PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA: Espiritualidade
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Servo ou Amigo

Diante de Jesus, como é que você  se sente: como um servo ou como um amigo? Essa pergunta pode ajudar você a entender o seu relacionamento com Jesus, e a melhorá-lo. Diante dele, você se sente mais como um servo ou realmente como um amigo? 


Jesus falou claro: eu não chamo vocês de servos, mas de amigos. O servo não sabe aonde o seu Senhor vai. E eu contei a vocês tudo que ouvi do meu Pai. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vocês serão meus amigos se fizerem o que lhes peço: amem-se uns aos outros. (Cf. João 15). Jesus então nos disse que não nos trata como servos, mas como amigos. Ele dá sua vida por nós. É o amor maior que alguém pode demonstrar por seus amigos. Ele é nosso melhor amigo. E, claro, quer nos comportemos como seus amigos, não como seus servos.

Cuidado com a noite

Não tem como a gente negar. Mesmo que a gente não queira repetir a fixação de muitos grupos religiosos, não tem jeito. Existe o mal. Existe o inimigo, aquele que quer destruir a obra de Deus. Na parábola do joio e do trigo, o inimigo do agricultor semeou a semente ruim, na calada da noite. "Enquanto todos dormiam, veio o seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi embora" (Mt 13,25).

O inimigo age na calada da noite, "enquanto todos dormem". A semente boa tinha sido plantada durante o dia. Plantar durante o dia, ótimo, mas vigiar também para que, de noite, não venha o inimigo e plante o joio no mesmo lugar. É preciso estar vigilante também durante a noite. O dia pode representar a clareza e a transparência com que a gente precisa agir. Quando a coisa é pública, é comunicada, é acompanhada por outros, o mal fica sem chance. Coisas escondidas, conversas à meia voz, segredinhos... são campo fértil para a ação do inimigo. Bom, uma coisa é o direito à privacidade. Outra, a ação às escondidas, acobertadas pela mentira, pela falsidade, pela impunidade. É aí que o mal se infiltra, que o inimigo semeia o joio em nossa plantação.

Você recorda, por exemplo, que Nicodemos foi falar com Jesus à noite. Ele tinha medo de perder a posição que detinha no Sinédrio. E Judas traiu Jesus, entregando-o covardemente aos seus inimigos, no Jardim das Oliveiras, numa noite. A noite é uma representação do medo, da covardia, do manto que encobre a ação dos maus. Por isso, São Paulo falou: "vocês que são de Cristo, ajam como em pleno dia".

"À noite, todos os gatos são pardos". Li uma vez essa frase pixada em um muro, quando ia para a Faculdade. Eram tempos de ditadura. E a frase tinha alguma coisa a ver com as lutas daquele tempo difícil. Mas, realmente não entendi. "À noite, todos os gatos são pardos".  Depois, anos depois, caiu a ficha. É que quando não se tem clareza, todas as propostas são parecidas, todas as opiniões parecem boas, todos os gatos são pardos. A noite, então, é essa hora em que as coisas estão embaralhadas, misturadas, confusas, quando a gente não tem uma visão clara. E esse é um momento perigoso, porque a gente pode assumir o que não presta como uma coisa boa, um valor. Nessa circunstância, sem luz suficiente, a gente pode misturar alhos com bugalhos.

A noite, espaço das trevas, é a hora do inimigo, do ladrão. Em outro contexto, Jesus tinha falado do cuidado com a casa, de noite. Ficar alerta, vigilante, falou ele, porque não se sabe em que hora o ladrão vem. O dono da casa não pode cochilar. Precisa verificar se portas e janelas estão trancadas, se não tem ninguém da família ainda na rua, se tudo está seguro. Só assim pode descansar. Mas, sempre atento, a qualquer barulho estranho, precisa estar de prontidão.

É. O mal existe. O diabo ainda não se aposentou. Nem tira férias. E aproveita quando o agricultor dorme, para plantar sua semente ruim na vida da gente, na família da gente, em nossa comunidade. É preciso vigilância. É preciso tomar distância de coisas escondidas, de situações dúbias, de escolhas duvidosas em situações de pouca clareza. E pedir a Deus, como ensinou Jesus no Pai Nosso: "Pai nosso, livrai-nos do mal".

Quando escurece, saem os ratos dos seus esgotos, e as raposas de suas tocas, e os morcegos em seus voos cegos. Ratos, raposas, morcegos, más companhias, traficantes de drogas, prostituição, assaltos... é tudo da noite. Cuidado pra não perder a sua bela plantação de trigo, feita com tanto trabalho durante o dia. Cuidado com a noite.

Pe. João Carlos – 18.07.2011

Zaqueu, nossa cara

Zaqueu é um bom representante de qualquer um de nós. De qualquer pessoa. Zaqueu é o símbolo da pessoa que vivia longe de Deus e o encontrou. Ou melhor, foi encontrado.

 

O encontro de Jesus com Zaqueu foi muito curioso. Jesus é o missionário do Pai que vem ao nosso encontro. Ele chegou na cidade de Zaqueu, Jericó, acompanhado de muita gente. Ele ia no meio da multidão. A multidão é a comunidade, o povo que o admira, nós que o seguimos. Dá pra perceber que ele está chegando, pelo barulho que a gente faz, pelo "converseiro" que toma conta das ruas. É a comunidade de Jesus, o povo que o acompanha. No meio da multidão, estava Jesus. Ninguém sabe mesmo se é a multidão que leva Jesus ou Jesus que leva a multidão. É claro que é Jesus o seu líder, a razão de sua caminhada. Mas, quem sabe, de alguma maneira, o povo também o conduz. O povo leva Jesus a Zaqueu, se poderia pensar assim.

 

Zaqueu é como nós. Alguém cheio de vontade de ver Jesus. Ele queria vê-lo. E certamente não era só por curiosidade. Pois ele, que era baixinho, só via a multidão, só via o povo, nada de Jesus. Teve uma idéia. Correu à frente. Não é comum se ver uma pessoa importante correndo na rua pra ver alguém. E mais ainda, subir numa árvore, como ele o fez. Coisa de criança, não acham? Mas, como disse Jesus, quem não for como uma criança não entra no reino de Deus.

 

E vocês sabem por que eu disse que ele era uma pessoa importante. Ele era chefe dos cobradores de impostos, era muito rico. É o que diz o evangelho de Lucas. Era chefe dos cobradores de impostos, diretamente ligado ao poder romano. Mas, correu como uma criança, querendo ver Jesus. Há muito queria vê-lo. Era essa a oportunidade. Mas, a multidão, o povo que o acompanhava o encobria. Não dava para vê-lo. Correu na frente. Subiu em uma árvore. Ficou aguardando. E teve uma surpresa.

