PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA: mensagem bíblica
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A refeição de Jesus

A refeição é uma coisa sagrada. É uma hora de encontro e comunhão. Por isso é que é tão bom comer em família, com parentes e amigos. Comer e beber juntos é mais do que alimentar-se fisicamente. Quando a gente se reúne ao redor da mesa, faz mais do que ingerir alimentos. A gente reparte alegria, comunica bom humor, conversa sobre a vida. E quando se levanta da mesa, não é só a barriga que está alimentada, é a pessoa toda, na sua corporalidade, na sua psiquê, no seu coração.

 

Só pode ter sido por isso que Jesus celebrou a sua páscoa numa refeição. Ele começou dizendo que tinha desejado muito aquele momento. Tinha contado as horas para fazer a refeição da páscoa com eles, seus amigos de caminhada. O seu caminho de missionário estava terminando. Havia uma forte oposição contra ele, por todo canto. Um cheiro de traição no ar. Ele estava meio triste, embora estivesse sereno. Mas, que bom, iam comer juntos. Iam cantar os salmos da noite da páscoa juntos. Iam comer o pão ázimo para lembrar a pressa da fuga dos antigos do Egito. Iam beber o vinho que relaxa e alegra os corações. Sobretudo, estariam juntos naquela hora tão difícil e arriscada para todos, sobretudo para Jesus.

 

É tão bom sentar-se à mesa com parentes e amigos. E não é só a comida que a gente reparte. A gente conversa e partilha a vida, com tudo que tem de preocupações e esperanças. Jesus estava pronto, estava disposto. Queria obedecer ao Pai até o fim. Por isso, na ceia, ofereceu ao Pai os sofrimentos que iria enfrentar, o sacrifício a que ia se submeter. E ele o faria livremente. Entregaria a sua vida, por amor ao Pai e àquela gente que o cercava. Quando repartiu o pão ele disse: "Comam. É o meu corpo entregue". E quando passou a taça de vinho: "Bebam. É o cálice do meu sangue derrramado".  A refeição é mesmo um lugar de encontro e comunhão. Eles estavam em comunhão com Cristo. Nem todos, é claro.

 

Ah, aquele ceia ficou na história. Comer o pão e beber o vinho na mesa com Jesus significou unir-se a ele, na sua obediência ao Pai, no seu sacrifício salvador. Comungar com ele. Unir-se a ele naquele momento de entrega da própria vida. Corpo entregue à morte. Sangue derramado na cruz. Comer e beber naquela mesa significou participar com ele do seu sacrifício. Acompanhá-lo na sua obediência ao Pai. E acolhê-lo vitorioso na sua ressurreição. Participar com ele da vitória do terceiro dia.

 

E hoje ainda pode-se ouvir aquelas palavras do Mestre no final da refeição: "Façam isso em memória de mim"."Em memória de mim". Comer e beber na ceia do Senhor é fazer a memória de sua morte e ressurreição em favor da humanidade. É atualizar aquele único e eterno sacrifício da cruz. É entrar na comunhão com o Senhor na sua suprema homenagem ao Pai.

 

E é isso que é a Missa. Uma refeição de irmãos e amigos do Senhor.  Um encontro sagrado de comunhão com ele. Ouvindo sua palavra, comendo em sua mesa, unimo-nos ao seu sacrifício e o renovamos em favor da humanidade toda e de cada um de nós. Uma refeição, de onde saímos fortalecidos pela presença verdadeira e real de Cristo presente no pão e no vinho consagrados. Do Cristo Senhor ressuscitado e glorioso que nos comunica sua vida e sua graça.

 

Pe. João Carlos Ribeiro

A regra de ouro

Façam aos outros aquilo que vocês querem que façam a vocês. Esse é o conselho de Jesus, um de seus ensinamentos no Sermão da Montanha (Mt 7,12). E completou: Nisso consiste a Lei e os Profetas. Bom, a Lei e os Profetas é uma forma de falar da própria Palavra de Deus, da Bíblia. Fazer o bem aos outros é uma forma de realizar integralmente a palavra de Deus.

 

"Faça aos outros aquilo que você deseja que lhe façam" é uma outra forma de dizer "ame o seu próximo como a si mesmo". Amar o meu próximo, como eu amo a mim mesmo. Faço ao outro aquilo que eu quero que façam a mim. Como eu acho que sou merecedor de atenção, de respeito, de consideração, assim devo tratar os outros, com atenção, respeito, consideração, em qualquer circunstância.

 

Na verdade, por trás de uma pessoa que humilha, menospreza ou desdenha do seu semelhante há uma pessoa mal-resolvida. Uma pessoa que age com rispidez e ignorância come os outros revela alguém atolado em problemas e frustrações. Não vê o valor e a dignidade dos outros porque não reconhece a própria dignidade, nem o próprio valor. Sua ação grosseira e ferina reflete seu estado interior depauperado, o mal-estar que vive consigo mesma.

 

Fazer aos outros o que nós queremos que façam conosco. Não é fazer com os outros o que fazem conosco. Fazer o queremos que façam conosco. Isso quer dizer que mesmo que alguém me maltrate, me trate com indiferença, eu preciso tratá-la(lo) como eu gostaria de ser tratado. E isso não é fácil, e nem parece normal. Normal seria responder com a mesma moeda, no mesmo tom de voz, jogar com as mesmas armas. Mas não é o que Jesus falou. Ele disse pra gente tratar os outros como nós merecemos ser tratados. Responder a um tratamento ríspido, descortês, grosseiro com um tratamento educado, respeitoso, cordial. É assim que gostaríamos de ser tratados. Então, é assim que vamos responder.

