A sua vida é uma prova concreta de que é possível viver o Evangelho.

À semelhança de Jesus que disse: «Aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração» (Mt 11, 29), também os Santos são exemplos de vida que havemos de imitar. A isto nos exorta explicitamente São Paulo: «Rogo-vos, pois, que sejais meus imitadores» (1 Cor 4, 16).[29] O mesmo nos diz São José através do seu silêncio eloquente.

Estimulado com o exemplo de tantos Santos e Santas diante dos olhos, Santo Agostinho interrogava-se: «Então não poderás fazer o que estes e estas fizeram?» E, assim, chegou à conversão definitiva exclamando: «Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei!»[30]

Só nos resta implorar, de São José, a graça das graças: a nossa conversão.

Dirijamos-lhe a nossa oração:

Salve, guardião do Redentor
e esposo da Virgem Maria!
A vós, Deus confiou o seu Filho;
em vós, Maria depositou a sua confiança;
convosco, Cristo tornou-Se homem.

Ó Bem-aventurado José, mostrai-vos pai também para nós
e guiai-nos no caminho da vida.
Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem,
e defendei-nos de todo o mal. Amen.

Roma, em São João de Latrão, na Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, 8 de dezembro do ano de 2020, oitavo do meu pontificado.

Francisco 


Fachada religiosa.



   18 de março de 2025  

Terça-feira da 2ª Semana da Quaresma

   Evangelho   


Mt 23,1-12

Naquele tempo, 1Jesus falou às multidões e aos seus discípulos e lhes disse: 2“Os mestres da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés. 3Por isso, deveis fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam. 4Amarram pesados fardos e os colocam nos ombros dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo.
5Fazem todas as suas ações só para serem vistos pelos outros. Eles usam faixas largas, com trechos da Escritura, na testa e nos braços, e põem na roupa longas franjas.
6Gostam de lugar de honra nos banquetes e dos primeiros lugares nas sinagogas. 7Gostam de ser cumprimentados nas praças públicas e de serem chamados de Mestre. 8Quanto a vós, nunca vos deixeis chamar de Mestre, pois um só é vosso Mestre e todos vós sois irmãos. 9Na terra, não chameis a ninguém de pai, pois um só é vosso Pai, aquele que está nos céus. 10Não deixeis que vos chamem de guias, pois um só é vosso Guia, Cristo. 11Pelo contrário, o maior dentre vós deve ser aquele que vos serve. 12Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado”.

   Meditação.   


Não imitem as suas ações (Mt 23, 3)

No evangelho de hoje, Jesus está fazendo uma denúncia muito forte contra os mestres da Lei e os fariseus. Afinal, quem eram eles? No tempo de Jesus e das primeiras comunidades cristãs, os fariseus e seus mestres constituíam um grupo muito forte no meio do povo de Deus. Formavam uma espécie de confraria de homens observantes da Lei de Moisés. Eram muito influentes e respeitados pelo povo.

Esse movimento começou no tempo do exílio. Com a destruição do Templo e o exílio de uma parte da população para a Babilônia, os sacerdotes perderam sua função e sua influência na religião. Foi-se formando um movimento leigo que manteve a religião judaica não mais em torno do Templo, mas em torno da Lei. Na volta do exílio, esse movimento continuou a crescer junto às sinagogas. Um historiador da época, Flávio Josefo, calculou que havia uns 6.000 homens nessa confraria por todo o país, no tempo de Jesus. Eles zelavam para que a Lei de Moisés fosse cumprida em todos os seus detalhes. Muitos deles estudavam bastante essa Lei escrita e oral, frequentando escolas de grandes mestres. E passavam a explicá-la ao povo nas sinagogas e no Templo de Jerusalém também. Esses grandes catequistas eram chamados mestres ou doutores da Lei.

Com certeza, os fariseus eram um grupo muito próximo de Jesus. Mas, fizeram grande oposição a ele, talvez por inveja ou mesmo porque Jesus ensinasse de maneira diferente e isso desestabilizava a liderança deles. E Jesus percebeu neles alguns defeitos muito sérios. Quais? Eles exigiam demais do povo, quando na verdade eles não praticavam tudo aquilo. Eles desprezavam quem não conhecesse a Lei ou não estivesse em condições de cumpri-la. Na verdade, em seu legalismo, eles fecharam o coração e não acolheram Jesus e a sua mensagem.