 

Ele queria ver Jesus, e foi Jesus quem o viu, quem o encontrou. Olhou para o alto da árvore e foi dizendo: Zaqueu, desce depressa! Eu vou jantar na tua casa hoje. Ninguém podia esperar essa saída de Jesus. Nem Zaqueu. Logo ele, um homem muito pequeno, como disse São Lucas. Um homem cheio de defeitos, pequeno demais para ser digno de receber Jesus em casa. É claro que eu não estou falando de tamanho. Estou falando de sua condição de pecador.

 

E quando Zaqueu abriu a porta da casa pra Jesus entrar... não era mais aquele homem mesquinho, desonesto, aproveitador. Era um homem novo, renascido pela graça de Deus que o conquistou e pela sua conversão. Eu fico até pensando: ele certamente tinha tomado banho, vestido uma roupa branca, reunido a família e os amigos. Foi como no dia do batismo da gente, o dia em que a gente renasceu na alegria da comunhão com Deus. O que Jesus disse foi muito bonito: Hoje a salvação entrou nessa casa!

 

É isso. Zaqueu é a cara da gente. 

 

Pe. João Carlos – 12.07.2011

Semente na estrada

Jesus contou a história da semente que foi plantada em vários terrenos. Quatro terrenos. À beira da estrada, em terra muita pedregosa, em um terreno coberto de espinhos e em uma terra boa, bem preparada. E aí, é claro, colheu somente no bom terreno. E explicou o que significam os terrenos e a semente. A semente é a palavra de Deus. E os terrenos representam o modo como nós recebemos a Palavra.


Eu nunca prestei muita atenção nessa parte da semente que caiu à beira da estrada. Mas, outro dia fiquei pensando no assunto, e concluí que se trata de uma coisa bastante comum em nossa vida. É que, às vezes, estamos tão distraídos, que não fica nada do que foi semeado. Ou então deixamos todo mundo passar por nós e pisotear tudo o que nos é caro. É por isso que Jesus falou da semente que caiu no caminho: é que nossa vida assim vida vira um estrada, onde todo mundo passa, onde todo mundo pisa. A palavra semeada nem tem a chance de germinar. Como disse Jesus, vêm os pássaros e a comem. Os homens passam e a pisoteiam. A semeadura à beira da estrada não produz nada.


É de se pensar: você não tem uma área de sua vida reservada, o melhor de você mesmo para acolher o que Deus lhe diz?  Você não tem um cantinho importante de sua vida, onde ninguém pisa, onde ninguém manda, um lugar reservado onde você pensa sua vida e toma suas decisões? Sabe porque essa pergunta? porque se a gente escuta todo mundo, e qualquer opinião nos influencia, no meio de tantas vozes cada um puxando para o seu lado, a voz de Deus fica apenas mais uma opinião. E aí, a gente perde o controle da direção de nossa própria vida. A gente vira um caminho onde todo mundo passa, uma passarela de opiniões, onde tudo parece ter o mesmo peso... e a voz de Deus, que seria a nossa referência maior, não é mais ouvida ou não é levada a sério.


E a voz de Deus, é claro, tem que ter um peso diferente. Como Pedro falou pra Jesus: Só tu, Senhor,  tens palavras de vida eterna. Na verdade, a fala de Deus não é só uma voz que vem de lá pra cá, em mão única, ou uma voz de cima pra baixo. Deus fala conosco como numa pista de duas mãos. Ele fala e eu escuto. Eu falo e ele me escuta. É um diálogo. Uma conversa de amigos, profunda e vital, que acontece no lugar mais secreto de mim mesmo. É lá que eu preciso tomar as decisões importantes de minha vida, depois de um diálogo profundo e vital com o meu Pai e Criador. É lá que a minha vida toma rumo, sentido e direção.


Acabo de me lembrar da ventoinha, aquele espécie de bandeira-saquinho que marca a direção do vento nos aeroportos. A ventoinha enche-se de ar e fica a favor do vento. Mostra a direção da corrente de ar. Pra onde o vento der, ela se vira. Quem manda é o vento. Uma pessoa não pode ser uma ventoinha. Muda de opinião, faz opções segundo o vento, isto é, a opinião pública, o quê os outros estão valorizando ou o que a mídia define como o melhor. Uma pessoa precisa ter um rumo certo pra seguir, valores onde afirmar a própria caminhada. Só a voz de Deus pode dar um rumo certo à minha vida. O seu Espírito, que me habita desde o batismo, é quem vai dialogando comigo, no meu íntimo, e me ajudando a andar no rumo certo. Eu não sou uma ventoinha. E a minha vida não pode ser uma estrada onde todo mundo pisa.


É, a semente que caiu à beira da estrada faz a gente pensar.


Pe. João Carlos – 10.07.2011

A limonada

Apresentaram um limão a duas pessoas. O que fazer com um limão? Uma fez cara feia: azedo, nem pensar! O outro abriu um sorriso, teve uma ideia: vai dar uma gostosa limonada. O primeiro teve um olhar negativo, deixou-se levar peloimpacto da ideia que lhe veio em mente: o sabor azedo. O outro teve um olhar positivo, viu possibilidades naquele limão: uma gostosa limonada.

 

O que para um parece uma dificuldade, para outro revela-se uma oportunidade. A dificuldade, o problema pode se tornar em uma oportunidade de crescimento, de uma nova solução, de um salto adiante. É preciso superar obstáculos, superando-se na própria percepção dos problemas. Porque problemas não faltam na vida de ninguém. E é possível que um problema possa gerar novas soluções, novas oportunidades.

 

Fico olhando para Jesus na Última Ceia e me encanto em ver como ele fez da traição de Judas uma oportunidade para sua missão. "Um que come comigo, levantou contra mim o calcanhar". Era Judas, preparando-se para oferecer sua consultoria aos chefes do Templo de Jerusalém. Pelos seus serviços de entrega de Jesus no Horto, receberia 30 moedas de prata. E olha que Judas tinha sido escolhido por Jesus e o tinha acompanhado nos três anos de missão. Vira Jesus preocupado com o povo, defendendo os fracos e curando os doentes. Ainda assim, venceu nele o instinto de busca de interesse pessoal, suas expectativas de se dar bem a qualquer custo. Traiu o Mestre. Entregou-o aos seus inimigos. E Jesus ficou um tanto triste na Ceia, mas logo se recuperou. Aproveitaria da mancada do discípulo para oferecer a sua própria vida em remissão dos pecados do povo. Judas ajudou Jesus a realizar sua tarefa até o fim. De uma dificuldade, Jesus fez uma oportunidade. Da traição de um discípulo, Jesus deu uma finalização redentora à sua paixão e morte. Ninguém tomaria a pulso sua vida, ele a entregaria livremente.