 

E por que isso? O cristão tem várias motivações para seguir esse conselho de Jesus. Primeiro, porque o outro é uma pessoa humana, merecedora de respeito e consideração em qualquer situação. Pode ser questionado, repreendido, corrigido, mas sempre com educação, com cordialidade, com o respeito que merece uma pessoa humana. Segundo, porque nele eu posso identificar a semelhança de Deus que toda pessoa humana carrega. Ele nos fez à sua imagem e semelhança. Menosprezando um irmão ou uma irmão, eu estou desonrando o próprio Deus criador. Terceiro, porque Jesus se identificou com o outro, especialmente com o mais abandonado e sofrido (o faminto, o doente, o prisioneiro). Ele disse: o que você fez a um desses irmãos, fez a mim.

 

Fazer aos outros o que nós queremos que façam a nós mesmos é a regra de ouro. Humaniza nossas relações. Estende a boa imagem que faço de mim mesmo, de minha dignidade, de meus direitos aos outros. Faz-me dar o primeiro passo, como construtor de relacionamentos respeitosos e humanizadores. É uma forma de realizar o mandamento do amor ao próximo. Um testemunho do meu amor a Cristo Jesus que assumiu nossa humanidade e se fez solidário com os últimos e os pecadores.

 

Pe. João Carlos – 21.06.2011

A diferença

O que o cristão tem de diferente? Primeiro nos perguntemos se o cristão precisa ter algo de diferente. Bom, pelo que Jesus falou, parece que sim. Ele disse: vocês são o sal na comida. Vocês a luz do mundo. O fermento na massa. O sal tem propriedades ativas, dá sabor, protege da degradação. A luz também é uma imagem que revela influência: clareia, dissipa as trevas. Fermento então, nem precisa falar. Cristão é sal, não se confunde com o alimento. É luz, ilumina e vence as trevas. É fermento, não é massa. É pra fermentar a massa. Conclusão: cristão tem que fazer a diferença.

 

Agora, acontece que se vê pouca diferença em muitos cristãos. Uns são tão normais, que estão na média da mediocridade geral. Outros são bem piores. São mais mesquinhos, mais vingativos, mais cruéis que outras pessoas que não ostentam o nome de cristão. Há quem revele, quando pisam no seu calo, quanto são egoístas, insensíveis e intolerantes. E não faltam os que até são muito devotos, mas continuam pessoas egoístas e interesseiras.

 

O fato é que não basta estar filiado a uma agremiação religiosa. Ser cristão é muito mais. É ter adotado um estilo de vida inspirado em Jesus Cristo. É ter assumido como modelo de vida a pessoa de Jesus de Nazaré. É estar tomando a sério suas palavras e seus ensinamentos. É estar crescendo como filho de Deus, na fraternidade e na solidariedade com os seus semelhantes. É viver a condição de nova criatura, renascida em Deus.

 

Afinal, o que o cristão tem de diferente? Alguma diferença deveria ter. Jesus foi claro: se vocês só gostam dos que já são seus amigos, fazem igual aos que não crêem. E se saúdam só os que os cumprimentam, cadê a diferença? Mostrar amizade pelos amigos é fácil, é o normal. O negócio é como você trata os que não são seus amigos, como você lida com os que o perseguem, ou como você convive com o ódio que alguém possa ter por você. Aí, pode haver uma diferença. Olha os conselhos de Jesus: "ame os seus inimigos e reze pelos que lhe perseguem". Não querer o mal, não revidar com o mal, querer insistentemente o bem do outro: essa é a diferença.

 

 O modelo, o exemplo, o caminho é Jesus. Amou até o fim, até à cruz. E venceu assim. Não se deixou conduzir por interesses mesquinhos de algum grupo ou por revanchismo de qualquer marca. Fez a diferença. Incomodou porque fez a diferença. Manteve-se livre e amoroso, mesmo na prisão e na cruz. E nos chamou a imitá-lo: eu sou o caminho. Fácil não é. Mas a graça de Deus que nos habita pelo Espírito Santo é a força que precisamos para superar as dificuldades e nos superar nas dificuldades.

 

Se não fizermos a diferença, negamos aos outros o testemunho de lealdade, de compromisso com o bem, com a verdade, com a justiça que tanto as pessoas de hoje precisam. Valores que se alimentam no Evangelho de Jesus. É, o cristão tem que fazer a diferença.

 

Pe. João Carlos – 14.06.2011



Você, sua mãe e seus irmãos

"Quem é minha mãe e quem são meus irmãos, perguntou Jesus. E apontando para os discípulos: Aqui estão a minha mãe e os meus irmãos, porque aquele que fizer a vontade do meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, irmã e mãe". Como entender essas palavras de Jesus? Haveria alguma crítica a Maria nesta palavra?

 

Maria, a mãe de Jesus, foi elogiada no Evangelho por ser cumpridora fiel da vontade do Pai. A resposta que ela deu ao anjo Gabriel foi: "Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a sua palavra". A vontade de Deus, na sua vida, estava acima de qualquer interesse ou projeto pessoal. Ela, a cheia de graça, foi escolhida por Deus par ser a mãe do seu divino filho. Esta era vontade de Deus. Ela prontamente aceitou cumpri-la, mesmo que isto significasse enfrentar "uma espada de dor que transpassaria seu coração".

