PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA: Pastoral
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A regra de ouro

Façam aos outros aquilo que vocês querem que façam a vocês. Esse é o conselho de Jesus, um de seus ensinamentos no Sermão da Montanha (Mt 7,12). E completou: Nisso consiste a Lei e os Profetas. Bom, a Lei e os Profetas é uma forma de falar da própria Palavra de Deus, da Bíblia. Fazer o bem aos outros é uma forma de realizar integralmente a palavra de Deus.

 

"Faça aos outros aquilo que você deseja que lhe façam" é uma outra forma de dizer "ame o seu próximo como a si mesmo". Amar o meu próximo, como eu amo a mim mesmo. Faço ao outro aquilo que eu quero que façam a mim. Como eu acho que sou merecedor de atenção, de respeito, de consideração, assim devo tratar os outros, com atenção, respeito, consideração, em qualquer circunstância.

 

Na verdade, por trás de uma pessoa que humilha, menospreza ou desdenha do seu semelhante há uma pessoa mal-resolvida. Uma pessoa que age com rispidez e ignorância come os outros revela alguém atolado em problemas e frustrações. Não vê o valor e a dignidade dos outros porque não reconhece a própria dignidade, nem o próprio valor. Sua ação grosseira e ferina reflete seu estado interior depauperado, o mal-estar que vive consigo mesma.

 

Fazer aos outros o que nós queremos que façam conosco. Não é fazer com os outros o que fazem conosco. Fazer o queremos que façam conosco. Isso quer dizer que mesmo que alguém me maltrate, me trate com indiferença, eu preciso tratá-la(lo) como eu gostaria de ser tratado. E isso não é fácil, e nem parece normal. Normal seria responder com a mesma moeda, no mesmo tom de voz, jogar com as mesmas armas. Mas não é o que Jesus falou. Ele disse pra gente tratar os outros como nós merecemos ser tratados. Responder a um tratamento ríspido, descortês, grosseiro com um tratamento educado, respeitoso, cordial. É assim que gostaríamos de ser tratados. Então, é assim que vamos responder.

 

E por que isso? O cristão tem várias motivações para seguir esse conselho de Jesus. Primeiro, porque o outro é uma pessoa humana, merecedora de respeito e consideração em qualquer situação. Pode ser questionado, repreendido, corrigido, mas sempre com educação, com cordialidade, com o respeito que merece uma pessoa humana. Segundo, porque nele eu posso identificar a semelhança de Deus que toda pessoa humana carrega. Ele nos fez à sua imagem e semelhança. Menosprezando um irmão ou uma irmão, eu estou desonrando o próprio Deus criador. Terceiro, porque Jesus se identificou com o outro, especialmente com o mais abandonado e sofrido (o faminto, o doente, o prisioneiro). Ele disse: o que você fez a um desses irmãos, fez a mim.

 

Fazer aos outros o que nós queremos que façam a nós mesmos é a regra de ouro. Humaniza nossas relações. Estende a boa imagem que faço de mim mesmo, de minha dignidade, de meus direitos aos outros. Faz-me dar o primeiro passo, como construtor de relacionamentos respeitosos e humanizadores. É uma forma de realizar o mandamento do amor ao próximo. Um testemunho do meu amor a Cristo Jesus que assumiu nossa humanidade e se fez solidário com os últimos e os pecadores.

 

Pe. João Carlos – 21.06.2011

Escolher Jesus como caminho

Pense um pouco e responda: o que faz você ser uma pessoa cristã? ... Pensou? O que faz você ser uma pessoa cristã? ... Confira sua resposta: o que faz uma pessoa ser cristã é o fato de ela ter escolhido Jesus, como referência fundamental para a sua vida. Escolher Jesus como caminho. Na Bíblia, isso se chama crer. Crer em Jesus, então é mais do que simplesmente acreditar nele, é escolhê-lo como direção da própria existência. É, como os evangelhos explicam: seguir Jesus.

