A Jornada Mundial da Juventude
foi um sucesso, um grande sucesso. A juventude acorreu numerosa, em número
superior a três milhões, superando todas as expectativas. O Papa Francisco
conquistou a todos pela simpatia, pela humildade e pelas propostas de uma
Igreja mãe e servidora. Agora, é hora de cuidar da herança deixada pela JMJ,
isto é, trabalhar para que o que foi plantado dê frutos. Um fruto esperado é
com certeza o fortalecimento da articulação e da ação dos jovens na pastoral de
juventude, em todas as comunidades e dioceses.
A Jornada recolocou os jovens no
centro da cena. A Jornada foi dos
jovens. A imprensa focou muito no Papa, com muita razão, mas não se tratava de
uma simples visita sua ao Brasil. Ele veio como peregrino à Jornada Mundial da
Juventude, veio presidi-la. Aproveitou, é claro, para contatos com o Santuário
Nacional de Aparecida, com os bispos e padres, com as lideranças da sociedade civil.
Mas, mesmo nesses compromissos manteve sempre o foco. Em todos os discursos ele
pôs os jovens no centro da conversa. Em Aparecida, convocou os pais a serem testemunhas
da fé para os filhos. Aos padres e bispos, lembrou que lhes toca o
acompanhamento do seu crescimento cristão. Aos políticos, falou de sensibilidade
para com as manifestações, ouvindo os jovens e assegurando-lhes serviços de
qualidade na educação, na saúde, na segurança. Falando aos jovens na cerimônia
de boas vindas, na via-sacra, na vigília e na Missa de envio não discursou
apenas sobre algum assunto, referiu-se diretamente aos jovens, fazendo-lhe
perguntas, propondo-lhes compromissos, encorajando-os a confiarem e amarem a Cristo.
Refletindo o sentimento geral de simpatia pelo Papa Francisco, os meios de
comunicação deixaram em segundo plano o protagonismo dos jovens.
Não podemos esquecer que por trás
daquela massa humana formidável estão os próprios jovens, com suas organizações
e lideranças: grupos jovens, pastorais de juventude, movimentos, serviços que
articulam e mobilizam os jovens em suas comunidades e dioceses. Não se trata de uma massa mobilizada pela
mídia, embora com certeza a adesão à Jornada tenha recebido um grande incentivo
dos meios de comunicação. Trata-se de uma juventude mobilizada pelas pastorais
de juventude e seus assessores. Em todas as movimentações do evento, viam-se
grupos de mãos dadas para não se perderem na massa, grupos com liderança jovem e
também assessoria de adultos e religiosos. Longe de uma massa de curiosos, via-se
ali grupos que foram articulados lá na base a partir da pastoral de juventude, acostumados
à reflexão conjunta e apoiados por suas comunidades no penoso trabalho de levantamento
de fundos para a viagem. Lá onde a pastoral de juventude ou o setor de
juventude das Paróquias, Dioceses ou Regionais estavam já vivos e animados, o
trabalho fluiu facilmente, na preparação e envolvimento dos jovens. Lá onde a
coisa andava meio parada, a proposta da Jornada estimulou um crescimento de organização. Paróquias e
Dioceses, aproveitando o momento, melhoraram sua organização de pastoral de
juventude ou criaram seus setores de juventude.
A pastoral de juventude é a via
de participação dos jovens na Igreja. Ali, os jovens formam e dirigem democraticamente
seus grupos, contando com o apoio de assessores adultos ou jovens mais
experientes. Os grupos se articulam entre si, em torno de uma organização
paroquial ou diocesana, mas sempre a liderança dos próprios jovens. Os adultos,
pais de família, educadores, religiosas, seminaristas, padres têm um papel
importante na pastoral de juventude: apoiar os grupos em nome da comunidade, acompanhá-los
no seu desenvolvimento espiritual. Estar à frente da pastoral de juventude é
tarefa dos próprios jovens. A pastoral de juventude é o seu espaço de
organização na Igreja, sua área de protagonismo. Falando aos bispos, o Papa
criticou o clericalismo. Pelo clericalismo, as coisas ficam centralizadas e os
leigos são podados em sua liberdade de ação. Isso explica a “falta de
maturidade adulta e de liberdade cristã em boa parte do laicato da América
Latina”, disse o Papa. E isso pode acontecer em relação aos jovens, se não
forem os próprios jovens os protagonistas de sua pastoral.
Em geral, na Jornada, o estímulo
foi à resposta pessoal, ao engajamento de cada peregrino, e esse, de fato, é o
passo inicial. Mas, o grupo é a garantia de continuidade e de aprofundamento. O
jovem não está sozinho, não foi sozinho à jornada, não sobreviverá em ação
missionária isoladamente em sua cidade. A verdade é que a Jornada, em sua
preparação foi movida pelas organizações jovens e pelos setores que articulam a
juventude na base, nas comunidades, paróquias e dioceses. Se o pós-jornada não continuar
favorecendo a organização dos próprios jovens na Igreja, corre-se o risco de a
JMJ se perder num grande entusiasmo passageiro.
Gostei muito de seu artigo padre!
ResponderExcluirParabéns