Domingo, dia do Senhor. Em Angola, na missão salesiana de Calulo, final da Missa das sete horas da manhã (missa campal, porque o povo não cabe na Igreja), o povo sentado em banquinhos ou pelas encostas do morro. A comunhão tinha terminado. Crianças e jovens ainda chegariam para a Missa das dez horas. Ali, estavam só adultos e idosos. O povo estava cantando, em ação de graças, ao som de batuques e palmas, em tom moderado, numa participação muito boa, para o nosso padrão. Levantou-se um catequista, um senhor de meia idade, pegou o microfone e não esperou que o canto terminasse. “O que é que está havendo, meu povo? Hoje é domingo. Hoje é o dia do Senhor, o dia da ressurreição.
Hoje é o nosso dia! Júbilo, meu povo!”. Menino, aquilo deu um gás naquela assembleia de gente pobre, trajada de roupas coloridas, pelas oito e meia da manhã... Os atabaques alçaram o tom, o ritmo das palmas se fez marcante, o povo cantou e dançou com um entusiasmo surpreendente... A poeira subiu no terreiro da Igreja. A Missa virou uma festa.
Domingo, o nosso dia! Um dia de festa, de júbilo. Dia em que nos sentamos na grande casa de Deus, para ouvir as coisas lindas de nossa fé. E encher o nosso coração de alegria no encontro com o próprio Jesus ressuscitado. E festejar, pois estamos ressuscitados com ele.
Escute só a linda palavra de hoje. Jesus estava na margem do Mar da Galileia, o grande lago de água doce também chamado Mar de Genesaré. E muita gente tinha se juntado para escutar a Palavra de Deus, como conta o evangelista Lucas. Jesus viu duas barcas e subiu na de Simão, para falar ao povo. Como os mestres do seu tempo, sentou-se e começou a ensinar. Quando terminou, mandou os pescadores pescarem em águas mais profundas, isto é, lançar as redes num lugar mais afastado e mais fundo. Simão explicou que tinham passado a noite toda pescando, sem conseguir nada. Mas, em atenção à sua palavra, iria assim mesmo. E foi. A barca de Pedro pegou tanto peixe que já estava afundando. Pediram ajuda do outro barco. Diante dessa maravilha de pescaria, Simão Pedro, diante de Jesus, se achou um grande pecador. Mas, Jesus disse que, daí pra frente, ele seria pescador de gente. Eles levaram as barcas para a praia, deixaram tudo e seguiram a Jesus.
Uma linda história que aparentemente tem pouco a ver com você. Mas, tem tudo a ver com a sua vida, com a minha, com a nossa vida. A narração tem quatro etapas: vida fracassada - palavra de Deus - vida abundante - missão. Os pescadores tinham passado a noite toda trabalhando, sem conseguir nada (vida fracassada). Naquela manhã, estão ouvindo a pregação de Jesus que está anunciando o Reino (Palavra de Deus). Obedecendo à palavra de Jesus, alcançam o grande êxito de uma pescaria surpreendente (vida abundante). Reconhecem sua condição de pecadores diante de Jesus e recebem dele a missão de participar de sua missão, serem pescadores de gente (missão).
Jesus nos encontra em nossa condição de fragilidade, fracasso, infertilidade. Resultado do pecado que está em nós ou cristalizado nas estruturas sociais. Estamos de mãos vazias, depois de uma noite de trabalho em alto mar. Jesus vem ao nosso encontro e nos fala do amor de Deus, do seu reinado no mundo, do sentido de nossas vidas em Deus, da grandeza de nossa dignidade de filhos de Deus. Essa palavra nos impulsiona a realizar a nossa vida com uma nova qualidade, com nova energia, com novo sentido. Em adesão a esta Palavra, à ação do Espírito Santo que torna a palavra viva e eficaz, voltamos ao nosso dia-a-dia, à nossa família, ao nosso trabalho, às nossas práticas religiosas, aos nossos compromissos. Viver e trabalhar orientados por Deus dá um novo sabor à nossa pescaria. Os resultados são outros, são surpreendentes. Pescamos não mais nas beiradas, nas partes rasas, mas em águas profundas. Deixamos uma existência superficial, medíocre, sob a ditadura da aparência, para um mergulho mais profundo: na vida de família, no trabalho, em nossa vivência religiosa, em todos os nossos compromissos. Nesta altura, o Senhor nos faz participantes de sua própria missão, nos fazendo missionários, pescadores com ele.
Guardando a mensagem
Os pescadores de duas barcas estavam na praia lavando as redes, depois de uma noite de pescaria fracassada. Jesus, sentado na barca de Simão, anuncia a boa notícia do amor de Deus, prega a Palavra. Depois, manda-os pescar em águas mais profundas. Eles, em obediência à sua palavra, vão e trazem as barcas cheinhas de peixes. A Simão que mostra reconhecimento de sua condição de pecador, Jesus convida para o seu seguimento e para ser pescador de gente. Eles são os primeiros discípulos. Deixaram tudo e seguiram a Jesus. De pescaria fracassada, você entende bem. Uma vida sem profundidade não gera felicidade. Só em Deus, podemos viver bem o casamento, o trabalho, o tempo do lazer, a nossa vida toda. Só guiados por Deus, pescando em águas profundas, podemos encontrar uma vida abundante, cheia de sentido e de luz. A quem vive essa experiência de comunhão com o Senhor, ele dá a graça de participar com ele de sua missão, de ser pescador também, de ajudar outras pessoas a encontrarem sentido para sua vida.