 

Jesus ensinou na oração do Pai Nosso a rezar assim: "seja feita a vossa vontade". E ele mesmo na hora difícil de acolher a vontade do Pai, antes de sua paixão, rezou: "Pai, afasta de mim este cálice. Mas, cumpra-se antes a tua vontade do que a minha". Bom discípulo de Jesus é quem imita Jesus e sua mãe e faz da vontade de Deus o soberano princípio que orienta sua existência.

 

A descoberta da vontade de Deus na vida de quem crê não é uma coisa imediata, simples. A vontade de Deus se manifesta em nossa vida, através da compreensão que vamos tendo das coisas, da luz que a sua Palavra joga em nossos planos, no aconselhamento, na oração. Deus não nos dispensa de usar a inteligência e recorrer, com humildade, à ajuda dos outros. O discernimento da vontade de Deus é um dom que precisamos pedir ao Espírito Santo.

 

A vontade de Deus é a realização de seus mandamentos. Este é o caminho de nossa felicidade. O que nos aproxima de Jesus é a obediência à vontade de Deus, mais do que qualquer laço sangüíneo. Parente de Jesus é aquele que cumpre a vontade de Deus, da qual ele é o primeiro cumpridor. O discípulo fiel imita Maria, sua mãe, a Virgem obediente. A comunidade dos discípulos obedientes é a Igreja de Cristo. Na comunidade-Igreja, os discípulos procuram juntos ouvir sua Palavra e praticá-la.

 

"Aqui estão a minha mãe os meus irmãos, porque aquele que fizer a vontade do meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, irmã e mãe". Foi o que Jesus disse. Maria foi apresentada por Jesus como modelo para os seus seguidores. Ela tornou-se sua mãe porque foi obediente à vontade do Pai. Quem faz como ela, colocando a vontade de Deus antes de tudo e de todos, é o verdadeiro parente de Jesus.

 

Maria sempre colocou a vontade de Deus acima de tudo e de todos. Jesus a apresenta como modelo para todo discípulo. A vontade de Deus é a lei que rege a vida de quem crê.

O recado tem pressa

A Conferência de Aparecida falou de discípulos e missionários.  Missionário é quem tem um recado pra dar. Não é o dono do recado. Mas, tem pressa em desincumbir-se do mandado que recebeu. Foi encarregado de dar o recado. E o recado é importante para o destinatário. E tem pressa de chegar ao conhecimento do interessado.

 

Antigamente, quando se falava de missionário, vinha logo à mente a figura das santas missões que os frades pregavam por toda parte. Missionários eram os frades pregadores. Graças a Deus, hoje, a mentalidade já mudou bastante. Hoje podemos encontrar em muitos lugares até crianças que se dizem missionárias. Elas pertencem à Infância Missionária. Elas são muitas e muito animadas e ativas. Desde cedo vão aprendendo que a missão é atributo de todo cristão. Desde pequeno. Vão crescendo nesta mentalidade e no exercício de um cristianismo ativo, preocupado com os mais pobres e os mais afastados.

 

O fervor missionário foi o segredo da expansão do cristianismo nas suas origens. E o fervor missionário se explica pelo amor a Jesus Cristo. Nos primeiros anos que se passaram após a ressurreição de Jesus, os discípulos movidos em parte pela perseguição, em parte pelo zelo do anúncio, espalharam-se pelo Oriente Médio e depois por todo o Mediterrâneo. Em cada lugar, comunicavam os acontecimentos da vinda salvadora de Jesus e criavam comunidades. Foi uma explosão de testemunho e de fé.

 

Os missionários tiveram que enfrentar muita resistência dos judeus espalhados pelas cidades do império romano e quase sempre colheram perseguições por conta do governo imperial. Foi um tempo de grande fervor missionário, regado com o sangue de muitos mártires. Não há missão sem uma boa dose de martírio, de imolação, de sofrimento. Não foi à toa o alerta de Jesus: segui-lo significaria  a renúncia de si mesmo e um caminho diário de cruz. É o caminho do missionário.

 

Mas não é só de cruz o caminho do cristão que assume a missão. Na verdade, o missionário vive da alegria da entrega de si mesmo em favor da boa nova que vai sendo comunicada. Alegria também. É só lembrar o missionário Jesus naquela prece de ação de graças: Pai, eu te dou graças, porque estás revelando o Reino aos pequeninos. As dores do parto não têm nem comparação com a alegria pelo nascimento da criança. É ouvir seu choro, tomá-lo nos braços e toda as dores que o precederam são esquecidas ou ao menos relevadas. As incompreensões, canseiras, dificuldades, perseguições em que os missionários e as missionárias semeiam seu testemunho não têm comparação com a alegria de ver alguém sendo restaurado, encontrando a vida e a felicidade em crer. É como diz o salmo 126: "os que vão semeando entre lágrimas, cantando colherão os seus feixes".

 

O recado é o de Cristo, do amor do Pai revelado nele. O missionário precisa levar esse recado a todo mundo, em todo canto. O missionário, a missionária é você. A única coisa que pode explicar seu zelo missionário é o seu amor a Jesus Cristo. Levar o recado tem seu preço, renúncias, incompreensões... mas, quando contemplamos o rosto de quem recebeu de coração aberto o recado do Mestre, aí sabemos que valeu a pena.


Pe. João Carlos

Feliz Páscoa! Vida nova em Cristo!

"Para vocês, em primeiro lugar, Deus ressuscitou seu Servo e o enviou para abençoá-los, a partir do momento em que cada um de vocês se afaste de suas maldades" (Atos dos Apóstolos 3,26).