Na passagem de hoje, Jesus está alertando o povo e os discípulos para fazerem o que eles ensinam, mas não imitarem as suas ações. ‘Façam o que eles dizem, mas não façam o que eles fazem’. E aí ele fez uma lista completa de sete falhas do comportamento dos fariseus e de seus mestres; defeitos que os novos líderes do povo de Deus precisavam evitar. Com certeza, a preocupação de Jesus era com os novos líderes de sua comunidade, seus apóstolos e quem viesse a ocupar o seu lugar na animação das comunidades: não imitarem os mestres e os fariseus.

E por que não devem imitá-los? Olha os pecados que Jesus denunciou: ensinam, mas não praticam; amarram fardos pesados nas costas dos outros; fazem tudo para aparecer; exageram nos símbolos religiosos (largas faixas na testa e no braço com trechos da Lei e longas franjas na túnica); estão atrás de privilégios; gostam de ser cumprimentados em público; adoram ser chamados de mestres. Sete defeitos dos fariseus e seus mestres. Essas são tentações permanentes também no meio do povo de Deus de hoje; Coisas que as lideranças das comunidades cristãs não podem imitar, de jeito nenhum.




Guardando a mensagem

A palavra de Jesus nos ensina a estar atentos para não nos deixarmos iludir apenas por uma fachada religiosa. Como diz o ditado: “nem tudo que reluz é ouro”. Como os fariseus de ontem, há muita gente falando de Deus, mas seu real interesse não é a glória de Deus e o bem dos seus irmãos. Como os fariseus, há muito interesse em prestígio, em dinheiro, em benefícios pessoais. Há quem ensine, mas não viva. E quem ensine, sem responsabilidade com a doutrina dos apóstolos. E dentro de nossas comunidades, estejamos atentos para que o estilo fariseu não se instale.

Não imitem as suas ações (Mt 23, 3)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
tu estavas preocupado com a tua Igreja, para ninguém copiar o estilo dos mestres e fariseus do teu tempo. Os fariseus bem que poderiam ter sido os teus principais colaboradores na pregação do Evangelho. Mas, o tempo todo, ficaram se confrontando contigo, levantando suspeitas, dizendo que agias por obra de Satanás, te perseguindo. Liberta, Senhor, tua Igreja de qualquer vestígio de imitação dos defeitos do movimento dos fariseus. Que o teu Santo Espírito continue nos guiando e purificando para realizarmos bem a nossa vocação de comunidade missionária que leva tua Palavra de amor a todos os povos. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Reze pedindo ao Senhor que não nos deixe cair na tentação dos fariseus, repetindo os seus sete defeitos.
 
Comunicando

Parece que você não viu a Segunda Bíblica de ontem à noite. Claro que eu sou suspeito pra falar, mas vou lhe dizer: achei muito bom, penso que esse nosso encontro bíblico semanal vai ajudar muita gente a conhecer e amar ainda mais a Palavra do Senhor. Por favor, confira no meu canal do Youtube. Já estou lhe enviando o link. 

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

Como tratar com quem errou.

 


  17 de março de 2025   

Segunda-feira da 2ª Semana da Quaresma


   Evangelho.  


Lc 6,36-38

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 36“Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso. 37Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados. 38Dai e vos será dado. Uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante será colocada no vosso colo; porque com a mesma medida com que medirdes os outros, vós também sereis medidos”.

   Meditação.   


Sejam misericordiosos como também o Pai de vocês é misericordioso (Lc 6, 36)

Começamos a segunda semana da Quaresma. Toda a Quaresma é um programa de crescimento cristão, que poderíamos resumir no apelo à conversão cultivada pela oração, pela penitência e pela caridade. E este já é o 13º dia de nossa caminhada. Em foco, hoje, a caridade: como tratar com quem errou.

Não julgar, não condenar, perdoar, doar. Quatro ações onde exprimimos nossa comunhão com Deus no confronto com quem errou. Nós somos seus filhos. Imitando-o, exprimimos nossa condição de filhos. Jesus nos disse: Sejam perfeitos como o Pai de vocês é perfeito. Sejam misericordiosos como também o Pai de vocês é misericordioso.