 

E a história dos discípulos Paulo e Barnabé em Antioquia da Pisídia. Paulo pregou na Sinagoga. Os judeus de lá ficaram primeiro curiosos, mas depois sentiram-se ameaçados. E não permitiram mais que falasse. Rejeitaram sua pregação em que anunciava Jesus como o filho de Deus enviado para a salvação do povo. Proibiram que os apóstolos falassem. Paulo deu a volta por cima. "Já que vocês judeus não querem saber dessa boa notícia, vamos anuncia-la aos pagãos". E olha que a acolhida dos pagãos foi entusiasta, muitos se converteram e se batizaram. O cristianismo espalhou-se por todo o mediterrâneo entre uma grande maioria pagã. De uma dificuldade, Paulo fez uma grande oportunidade. De barrada nas sinagogas dos judeus, a Palavra penetrou em amplos ambientes do mundo greco-romano.

 

"Quando se fecha uma porta, Deus abre uma janela", é a sabedoria popular. E São Paulo: "Tudo concorre para o bem daqueles  que amam a Deus" (Rm 8,28). Então, em vez de pensar que tudo está perdido, procure logo onde apoiar os pés para um salto de qualidade. E, afinal, transformar o azedo do limão numa gostosa limonada.

Pe. João Carlos – 20.05.2011

Analfabetismo bíblico

São vários os tipos de analfabetismo. Em matéria de analfabetismo absoluto, o Brasil ainda tem ainda 10% de pessoas nessa faixa. É triste isso. E mais 20% de analfabetos funcionais, os que não conseguem interpretar um texto. Mas, hoje se fala também em analfabetismo digital. E com razão, pois muita gente que sabe ler e escrever ainda não sabe se comunicar com os recursos digitais: computador, internet, ipod, terminais eletrônicos, etc. Outro analfabetismo é o que Bertold Brecht descreveu: o analfabeto político. Mas, está me ocorrendo um outro analfabetismo igualmente grave para os tempos de hoje: o analfabeto bíblico. Alguns nessa área são analfabetos absolutos. E muitos outros, são analfabetos bíblicos funcionais.

 

Essa forma de analfabetismo me parece grave nos dias de hoje, especialmente entre os cristãos. O analfabeto bíblico seria alguém que, por desconhecer o livro dos cristãos, não consegue uma compreensão e uma comunicação adequada sobre a sua fé. "E não basta crer?", perguntaria alguém. Não. É preciso mais: é preciso dar as razões da própria fé, como está escrito na Carta de Pedro. E a fé cristã está assentada fundamentalmente nas Escrituras Sagradas e na Tradição que a transmite e explica. Sem um conhecimento bíblico mínimo, não se consegue compreender boa parte do discurso religioso católico, protestante, evangélico ou ortodoxo.

 

É claro que o Novo Testamento é a parte mais conhecida pelas pessoas, onde se encontra a história da vida de Jesus, seus ensinamentos e o desenvolvimento das comunidades cristãs após a sua ressurreição. Mas, o Novo Testamento não se entende sem o Antigo. As raízes da fé cristã estão na história religiosa do povo de Israel, o povo em Aliança com o Deus único. A comunidade dos seguidores de Jesus está em continuidade com a grande tradição religiosa do povo eleito: os seus patriarcas (Abraão, Isac, Jacó), os seus profetas (Amós, Oséias, Isaías, Jeremias, Jonas, Malaquias, Daniel), os seus reis  (Davi, Salomão, Josias), a Torah, a lei de Moisés, suas festas religiosas (páscoa, pentecostes, cabanas), etc. Não dá para compreender o Novo Testamento sem uma referência direta às Escrituras de Israel, os 46 livros do Antigo Testamento.

 

E não se pode achar que está tudo bem assim. Não está. Não é possível, nos dias de hoje, um cristão ser leigo na Bíblia. Leigo aqui, de maneira pejorativa. Estamos em uma sociedade com um leque enorme de modelos, possibilidades e opções. Quem for cristão tem que ser de verdade, e saber bem os fundamentos de sua fé. Em um mundo como o nosso, o cristão tem que fazer a diferença. E atitudes, comportamentos e projetos de vida alinhados com o Evangelho não se sustentam na superficialidade. Eles têm que ter um sólido alicerce. O conhecimento bíblico é uma dessas pedras fundamentais na construção de uma vida marcada pela fé em Cristo.

 

Aliás, devemos estender esse pensamento para todo mundo, mesmo para quem não é membro de nenhuma igreja. Estamos em uma cultura ocidental onde quase tudo continua fazendo referência ao mundo religioso cristão, ancorado na Bíblia. E mais ainda, os valores com que hoje pretendemos pautar nossa vida privada e social, continuam a se alicerçar todos eles nos ensinamentos religiosos do livro dos cristãos.  Assim é a justiça, a equidade social, a tolerância, o respeito à vida, a defesa da família, os direitos humanos, a solidariedade, a fraternidade, a honestidade... Enfim, não conhecer a Bíblia é uma grave lacuna na base cultural da nação. Analfabetismo bíblico, absoluto ou funcional, é um sério problema a ser enfrentado.

 

Pe. João Carlos – 07.07.2011

Águas mais profundas

Avancem para águas mais profundas. Orientação de Jesus a Pedro e aos seus companheiros de pesca. Convite de Jesus a todos nós.

 

Águas mais profundas na convivência. O corre-corre da vida pode ir nos fazendo superficiais nos nossos relacionamentos. Sem verdadeiro encontro de pessoas ninguém se sente integrado, valorizado, feliz. É aí que chega Jesus e nos diz: Avancem para águas mais profundas no relacionamento com os outros. Passar de um relacionamento de frieza, indiferença, desconfiança, superficialidade para um relacionamento de cordialidade, amizade, interesse pelo bem do outro.

 

Águas mais profundas na vida de família. O Pe. Zezinho já cantou: "o amor virou consórcio, compromisso de ninguém". Ser família é um dom, um presente de Deus. O nosso amor pela família se mostra no cuidado da casa e das pessoas, na atenção às situações de doença, de solidão, de crise. Família é o contrário de egoísmo, de individualismo, de indiferença. Família tem que ser lugar do respeito, do amor verdadeiro, do diálogo. Passar do eu para o nós, do meu para o nosso. Dar o primeiro passo, perdoar... ir além das aparências, ir além da obrigação... aprofundar mais a vida de família.

 

Águas mais profundas na luta pela sobrevivência.  Está tão difícil ganhar o pão de cada dia com o suor do próprio rosto. É tanto desemprego, tanta exploração... A gente pode sair cada dia para o trabalho ou para procurar um emprego com um sentimento negativo, de quem está fazendo uma coisa aborrecida e dolorosa. É aí que chega Jesus e nos diz: Avancem para águas mais profundas. Passem de um corre-corre mal-humorado, aborrecido, indo em frente por obrigação para um modo de buscar ganhar a vida com otimismo, sentindo-se útil no que faz, servindo com generosidade, realizando bem as próprias tarefas, enfrentando com criatividade e perseverança as dificuldades do mundo do trabalho.