 

Deus ressuscitou seu Servo. Esta é a boa notícia. Deus tomou partido pelo injustiçado. Ressuscitou Jesus, a quem os chefes rejeitaram. Desmascarou as suas razões aparentemente religiosas. Tomou a defesa do crucificado, pondo à descoberto a violência injustificada dos dominadores. Resgatou a esperança de gente sincera e crente, que dela dependia para continuar vivendo e sonhando. Deus ressuscitou seu Servo. Esta é a boa notícia.

 

E o enviou para abençoar vocês. Jesus entregou sua vida na cruz. Nela, deu-se por inteiro ao Pai e aos seus. A morte foi o dom de si mesmo. A vida do pastor que enfrentou o lobo, para proteger o rebanho. O dom de sua vida fora antes entregue como pão, como água da vida, como luz, como palavra de vida eterna. Na cruz, o dom foi total. Ressuscitado, ele comunica a paz, o dom dos reconciliados. Abençoa com o perdão. Comunica o Espírito de Deus. Deus o enviou para abençoar vocês.

 

Cada um de vocês se afaste de suas maldades. A iniciativa de Deus pede uma resposta. A cruz foi a resposta negativa da humanidade. A ressurreição é a resposta positiva de Deus. A hora é a de acolher a vida nova que Cristo traz, a bênção que ele veio comunicar. Acolher o dom de Deus é dar um novo começo à própria vida, "afastar-se de suas maldades". A vida nova pede mudança de vida. A ressurreição gera homens e mulheres renovados, livres, restaurados. Cada um de vocês se afaste de suas maldades.

 

"Para vocês, em primeiro lugar, Deus ressuscitou seu Servo e o enviou para abençoá-los, a partir do momento em que cada um de vocês se afaste de suas maldades" (Atos dos Apóstolos 3,26).

 

Feliz Páscoa! Vida nova em Cristo!

Via Sacra da fraternidade

A Via Sacra da Quarta-feira Santa no centro do Recife é um grande momento de oração. É uma iniciativa da Associação Missionária Amanhecer-AMA. Vamos realizá-la pela 12ª vez, amanhã, com muita chuva ou com pouca. Mas, será, tenho certeza, com muita gente. Gente que vai para o centro da cidade rezar e mostrar sua fé.

 

A via-sacra nasceu no Evangelho. Na narração da paixão e morte do Redentor. É uma ação de caminhada: o nome está dizendo, é via, é o caminho sagrado. Nas Igrejas, os quadros da via-sacra estão dispostos ao longo de toda a Igreja, de forma que fazer a via-sacra é realizar o percurso das estações. E são 14 estações, que vão desde a condenação de Jesus ao seu sepultamento. Tenho a impressão que a via-sacra mobiliza muita gente em primeiro lugar porque é oração. E também porque é caminhada. E claro, por ser uma proclamação plástica do Evangelho de Jesus.

 

E a via-sacra da quarta-feira santa é um grande encontro de oração. Muita gente cantando e rezando, a uma só voz. Um grande momento de oração popular, que inclui cantos, gestos, audição da palavra, caminhada. E tudo, feito comunitariamente, coletivamente. E não é só os que estão participando na caminhada que rezam pra valer: por onde vamos passando, o comércio se irmana conosco, acompanhando cada passo.

 

Oração, sim, mas oração integrada com a vida da gente. Vamos rezar sobre a Campanha da Fraternidade. Vamos ligar cada estação das dores de Cristo com as nossas dores. A violência das ruas, os assaltos, o pouco dinheiro no bolso, as mortes, a discriminação dos pobres, os meninos de rua, as doenças... tudo lembrado em prece. A grande cruz vai ser carregada por diversos grupos: desempregados, aposentados, mulheres, homens, crianças, estudantes, viúvas. A oração de contemplação dos sofrimentos de Cristo integra também nossos sofrimentos e nossas lutas. Os gestos de solidariedade que Jesus recebeu no caminho do calvário serão comparados com os gestos de solidariedade de hoje. 

 

A campanha da fraternidade deste ano é muito importante para todos, para os que têm fé e para qualquer cidadão desse planeta. Trata da vida no planeta. Das condições de vida que precisamos preservar. A campanha nos faz refletir sobre o aquecimento global, as mudanças climáticas e sobre nossa responsabilidade pessoal e coletiva no cuidado com o ar, a água, a terra, o lixo, a natureza. Denuncia a devastação das florestas, a destruição dos ecossistemas, a emissão de gases de efeito estufa, a intoxicação dos alimentos, o destastre ecológico que nós estamos produzindo. É hora de uma nova consciência planetária e ecológica. É o parto de um cidadão consumidor consciente e mais responsável. E a fé tem um lugar especial nessa luta.

 

A Via Sacra da fraternidade de amanhã terá sua concentração no pátio de São Pedro, a partir das 6 da manhã. Às 8 horas, começamos o percurso com uma grande cruz e muita fé: Pátio de são Pedro, Pátio do Carmo, Camboa do Carmo, Frei Caneca, Concórdia, Rua Nova, Praça da Independência, Rosário dos Pretos, Duque de Caxias, Pátio do Livramento. Das 8 às 11horas.

 

Mais informações: (81) 3224.9284.

 

Pe. João Carlos – 19.04.2011

Amigo da verdade

Nós vivemos em um mundo marcado pela aparência. É a cultura do simulacro. Aparência é o que conta. Fachada bonita, propaganda de primeira...  às vezes escondendo uma instituição falida. É a cultura da aparência. Sorriso escancarado, carro do ano, roupa de grife... e muito débito, muita conta protestada, e por aí vai. É o mundo da aparência. O mundo em que vivemos.