Ele é misericordioso. É mais pai do que juiz. Não é só imparcial e reto. Está escrito no Salmo: “Se levares em conta nossas faltas, Senhor, quem poderá subsistir? Mas, em ti, encontra-se o perdão” (Salmo 129). Nosso Pai é, sobretudo, misericordioso, não nos trata segundo nossas faltas.

Mesmo sendo nós os responsáveis pela morte de Jesus na cruz, o Pai não nos condenou. Antes, pelo sacrifício oferecido pelo seu filho, abriu a porta da reconciliação e da restauração aos pecadores. Pela cruz, ofereceu o perdão.

Doar, emprestar, partilhar... são atitudes que copiam o modo como Deus, generosamente, cuida de nós, e, em sua providência, nos alimenta, nos veste e sustenta. O convite é para sermos misericordiosos como o nosso Pai, por isso: não julgar, não condenar, perdoar e doar com generosidade.

Uma atitude muito comum de nossa parte em relação a quem errou, quando não é o juízo e a condenação sumária, é a indiferença. Pela indiferença, nos isentamos de sofrer com o outro, de ser solidários com a dor alheia. Ser misericordioso é interessar-se pela vítima e também pelo faltoso. Não se trata de acobertar o seu erro, mas de encontrar caminhos para que ele se recupere, se emende, se converta.

Acrescenta ainda o Senhor que seremos tratados como tratarmos o nosso semelhante, em sua necessidade e em sua fragilidade. Não julgando, não seremos julgados. Não condenando, não seremos condenados. Perdoando, seremos perdoados. Doando, receberemos ainda mais. Com a mesma medida com que medirmos os outros, seremos também medidos. É exatamente isso que cantamos na Oração de São Francisco: "Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado. Compreender que ser compreendido. Amar que ser amado. Pois é dando que se recebe. É perdoando que se é perdoado. E é morrendo que se vive para a vida eterna".




Guardando a mensagem

Imitamos Deus no amor aos irmãos, particularmente pelos mais frágeis e sofredores. Esse amor se manifesta particularmente no confronto com os que erram. Nessa condição, o amor e o respeito pelos que cometeram erros se mostram em não julgá-los, nem condená-los. Ao contrário, oferecemos-lhe o perdão. Não somos juízes do nosso irmão. Isso não quer dizer que estejamos de acordo com o seu erro. Isso quer dizer que não nos arvoramos em juízes dele, pois também somos fracos e pecadores. Longe de cultivar ódio ou indiferença, oferecemos-lhe uma nova chance. Isso não o isenta de ser penalizado na forma da lei pelos seus atos, quando seu comportamento entra em conflito com a norma. Mas, não o abandonamos no seu erro. Oferecemos-lhe o caminho da regeneração, do perdão. Assim, imitamos o modo misericordioso com que Deus nos trata, procurando ser misericordiosos como ele.

Sejam misericordiosos como também o Pai de vocês é misericordioso (Lc 6, 36)

Rezando a palavra

Senhor Jesus, 
o teu apelo à misericórdia, ao tratamento fraterno de quem errou, ao perdão das ofensas é muito oportuno. Vivemos em meio a relacionamentos agressivos, intolerantes, violentos nas palavras e nas atitudes. E aos poucos vamos nos tornando também nós agressivos, intolerantes, violentos, quando deveríamos levar para a sociedade um testemunho de fraternidade, de diálogo, de compromisso com a paz. Este é o testemunho que se espera dos teus seguidores, dos filhos e filhas do Pai da Misericórdia. Senhor, ajuda-nos a enfrentar o dia-a-dia difícil da luta pela sobrevivência e a defesa da justiça e da paz com o coração desarmado, pautando-nos pela misericórdia e distanciando-nos de polarizações inúteis e destrutivas. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Faça, hoje, um exame de consciência. Veja se identifica alguma pessoa do seu círculo de amizade ou de sua história de vida que tenha cometido um erro razoavelmente grave. Diante dessa pessoa, o seu comportamento foi misericordioso?

Comunicando

Deixo aqui um agradecimento sincero às pessoas que fazem comigo a AMA, a Associação Missionária Amanhecer. Estamos abraçando juntos, a quase três décadas, um lindo projeto de evangelização com a comunicação social, que envolve rádio, televisão, redes sociais, eventos. Talvez você também queira conhecer a AMA e, quem sabe, somar conosco. Se for assim, deixo-lhe um contato: o WhatsApp 81 3224-9284.  