 

Águas mais profundas na sua vida cristã. Não basta ser religioso. É preciso, pela religiosidade, aproximar-se do Deus verdadeiro, para estar em comunhão com ele e realizar a sua vontade. Há muita atitude religiosa superficial, sem profundidade, sem conversão. É aí que chega Jesus e nos diz: Avancem para águas mais profundas na religiosidade. Passem de um estilo interesseiro, supersticioso, movido à obrigação para a gratuidade do louvor e da ação de graças a Deus, o sentimento de reparação pelas próprias faltas e as dos outros, disposição para a conversão, uma religiosidade movida a amor, não à obrigação.

 

Em águas rasas não dá para pescar com abundância. Sem esforço, sem entrega, sem sacrifício não se colhe com fartura. É preciso arriscar mais, engajar-se mais, aderir com maior profundidade. Nos relacionamentos, na vida de família, na luta pela sobrevivência, na vivência da religião. É preciso avançar para águas mais profundas. É hora de escutar o que Jesus está nos dizendo. E levá-lo a sério.

 

Pe. João Carlos

O recado tem pressa

A Conferência de Aparecida falou de discípulos e missionários. Missionário é quem tem um recado para dar. Não é o dono do recado. Mas, tem pressa em desincumbir-se do mandado que recebeu. Foi encarregado de dar o recado. E o recado é importante para o destinatário. E tem pressa de chegar ao conhecimento do interessado.

 

Antigamente, quando se falava de missionário, vinha logo à mente a figura das santas missões que os frades pregavam por toda parte. Missionários eram os frades pregadores. Graças a Deus, hoje, a mentalidade já mudou bastante. Hoje podemos encontrar, em muitos lugares, até crianças que se dizem missionárias. Elas pertencem à Infância Missionária. Elas são muitas e muito animadas e ativas. Desde cedo vão aprendendo que a missão é atributo de todo cristão. Desde pequeno vão crescendo nessa mentalidade e no exercício de um cristianismo ativo, preocupado com os mais pobres e os mais afastados.

 

O fervor missionário foi o segredo da expansão do cristianismo nas suas origens. E o fervor missionário se explica pelo amor a Jesus Cristo. Nos primeiros anos que se passaram após a ressurreição de Jesus, os discípulos movidos em parte pela perseguição, em parte pelo zelo do anúncio, espalharam-se pelo Oriente Médio e depois por todo o Mediterrâneo. Em cada lugar, comunicavam os acontecimentos da vinda salvadora de Jesus e criavam comunidades. Foi uma explosão de testemunho e de fé.

 

Os missionários, além das grandes distâncias que tinham que percorrer, tinham que enfrentar muita resistência dos judeus espalhados pelas cidades do império romano e quase sempre colheram perseguições por conta do governo imperial. Foi um tempo de grande fervor missionário, regado com o sangue de muitos mártires. Não há missão sem uma boa de martírio, de imolação, de sofrimento. Não foi à toa o alerta de Jesus: segui-lo significaria a renúncia de si mesmo e um caminho diário de cruz. É o caminho do missionário.

 

Mas, não é só de cruz o caminho do cristão que assume a missão. Na verdade, o missionário vive da alegria da entrega de si mesmo em favor da boa nova que vai sendo comunicada. Alegria também. É só lembrar o missionário Jesus naquela prece de ação de graças: Pai, eu te dou graças porque estás revelando o Reino aos pequeninos. As dores do parto não têm nem comparação com a alegria pelo nascimento da criança. É ouvir seu choro, tomá-lo nos braços e todas as dores que o precederam são esquecidas ou ao menos relevadas. As incompreensões, canseiras, dificuldades, perseguições com que os missionários e as missionárias semeiam seu testemunho não têm comparação com a alegria de ver alguém sendo restaurado, encontrando a vida e a felicidade em crer. É como diz o salmo 126: "os que vão semeando entre lágrimas, colherão cantando os seus feixes".

 

O recado é o de Cristo, do amor do Pai revelado nele. O missionário precisa levar esse recado a todo mundo, em todo canto. O missionário, a missionária é você. A única coisa que pode explicar seu zelo missionário é o seu amor a Jesus Cristo. Levar o recado tem seu preço, renúncias, incompreensões... mas, quando contemplamos o rosto de quem recebeu de coração aberto o recado do Mestre, aí sabemos que valeu a pena.

 

Pe. João Carlos – 01.07.2011

 

O Mestre e o discípulo

Por alguma razão, Jesus e os seus seguidores adotaram um relacionamento de tipo discípulos-Mestre. Foi assim desde o começo. Aqueles que se deixavam tocar pelo anúncio do Reino, eram convidados por Jesus a segui-lo. Faziam-se discípulos dele. Para muitos, seguir Jesus era também andar com ele, peregrinar com ele por todo o país, conviver com ele em sua peregrinação apostólica. Para outros, segui-lo era tê-lo como referência, ouvir suas pregações, participar de suas reuniões e voltar pra casa. Mas, no ritmo cotidiano de sua vida, manter-se atentos aos seus ensinamentos, à sua maneira de viver.

 

Certamente esse modelo discípulo-mestre era já conhecido pelo povo de Deus. Alguns profetas tiveram discípulos. E esse modelo era praticado por alguns grupos do tempo de Jesus, por exemplo os fariseus e os essênios. Os mestres tinham seus discípulos, seus alunos. Mas Jesus não era um simples professor, um sábio ou um doutor da Lei. Tinha algo de diferente, uma marca particular que o fazia único e admirado. Seu ensinamento renovava pessoas, revigorava gente cansada do sofrimento. Os prodígios e milagres que aconteciam confirmavam suas sábias palavras. Ele falava do Reino de Deus. E, como dizia o povo, falava com autoridade. Convocava à conversão, como o Batista. Acolhia os pecadores e denunciava a presunção dos que se pensavam santos e justos.

 

Os discípulos acompanhavam o Mestre, aprendiam com ele que estava sempre em movimento. Em particular, ele lhes explicava as parábolas e revelava coisas importantes sobre seu relacionamento com o Pai. A certa altura de sua breve trajetória, começou a antecipar-lhes a rejeição e o sofrimento que enfrentaria até à morte. Mantinha perto de si um grupo mais próximo, a quem chamava de apóstolos. No grande grupo de discípulos, havia mulheres e homens. E com certeza não era um grupo pequeno. Uma vez enviou em missão um grupo de 72 discípulos. Era um grupo considerável, com certeza.

