PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA

As três desculpas

Não sei se é o seu caso. Mas, tem muita gente que se desligada da  vida da Igreja por razões fúteis e contenta-se com desculpas esfarrapadas. Na verdade, falta-lhe o amor.

Não faltam desculpas para quem não quer participar da Igreja. Não encontra tempo pra ir à Missa, não encontra motivação para viver em comunidade a sua fé.  “Ah, não posso, não tenho tempo, ando muito ocupado. Ou: vivo para o trabalho, quando chego em casa não tenho mais ânimo pra nada. Ou ainda: ah, quem tem família, com filhos pequenos ainda, não tem condições de participar”. Essas desculpas já eram dadas no tempo de Jesus.
E o próprio Mestre ilustrou uma história com as três desculpas que ele ouvia sempre. Alguém preparou uma bela festa e convidou um bocado de gente. Um disse que não podia ir porque tinha comprado uma terra e estava louco pra ver o novo sítio. Outro tinha adquirido cinco juntas de bois pra lavrar a terra e ia começar o serviço. Um terceiro tinha se casado e, claro, mandou pedir desculpas, não podia ir à festa. Ninguém foi, que decepção!
O que tinha comprado o campo representa bem os que têm muitos bens e não se lembram de nada mais fora deles. Pode ser uma casa, uma empresa, uma fazenda, um carro. Se não se tomar cuidado, os bens podem virar donos da gente, ser nossos senhores. A gente é que tem que ser dono das coisas, não o contrário. Os bens materiais podem se tornar um verdadeiro Deus ao qual me sacrifico ou sacrifico os outros. E Jesus disse claro que não se pode servir a dois senhores, a Deus e aos bens materiais, representados no dinheiro. O apego aos bens materiais leva muita gente a não frequentar a Igreja, a não se lembrar do Deus verdadeiro. Já tem seu próprio Deus.
O que ia lavrar a terra com seus novos bois bem pode representar os que não acham tempo pra Deus por causa do trabalho. O trabalho parece que é tudo, não dá mais tempo para fazer nada. Uma boa desculpa para não pisar na Igreja. Diz que não dá tempo, que está cansado. Mas a pessoa não vive só para trabalhar. No início da Bíblia, se diz que Deus trabalhou seis dias na criação do mundo e no sétimo, descansou (Gn 1). E o livro do Êxodo comenta: “Seis dias trabalharás, no sétimo descansarás, que é o repouso do teu Deus” (Ex 10).  Parar, celebrar, ir à Igreja é um modo de reconhecer o senhorio de Deus em nossa vida, que só ele é o nosso único Deus e Senhor.
Aquele que disse que tinha se casado e por isso não podia ir à festa representa os que têm responsabilidade na família e por isso se consideram impedidos de ir à Igreja. Então, a família tomou o lugar de Deus? E Jesus tinha alertado: “Quem amar seu pai e sua mãe mais do que a mim não é digno de mim. Quem amar seu marido ou sua esposa ou seus filhos mais do que a mim, não é digno de mim”. Se Deus é o mais importante, então uma visita não pode me impedir de ir à Missa. Nem uma festinha em família, ou uma criança pequena. Deus é Deus e merece o melhor de mim, do meu tempo, do meu amor. “Amar a Deus sobre todas as coisas, acima de todas as pessoas”, esse é o mandamento.
Não faltam desculpas para quem não quer participar da Igreja. Os bens materiais que me prendem, o trabalho que me toma o tempo todo, a família que precisa de mim. Apesar da resposta negativa de alguns, Deus continua nos chamando para a festa, que é o Reino de Deus. E abrindo suas portas para outros mais desapegados, mais disponíveis, mais fiéis.
Pe. João Carlos Ribeiro 

Quem quer saber de morte?

Quem quer saber da morte? Ninguém. Ela é representada como uma velha com uma foice afiada vagando pelo mundo, rondando os seres humanos, para ceifá-los como trigo. Ninguém quer morrer, e, no entanto, todos vamos morrer. Temos horror à morte e nos desesperamos inconsoláveis quando perdemos um ente querido. Se a morte é uma certeza, não seria melhor nos reconciliarmos logo com ela, melhorarmos nossa relação com ela?

Nossa cultura não lida bem com a morte. Esconde-a. Morre-se, hoje, na UTI, sem assistência dos entes queridos, sem o afeto da família. A morte virou um grande negócio nos hospitais. Arrasta-se a vida quase vegetativa até não mais se poder.  Nossa cultura banalizou a morte. São tantas as mortes no trânsito e na violência urbana, que não passam de números e estatísticas frias. Nas guerras, nas catástrofes impressionam mais os estragos físicos do que a morte de seres humanos. Nossa cultura mente, adiando indefinidamente a morte. “Você vai ficar bom, não há de ser nada”, se diz a um moribundo, perdendo-se a chance de ajuda-lo a enfrentar seus últimos momentos com o conforto da fé.

A morte é um evento natural líquido e certo na vida de cada um. Como cristãos, podemos ter uma relação mais harmoniosa com a morte. Precisamos fazer as pazes com a morte. Segundo o Novo Testamento, o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor". É o que está escrito na Carta aos Romanos (Rm 6,23). A morte foi vencida pela ressurreição de Cristo, já não pode mais nos assustar. Fomos sepultados com ele, pelo batismo, na sua morte. Agora, já participamos de sua vitória, de sua ressurreição. Assim, a morte já não tem mais poder. Ela foi vencida pela ressurreição de Cristo. Nosso caminho é o da vida, mesmo passando pela morte.

São Francisco de Assis fez as pazes com a morte. Tomou-a por irmã. Integrou-a no rol de todos os eventos de sua vida humana, a um tempo frágil e destinada à vida eterna.  São Francisco preparou o momento de sua morte. Convocou os seus confrades para entoarem o cântico das criaturas, onde um verso dizia: "Louvado sejas, meu Senhor, por nossa Irmã, a morte corporal, da qual homem algum pode escapar!". Fez as pazes com a morte.  Santo Agostinho, também ele reconciliado com a morte, deixou escrito: "A morte não é nada.  Eu somente passei para o outro lado do Caminho. Porque eu estaria fora  de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas?”

A morte não é o fim. É a porta para a vida definitiva. Pois "é morrendo que se vive para a Vida Eterna", como cantamos na Oração de São Francisco. Precisamos urgentemente nos reconciliar com a morte. Para viver melhor.


Pe. João Carlos Ribeiro

Faça as pazes com a morte

Não era para o cristão ter medo de morrer, não era mesmo. Toda a vida cristã está marcada pela dinâmica da morte e ressurreição, pela dinâmica da Páscoa de Cristo. A gente já começa a vida cristã fazendo um exercício de morte.

O que é o batismo senão uma participação na morte de Cristo? Só há ressurreição se houver morte, ou não? O apóstolo Paulo ensinou isso claramente: no batismo mergulhamos nas águas da morte, com Cristo. Ali afogamos o pecado, morremos para o pecado. Renascemos para a graça. Ressuscitamos justificados por Cristo.

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