 

Os evangelhos fazem-nos uma proposta: sigam Jesus. O próprio Jesus sempre aparece chamando discípulos: venham, sigam-me. Por isso ler ou ouvir o evangelho de Jesus não é simplesmente tomar contato com uma bela história, mas ser levado a tomar uma decisão. Decisão que pode mudar a própria vida, que deve mudar a própria vida, melhor dizendo. A Bíblia chama isso de conversão. Conversão é a mudança de rumo de quem encontrou um novo caminho. Quem escolheu Jesus como caminho, tomou uma nova direção na vida, converteu-se. Se você puder dizer que escolheu Jesus como caminho de sua vida, então podemos dizer que você é uma pessoa convertida!

 

E como é que Jesus nos chama hoje? Em primeiro lugar, pelo testemunho das pessoas que crêem. Nós todos recebemos este primeiro testemunho de nossas próprias famílias. O testemunho não é só de palavras, é especialmente de atitudes. São as atitudes, os gestos, as decisões que mostram em que realmente damos valor. Junto com o testemunho de quem crê, há também o livro da Palavra de Deus que nos traz o testemunho dos apóstolos e das primeiras gerações de cristãos. O testemunho abre o caminho para o seu encontro com Cristo. O testemunho é dos outros. A resposta tem que ser sua, pessoal. A resposta é a sua adesão pessoal a Cristo. Essa é a sua parte: escolher Jesus e seu caminho.

 

O caminho de Jesus já foi trilhado por outros e outras, antes de mim e de você. E por gente que continua fazendo o seu caminho agora. A condição de quem está no caminho de Jesus, portanto aprendendo a viver segundo ele, é a condição de aprendizes, de discípulos. O discípulo deixa-se guiar pelo mestre, aprende a viver com ele. Essa nova condição de seguidores de Jesus é vivida na comunidade dos discípulos, na Igreja. Por isso, o ato de crer, ou seja escolher Jesus como referência fundamental da vida, se completa com a entrada na comunidade dos discípulos. A entrada na vida nova, no caminho, ou seja, a entrada na comunidade dos discípulos, é celebrada com o batismo. O batismo é o novo nascimento, a acolhida da salvação que Cristo nos trouxe, da vida nova em Deus.

 

Se por um lado, a vida cristã é um dom, você sabe muito bem que, também é um esforço cotidiano de seguimento de Cristo. Esforço para compreender a novidade de vida na qual já fomos mergulhados em Cristo, esforço para deixar que a graça produza frutos em nós, para viver em fidelidade à escolha do caminho de Jesus. É o esforço cotidiano para secundar a graça de Deus que nos habita e que vai construindo em nós uma pessoa segundo a imagem do filho de Deus.

 

Pe. João Carlos 

Migrante climático

Você já ouviu falar de migrante climático? É uma nova situação do fenômeno da migração, agravada pelas mudanças climáticas do planeta. Pois é, migrante climático, gente que deixa sua terra e parte para outra forçada pelas secas, pelas enchentes, por terremotos, maremotos, tufões, furacões... e, muito em breve, também pela elevação do nível da água do mar. São as mudanças climáticas.

 

E essas mudanças estão acontecendo particularmente pelo aquecimento global; pela ação predatória do homem sobre os recursos naturais; pela poluição do ar, da água e da terra; pelo desmatamento e queimadas. É problemático também  o uso de combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral, gás) e o destino do lixo atômico. A vida no planeta está ameaçada pela ação humana. E essa é uma coisa muito séria e nem todo mundo está se dando conta do que está acontecendo.

 

O fato é que as mudanças climáticas em curso no planeta provocam deslocamentos de populações de um canto para outro, criando novas ondas de migração, os migrantes climáticos. Basta lembrar o recente desastre do Japão, com terremoto, maremoto e um desastre nuclear. A população do entorno de centenas de quilômetros daquela área teve que migrar para outras partes. E quando se trata de áreas atingidas por enchentes, deslizamentos, quem mais sofre é a população mais pobre.

 

A seca do sertão sempre expulsou muita gente nossa para o sudeste do país ou engordou ondas migratórias para o norte. As condições de pobreza continuam embarcando milhares de trabalhadores nordestinos para as fazendas de tomate de São Paulo ou Mato Grosso ou para a colheita de cana-de-açúcar por lá. À falta de oportunidade ou de emprego, hoje se somam as mudanças climáticas. E a condição de quem migra é sempre de insegurança, desenraizamento cultural, esfacelamento das famílias, preconceitos e, muitas vezes, perseguição nas novas terras por causa de sua condição de migrante.