 

Da aparência para a mentira, o pulo é muito pequeno. A mentira é a arte de esconder, de mascarar, de camuflar a realidade. Paradoxalmente, hoje há também uma maior cobrança pela transparência: balanço real, avaliação institucional, prestação de contas da gestão. A transparência é também induzida pelos meios de comunicação social. A facilidade da comunicação, a rapidez e a contemporaneidade das redes sociais ajudam na difusão dos fatos reais. Jogam a favor da transparência, são inimigas potenciais do engodo, da enrolada, da mentira.

 

E Jesus falou claro: A verdade vos libertará. Essa palavra veio numa expressão mais ampla: Quem guarda minhas palavras é verdadeiramente meu discípulo, e conhecerá a verdade e a verdade o libertará. O discípulo de Jesus anda com a verdade, conhece a verdade, pois a encontra na meditação da Palavra de Deus. E por que a Palavra põe o discípulo do lado da verdade? Porque ela revela a intenção amorosa de Deus e põe à luz as nossas intenções. Diante da luz de Deus, aparecem nossas meias-verdades, revelam-se nossas verdadeiras intenções.

 

Discípulo de Jesus é quem guarda suas palavras, palavras que o libertam. Pedro respondeu a Jesus em nome dos discípulos: A quem nós iremos, Senhor, só tu tens palavras de vida eterna. É dessa Palavra que todo ser humano verdadeiramente tem fome e sede. Tem fome e sede de sua própria verdade, da verdade do universo, da verdade de Deus. A mentira, a aparência, o simulacro deixam-nos vazios, em desordem interior. Elas arrancam as nossas raízes, largando-nos como um barco à deriva na tempestade. Terra firme mesmo é a Palavra de Deus. Coisa boa é a verdade.

 

Diz o salmo: A palavra de Deus é a verdade; sua lei, liberdade. E o cristão é o cara da verdade. Seu sim, seja sim. Seu não, seja não, foi o conselho de Jesus. Gente da verdade: é o que o mundo está precisando. Gente que não se deixa enganar, que ama o que é certo e luta pelo que é justo. Não se esconde atrás de mentiras e histórias mal contatadas. Afinal, mentira tem pernas curtas.

 

Escrevi uma música para o meu novo Cd que diz: "O mundo necessita de profetas; de gente que rejeita a falsidade, de gente que acredita na verdade, de gente que tem sua opinião. E eu sou amigo da verdade, meu sim é sim. Meu não é não. E eu não posso mais ficar calado, eu sou profeta, eu sou cristão".

 

 Pe. João Carlos – 14.04.2011

Eu sou

No evangelho de João, ocorre curiosamente que Jesus, várias vezes, se declara: EU SOU. Eu sou o pão da vida,  eu sou a luz do mundo, eu sou o bom pastor, eu sou a ressurreição e a vida...  A um certo ponto, diz: "Quando vocês tiverem elevado o filho do Homem, então saberão que EU SOU". Essa expressão "eu sou" pode passar despercebida a alguém desavisado, sem perceber algo da riqueza que ela exprime. Por que Jesus insiste em se identificar como EU SOU?

É claro que Jesus falava a pessoas que conheciam bem as Escrituras. O povo judeu estudava bem a lei de Moisés e os Profetas, as Escrituras da antiga aliança. Facilmente, recordavam como Deus tinha se apresentado a Moisés. "Eu sou o Deus do teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó". Foi naquele episódio da sarça ardente. Deus revelou a Moisés: "Eu vi a opressão do meu povo no Egito. Eu ouvi o grito de aflição diante dos seus opressores. Eu tomei conhecimento de seus sofrimentos. E desci para libertá-los". Moisés perguntou pelo seu nome. Deus respondeu: Eu sou aquele que sou.

Eu sou pode também ser traduzido como eu estou. Deus, como se mostrou a Moisés, é alguém que está preocupado com o seu povo, que desceu para livrá-lo da mão dos egípcios. Ele é o Deus que ouve os clamores do seu povo, que vem para livrá-lo. E envolveu Moisés nessa sua missão salvadora. Você vai responder assim aos israelitas: Eu sou me envia a vocês. Notaram? Eu sou me envia a vocês. Eu sou é o nome de Deus, é o jeito de Deus ser.

Jesus, se atribuindo essa expressão EU SOU, está dizendo ao seu povo que ele vem de Deus, que ele tem parte com Deus, que ele é Deus. E o é igualzinho ao Deus de Israel que desceu para libertar o seu povo do Egito. Que, como ele, vê a opressão, ouve o grito do sofredor, conhece o sofrimento de sua gente. E toma partido para salvá-lo. Esse modo de falar de si e de sua missão o coloca no clima do êxodo, da páscoa. Ele é o envido do Deus da páscoa.

E como entender aquela expressão: "quando vocês elevarem o filho do Homem, então saberão  que EU SOU". É fácil. Elevar o filho do homem é uma referência à crucifixão. A cruz é o lugar da manifestação cabal de Jesus. É na cruz que ele se mostra o filho obediente e onde Deus se mostra o amoroso pai que nos envia seu filho para nos libertar. Na cruz também ficam patentes nossa arrogância, a violência de nossas atitudes, o pecado que nos domina e nos volta contra Deus. Lá na cruz, podemos reconhecê-lo no seu imenso amor por nós, pedindo perdão ao Pai por nós, dando-nos sua mãe por mãe, entregando-se por nós ao Pai. Quando vocês elevarem o filho do homem, então saberão que EU SOU. Ele é o enviado do Deus do êxodo, que se importa conosco, que desceu para nos livrar da escravidão do pecado, do mal e da morte.