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

A razão da nossa esperança.




  16 de março de 2025.  

2º Domingo da Quaresma

  Evangelho.  


Lc 9,28b-36

Naquele tempo, 28bJesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à montanha para rezar. 29Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante. 30Eis que dois homens estavam conversando com Jesus: eram Moisés e Elias. 31Eles apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a morte, que Jesus iria sofrer em Jerusalém.
32Pedro e os companheiros estavam com muito sono. Ao despertarem, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com ele.
33E, quando estes homens se iam afastando, Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom estarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro não sabia o que estava dizendo.
34Ele estava ainda falando, quando apareceu uma nuvem que os cobriu com sua sombra. Os discípulos ficaram com medo ao entrarem dentro da nuvem.
35Da nuvem, porém, saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!”
36Enquanto a voz ressoava, Jesus encontrou-se sozinho. Os discípulos ficaram calados e naqueles dias não contaram a ninguém nada do que tinham visto.

  Meditação.  


Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante (Lc 9, 29)

São tantos problemas, hoje... problemas globais que tocam a todos. As guerras, com resultados tristes de mortes, destruição e humilhação dos mais fracos. Os eventos extremos das mudanças climáticas. A criminalização dos imigrantes, a violência, a pobreza... 

No meio de tudo isso, estamos nós, com a nossa luta diária e o nosso corre-corre. Todas as crises desse tempo – na família, na igreja, na escola, no estado – mexem com a gente. Sentimos que fazemos parte do problema e - esperemos - da sua solução também. O que será que a fé dos cristãos tem a dizer num momento como este da história da humanidade? E será que podemos ou devemos fazer alguma coisa, no meio dessa situação?

Vamos ver se o evangelho de hoje nos ajuda a pensar mais em tudo isso. Claro, a Palavra de Deus é uma luz para iluminar o nosso caminho, a nossa realidade. Não conta apenas uma história antiga, mas nos ajuda a perceber a presença e a ação de Deus hoje, em nossa história.

Jesus subiu ao monte, para rezar. E foram três discípulos com ele: Pedro, Tiago e João. Em oração, as feições de Jesus se iluminaram, suas vestes ficaram muito brancas e brilhantes. E apareceram, conversando com ele, dois personagens do Antigo Testamento, Moisés e Elias. Os discípulos estavam sonolentos e acabaram dormindo. Ao despertar, viram aquela beleza toda. Pedro teve uma ideia: fazer três tendas para Jesus e seus dois amigos, para ficarem por ali mesmo, no alto da montanha. Foi chegando uma nuvem e eles terminaram dentro dela, cheios de medo. Ouviu-se, então, uma voz: “Este é o meu filho, o escolhido. Escutem o que ele diz”. Nisso, Jesus ficou só. E eles ficaram calados, e, depois, não disseram nada a ninguém daquilo tudo.

Um pouco antes dessa cena, Jesus tinha feito o primeiro anúncio de sua paixão. E tinha avisado que quem quisesse segui-lo precisava também tomar sua cruz. Os discípulos estavam meio assustados com tudo isso. No monte, acompanhando Jesus em sua oração, eles fazem experiência de sua glória. Eles o vêm luminoso. É uma revelação sobre a pessoa de Jesus e seu caminho. Moisés e Elias, conforme escreveu o evangelista Lucas, estavam conversando com Jesus sobre o seu êxodo, isto é, sobre sua passagem pela morte, sua volta ao Pai. Em Jerusalém se cumpririam a paixão, a ressurreição e a ascensão de Jesus ao céu. Esse é o êxodo de Jesus, a sua passagem libertadora ao Pai. A nuvem é um sinal bíblico da presença de Deus, como no monte Sinai. A nuvem os cobriu. Eles ouvem a voz de Deus, apresentando o seu filho, o Messias; e recomendando que o escutem. Numa palavra, os discípulos, no monte, em oração com Jesus, o reconhecem em sua glória: as Escrituras Sagradas, representadas por Moisés e Elias, explicam o sentido de sua vida, de sua paixão e anunciam a sua vitória; o próprio Deus o revela como Filho e Messias. A eles, cabe agora escutá-lo, crer nele, segui-lo.