 

E a Igreja está atenta a esse fenômeno da atualidade, a migração climática. Por isso está celebrando mais uma vez o dia mundial do migrante (que será no próximo domingo), preparado por uma Semana do Migrante. O que a Igreja quer é o reconhecimento do migrante climático, de seus direitos e a conquista de uma legislação internacional que lhe dê proteção. E escolheu para reflexão o tema: Migrações e Mudanças Climáticas: o que eu tenho a ver com isso? Boa pergunta para você que quer continuar sensível ao sofrimento dos outros e valorizar a solidariedade como forma cidadã de se viver e partilhar o sonho da vida.

 

Pe. João Carlos – 17.06.2011

Na missão, somos um

Gente, que festa bonita fez a Arquidiocese de Olinda e Recife ontem, no Pátio do Carmo, a festa de Pentecostes. Lotou todo espaço disponível até a Dantas Barreto. No próximo ano, tem-se que escolher um lugar mais amplo, porque o Pátio do Carmo não vai caber mais. Os cantores fomos chamados para animar o grande encontro. Frei Damião, Celso Pontes, Boa Nova, Encontro de Irmãos e eu levamos a canção religiosa ao palco. E a música religiosa está, cada dia mais, encontrando seu espaço na Igreja. Dom Fernando Saburido presidiu a concelebração e pregou sobre o tema do encontro.


Aliás, é o primeiro ano, da nova safra, que a Arquidiocese toda se reúne para celebrar Pentecostes. E é muito justo que o faça, pois essa solenidade é a festa por excelência da Igreja que nasce pelo derramamento do Espírito Santo. Como contam os Atos dos Apóstolos, 120 discípulos e discípulas estavam no cenáculo em oração. Entre eles, a mãe de Jesus, Maria. Está escrito lá no livro dos Atos. O clima ainda era de medo, pela perseguição que tinha levado Jesus à pena capital dos revoltosos e malfeitores. Mas, estavam ali em atenção ao pedido mesmo de Jesus, que ressuscitado, tinha dito para aguardarem em Jerusalém a força do alto para continuarem a sua missão. "Vocês vão ser minhas testemunhas", disse Jesus, antes de voltar ao Pai, ressuscitado e glorioso.


Quando veio o Espírito Santo, como línguas de fogo sobre cada um deles, foi uma revolução. Desapareceu o medo, acabou-se o temor, a fragilidade virou força. Abriram as portas e foram para a praça. E Pedro soltou o verbo: "Esse Jesus que vocês mataram, Deus o ressuscitou. Ele agora está glorioso junto de Deus Pai e nos mandou dar testemunho de tudo isso. Agora é a hora da restauração, Jesus é o recomeço da história, o caminho de um povo livre, fraterno e em comunhão com Deus". E aí, aquele povo todo que foi se juntando, escutando tudo aquilo, começou a olhar Jesus com outros olhos e ver que ele era mesmo o Messias que estava prometido nas Escrituras. E pediram para ter parte com ele, para serem também seus seguidores. Foram batizadas 3.000 pessoas naquela tarde. E mais: mesmo gente de outras terras, de outras línguas, peregrinos da festa da páscoa, entendiam tudo o que Pedro, o rude pescador da Galileia, estava anunciando. A Igreja estava começando, fruto da páscoa de Jesus, como obra do Espírito Santo.


"Na missão, sejamos um: Igreja missionária na força do Espírito Santo". Esse foi o tema da festa de Pentecostes em Recife. Na missão, sejamos um. O arcebispo, em sua homilia, lembrou o contraste com a história da Torre de Babel. Na construção da imensa torre, a vaidade dos homens e os seus arroubos de grandeza a qualquer custo findaram por bloquear o projeto. E foi cada um para o seu lado, sem mais entendimento, cada um falando uma língua diferente. Em Pentecostes, a torre é o cenáculo, sala no primeiro andar. Ali foi a restauração, o contrário de Babel. Desceram para o encontro, a unidade, não para a dispersão. Da dispersão chegaram os peregrinos, falando várias línguas, mas todos afinal se reencontraram na mesma Palavra, no único Batismo, no mesmo Espírito. "Na missão, sejamos um", disse bem o tema desse simpático evento de ontem. O dom da unidade, da comunhão: fruto da presença do Espírito de Deus. A continuação da missão de Jesus: parceria entre os discípulos e o Espírito.