Pe. João Carlos – 12 de abril de 2011

Meu batismo foi na páscoa

Quando eu fui batizado, recebi uma vela acesa. Meus pais e meus padrinhos sustentaram comigo aquela luz. E o padre disse: Jesus Cristo é a sua luz. Aquela luz acesa era uma representação do que tinha acontecido comigo no batismo: eu renasci como uma nova criatura. Fui lavado nas águas da morte de Jesus. Renasci com ele. Recebi o dom do seu Espírito, para viver em comunhão com Deus como um filho. Que grande graça foi o meu batismo!

 

O batismo marcou o começo de minha caminhada. Foi um dom para toda a minha vida: eu sou uma pessoa em comunhão com Deus, integrada na comunidade dos seguidores de Jesus. Fui crescendo nessa convicção. Minha mãe me lembrava sempre: você foi batizado, você tem parte com Deus, ele o adotou por filho. E eu não posso me esquecer nunca disso. Eu sou filho de Deus. E isso foi obra de Jesus que morreu na cruz oferecendo sua vida ao Pai por mim. E por você, também. No batismo, eu morri com ele e ressuscitei com ele. Foi o que São Paulo explicou. Não posso esquecer disso, nunca.

 

E para viver com maior consciência esse imenso dom da comunhão com Deus, da filiação divina, a grande comunidade dos batizados está sempre programando tempos de avivamento e celebração. É assim que todo ano tem a Quaresma. Um tempo forte para me ajudar a reavivar em mim a consciência desse dom do batismo, a graça de viver em comunhão com o Pai, por meio do Filho, no Espírito Santo. E eu tenho que crescer ainda mais nessa fé, renovando, confirmando o meu compromisso de seguidor de Jesus. Então, a quaresma é a grande oportunidade que eu não posso perder.

 

Na Quaresma, a Igreja fica falando que a gente precisa rezar mais, esforçar-se mais e ser mais caridoso com os outros. Vejo mesmo que esses 40 dias são como um treinamento, pra que eu fique mais forte, com mais força pra vencer a tentação e o mal, pra que eu viva na fé. Esse caminho de 40 dias me leva à celebração da Páscoa de Jesus. E esse é o tempo mais importante para um cristão: a semana santa, o tríduo pascal, a festa da páscoa.

 

Outro dia ouvi o papa dizendo uma coisa: a quaresma leva a gente para a noite da vigília da páscoa, pra gente renovar as promessas do batismo. É o sábado de aleluia. Faz sentido, eu fui batizado na morte e na ressurreição de Jesus. E isso é a páscoa. Então a páscoa é o dia do meu batismo. O dia em que eu renasci como nova criatura, em Cristo. Então é por isso que a gente acende de novo a vela e renova o compromisso de caminhar iluminado por Cristo.

 

Pe. João Carlos Ribeiro – 12.03.2011

 

 

"Assim como acolheste o Cristo Jesus, o Senhor, continua caminhando com ele. Continua enraizado nele, edificado sobre ele, firme na fé tal qual te foi ensinada, transbordando em ação de graças" (Col 2,6-7)

 

Jesus não é levado a sério


Por que as pessoas não levam Jesus a sério? Uma boa pergunta. É certo que há quem o leve a sério, quem tenha Jesus como uma referência decisiva para sua vida. Há quem assumiu Jesus como ideal de vida, como um exemplo para sua existência, como modelo. E até como alguém a quem se deve a própria vida e o próprio futuro. Mas, é possível que muitas pessoas que conhecemos não levem Jesus tão a sério.

É verdade que todo mundo gosta de Jesus. É difícil encontrar alguém que admita que não lhe dá importância. Mas, tomá-lo como referência para a própria vida, assumi-lo como um amigo de todas as horas, manter com ele uma relação de íntima amizade,... isso é, infelizmente, para poucos. Todo mundo gosta de Jesus, mas poucos o levam a sério.

Mas, Jesus não é qualquer um, que se possa passar sem ele. Ou é? Gandhi é um grande homem, um sujeito admirável, mas se pode passar muito bem sem conhecê-lo, sem querer-lhe bem, sem fazer referência a ele. Tereza de Calcutá é uma figura humana encantadora, maravilhosa, surpreendente. Mas, a gente vive bem mesmo se não a conhecer ou estimar. Che Guevara bem que é querido por muita gente e até exaltado por algumas ideologias. Mas, sem o Che é possível viver bem e pensar o futuro sem ele. Sem Jesus, a coisa é diferente. Ele é fundamental para a pessoa humana se acertar, ele é a pessoa humana acabada. E não é só um exemplo a ser seguido. É também a porta que nos é aberta para a vida. A vida plena e verdadeira que aqui apenas começa. O que vale dizer, sem passar por essa porta, não se chega a lugar algum.

E por que Jesus é tão especial? Porque ele é o ser humano vitorioso. Porque ele superou todos os nossos limites: a tentação do egoísmo que exclui os outros, da relação de dominação que quer submeter a si os semelhantes, da atração da posse das coisas que nos arrasta para o passageiro e efêmero. E porque ele é tão especial?! Porque rompeu com os limites que nossa humanidade criou afastando-nos do Criador e do projeto de plenitude para o qual ele nos criou: ele venceu o pecado. Reconciliou-nos com o Criador, reabriu-nos as portas da casa do Pai. Colocou-nos de novo em amizade com Deus. Fez-nos filhos de Deus, em santa harmonia com ele.

