PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA

Um ‘Recife Feliz Natal’ abençoado

A primeira coisa que chamou a atenção no RECIFE FELIZ NATAL deste ano foi a beleza do local. Na chegada, as pessoas se sentiram acolhidas por um ambiente bonito, arejado e seguro: o quartel do Derby ao fundo, decorado com luzes natalinas; a árvore do Natal Solidário da Rede Globo à esquerda, com a decoração das árvores do entorno;  e, claro, a beleza do nosso palco-móvel,  com sua iluminação e seus telões. Foi proveitosa demais a parceria com a Rede Globo, casando o nosso evento com a programação do Natal Solidário, valendo-nos uma boa divulgação e cobertura do evento e a destinação da campanha de brinquedos. Não se pode esquecer, claro, a disponibilidade do local pelo Comando Geral da Polícia Militar, que não economizou em gentileza e envolvimento com o nosso projeto. Afinal, um ambiente bonito, acolhedor e festivo foi uma das marcas desse evento natalino.

A segunda coisa que chamou a atenção no RECIFE FELIZ NATAL deste ano foi a presença missionária dos cantores religiosos. O primeiro time a se apresentar foi integrado por Paulo Deérre, Orlando Sérgio, Américo Júnior, Cecília Ribeiro e Katiúcia. Claro, a abertura com os Corais Harmonia e Vozes foi brilhante. Os novos cantores mostram a pujança do cenário musical católico, em franca ebulição. A presença do Frei Damião foi importante para celebrarmos o compromisso missionário comum com que participamos na missão da Igreja local, com a comunicação e a música. Cristina Amaral integrou o popular com o religioso, fazendo uma síntese a partir de sua identidade cristã. Frei Jurandir, franciscano que veio de Fortaleza, despertou um grande sentimento de entusiasmo e euforia no imenso auditório. Pe. Antonio Maria, para além de sua bela voz e de seu consagrado repertório, encantou com sua simplicidade, grande empatia e generosidade no acolhimento do nosso convite. E, conferindo a tudo isso um caráter fortemente eclesial, esteve conosco, oferecendo sua mensagem de feliz natal e sua bênção de pastor, o arcebispo Dom Fernando Saburido. Na prece natalina, também rezou conosco Dom Edvaldo Gonçalves do Amaral, amigo e incentivador presente em várias edições desse evento. Os apresentadores, é claro, também contribuíram para o clima de entusiasmo e o desfile integrado das várias apresentações.  A atuação missionária dos comunicadores e cantores religiosos marcaram decisivamente este encontro de música e espiritualidade.

Só um voltou

Eram dez, mas só um voltou para agradecer (Lucas 17, 1-19). Jesus notou isso e queixou-se: "Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser esse estrangeiro?". Todos eles tinham pedido ajuda aos gritos, implorando: "Jesus, tem compaixão de nós".  E até obedeceram a orientação do Mestre de ir logo a Jerusalém para apresentarem-se aos sacerdotes e pedirem o atestado de que estavam curados da lepra podendo retornar às suas famílias. Foram, na verdade, em espírito de fé, porque ainda estavam doentes quando tomaram a estrada. Mas, no caminho, na obediência da fé, viram-se curados. Foi aí que um voltou. E os outros prosseguiram.

Poderíamos até tentar entender as razões dos nove que seguiram para o Templo: eles foram tomar providências para poderem se reintegrar logo em seus povoados. A lei mandava assim: adoeceu de lepra, fica excluído da cidade, vá morar nos matos, não se aproxime de ninguém; ficou bom, vá ao Templo e pegue um atestado pra poder entrar de novo no seu povoado.  Só que ficar bom de lepra era muito difícil. Enquanto caminhavam, viram-se curados. Voltar para avisar a Jesus e agradecer ou seguir pra resolver logo o seu problema? Eles nem titubearam. Prosseguiram para Jerusalém. Com certeza, se não foram capazes de voltar e reconhecer a obra que Jesus tinha feito por eles, em Jerusalém não iriam dizer que foram curados por ele. Com certeza, relataram que estavam curados, e pronto. Pensaram apenas neles mesmos. Precisaram, imploram. Ficaram bons, esqueceram-se. Não viram necessidade de reconhecer a intervenção de Deus, por meio de Jesus. Usufruiu da graça, tá bom demais. Gente egoísta só pensa em si. Estou falando dos nove de hoje. Os nove de ontem mostraram-se egoístas, interesseiros, mal-agradecidos. Os nove de hoje continuam os mesmos de ontem.