E a prece da Igreja subiu cálida na tarde de ontem:  "Envia, Senhor o teu Espírito e tudo será criado e renovarás a face da terra", oração do salmo 103, v 30. O Espírito é, portanto, o agente de mudança. E renovarás a face da terra. Tem a ver com a criação. Tem a ver com a renovação do mundo, da história.  Diferentemente do que muita gente pensa, o Evangelho é um fermento de mudança na história. E o Espírito é esse inspirador e conselheiro de quem crê, instruindo, incitando ao compromisso com o Bem, com a Verdade, com a Justiça. É ele que inspira os profetas. E os sustenta. Ele atualiza a presença e a ação de Jesus, que "veio para que todos tenham vida". E oportunidade para todos, felicidade para todos, os bens da criação para todos: é uma grande e necessária mudança, que o Espírito chegou para animar.


 Pe. João Carlos – 12.06.2011

As três tristezas da viagem

Viajando por esse mundão todo - e olha que eu tenho andado bastante por todo esse nordeste brasileiro - três coisas me deixam com o coração apertado: casa de taipa, capela em ruínas e criança pedindo dinheiro.


Quando vejo uma casa de taipa, me dá uma tristeza... Fico pensando:  como é que uma família se acostuma em morar num negócio desse?  como é que alguém se casa e faz um barraco tão miserável pra morar?  E o que podem esperar da vida as crianças que crescem aí, com os pés no barro batido, morando numa toca de barbeiros?  A resposta que vem é uma constatação dolorosa: casa de taipa é um sinal de abandono dessa gente, mesmo depois de 500 anos de civilização. Pode ser que tenham se acostumado com isso, que achem até normal ou que estejam esperando uma melhora no futuro. Casa de taipa é mesmo a cara da miséria. Viajo por outras regiões do país e não vejo casa de taipa. Passo pelo agreste e quase não vejo casa de taipa. E as pessoas dessas regiões são mais ricas? Bom, no agreste não. Mas, parecem viver com mais dignidade. É uma coisa que parece estar na cultura deles: nada de casa de taipa.


Capelinha deteriorada, em ruínas, "distiorada" como dizem, estou sempre encontrando alguma pelas estradas. Elas sobrevivem em povoações decrépitas, com populações subtraídas pela migração para regiões mais prósperas ou para os grandes centros. Encontro-as em fazendas sem a vida do passado, onde integram uma paisagem desoladora ao lado de chaminés ou bueiros abandonados e telhados caindo. Ou a religião foi abandonada ou a vida por ali perdeu a graça. Mas, se olhar bem pode ser até que veja por ali uma igrejinha evangélica. E a capelinha está ali como um bezerro enjeitado, mirrando, envelhecida e triste. É o retrato da alma de um povo de sobreviventes:  sem herança do passado,  sem confiança no futuro.


E como estradas esburacadas não faltam por esse nordeste pobre, também não faltam meninos tapadores de buraco, sempre fazendo de conta e pedindo um trocado. Um trocado pra vê-los fazer de conta que estão tapando os buracos da pista. Aprendem a lição com os governos que fazem de conta que estão tapando os buracos, construindo e duplicando rodovias com o dinheiro do contribuinte.  Mas tem também menino abordando a gente na saída de restaurantes e pousadas, crianças oferecendo suas pobres mercadorias (castanhas, maçã, balas). Criança pedindo dinheiro é um sinal de abandono dos adultos, e de sua condição de miséria. Dá uma dor no coração. E a gente fica sem escolha. Se compra, incentiva. Se não compra, os condena à fome. Criança sem escola ou com escola de faz de conta. Meninos mal-alimentados, se acostumando a viver sem dignidade.


Em minhas viagens por esse nordeste do interior, três coisas me entristecem: casa de taipa, capela em ruína e menino pedindo dinheiro. A sensação é de impotência. E de revolta.


Pe. João Carlos - 07/06/2011

O mês de maio

E o mês de maio vai prosseguindo. Por todo canto, as comunidades estão se reunindo para fazer do mês de maio um tempo de evangelização, de oração, de crescimento na fé. São famílias em oração, são comunidades em movimento... é a Igreja aprendendo com Maria a consagrar a vida pela oração e pela realização da vontade de Deus.