Esse Jesus talvez muita gente não conheça. Provavelmente muita gente nunca se encontrou com esse Jesus salvador. E a quem não se conhece, não se pode amar. Sem amizade, não há intimidade, nem confiança. Por isso, talvez por isso, muita gente não leve Jesus a sério. É que nunca teve um encontro sério com Jesus, é que não o conhece verdadeiramente. Assim não pode amá-lo, nem permitir que sua vida seja marcada por suas palavras, por suas atitudes, por sua presença.

A fé dos cristãos nos leva a uma grande descoberta: esse Jesus, ser humano vitorioso, vencedor do mal e da morte, reconciliador da humanidade com o Criador, é Deus. Participa da mesma divindade do Pai criador e do Espírito santificador. Esse Jesus é Deus com o Pai e o Espírito Santo. Homem verdadeiro, Deus verdadeiro. Deus na nossa humanidade. É assim que nossa amizade com ele, se torna adoração. Nosso amor se faz comunhão com ele. É aí que a gente começa a levá-lo a sério. É assim a vida da gente começa a ser marcada por sua presença, por seu amor.


 

As barrreiras já foram derrubadas

Parecia que a gente estava numa Igreja da Europa. A beleza da Catedral. O frio de 14 graus. Bandeiras de várias nacionalidades. E os diversos idiomas na celebração. Cantos em coreano e espanhol, além do português. Primeira leitura em polonês. A segunda, em inglês. Evangelho em italiano. Preces em diversas línguas. O padre Giovani Corso presidindo. No corpo da Igreja, fiéis de origens nacionais distintas. Na catedral católica de Porto Alegre, estava acontecendo a Missa do migrante, no domingo de Pentecostes.

A Missa do migrante acontece, na Catedral, todo último domingo do mês. O Pe. Giovani é padre carlista, da Congregação dos Scalabrinianos. 1º de junho é data comemorativa do seu fundador, beato João Batista Scalabrini. Sua congregação dedica-se ao acompanhamento e evangelização dos migrantes. Notava-se a expressão deste carisma na condução da celebração e nas palavras do padre. Ele referia-se a Pentecostes, como a festa da unidade dos povos em Cristo.

Escutando o trecho dos Atos dos Apóstolos neste contexto, percebi mais coisas do que eu já tinha percebido ou pregado sobre esta passagem. O Espírito Santo veio sobre a comunidade. Nascia a Igreja. Ela é obra de Cristo e do Divino Espírito. A comunidade não é só o grupo do cenáculo, em torno de 120 pessoas (um número pra lá de simbólico: um múltiplo de12, o número dos apóstolos). A igreja alarga-se pela pregação dos apóstolos e pela ação do Espírito. Ao redor do cenáculo, reuniram-se peregrinos de várias partes do mundo, de todo o mundo conhecido. Tinham ido a Jerusalém para a festa anual de Pentecostes, da recepção da lei, cinqüenta dias após a páscoa. A ação do Espírito é derrubar todas as fronteiras de nacionalidade, raça e religião e criar um povo só, em Cristo. Todos ouviam os apóstolos anunciarem as maravilhas de Deus, em suas próprias línguas.

A derrubada das barreiras é a obra do Espírito, ontem e hoje. Assim, pregou o Pe. Giovani. Gregos e romanos, judeus e pagãos, oriente e ocidente, todos, em Cristo, pela ação do Divino Espírito, são agora um só povo, o povo de Deus. Motivação forte a nos conclamar para uma atitude nova de acolhimento dos migrantes, dos que estão fora de sua terra natal por motivo de estudo, trabalho, guerras, calamidades em busca de oportunidades. O padre lamentou as novas legislações dos países que têm criado mais obstáculos à inserção dos migrantes. Falou do caso brasileiro, em que milhares de migrantes esperam uma anistia para tirar sua carteira de identidade. Pregou pela globalização da justiça, da solidariedade, da comunhão.

Neste 31 de maio de 2009, eu e o Pe. Fábio José*, concelebramos na Catedral de Porto Alegre, no domingo de Pentecostes e saímos encantados com o dinamismo do Espírito que, em cada contexto, recria a igreja que nasce do abraço de gente de muitas origens nacionais, raciais e culturais. Igreja, nascida em unidade pela força do Espírito, que se torna semente de unidade no mundo que navega em águas turbulentas.



* Pe. Fábio José e eu chegamos a Porto Alegre para uma Conferência as Instituições Univervisitárias Salesianas de Europa e América Latina (01 a 06 de junho de 2009).

Um novo dia para a humanidade – Feliz Páscoa!

Com a ressurreição do Senhor, nasceu um novo dia para a humanidade. Passou o tempo de Adão. Nas primeiras páginas da Bíblia, Deus e a humanidade, representada por Adão e Eva, no Jardim do Edem, viviam próximos e em comunhão. Mas a humanidade não quis saber de Deus. Voltou-lhe as costas. Fora do jardim, o homem só encontrou dor, sofrimento, morte. Mas, agora tudo isso passou. O novo homem surgiu, renascido da morte. O tempo do pecado passou. O velho fez-se novo.

Com a ressurreição do Senhor, nasceu um novo dia para a humanidade. Na ressurreição, Deus se reencontra com a humanidade, no Jardim. Jesus, o Deus ofendido e traído, se reencontra com a humanidade pecadora, representada por Maria de Mágdla. Madelana procurava o Senhor na morte, no túmulo. Mas, ele vem ao seu encontro vivo, ressuscitado, vitorioso sobre o pecado e a morte.