 

E qual era o relacionamento que existia entre Jesus e os seus discípulos? Uma grande afeição, além do sentimento de admiração e confiança. Uma grande afeição, uma amizade profunda. É só pensar no que Jesus disse na última ceia: eu não chamo vocês de servos. Vocês são meus amigos. E aquela outra palavra: ninguém tem maior amor do que aquele dá a vida por seus amigos. Jesus era amigo dos seus discípulos, lhes queria bem, daria a vida por eles. Rezou naquela bela oração: Pai, quero que onde eu estiver, estejam aqueles que me deste. É verdade que os discípulos foram fracos e na hora "h" quase todas ficaram com medo e se acovardaram. As discípulas mostram-se mais fiéis: na hora da cruz elas estavam lá, sem poder fazer nada, mas ao lado do amigo fiel.

 

Tudo isso eu estou lembrando pra dizer que o seu relacionamento com Jesus só pode ser o de discípulo. Você é discípulo dele, discípula dele. E entre o discípulo e o Mestre Jesus, o relacionamento é de amizade, de confiança, de confidência. Ele é o seu amigo fiel. Verdadeiramente ele ama você, tanto que ofereceu sua vida para lhe resgatar, para abrir as portas da felicidade e da comunhão com Deus. Não fale com ele como se ele fosse um desconhecido. Vou lhe dizer uma coisa: o que define o cristão não é ser uma pessoa religiosa. O que define um cristão é ser uma pessoa apaixonada pelo Mestre.

 

Pe. João Carlos – 30.06.2011

Como vencer a tempestade

Quem é que não tem problemas na vida? Qual é a vida que não tem sofrimento, crises, desencontros? Pois é, todo mundo tem a sua tempestade. Aliás, muitas tempestades. As coisas vão andando bem, tudo em ordem, de repente, um problema, uma turbulência.

Na história dos discípulos de Jesus tem uma cena que dá o que pensar. Estão no barco em pleno mar da Galiléia.  De repente, vento forte, ondas revoltas, tempestade no mar. E o pessoal ficou com muito medo, porque o barco estava afundando. Era gente experiente no mar, mas a coisa estava ficando feia. O resto vocês lembram bem: Jesus estava dormindo no barco, eles o acordaram pedindo ajuda, Jesus acalmou o vento e o mar. Mas também reclamou que eles tivessem uma fé tão fraca.

Penso que a história do evangelho responde a uma inquietante pergunta: como é que a gente faz pra vencer uma tempestade? Eles, naquela situação-limite (a tempestade no mar), tiveram uma profunda experiência de Deus. Viram de perto a atuação salvadora de Deus. Admiraram-se com aquele homem, a quem o vento e o mar obedecem. Em Jesus, eles viram o próprio Deus agindo para salvá-los.

Como é que se faz pra vencer a tempestade? A história dos discípulos dá a resposta em três tempos. Primeiro: Tenha Jesus no seu barco. Tenha Jesus no seu barco. O barco é uma representação de sua vida, de seu casamento, de sua profissão, de sua comunidade. Aliás, no evangelho, a barca de Pedro é a própria Igreja, singrando os mares do mundo. É uma representação da igreja missionária. Se Jesus não estiver no barco, a coisa fica mais difícil ou mesmo sem solução. É preciso que Jesus esteja presente em sua vida, em sua profissão, em sua família. Mesmo que ele pareça ausente (na história, estava dormindo). Então, tenha Jesus no seu barco.

A segunda pista também está no texto. Os discípulos acordaram Jesus e pediram que os salvasse. A segunda pista é essa: Recorra ao Senhor, pela oração. Deus já sabe de que precisamos, mas precisamos pedir. É uma forma de afirmar nossa dependência de Deus, nossa confiança nele. Então, recorra a Jesus, pela oração. Pede quem precisa e confia. É claro que a oração não é só na hora da necessidade, mas também nela. Na tempestade, recorra a Jesus, reze.

A terceira pista é essa: tenha uma atitude de fé e de confiança em Deus. Jesus achou que os discípulos, pelo desespero que demonstraram, tinham uma fé ainda fraca. Especialmente nessas horas é preciso ter uma atitude de fé e de confiança em Deus. A fé nos dá serenidade nas horas difíceis, tranqüilidade para enfrentar os problemas, sem desespero e sem angústias.

Na canção "Tempestade", que compus e gravei no Cd Profetas expliquei o porquê vou ficar tranqüilo no meio da tempestade. "Porque quem manda o vento serenar e diz pro mar revolto se aquietar é o Senhor, o Senhor que acalma o mar".

Pe. João Carlos – 29. 06.2011

Sem amor, não tem religião

Religião não é obrigação, é paixão. Não é lei, é amor. O amor supera a lei. O amor supera a obrigação. Vem do profeta Oséias a palavra que Jesus repetiu: Eu quero amor, não sacrifícios.  Sem o amor, a religião vira uma coisa chata, uma obrigação enfadonha, um peso. Só o amor faz a religião ser uma coisa doce, agradável, prazerosa.  

 

Mas não é qualquer amor que explica a religião. É o amor a Deus. E, antes de tudo, o amor de Deus. Deus nos ama e manifesta esse amor ao longo da história. Numa pessoa, apareceu ainda mais claro o amor apaixonado de Deus por nós. Em Jesus. Ele enviou o seu filho único, porque amou muito o mundo. E quis muito nos resgatar e assim estendeu a mão para nós.  Ou melhor, abriu os braços para nos receber num abraço de reconciliação, como na história do filho pródigo.  Jesus realizou isso que o Pai queria. Ele  abriu os seus braços humanos e divinos na cruz para nos acolher. E nos abraçar na comunhão do Pai e do Santo Espírito. O amor de Deus é um lado da moeda.

 

O outro lado da moeda é o amor da gente por Deus. E por Jesus, o enviado, que nos  tratou como amigos e ofereceu sua vida para nos resgatar. O amor a Cristo é o outro lado da medalha. Aí existe a religião cristã: o amor de Deus por nós e o nosso amor por ele. O apóstolo João tinha razão. Ele se achava o discípulo amado. Todo discípulo é o discípulo amado. Só se faz discípulo quem se sente profundamente compreendido, acolhido, amado. É o amor que explica o seguimento de Jesus.

 

Dá pra escutar Jesus conversando com Simão Pedro, passando a limpo a sua traição. "Simão, tu me amas?" Se o ama, dá pra recomeçar. Se o discípulo ama de verdade o Mestre, então tudo pode ser superado e remediado. É assim que o remédio do perdão pode ser tomado e faz efeito. E o amor ao Mestre é um amor acima de qualquer outro amor. Acima da família, acima do amor ao pai e à mãe, acima do amor aos filhos. O amor a Jesus está em primeiro lugar. É o primeiro mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas.

