Pe. João Carlos Ribeiro
Quem tiver ouvidos para ouvir,
ouça. Foi o que Jesus falou. Quem tiver ouvidos para ouvir. Significa que existe alguém que tem ouvidos,
mas não escuta. Como ele disse, tem olhos, mas não vê. E o que há para ver e
escutar? O que Jesus está anunciando sobre o Reino de Deus. O Reino de Deus que
está se inaugurando com a presença de Jesus. Felizes os olhos que vêem o que
vocês estão vendo. Muitos quiseram ver e ouvir, e não puderam.
Entende-se, então, que há uma
coisa muito boa acontecendo, algo de muito importante está sendo revelado. A
boa notícia, o evangelho, é o Reino. O Reino de Deus. Foi esse o anúncio de
Jesus desde o início de sua atividade missionária: “o Reino chegou,
convertam-se, creiam”. A presença de Jesus salvando, libertando, restaurando é
o Reino acontecendo. As ações e as palavras de Jesus instauram o reinado de
Deus entre nós. Suas palavras são confirmadas por suas atitudes e por suas
ações.
Esse anúncio, essa boa nova
(evangelho quer dizer boa nova) é uma comunicação que muda nossa vida, que dá
novo sentido à realidade. Não é apenas uma notícia entre outras, uma manchete a
mais. É a resposta que a humanidade estava esperando. A chegada do Messias que
Israel acalentara em seus sonhos proféticos ao longo de séculos. É a revelação
de algo maravilhoso: o Reino está ao nosso alcance, está batendo à nossa porta.
Deus está cumprindo sua promessa: “Eis que faço novas todas as coisas”. É por
essa razão que o Evangelho, em confirmação das palavras de Jesus, narra tantos
milagres, curas, exorcismos. É o Reino se instalando como luz, como saúde, como
paz, como perdão.
Não se pode ficar indiferente a
esse anúncio da chegada do Reino. Essa boa nova nos pede uma resposta.
Cobra-nos adesão, acolhida, conversão. Lembra o que Jesus falou? “O Reino
chegou, convertam-se, creiam”. Conversão é mudar o foco e o rumo da própria
vida, sintonizando-a com o Reino. Crer é acolher Jesus e o seu anúncio do Reino
de Deus. Acolher Jesus, porque a Palavra afinal fez-se uma pessoa, o verbo que
se fez carne.
Mas, também é possível a atitude
contrária: não querer ouvir, não querer ver, rejeitar a boa notícia do Reino
que chegou como salvação. A liberdade humana é respeitada por Deus, que nos
criou como seres livres. O Reino não é uma imposição que nos anula, uma nova
ordem que nos é imposta. Resta a liberdade da escolha ou da rejeição. Como diz
o livro santo: “diante de ti estão a vida e a morte. Escolhe!”. Ao amor de Deus manifesto em Cristo, a única
resposta possível é o amor. E não existe amor obrigado, adesão compulsória. Só
na liberdade, o homem pode responder adequadamente ao evangelho do Reino.
Talvez seja por isso que Jesus
alertou: “Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça”.