Com a ressurreição do Senhor, nasceu um novo dia para a humanidade. O Resuscitado traz o perdão e a vida plena para a humanidade ferida pelo pecado. Quando dizemos “feliz páscoa”, queremos na verdade dizer: “Um feliz encontro com o Senhor Ressuscitado. Ele te traz a paz, o perdão, a vida plena”.

Feliz Páscoa!

Pe. João Carlos
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Aonde vais, Senhor?

O senhor, na ceia, depois do lava-pés, anunciou que estava de partida. Chegara sua hora. Tinha que ir. Foi para esta hora que viera. Os discípulos ficaram confusos. Já estavam confusos com o lava-pés. Como poderiam entender que Jesus sendo o mestre, o chefe, fizesse o papel de criado? E mais: dera-lhes um mandamento. “Amar os outros como eu ele os tinha amado”.

“Aonde vais, Senhor?” perguntou Pedro. Ele sabia: Jesus estava indo para um lugar perigoso. Desde o começo da ceia o Mestre estava sob forte emoção. Com certeza, estava indo para um lugar perigoso. Talvez o Templo. Ou uma praça. Quem sabe não seria algum encontro decisivo com os chefes de Jerusalém. Ah, ele não deixaria o Mestre ir sozinho. Quis saber: “Aonde vais, Senhor?”. Está partindo pra onde? Aonde o senhor for, eu vou também. Se for preciso, eu dou a minha vida pra lhe defender.

“Ah, Simão, onde eu vou tu não podes ir”. Tu não tens condição de ir, queria dizer Jesus. Irás depois. Mas, agora não tens condição. Não vais enfrentar o que eu vou enfrentar. Não estais em condições de fazer o caminho que eu vou fazer. Quem sabe, depois... ao contrário, Simão, tomarás o caminho contrário. Recuarás. Negarás até me conhecer. Tu não vais comigo.

“Aonde vais, Senhor?” é a pergunta de todo discípulo ou discípula de Jesus nesta semana santa. E sempre. Aonde vai o Senhor? Ele leva sua missão até o fim. Ele vai dar a sua vida pelos seus. Ele vai se oferecer a si mesmo como sacrifício por nossos pecados. Ele vai para a cruz. Ele vai fazer o caminho do calvário, até sua entrega difinitiva.

Simão Pedro recuou, negou Jesus, traiu o Mestre. Não queria se arriscar como ele, não queria se entregar completamente, como ele. Mas, depois caiu em si, chorou amargamente sua falta, sua traição. E foi perdoado. A seu tempo, seguiu Jesus no caminho da entrega generosa e total pelos outros, como o Mestre. Fez isto com sua vida de animador da comunidade, da igreja nascente. Fez isso com a entrega da própria vida na cruz, em Roma. “Irás depois”, Jesus tinha dito.

Pedro é um espelho para você. E para mim. Você não sabe bem para onde Jesus vai. Não está entendendo bem o que está acontecendo nestes dias da semana santa. Ele está indo para a cruz... está pronto para segui-lo? Vai tomar o caminho contrário, como Pedro? Se fracassar, o galo avisa. É a hora da conversão e do perdão. Importante é que sua vida não tome o rumo contrário do caminho de Jesus. O caminho da cruz é o caminho do amor total. Amar como ele amou. Esta é a convocação destes dias santos.

“Aonde vais, Senhor?”

P. João Carlos – semana santa 2008

Maria e Judas: dois discípulos a um passo da paixão


”Ela derramou o perfume nos pés de Jesus
e os enxugou com os seus cabelos;
e toda a casa ficou perfumada” (Jo 12, 3)

Seis dias antes da Páscoa, Jesus hospeda-se na casa de Marta, Maria e Lázaro, seus amigos e discípulos. Prepararam um bom jantar para receber Jesus e o seu grupo. Durante o jantar, Maria lavou os pés de Jesus com um perfume muito caro. A casa ficou cheia do perfume de Maria. Foi um gesto de amor, de gratuidade, de serviço. O perfume é coisa que fala de amor, de carinho. Lavar os pés do visitante era um gesto de serviço, trabalho de criados. Com certeza, ela empregou um bom dinheiro para comprar aquele perfume e o derramou sem pena nos pés do Mestre. Foi um gesto de gratuidade, de um amor generoso que não faz as contas de quanto está gastando, quanto está empenhando, quanto está colocando de si. Amor gratuito, como o de Jesus que estava para dar a própria vida, sem reserva, sem fazer contas. Dar a própria vida: ninguém tem maior amor. Judas representa quem não é capaz de amar como Jesus. Judas é quem não aprendeu a amar como Jesus. Ou quem não quer acolher o amor de Jesus, assim tão generoso e gratuito como é. Por isso, ele reclama do disperdício que seria derramar aquele perfume todo ou mesmo o dinheiro que podia ter sido econimzado para ajudar os pobres. Judas não entendeu: não se trata apenas de ajudar os pobres. Trata-se de amar os pobres. Como Jesus, comprometendo a própria vida, numa atitude de serviço gratuito e generoso. Maria mostrou que aprendeu com Jesus: o perfume do seu bom exemplo, de sua vida de discípulo encheu a casa toda, como uma luz que ilumina. Judas mostrou o sentimento mesquinho de quem não aprendeu a ser como o Mestre. Mas interessado no seu bolso, na sua vida, do que no bem dos outros. Incapaz de seguir com Jesus até a cruz.

Pe. Joao Carlos

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