Avance para águas mais profundas (Lc 5, 4)
Rezando a palavra
Senhor Jesus,
Aquela comunidade da missão de Calulo, em Angola, em cada manhã de domingo, reencontra-se, na margem do Mar da Galileia, com Jesus, sentado na barca de Pedro. Lá, eles ouvem a Palavra que revela a sua grandeza de filhos de Deus, o sentido de sua vida vivida na profundidade da comunhão com Deus, a beleza da solidariedade que os faz levar o peso um dos outros em sua vida tão difícil. Assim, se alegram tanto, cantam e dançam com tanto fervor. Sentem que, mesmo enfrentando uma pobreza tão grande, já estão ressuscitados, vitoriosos com Cristo. Senhor, hoje, queremos nos unir espiritualmente a esta comunidade, ou melhor, queremos nos unir à tua Igreja, que em qualquer terreno, capela ou catedral hoje canta de alegria porque o encontro com o Senhor enche nossa vida de esperança e alegria e voltamos para nossa pescaria com outro ânimo, com outro espírito. Obrigado, Senhor, pelo dom de tua Palavra, pela graça que nos alcança em nossa pequenez, em nossa condição de pecadores. E obrigado por nos fazeres pescadores, contigo. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.
Vivendo a palavra
O fruto mais precioso dessa Palavra, você já captou: a sua participação na Santa Missa de hoje. Se isto não for mesmo possível, acompanhe devotamente a Missa pelo rádio ou pela televisão.
Desejando aprofundar um pouco mais a mensagem de hoje, estou deixando no final da Meditação de hoje, em meu blog: “OS SETE PASSOS DA PESCARIA ABUNDANTE”. É só acessar
www.padrejoaocarlos.com ou clicar no link que estou lhe enviando.
Pe. João Carlos Ribeiro, SDB – 10.02.2019
OS SETE PASSOS DA PESCARIA ABUNDANTE
No evangelho de Lucas, que estamos lendo hoje, Lucas 5, 1-11, podemos identificar sete passos no encontro dos primeiros discípulos com Jesus. Esses passos podem ser os seus também.
PRIMEIRO PASSO
Depois de uma noite de fracasso, eles estão lavando as redes, na praia. São pescadores de duas barcas. Trabalham juntos no Mar da Galileia. É curioso que eles estejam no mesmo local em que o povo se apinhou para ouvir Jesus. Então, eles e o povo estão na mesma situação. Todos vêm de uma noite de fracasso e frustração.
SEGUNDO PASSO
Ouvem atentamente o ensinamento de Jesus. O Mestre está sentado na barca de Simão, ensinando ao povo. É a palavra de Deus que ele proclama. Ele está sempre falando do Reino de Deus que chegara, uma forma de falar do grande amor de Deus que abraça os seus filhos dispersos, querendo reuni-los como os pais reúnem seus filhos numa refeição festiva de família.
TERCEIRO PASSO
Simão adere à Palavra de Jesus. A palavra de Jesus torna-se uma orientação clara para eles: pescar em águas profundas. Simão explica, como pescador experiente daquele lago, que passaram a noite toda e nada conseguiram. Mas, diz que vai obedecer à sua palavra, vai lançar as redes em águas profundas. E vai mesmo, com a sua barca, a que Jesus estava nela. A outra barca não foi.
QUARTO PASSO
A barca de Pedro pegou tanto peixe, que as redes já estavam para se romper. Chamaram a outra barca para ajudar. Os dois barcos ficaram tão cheios que quase afundaram de tanto peso. Foi uma experiência maravilhosa. O mar era o mesmo. O que mudou foi que agora estavam agindo em obediência à palavra de Jesus.
QUINTO PASSO
O espanto tomou conta de todos. O espanto de que aqui se fala é aquele sentimento de temor diante da grandeza de Deus que ali se manifestou. Isaías ficou tomado desse espanto, desse medo, desse temor sagrado, quando, em visão, se viu diante do trono de Deus. Nessa condição, seja Isaías, seja Pedro, reconhece sua indignidade, sua condição de pecador.
SEXTO PASSO
Jesus tranquiliza Pedro e lhe confia a missão: “Não tenhas medo! De hoje em diante, tu serás pescador de homens”. Jesus, na barca, orientando a pesca é o divino pescador. Ele acaba de resgatar aqueles homens de uma vida fracassada. Agora, quer que eles também façam como ele, resgatem outros para a vida abundante.
SÉTIMO PASSO
Eles deixam tudo e seguem a Jesus. Tornam-se os primeiros seguidores, os primeiros discípulos do Mestre. Esta resposta radical, generosa, pronta é um modelo para todos os outros seguidores de Jesus, para nós. E está narrada em três movimentos: levam as barcas para a margem, deixam tudo e seguem a Jesus. Deixaram tudo que lhes parecia importante na vida. Dão o primeiro lugar a Jesus. No seguimento de Jesus, sempre precisamos renunciar a muita coisa que nos parece importante, para colocar Jesus e seu evangelho no lugar mais importante de nossa vida.
Você pode repassar esses sete passos e conferir o seu caminho com Jesus. Você também se encontrou com Jesus. E esse encontro pode mudar sua vida, se já não mudou. A mudança é na qualidade de vida: passar da vida superficial, epidérmica para a vida de comunhão com o Senhor, com a sua graça. Pescar em águas profundas!
Um bom domingo.
Pe. João Carlos Ribeiro SDB – 10.02.2019