 

Então, podemos pensar assim: se a sua vivência religiosa está esfriada, se você anda distante da fé, se se sente desmotivado nas coisas da religião...  é bem possível  que  o seu amor ao Mestre ande meio superficial, meio faz de conta. Talvez você não o conheça bem. Talvez você olhe a religião apenas pelo lado da obrigação. Vou lembrar a você: a Palavra de Deus não é um livro, é uma pessoa. Lembra da passagem: "E o verbo se fez carne e habitou entre nós"? A palavra é a comunicação do amor com que Deus nos ama. E a palavra de Deus, o Verbo, finalmente fez-se uma pessoa na história humana: Jesus. Uma pessoa que nos ama. Uma pessoa que merece o seu amor.

 

Sem uma amizade profunda entre o discípulo e o Mestre não há religião cristã.  Entre o pastor e a ovelha há um vínculo de amizade, de confiança, de afeto. Você é o discípulo amado. Ele é o pastor que dá a vida por você, porque o ama. Deixe-se convencer por esse amor tão grande. Deixe-se vencer por esse amor tão forte. Responda ao amor com o amor.

 

E quando a medida é o amor, então a gente faz as coisas com gosto e faz mais do que a norma manda, porque o amor não tem medida. É, sem o amor, não tem religião.

 

Pe. João Carlos – 28.06.2011

Amor e obrigação

O cristianismo não é primariamente uma lei, um código de normas de conduta ou um conjunto de prescrições cultuais. O  cristianismo não é uma lei. O povo da antiga aliança colocou, no centro de sua experiência religiosa, a Lei, a Torah.  No tempo de Jesus, o grupo mais preocupado com a fidelidade à Lei eram os fariseus. Os mais estudados deles, os escribas, desenvolveram centenas de normas e obrigações. Assim, a Lei, ou seja a Torah, tornou-se algo muito pesado, rigoroso e opressor. Um fardo pesado. Jesus denunciou o rigorismo e a hipocrisia dos doutores da Lei. Alertou os seus discípulos nesse tom: "eles amarram fardos pesados e insuportáveis e os põem nos ombros dos outros, mas eles mesmos não querem movê-los, nem sequer com um dedo" (Mateus 23, 4). Jesus, opondo-se a esse olhar legalista sobre os escritos sagrados, marcou a diferença: "o meu jugo é suave, o meu fardo é leve" (Mateus 11, 30), disse ele. Definitivamente, a religião cristã não pode ser uma lei.


É claro que o cristianismo, com a sua Bíblia e mesmo com o direito canônico, tem normas e leis. Tem leis, mas não é uma lei. O que Jesus revelou com sua vida e suas palavras não foram leis e regras de conduta. Ele revelou o amor de Deus. O evangelista explicou assim essa presença de Jesus: "Deus amou tanto o mundo que enviou o seu filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16). Deus amou o mundo, por isso enviou seu filho. O que se espera do discípulo de Jesus, em primeiro lugar, não é o cumprimento de normas. Mas, uma resposta de amor ao amor de Deus revelado nele.


Lembram da pergunta que Jesus fez a Simão Pedro, depois de ressuscitado: "Tu me amas?". Simão tinha negado Jesus. Precisava retornar ao primeiro passo, à condição fundamental para ser um discípulo: o seu amor a Jesus. "Tu sabes tudo. Tu sabes que eu te amo", foi a resposta de Pedro. O cristianismo é a resposta de amor do discípulo ao amor de Deus manifestado em Cristo.  Não é uma lei, é um amor correspondido.


Mas também no Antigo Testamento já era assim, só que num certo momento apareceu mais a obrigação do que o amor. A oração por excelência de Israel era: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a alma e com todas as tuas forças" (Deuteronômio 6, 4-5). O amor é a resposta esperada. E amor apaixonado, total. "Com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças".


O cristianismo é o amor dos discípulos por Jesus. Amor que faz de nós seus seguidores. Amor acima de tudo e de todos. Como está no primeiro mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas. Assim, Jesus cobrou dos seus seguidores: "Quem ama pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim. E quem ama filho ou filha mais do que a mim, não é digno de mim" (Mateus 7, 37-38). Amar a Jesus de maneira cabal, acima de tudo e de todos: é isso que nos faz ser cristãos. 


É certo que fica a preocupação: mas, e as normas, e as leis, e os mandamento? Tudo tem seu lugar, mas bem depois do amor. São expressões do amor do discípulo para com o seu Mestre e a sua comunidade. Mas só o amor dá sentido a tudo isso. Sem amor a Jesus, isso tudo vira um peso, uma obrigação e caímos de novo no farisaísmo.


Pe. João Carlos – 27.06.2011

A regra de ouro

Façam aos outros aquilo que vocês querem que façam a vocês. Esse é o conselho de Jesus, um de seus ensinamentos no Sermão da Montanha (Mt 7,12). E completou: Nisso consiste a Lei e os Profetas. Bom, a Lei e os Profetas é uma forma de falar da própria Palavra de Deus, da Bíblia. Fazer o bem aos outros é uma forma de realizar integralmente a palavra de Deus.

 

"Faça aos outros aquilo que você deseja que lhe façam" é uma outra forma de dizer "ame o seu próximo como a si mesmo". Amar o meu próximo, como eu amo a mim mesmo. Faço ao outro aquilo que eu quero que façam a mim. Como eu acho que sou merecedor de atenção, de respeito, de consideração, assim devo tratar os outros, com atenção, respeito, consideração, em qualquer circunstância.

 

Na verdade, por trás de uma pessoa que humilha, menospreza ou desdenha do seu semelhante há uma pessoa mal-resolvida. Uma pessoa que age com rispidez e ignorância come os outros revela alguém atolado em problemas e frustrações. Não vê o valor e a dignidade dos outros porque não reconhece a própria dignidade, nem o próprio valor. Sua ação grosseira e ferina reflete seu estado interior depauperado, o mal-estar que vive consigo mesma.

 

Fazer aos outros o que nós queremos que façam conosco. Não é fazer com os outros o que fazem conosco. Fazer o queremos que façam conosco. Isso quer dizer que mesmo que alguém me maltrate, me trate com indiferença, eu preciso tratá-la(lo) como eu gostaria de ser tratado. E isso não é fácil, e nem parece normal. Normal seria responder com a mesma moeda, no mesmo tom de voz, jogar com as mesmas armas. Mas não é o que Jesus falou. Ele disse pra gente tratar os outros como nós merecemos ser tratados. Responder a um tratamento ríspido, descortês, grosseiro com um tratamento educado, respeitoso, cordial. É assim que gostaríamos de ser tratados. Então, é assim que vamos responder.

