Dois homens subiram ao Templo para
rezar. Um era fariseu. E o outro, publicano. O pecador voltou pra casa, abençoado.
O que se julgava santo, não.
O que é que houve de errado na oração do fariseu? A oração do fariseu não
agradou a Deus porque foi uma auto-exaltação idolátrica e porque discriminou o
seu irmão.
O louvor que ele fez foi a ele mesmo: “não sou como os outros (ladrões,
desonestos, adúlteros), isto é, os que não cumprem os mandamentos da lei de
Deus. Pelo contrário, eu cumpro direitinho a lei de Deus, o Decálogo, os 10
mandamentos. Foi uma exaltação de si mesmo. Mostrou-se presunçoso, orgulhoso.
Jesus descreveu a postura dele: rezava de pé, para si mesmo. E mais: era tão
bom cumpridor da lei que fazia mais do que estava prescrito: jejuava duas vezes
por semana (quando a lei mandava jejuar apenas uma vez por ano) e dava o dízimo
de toda a sua renda (contribuindo sobre itens que nem estavam previstos pela
lei).
E por que Deus não gostou dessa oração? Porque o fariseu se colocou no
lugar de Deus. Ele era o santo, o perfeito, merecendo ele mesmo ser honrado e
louvado. Ele estava tomando o lugar de Deus, louvando-se a si mesmo. Quando
você reza assim, não há mais lugar para Deus. Você está no centro, no lugar que
cabe a ele. E olha que tem muita oração assim. Não há mais lugar para Deus quando
nós nos bastamos a nós mesmos. Não há lugar para o mistério de Deus quando nós
somos a nossa própria referência. A Palavra de Deus já não nos orienta, nem
corrige quando estamos convencidos que sabemos o caminho e não precisamos mais
mudar em nada. Então, não é mais oração. É idolatria. E Deus somos nós.
O fariseu gabou-se de não ser como os outros, de ser muito praticante da
religião e de não ser como o cobrador de impostos. Assim, estava julgando seu
irmão. E quem julga é Deus. Mas a oração no estilo fariseu é de quem tomou o
lugar de Deus. Com a própria oração, estava desclassificando, discriminando,
ofendendo o seu irmão. Em vez de reconhecer o outro como irmão, a oração
idolátrica reforça as atitudes de discriminação, de exclusão, de violência contra
o outro que não seja igual a mim. Falou mal do irmão na frente do Pai. Rompeu
com a caridade, que é o coração da lei de Deus. Claro, que Deus não gostou
dessa oração. Claro, que esse orgulhoso não saiu abençoado do Templo.
Por que Deus se agradou da oração do publicano? O publicano era o nome
dado aos cobradores de impostos (a rede de cobrança do imposto para o império
romano). Eles eram mal vistos, porque agiam como aliados das forças de ocupação
e por suas práticas extorsivas na arrecadação dos impostos. E numa cultura em
que se dava tanto valor à pureza ritual, os publicanos eram impuros por sua
proximidade com os pagãos romanos. Ser publicano, portanto, era viver na
condição de pecador diante de todos.
Por que Deus se agradou da oração do
publicano? Porque sua oração foi um mergulho na misericórdia de Deus.
Realmente, ele se sentia pecador. E, com humildade, batia no peito, dizendo:
“Senhor, tem piedade de mim, que sou um pecador”. É uma verdadeira oração. Não
toma o lugar de Deus. Reconhece sua condição de distanciamento da lei do
Senhor. E Jesus descreve as quatro atitudes que denotam sua humildade e sua
reverência a Deus: “ficou à distância, de olhos baixos, batendo no peito e
clamando a misericórdia de Deus”. Diferentemente do fariseu, não se gabou de si
mesmo, nem menosprezou quem quer que fosse. Fez uma oração de verdade, porque
Deus estava no centro e o seu coração estava aberto à ação de Deus que é
misericórdia.
O que é que teve de errado na oração
do fariseu? A oração do fariseu não agradou a Deus porque foi uma
auto-exaltação idolátrica e porque discriminou o seu irmão. E por que Deus se
agradou da oração do publicano? Porque sua oração foi um mergulho na
misericórdia de Deus.
Pe. João Carlos Ribeiro - 23.10.2016