Mas um preferiu voltar para agradecer, para bendizer a Deus pela cura. Sentiu-se na obrigação de voltar. Lucas descreveu assim: "Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. E este era um samaritano". O fato de ser samaritano foi notado por Jesus: "Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?". O fato de ser samaritano possivelmente lhe trazia maior dificuldade de reconhecer que a obra de Deus teria acontecido em sua vida pelas mãos de um judeu. Isso era muito mais difícil para ele, que vinha de uma tradição religiosa um pouco diferente, em conflito com a religião e o mundo dos judeus. Mas, logo ele, um estrangeiro, manifesta sua gratidão, bendiz a Deus e reconhece a presença de Deus em Jesus, pois se prostra aos seus pés em sinal de adoração. "A tua fé te salvou", lhe disse Jesus.

Salvar a família pra consertar o mundo

É só abrir os jornais ou ler os noticiários para ver que há uma grande preocupação com as guerras, a crise econômica, a corrupção na política. De fato, o avanço do terrorismo do estado islâmico é uma grande ameaça para o mundo. E o desemprego continua a empurrar os jovens em migração em busca de oportunidades em outras terras.  E a corrupção destrói a credibilidade dos governos e enfraquece a confiança das pessoas na política. Mas, talvez haja um problema mais de fundo, uma coisa mais básica e mais vital que esteja em profunda crise. É, não tenha dúvida, a família. Estamos passando por uma profunda mudança cultural que está esfacelando ou ao menos redesenhando a família. A crise do mundo passa pela crise da família.

O Papa Francisco convocou um duplo Sínodo para tratar deste assunto: os desafios pastorais da família, no contexto da evangelização. Sínodo é uma grande reunião com representantes da Igreja de todo o mundo, para refletir e propor soluções no serviço da evangelização. Após a reunião extraordinária neste ano, o Sínodo volta a se reunir no ano que vem e aí deve tomar decisões importantes, com o Papa, sobre este tema tão candente. Antes do Sínodo, em todas as Dioceses do mundo foi respondido um longo questionário que indagou sobre os problemas da família, o que está acontecendo, o que se está fazendo e o que poderá ser feito melhor. O Sínodo será a grande resposta da Igreja: como nós, missionários do evangelho de Jesus, vamos contribuir para fortalecer a família como uma célula básica da sociedade e da Igreja.

Mas, as respostas não estarão apenas no final do Sínodo. A resposta já está presente no próprio acontecimento sinodal: temos que nos dar conta do que está acontecendo e sair em defesa da família, ajudando-a a realizar bem sua tarefa de escola de comunhão, de cidadania e de fé. O Sínodo já é uma reposta. Precisamos ser gente que escuta a realidade e age para transformá-la. Não podemos ficar de braços cruzados, “vendo a banda passar”, apenas nos lamentando pelo desmonte da família por uma sociedade que estimula o individualismo, o consumismo e a busca de prazer a qualquer custo. O Sínodo é uma grande lição: um espaço  coletivo de discussão, em clima de abertura e franqueza, para conhecer a realidade e o pensamento dos outros e reafirmar nosso compromisso com Cristo para iluminar o mundo com a luz do seu Evangelho.

E as dificuldades para se realizar bem a família são bem conhecidas, porque são feridas em nosso próprio corpo. Perguntei no facebook: qual é o maior problema da família hoje? Centenas de respostas apontaram desunião, falta de diálogo, individualismo; os vícios, a bebida, as drogas; a infidelidade; a falta de respeito e obediência dos filhos; a doença e tantas outras situações causadoras de sofrimento para as pessoas. A família sofre as consequências de um mundo que se afasta dos valores cristãos e se entrega à lógica do mercado.

Mas, o tempo não é apenas de lamentação, requer ação. E nós precisamos nos unir para fazer alguma coisa pela família. E há muito o que fazer. E cada um precisa fazer sua parte. E por onde podemos começar? Iniciemos por onde o Sínodo começou, percebendo que família é um dom de Deus, acolhido com fé. A família já estava no pensamento de Deus, desde o princípio. Somos família, porque fomos criados à sua imagem e semelhança. Vamos começar com uma visão de fé e de confiança nessa obra prima de Deus.  Ela nasceu para dar certo. Ela conta com a força do alto. A família não é apenas uma necessidade para nós, para a sociedade e para a Igreja. Ela é importante também para Deus que a assiste sempre, para que ela seja um lugar de sua bênção e de seu amor. Ter uma visão de fé sobre a família já é um bom começo para nós que estamos mergulhados nesse mundo de guerras, de crise econômica, de corrupção política. Vamos salvar a família, pra consertar o mundo.

Pe. João Carlos /Ribeiro, sdb  -  09.10.2014




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