Os vizinhos e parentes ouviram dizer
como o Senhor tinha sido misericordioso para com Izabel e alegraram-se com ela
(Lc 1, 58).
24 de junho de 2018.
Este domingo, 24 de junho, é especial. É o dia de São João. E
o encerramento da semana nacional do Migrante. E tudo isso celebrado no dia do
Senhor, no dia em que festejamos a ressurreição de Jesus, a sua e nossa vitória
sobre tudo quanto existe de ruim no meio do mundo. Então, um bom domingo pra
você e pra sua família, com muita alegria no coração.
Falei ‘alegria’. Disto, nos falam as leituras da palavra de
Deus desta solenidade do nascimento de São João Batista. Alegria pelo
nascimento de uma criança. E isto, hoje, pra mim que estou ainda na África, em
Angola, tem um sabor muito especial. Criança é o que não falta por aqui.
Criança teimando em nascer e crescer, no meio de uma pobreza tão grande, num
país em reconstrução, depois de uma longa guerra civil terminada há apenas 16
anos!
A alegria dos vizinhos e parentes foi grande ao saber do
nascimento do filho de Izabel e Zacarias. Alegria que se espalhou pelas montanhas
de Judá, diz o evangelho. Uma criança não é obra do acaso, a vida humana é obra
de Deus. Na chegada de uma criança, há algo de especial, de inesperado, por
mais que os pais se preparem. A criança não é o fruto de um planejamento. Os
pais podem, responsavelmente, planejar-se para acolher do melhor modo possível
a vida que vai chegar. Mas, não a produzem, a acolhem. E o ser humano que
chega, gerado pelos pais, já estava no pensamento de Deus, antes de existir. O jovem
Jeremias ouviu Deus lhe dizer: “Antes de te formar no seio materno, eu te
conheci; antes de saíres do ventre de tua mamãe, eu te consagrei”. O servo de
Javé do Livro do profeta Isaías declarou: “O Senhor chamou-me antes de eu
nascer, desde o ventre de minha mãe ele tinha na mente o meu nome”. O ser
humano é obra do Deus criador, no milagre da geração humana e na criação de sua
alma.
Os parentes e vizinhos de Izabel alegram-se com ela.
Surpreendem-se com a ação misericordiosa de Deus na vida daquele casal idoso e
estéril. Reconhecem a obra de Deus na vinda daquele menino ao mundo. Intuem que
aquela criança está destinada a uma missão muito especial. Dos fatos do nascimento e circuncisão do
filho de Izabel, podemos recolher lições importantes para nós, hoje. Recolhamos,
ao menos, três lições.
Primeira lição:
desejar e acolher o filho. Aqueles pais idosos, sem filhos pela
esterilidade da mãe, desejavam o filho. Pediram muito a Deus por isso. O anjo
disse a Zacarias, quando este oficiava no Templo: “Deus ouviu tua súplica”. O Senhor,
no seu tempo, lhes concedeu esse dom tão precioso. Desejar o filho é a primeira
atitude dos que constituem família. Ser pai e mãe é responder a uma vocação, a
um chamado especial de Deus. Filho dá trabalho, altera a vida do casal. Mas, ao
desejar e acolher um filho, os pais realizam a sua vocação, fonte de felicidade
e realização.
Segunda lição:
dar-lhe um nome. Os judeus circuncidavam o menino no oitavo dia e lhe davam
o nome nessa cerimônia familiar, pela qual inseriam a criança na aliança com
Deus. Dar um nome é dar uma identidade, assegurar-lhe um lugar na família e no
seu povo. A vida de um ser humano é um mistério de possibilidades abertas ao
futuro. Não é apenas uma continuação dos pais. Na casa de Izabel, os parentes
ficaram confusos. O menino recebeu um nome em desacordo com a tradição familiar,
não recebeu o nome do pai. “João é o seu nome”, escreveu o pai numa tabuinha.
Foi um gesto de obediência a Deus que tinha mandado dar esse nome, em vista da
missão que o menino desempenharia. A criança precisa ter um nome, um sobrenome,
uma identidade, um lugar na família, na sociedade. As famílias cristãs dão
nomes cristãos aos seus filhos, providenciam seu registro de nascimento, integram-nos
na comunidade dos discípulos pelo batismo e os educam para serem úteis e
significativos na sociedade. Dão-lhe um nome.
Terceira lição: Sermos
solidários com as famílias. Foi essa a atitude dos parentes e vizinhos do
abençoado casal. Eles alegraram-se com Izabel, na gravidez e no nascimento da
criança, ao perceber como o Senhor tinha sido misericordioso para com ela. Uma
atitude de fé e de exultação interior. Eles também ficaram admirados,
surpresos, diante do nome recebido pela criança. Uma atitude de quem se deixa
surpreender pela ação de Deus. Uma parenta de Izabel mostrou-se particularmente
solidária: Maria. Ela esteve presente, ajudando sua prima nos últimos três
meses da gestação. Maria e outros parentes e vizinhos mostraram-se próximos,
solidários, interessados no bem daquela família. A pobreza da grande maioria do
povo angolano, com alto índice de mortalidade infantil, pede nossa
solidariedade, por ações de voluntariado, pelo sustento das missões católicas,
pela oração em favor dos missionários que operam aqui. Mas, Angolas existem aí
perto de você. São situações a nos pedir presença e solidariedade através da
pastoral familiar, da pastoral da criança, de ações cidadãs em defesa da vida,
da saúde, da educação das crianças.
Vamos guardar a
mensagem
No dia de hoje, em que celebramos o nascimento de São João
Batista, recolhamos as lições do evangelho no cuidado e na defesa da vida das
crianças. Primeira lição: desejar e acolher o filho; Segunda lição: dar-lhe um
nome. Terceira lição: Sermos solidários com as famílias e suas crianças. Cuidar
bem dos próprios filhos e nos sentirmos todos responsáveis pela defesa e proteção
das crianças.
Os vizinhos e parentes ouviram dizer como o Senhor tinha sido misericordioso para com Izabel e alegraram-se com ela (Lc 1, 58).
Vamos rezar a palavra
Rezemos o
canto de Zacarias, o pai da criança:
Serás profeta do Altíssimo, ó menino,
pois irás andando à frente do Senhor
para aplainar e preparar os seus
caminhos,
anunciando ao seu povo a salvação,
que está na remissão de seus pecados;
pelo amor do coração de nosso Deus,
sol nascente que nos veio visitar lá
do alto
como luz resplandecente a iluminar
a quantos jazem entre as trevas
e na sombra da morte estão sentados
e para dirigir os nossos passos,
guiando-nos no caminho da paz.
Vamos viver a palavra
Havendo uma
oportunidade, nesta semana, faça um gesto de atenção em relação a uma família
pobre e suas crianças.
Pe. João Carlos Ribeiro – 24.06.2018