 

Quando compus a canção "Nossa Mãe", num mês de maio de alguns anos atrás, eu cantei o que estava vendo: "Nossa mãe reúne o povo, chama o povo pra rezar, pra pensar nos seus problemas e a vida melhorar".  Não é uma simples movimentação esta do mês de maio. A Igreja, nas famílias e nas comunidades,  reza, conversa sobre seus problemas, renova seu compromisso de presença transformadora no mundo.  Aprende a ser, como Maria, um povo que levanta a Deus um hino reconhecido por sua atuação libertadora no mundo, como ela cantou no Magnificat: A minha alma engrandece o Senhor... ele derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes.

 

No outro verso do canto, eu escrevi: "Nossa mãe instrui o povo nas palavras de Jesus, pra olhar dentro da vida e achar de Deus a luz". E é verdade, Maria nos leva a Jesus. O mês de maio nos aproxima mais da pessoa do filho de Deus. Nossa mãe está sempre nos dizendo: "Façam tudo o que ele vos disser".  Por isso, no mês de maio, nunca nos esquecemos de ler as Escrituras Sagradas que contêm a Palavra de Deus. No Evangelho, encontramos Jesus que nos faz olhar nossa vida com olhos de fé, que ilumina a nossa caminhada com a luz de sua Ressurreição.

 

Entre as imagens de Nossa Senhora, há aquelas em que ela aparece com Jesus nos braços. E foi pensando nesta representação, que eu escrevi na terceira estrofe: "Nossa Mãe mostra o seu filho ao seu povo reunido, pra aprender a ser fraterno e acudir todo gemido". E é isso mesmo que aprendemos de Jesus: o amor pelos outros. Foi esta a herança que ele nos deixou -  o novo mandamento -  amai-vos uns aos outros. Esta é a marca do cristão: o amor pelos mais sofridos, pelos abandonados, pelos prisioneiros, pelos desamparados, pelos injustiçados.

 

A tradição do mês mariano, na cidade grande, corre o risco de se perder, o que seria uma pena. Em muitos lugares, famílias e comunidades estão mantendo viva ainda a tradição. Reunem-se para rezar o terço, cantar louvores à Virgem e, sobretudo, animar-se na fé, lendo e refletindo a Palavra de Deus. A oração do terço ganhou, com o Papa João Paulo II, um grande reforço. Numa inspiradora encíclica, ele colocou bases teológicas e pastorais que alavancaram a oração do rosário à condição de oração de meditação bíblica. De fato, contemplando os mistérios, repassamos os grandes momentos e verdades da vida de Jesus, ao lado de Maria.

 

O mês de maio continua sendo um grande momento de evangelização de nosso povo. Maria continua o seu ministério de educadora da fé, de evangelizadora  dos filhos, de mãe da Igreja do seu filho Jesus. Por isso ela é tão amada por todos nós. Não é só porque ela é um exemplo de fé, mas precisamente porque ela continua sendo nossa evangelizadora, educadora de nossa fé. Não só porque ela é mãe de Jesus, mas porque continua sendo mãe da Igreja, nossa mãe.  Assim, cantamos nesta canção: "Mãe de Jesus e mãe minha, é tua esta canção. Senhora, mãe e rainha, é teu o meu coração".

 

Pe. João Carlos

Via Sacra da fraternidade

A Via Sacra da Quarta-feira Santa no centro do Recife é um grande momento de oração. É uma iniciativa da Associação Missionária Amanhecer-AMA. Vamos realizá-la pela 12ª vez, amanhã, com muita chuva ou com pouca. Mas, será, tenho certeza, com muita gente. Gente que vai para o centro da cidade rezar e mostrar sua fé.

 

A via-sacra nasceu no Evangelho. Na narração da paixão e morte do Redentor. É uma ação de caminhada: o nome está dizendo, é via, é o caminho sagrado. Nas Igrejas, os quadros da via-sacra estão dispostos ao longo de toda a Igreja, de forma que fazer a via-sacra é realizar o percurso das estações. E são 14 estações, que vão desde a condenação de Jesus ao seu sepultamento. Tenho a impressão que a via-sacra mobiliza muita gente em primeiro lugar porque é oração. E também porque é caminhada. E claro, por ser uma proclamação plástica do Evangelho de Jesus.