Toda essa experiência maravilhosa que eles viveram no monte serviria para iluminar sua vida e seu seguimento de Jesus, mesmo em tempos difíceis, como o que estava chegando, o da paixão. Eles, infelizmente, não assimilaram logo essa linda experiência. No começo, enquanto Jesus está em oração, eles estão com sono, cochilando, dormindo. Depois dentro da nuvem, eles sentem muito medo. O texto termina dizendo que eles ficaram calados, naqueles dias não contaram a ninguém o acontecido. Foi assim que enfrentaram os dias turbulentos da paixão: meio entorpecidos, com medo e silenciosos. Mas, com a vinda do Espírito Santo, tornaram-se testemunhas destemidas de Jesus.




Guardando a mensagem

Vivemos dias turbulentos. O nosso mundo vive uma grande crise. É um período de mudanças e desencontros. E todos estamos meio atordoados e temerosos. É assim que nos apresentamos em nossa oração com Cristo, em nossas celebrações: sonolentos, temerosos, calados. Sonolentos, porque não estamos em estado de vigília como Jesus pediu, não estamos suficientemente despertos, ativos, informados. Temerosos, porque não sabemos como agir nesse momento e ficamos com medo do futuro. Calados, porque não estamos proclamando a mensagem de esperança que vem de nossa fé em Jesus. No monte, os discípulos fazem uma profunda experiência, em oração. Jesus, o filho de Deus, o escolhido, vai sofrer um bocado e enfrentar a morte na cruz, mas esse seu caminho está alicerçado na história de fé do povo de Deus. E por ele alcançará vitória completa. Deus, o Pai, está com ele e confirma o seu caminho.

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
no meio de suas dificuldades, os três discípulos tocaram de perto o mistério de tua glória, experimentaram um pedacinho de céu. Aquela experiência, vivida na oração, serviria para animá-los e confirmá-los no caminho do teu seguimento, carregando também a sua cruz. Senhor, certamente esse é também o sentido de nossas celebrações. No meio de tantos problemas, respirarmos o ar da esperança, tocarmos a glória de Deus que é a realidade última e definitiva. E, assim, descermos a montanha, como testemunhas de que o caminho dos humildes, dos justos, dos perseguidos é um caminho de vitória; que Deus não nos abandona; que tu, Senhor Jesus, caminhas à nossa frente; que a paixão abre caminho para a ressurreição, a vida plena, a felicidade completa, obra tua, ó Redentor. Nosso encontro semanal contigo, Senhor Jesus Ressuscitado, na Santa Eucaristia, é o nosso Tabor, o monte da transfiguração. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante (Lc 9, 29)

Vivendo a palavra

Todo dia, a gente toca de perto a perplexidade das pessoas diante da situação do país e do mundo. Hoje, não engrosse a lamentação. Não espalhe má notícia. Não diga que está sem jeito. Hoje, acenda a luz da esperança, da fé em Jesus Cristo Ressuscitado. Ele é a razão de nossa esperança.

Comunicando

Hoje, faço show na cidade de Abreu e Lima, área metropolitana do Recife. A paróquia de São José em Abreu e Lima está completando 60 anos de caminhada evangelizadora. 

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

Você tem inimigos?


   15 de março de 2025   

Sábado da 1ª Semana da Quaresma


   Evangelho.   


Mt 5,43-48

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 43“Vós ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ 44Eu, porém, vos digo: ‘Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!’ 45Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre os justos e injustos.
46Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? 47E se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? 48Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”.


   Meditação.  


Amem os seus inimigos e rezem por aqueles que perseguem vocês (Mt 5, 44).

Jesus nos mandou amar os inimigos. Essa atitude cristã supera o comportamento humano digamos “normal” que seria amar os amigos e odiar os inimigos. Viver na fé em Jesus Cristo nos faz superar essa posição. Amar os seus inimigos e rezar por eles. Eita coisa difícil!