 

E por que isso? O cristão tem várias motivações para seguir esse conselho de Jesus. Primeiro, porque o outro é uma pessoa humana, merecedora de respeito e consideração em qualquer situação. Pode ser questionado, repreendido, corrigido, mas sempre com educação, com cordialidade, com o respeito que merece uma pessoa humana. Segundo, porque nele eu posso identificar a semelhança de Deus que toda pessoa humana carrega. Ele nos fez à sua imagem e semelhança. Menosprezando um irmão ou uma irmão, eu estou desonrando o próprio Deus criador. Terceiro, porque Jesus se identificou com o outro, especialmente com o mais abandonado e sofrido (o faminto, o doente, o prisioneiro). Ele disse: o que você fez a um desses irmãos, fez a mim.

 

Fazer aos outros o que nós queremos que façam a nós mesmos é a regra de ouro. Humaniza nossas relações. Estende a boa imagem que faço de mim mesmo, de minha dignidade, de meus direitos aos outros. Faz-me dar o primeiro passo, como construtor de relacionamentos respeitosos e humanizadores. É uma forma de realizar o mandamento do amor ao próximo. Um testemunho do meu amor a Cristo Jesus que assumiu nossa humanidade e se fez solidário com os últimos e os pecadores.

 

Pe. João Carlos – 21.06.2011

Escolher Jesus como caminho

Pense um pouco e responda: o que faz você ser uma pessoa cristã? ... Pensou? O que faz você ser uma pessoa cristã? ... Confira sua resposta: o que faz uma pessoa ser cristã é o fato de ela ter escolhido Jesus, como referência fundamental para a sua vida. Escolher Jesus como caminho. Na Bíblia, isso se chama crer. Crer em Jesus, então é mais do que simplesmente acreditar nele, é escolhê-lo como direção da própria existência. É, como os evangelhos explicam: seguir Jesus.

 

Os evangelhos fazem-nos uma proposta: sigam Jesus. O próprio Jesus sempre aparece chamando discípulos: venham, sigam-me. Por isso ler ou ouvir o evangelho de Jesus não é simplesmente tomar contato com uma bela história, mas ser levado a tomar uma decisão. Decisão que pode mudar a própria vida, que deve mudar a própria vida, melhor dizendo. A Bíblia chama isso de conversão. Conversão é a mudança de rumo de quem encontrou um novo caminho. Quem escolheu Jesus como caminho, tomou uma nova direção na vida, converteu-se. Se você puder dizer que escolheu Jesus como caminho de sua vida, então podemos dizer que você é uma pessoa convertida!

 

E como é que Jesus nos chama hoje? Em primeiro lugar, pelo testemunho das pessoas que crêem. Nós todos recebemos este primeiro testemunho de nossas próprias famílias. O testemunho não é só de palavras, é especialmente de atitudes. São as atitudes, os gestos, as decisões que mostram em que realmente damos valor. Junto com o testemunho de quem crê, há também o livro da Palavra de Deus que nos traz o testemunho dos apóstolos e das primeiras gerações de cristãos. O testemunho abre o caminho para o seu encontro com Cristo. O testemunho é dos outros. A resposta tem que ser sua, pessoal. A resposta é a sua adesão pessoal a Cristo. Essa é a sua parte: escolher Jesus e seu caminho.

 

O caminho de Jesus já foi trilhado por outros e outras, antes de mim e de você. E por gente que continua fazendo o seu caminho agora. A condição de quem está no caminho de Jesus, portanto aprendendo a viver segundo ele, é a condição de aprendizes, de discípulos. O discípulo deixa-se guiar pelo mestre, aprende a viver com ele. Essa nova condição de seguidores de Jesus é vivida na comunidade dos discípulos, na Igreja. Por isso, o ato de crer, ou seja escolher Jesus como referência fundamental da vida, se completa com a entrada na comunidade dos discípulos. A entrada na vida nova, no caminho, ou seja, a entrada na comunidade dos discípulos, é celebrada com o batismo. O batismo é o novo nascimento, a acolhida da salvação que Cristo nos trouxe, da vida nova em Deus.

 

Se por um lado, a vida cristã é um dom, você sabe muito bem que, também é um esforço cotidiano de seguimento de Cristo. Esforço para compreender a novidade de vida na qual já fomos mergulhados em Cristo, esforço para deixar que a graça produza frutos em nós, para viver em fidelidade à escolha do caminho de Jesus. É o esforço cotidiano para secundar a graça de Deus que nos habita e que vai construindo em nós uma pessoa segundo a imagem do filho de Deus.

 

Pe. João Carlos 

Via Sacra da fraternidade

A Via Sacra da Quarta-feira Santa no centro do Recife é um grande momento de oração. É uma iniciativa da Associação Missionária Amanhecer-AMA. Vamos realizá-la pela 12ª vez, amanhã, com muita chuva ou com pouca. Mas, será, tenho certeza, com muita gente. Gente que vai para o centro da cidade rezar e mostrar sua fé.

 

A via-sacra nasceu no Evangelho. Na narração da paixão e morte do Redentor. É uma ação de caminhada: o nome está dizendo, é via, é o caminho sagrado. Nas Igrejas, os quadros da via-sacra estão dispostos ao longo de toda a Igreja, de forma que fazer a via-sacra é realizar o percurso das estações. E são 14 estações, que vão desde a condenação de Jesus ao seu sepultamento. Tenho a impressão que a via-sacra mobiliza muita gente em primeiro lugar porque é oração. E também porque é caminhada. E claro, por ser uma proclamação plástica do Evangelho de Jesus.

 

E a via-sacra da quarta-feira santa é um grande encontro de oração. Muita gente cantando e rezando, a uma só voz. Um grande momento de oração popular, que inclui cantos, gestos, audição da palavra, caminhada. E tudo, feito comunitariamente, coletivamente. E não é só os que estão participando na caminhada que rezam pra valer: por onde vamos passando, o comércio se irmana conosco, acompanhando cada passo.

 

Oração, sim, mas oração integrada com a vida da gente. Vamos rezar sobre a Campanha da Fraternidade. Vamos ligar cada estação das dores de Cristo com as nossas dores. A violência das ruas, os assaltos, o pouco dinheiro no bolso, as mortes, a discriminação dos pobres, os meninos de rua, as doenças... tudo lembrado em prece. A grande cruz vai ser carregada por diversos grupos: desempregados, aposentados, mulheres, homens, crianças, estudantes, viúvas. A oração de contemplação dos sofrimentos de Cristo integra também nossos sofrimentos e nossas lutas. Os gestos de solidariedade que Jesus recebeu no caminho do calvário serão comparados com os gestos de solidariedade de hoje. 

 

A campanha da fraternidade deste ano é muito importante para todos, para os que têm fé e para qualquer cidadão desse planeta. Trata da vida no planeta. Das condições de vida que precisamos preservar. A campanha nos faz refletir sobre o aquecimento global, as mudanças climáticas e sobre nossa responsabilidade pessoal e coletiva no cuidado com o ar, a água, a terra, o lixo, a natureza. Denuncia a devastação das florestas, a destruição dos ecossistemas, a emissão de gases de efeito estufa, a intoxicação dos alimentos, o destastre ecológico que nós estamos produzindo. É hora de uma nova consciência planetária e ecológica. É o parto de um cidadão consumidor consciente e mais responsável. E a fé tem um lugar especial nessa luta.