 

E a via-sacra da quarta-feira santa é um grande encontro de oração. Muita gente cantando e rezando, a uma só voz. Um grande momento de oração popular, que inclui cantos, gestos, audição da palavra, caminhada. E tudo, feito comunitariamente, coletivamente. E não é só os que estão participando na caminhada que rezam pra valer: por onde vamos passando, o comércio se irmana conosco, acompanhando cada passo.

 

Oração, sim, mas oração integrada com a vida da gente. Vamos rezar sobre a Campanha da Fraternidade. Vamos ligar cada estação das dores de Cristo com as nossas dores. A violência das ruas, os assaltos, o pouco dinheiro no bolso, as mortes, a discriminação dos pobres, os meninos de rua, as doenças... tudo lembrado em prece. A grande cruz vai ser carregada por diversos grupos: desempregados, aposentados, mulheres, homens, crianças, estudantes, viúvas. A oração de contemplação dos sofrimentos de Cristo integra também nossos sofrimentos e nossas lutas. Os gestos de solidariedade que Jesus recebeu no caminho do calvário serão comparados com os gestos de solidariedade de hoje. 

 

A campanha da fraternidade deste ano é muito importante para todos, para os que têm fé e para qualquer cidadão desse planeta. Trata da vida no planeta. Das condições de vida que precisamos preservar. A campanha nos faz refletir sobre o aquecimento global, as mudanças climáticas e sobre nossa responsabilidade pessoal e coletiva no cuidado com o ar, a água, a terra, o lixo, a natureza. Denuncia a devastação das florestas, a destruição dos ecossistemas, a emissão de gases de efeito estufa, a intoxicação dos alimentos, o destastre ecológico que nós estamos produzindo. É hora de uma nova consciência planetária e ecológica. É o parto de um cidadão consumidor consciente e mais responsável. E a fé tem um lugar especial nessa luta.

 

A Via Sacra da fraternidade de amanhã terá sua concentração no pátio de São Pedro, a partir das 6 da manhã. Às 8 horas, começamos o percurso com uma grande cruz e muita fé: Pátio de são Pedro, Pátio do Carmo, Camboa do Carmo, Frei Caneca, Concórdia, Rua Nova, Praça da Independência, Rosário dos Pretos, Duque de Caxias, Pátio do Livramento. Das 8 às 11horas.

 

Mais informações: (81) 3224.9284.

 

Pe. João Carlos – 19.04.2011

Amigo da verdade

Nós vivemos em um mundo marcado pela aparência. É a cultura do simulacro. Aparência é o que conta. Fachada bonita, propaganda de primeira...  às vezes escondendo uma instituição falida. É a cultura da aparência. Sorriso escancarado, carro do ano, roupa de grife... e muito débito, muita conta protestada, e por aí vai. É o mundo da aparência. O mundo em que vivemos.

 

Da aparência para a mentira, o pulo é muito pequeno. A mentira é a arte de esconder, de mascarar, de camuflar a realidade. Paradoxalmente, hoje há também uma maior cobrança pela transparência: balanço real, avaliação institucional, prestação de contas da gestão. A transparência é também induzida pelos meios de comunicação social. A facilidade da comunicação, a rapidez e a contemporaneidade das redes sociais ajudam na difusão dos fatos reais. Jogam a favor da transparência, são inimigas potenciais do engodo, da enrolada, da mentira.

 

E Jesus falou claro: A verdade vos libertará. Essa palavra veio numa expressão mais ampla: Quem guarda minhas palavras é verdadeiramente meu discípulo, e conhecerá a verdade e a verdade o libertará. O discípulo de Jesus anda com a verdade, conhece a verdade, pois a encontra na meditação da Palavra de Deus. E por que a Palavra põe o discípulo do lado da verdade? Porque ela revela a intenção amorosa de Deus e põe à luz as nossas intenções. Diante da luz de Deus, aparecem nossas meias-verdades, revelam-se nossas verdadeiras intenções.