O Papa Francisco, em uma de suas homilias, tratando desse ensinamento de Jesus, deixou uma dica muito interessante. Disse ele: “Hoje, nos fará bem pensar num inimigo – creio que todos nós temos um -, alguém que nos fez mal ou que nos quer fazer mal ou tenta nos prejudicar: pensar nesta pessoa. A oração mafiosa é: “Você me paga”. A oração cristã é: “Senhor, dê-lhe a sua bênção e ensine-me a amá-lo”. Pensemos num inimigo: todos temos um. Pensemos nele. Rezemos por ele. Peçamos ao Senhor a graça de amá-lo” (Homilia na Capela da Casa Santa Marta, 19 junho 2018)

Interessante essa diferença entre a oração mafiosa e a oração cristã. Ter raiva é uma coisa natural. Deixar que a raiva tome conta da gente, aí é que não dá. Permitir que a raiva se transforme em rancor, ódio e nos cegue em nossas atitudes, aí não. Segundo o ensinamento de Jesus, o melhor caminho é acalmar o coração e tentar ver em quem nos ofende ou nos agride um irmão, uma pessoa que está equivocada, mas continua a merecer nossa consideração. Não responder-lhe na mesma medida, não desejar-lhe o mal, antes preservar sua boa imagem, querer o seu bem, rezar por ele ou por ela. É o que Jesus está nos dizendo neste evangelho.

O Papa Francisco, na homilia que mencionei no início, deu uma explicação interessante. Acompanhe. “Nós sabemos que devemos perdoar os nossos inimigos, nós dizemos isso todos os dias no Pai-Nosso. Pedimos perdão assim como nós perdoamos: é uma condição…", embora não seja fácil. Assim como “rezar pelos outros”, por aqueles que nos dão problemas, que nos colocam à prova: também isto é difícil, mas o fazemos. Mas rezar por aqueles que querem me destruir, os inimigos, para que Deus os abençoe: isso é realmente difícil de entender. É a difícil lógica de Jesus, que no Evangelho está contida na oração e na justificação daqueles que “o mataram” na cruz: “perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem”. Jesus pede perdão para eles, assim como fez Santo Estevão no momento do martírio” (até aqui, o Papa Francisco).

Amar os inimigos é uma coisa. Aprovar suas ações é outra. Rezar por eles é uma coisa. Cruzar os braços diante da injustiça e da maldade que eles fazem é outra coisa. É obrigação nossa bloquear o mal, estancar a injustiça. Mas, sem ódio no coração. Sem revanchismo, sem espírito de vingança. E querendo o bem também de quem nos faz mal: a sua conversão, a sua humanização.

Jesus está chamando a nossa atenção para o diferencial do cristão. Não agir como os pagãos ou pessoas sem a luz da fé. Eles amam os seus amigos, tratam bem os seus iguais. Temos que imitar o Pai. Temos que imitar Jesus. Amar os inimigos, rezar pelos que nos perseguem, fazer o bem a quem nos maltrata.




Guardando a mensagem

Jesus nos mandou amar os inimigos, fazer-lhe o bem. E nos deu como modelo o Pai, o nosso Deus. O próprio Jesus é nosso modelo. Imitando Jesus, amamos a todos, queremos o bem de todos e, quando perseguidos, injuriados ou difamados, lutamos para não guardar mágoa, nem alimentar ódio em nosso coração. Antes, rezamos por quem nos faz o mal e queremos o bem de quem nos ofende. É nesse espírito que enfrentamos a defesa dos nossos direitos e a busca da verdade. Sem ódio no coração.

Amem os seus inimigos e rezem por aqueles que perseguem vocês (Mt 5, 44).

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
está aí uma coisa difícil: amar os inimigos. Mas, esse é o jeito certo do cristão ser, para parecer contigo, para ter os teus mesmos sentimentos, como nos aconselhou o apóstolo. Ajuda-nos, Senhor, a tirar do nosso coração todo sentimento de rancor, de ódio, de inclinação à vingança. Ajuda-nos a cultivar o amor cristão que vê no outro, mesmo no inimigo, um irmão ou uma irmã que precisa encontrar o caminho do bem. Abençoa, Senhor, os que nos fazem o mal. Eles também são irmãos que precisam encontrar a graça da conversão. Ajuda-nos, Senhor, a vencer o mal com o bem. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.


Vivendo a palavra

Identifique, hoje, na sua história de vida, alguém que lhe tenha feito muito mal. Fale com Jesus, em sua oração, pedindo-lhe forças para perdoar essa pessoa.

Comunicando

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Pe. João Carlos Ribeiro, sdb





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