 

A Via Sacra da fraternidade de amanhã terá sua concentração no pátio de São Pedro, a partir das 6 da manhã. Às 8 horas, começamos o percurso com uma grande cruz e muita fé: Pátio de são Pedro, Pátio do Carmo, Camboa do Carmo, Frei Caneca, Concórdia, Rua Nova, Praça da Independência, Rosário dos Pretos, Duque de Caxias, Pátio do Livramento. Das 8 às 11horas.

 

Mais informações: (81) 3224.9284.

 

Pe. João Carlos – 19.04.2011

Amigo da verdade

Nós vivemos em um mundo marcado pela aparência. É a cultura do simulacro. Aparência é o que conta. Fachada bonita, propaganda de primeira...  às vezes escondendo uma instituição falida. É a cultura da aparência. Sorriso escancarado, carro do ano, roupa de grife... e muito débito, muita conta protestada, e por aí vai. É o mundo da aparência. O mundo em que vivemos.

 

Da aparência para a mentira, o pulo é muito pequeno. A mentira é a arte de esconder, de mascarar, de camuflar a realidade. Paradoxalmente, hoje há também uma maior cobrança pela transparência: balanço real, avaliação institucional, prestação de contas da gestão. A transparência é também induzida pelos meios de comunicação social. A facilidade da comunicação, a rapidez e a contemporaneidade das redes sociais ajudam na difusão dos fatos reais. Jogam a favor da transparência, são inimigas potenciais do engodo, da enrolada, da mentira.

 

E Jesus falou claro: A verdade vos libertará. Essa palavra veio numa expressão mais ampla: Quem guarda minhas palavras é verdadeiramente meu discípulo, e conhecerá a verdade e a verdade o libertará. O discípulo de Jesus anda com a verdade, conhece a verdade, pois a encontra na meditação da Palavra de Deus. E por que a Palavra põe o discípulo do lado da verdade? Porque ela revela a intenção amorosa de Deus e põe à luz as nossas intenções. Diante da luz de Deus, aparecem nossas meias-verdades, revelam-se nossas verdadeiras intenções.

 

Discípulo de Jesus é quem guarda suas palavras, palavras que o libertam. Pedro respondeu a Jesus em nome dos discípulos: A quem nós iremos, Senhor, só tu tens palavras de vida eterna. É dessa Palavra que todo ser humano verdadeiramente tem fome e sede. Tem fome e sede de sua própria verdade, da verdade do universo, da verdade de Deus. A mentira, a aparência, o simulacro deixam-nos vazios, em desordem interior. Elas arrancam as nossas raízes, largando-nos como um barco à deriva na tempestade. Terra firme mesmo é a Palavra de Deus. Coisa boa é a verdade.

 

Diz o salmo: A palavra de Deus é a verdade; sua lei, liberdade. E o cristão é o cara da verdade. Seu sim, seja sim. Seu não, seja não, foi o conselho de Jesus. Gente da verdade: é o que o mundo está precisando. Gente que não se deixa enganar, que ama o que é certo e luta pelo que é justo. Não se esconde atrás de mentiras e histórias mal contatadas. Afinal, mentira tem pernas curtas.

 

Escrevi uma música para o meu novo Cd que diz: "O mundo necessita de profetas; de gente que rejeita a falsidade, de gente que acredita na verdade, de gente que tem sua opinião. E eu sou amigo da verdade, meu sim é sim. Meu não é não. E eu não posso mais ficar calado, eu sou profeta, eu sou cristão".

 

 Pe. João Carlos – 14.04.2011

Meu batismo foi na páscoa

Quando eu fui batizado, recebi uma vela acesa. Meus pais e meus padrinhos sustentaram comigo aquela luz. E o padre disse: Jesus Cristo é a sua luz. Aquela luz acesa era uma representação do que tinha acontecido comigo no batismo: eu renasci como uma nova criatura. Fui lavado nas águas da morte de Jesus. Renasci com ele. Recebi o dom do seu Espírito, para viver em comunhão com Deus como um filho. Que grande graça foi o meu batismo!

 

O batismo marcou o começo de minha caminhada. Foi um dom para toda a minha vida: eu sou uma pessoa em comunhão com Deus, integrada na comunidade dos seguidores de Jesus. Fui crescendo nessa convicção. Minha mãe me lembrava sempre: você foi batizado, você tem parte com Deus, ele o adotou por filho. E eu não posso me esquecer nunca disso. Eu sou filho de Deus. E isso foi obra de Jesus que morreu na cruz oferecendo sua vida ao Pai por mim. E por você, também. No batismo, eu morri com ele e ressuscitei com ele. Foi o que São Paulo explicou. Não posso esquecer disso, nunca.

 

E para viver com maior consciência esse imenso dom da comunhão com Deus, da filiação divina, a grande comunidade dos batizados está sempre programando tempos de avivamento e celebração. É assim que todo ano tem a Quaresma. Um tempo forte para me ajudar a reavivar em mim a consciência desse dom do batismo, a graça de viver em comunhão com o Pai, por meio do Filho, no Espírito Santo. E eu tenho que crescer ainda mais nessa fé, renovando, confirmando o meu compromisso de seguidor de Jesus. Então, a quaresma é a grande oportunidade que eu não posso perder.

 

Na Quaresma, a Igreja fica falando que a gente precisa rezar mais, esforçar-se mais e ser mais caridoso com os outros. Vejo mesmo que esses 40 dias são como um treinamento, pra que eu fique mais forte, com mais força pra vencer a tentação e o mal, pra que eu viva na fé. Esse caminho de 40 dias me leva à celebração da Páscoa de Jesus. E esse é o tempo mais importante para um cristão: a semana santa, o tríduo pascal, a festa da páscoa.

 

Outro dia ouvi o papa dizendo uma coisa: a quaresma leva a gente para a noite da vigília da páscoa, pra gente renovar as promessas do batismo. É o sábado de aleluia. Faz sentido, eu fui batizado na morte e na ressurreição de Jesus. E isso é a páscoa. Então a páscoa é o dia do meu batismo. O dia em que eu renasci como nova criatura, em Cristo. Então é por isso que a gente acende de novo a vela e renova o compromisso de caminhar iluminado por Cristo.

 

Pe. João Carlos Ribeiro – 12.03.2011

 

 

"Assim como acolheste o Cristo Jesus, o Senhor, continua caminhando com ele. Continua enraizado nele, edificado sobre ele, firme na fé tal qual te foi ensinada, transbordando em ação de graças" (Col 2,6-7)

 

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