 

Discípulo de Jesus é quem guarda suas palavras, palavras que o libertam. Pedro respondeu a Jesus em nome dos discípulos: A quem nós iremos, Senhor, só tu tens palavras de vida eterna. É dessa Palavra que todo ser humano verdadeiramente tem fome e sede. Tem fome e sede de sua própria verdade, da verdade do universo, da verdade de Deus. A mentira, a aparência, o simulacro deixam-nos vazios, em desordem interior. Elas arrancam as nossas raízes, largando-nos como um barco à deriva na tempestade. Terra firme mesmo é a Palavra de Deus. Coisa boa é a verdade.

 

Diz o salmo: A palavra de Deus é a verdade; sua lei, liberdade. E o cristão é o cara da verdade. Seu sim, seja sim. Seu não, seja não, foi o conselho de Jesus. Gente da verdade: é o que o mundo está precisando. Gente que não se deixa enganar, que ama o que é certo e luta pelo que é justo. Não se esconde atrás de mentiras e histórias mal contatadas. Afinal, mentira tem pernas curtas.

 

Escrevi uma música para o meu novo Cd que diz: "O mundo necessita de profetas; de gente que rejeita a falsidade, de gente que acredita na verdade, de gente que tem sua opinião. E eu sou amigo da verdade, meu sim é sim. Meu não é não. E eu não posso mais ficar calado, eu sou profeta, eu sou cristão".

 

 Pe. João Carlos – 14.04.2011

Meu batismo foi na páscoa

Quando eu fui batizado, recebi uma vela acesa. Meus pais e meus padrinhos sustentaram comigo aquela luz. E o padre disse: Jesus Cristo é a sua luz. Aquela luz acesa era uma representação do que tinha acontecido comigo no batismo: eu renasci como uma nova criatura. Fui lavado nas águas da morte de Jesus. Renasci com ele. Recebi o dom do seu Espírito, para viver em comunhão com Deus como um filho. Que grande graça foi o meu batismo!

 

O batismo marcou o começo de minha caminhada. Foi um dom para toda a minha vida: eu sou uma pessoa em comunhão com Deus, integrada na comunidade dos seguidores de Jesus. Fui crescendo nessa convicção. Minha mãe me lembrava sempre: você foi batizado, você tem parte com Deus, ele o adotou por filho. E eu não posso me esquecer nunca disso. Eu sou filho de Deus. E isso foi obra de Jesus que morreu na cruz oferecendo sua vida ao Pai por mim. E por você, também. No batismo, eu morri com ele e ressuscitei com ele. Foi o que São Paulo explicou. Não posso esquecer disso, nunca.

 

E para viver com maior consciência esse imenso dom da comunhão com Deus, da filiação divina, a grande comunidade dos batizados está sempre programando tempos de avivamento e celebração. É assim que todo ano tem a Quaresma. Um tempo forte para me ajudar a reavivar em mim a consciência desse dom do batismo, a graça de viver em comunhão com o Pai, por meio do Filho, no Espírito Santo. E eu tenho que crescer ainda mais nessa fé, renovando, confirmando o meu compromisso de seguidor de Jesus. Então, a quaresma é a grande oportunidade que eu não posso perder.

 

Na Quaresma, a Igreja fica falando que a gente precisa rezar mais, esforçar-se mais e ser mais caridoso com os outros. Vejo mesmo que esses 40 dias são como um treinamento, pra que eu fique mais forte, com mais força pra vencer a tentação e o mal, pra que eu viva na fé. Esse caminho de 40 dias me leva à celebração da Páscoa de Jesus. E esse é o tempo mais importante para um cristão: a semana santa, o tríduo pascal, a festa da páscoa.

 

Outro dia ouvi o papa dizendo uma coisa: a quaresma leva a gente para a noite da vigília da páscoa, pra gente renovar as promessas do batismo. É o sábado de aleluia. Faz sentido, eu fui batizado na morte e na ressurreição de Jesus. E isso é a páscoa. Então a páscoa é o dia do meu batismo. O dia em que eu renasci como nova criatura, em Cristo. Então é por isso que a gente acende de novo a vela e renova o compromisso de caminhar iluminado por Cristo.

 

Pe. João Carlos Ribeiro – 12.03.2011

 

 

"Assim como acolheste o Cristo Jesus, o Senhor, continua caminhando com ele. Continua enraizado nele, edificado sobre ele, firme na fé tal qual te foi ensinada, transbordando em ação de graças" (Col 2,6-7)

 

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