Enquanto rezava, seu rosto mudou de
aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante (Lc 9, 29)
17 de março de 2019.
Foi uma semana de muitos sustos, não foi? O massacre na
escola de Suzano, na quarta. O atentado contra comunidades muçulmanas, na Nova
Zelândia na sexta. E as preocupações com a reforma da previdência e outras coisinhas...
Um tempo difícil pra se viver. Cresce a
violência, cresce a insegurança.
No meio de tudo isso, estamos nós, com a nossa luta diária e
o nosso corre-corre. Todas as crises desse tempo – na família, na igreja, na
escola, no estado – mexem com a gente. Sentimos que fazemos parte do problema
e, esperemos, da solução também. O que será que a fé dos cristãos tem a dizer
num momento como este? E será que podemos ou devemos fazer alguma coisa,
no meio dessa situação?
Vamos ver se o evangelho de hoje nos ajuda a pensar mais em
tudo isso. Claro, a Palavra de Deus é uma luz para iluminar o nosso caminho, a
nossa realidade. Não conta apenas uma história antiga, mas nos ajuda a perceber
a presença e a ação de Deus hoje, em nossa história.
Jesus subiu ao monte, para rezar. E foram três discípulos
com ele: Pedro, Tiago e João. Em oração, as feições de Jesus se iluminaram,
suas vestes ficaram muito brancas e brilhantes. E apareceram, conversando com
ele, dois personagens do Antigo Testamento, Moisés e Elias. Os discípulos
estavam sonolentos e acabaram dormindo. Ao despertar, viram aquela beleza toda.
Pedro teve uma ideia: fazer três tendas para Jesus e seus dois amigos, para
ficarem por ali mesmo, no alto da montanha. Foi chegando uma nuvem e eles
terminaram dentro dela, cheios de medo. Ouviu-se, então, uma voz: “Este é o meu
filho, o escolhido. Escutem o que ele diz”. Nisso, Jesus ficou só. E eles
ficaram calados, e, depois, não disseram nada a ninguém daquilo tudo.
Um pouco antes dessa cena, Jesus tinha feito o primeiro
anúncio de sua paixão. E tinha avisado que quem quisesse segui-lo precisava
também tomar sua cruz. Os discípulos estavam meio assustados com tudo isso. No
monte, acompanhando Jesus em sua oração, eles fazem experiência de sua glória. Eles o vêm luminoso. É uma revelação sobre a
pessoa de Jesus e seu caminho. Moisés e
Elias, conforme escreveu o evangelista Lucas, estavam conversando com Jesus sobre
o seu êxodo, isto é, sobre sua passagem pela morte, sua volta ao Pai. Em
Jerusalém se cumpririam a paixão, a ressurreição e a ascensão de Jesus ao céu.
Esse é o êxodo de Jesus, a sua passagem libertadora ao Pai. A nuvem é um sinal bíblico
da presença de Deus, como no monte Sinai. A nuvem os cobriu. Eles ouvem a voz
de Deus, apresentando o seu filho, o Messias; e recomendando que o escutem.
Numa palavra, os discípulos, no monte, em oração com Jesus, o reconhecem em sua
glória: as Escrituras Sagradas, representadas por Moisés e Elias, explicam o
sentido de sua vida, de sua paixão e anunciam a sua vitória; o próprio Deus o
revela como Filho e Messias. A eles, cabe agora escutá-lo, crer nele, segui-lo.
Toda essa experiência maravilhosa que eles viveram no monte serviria
para iluminar sua vida e seu seguimento de Jesus, mesmo em tempos difíceis,
como os que estavam chegando, o da paixão. Eles, infelizmente, não assimilaram
logo essa linda experiência. No começo, enquanto Jesus está em oração, eles
estão com sono, cochilando, dormindo. Depois dentro da nuvem, eles sentem muito
medo. O texto termina dizendo que eles ficaram calados, naqueles dias não
contaram a ninguém o acontecido. Foi assim que enfrentaram os dias turbulentos
da paixão: meio entorpecidos, com medo e silenciosos. Mas, com a vinda do
Espírito Santo, tornaram-se testemunhas destemidas de Jesus.
Guardando a mensagem
Vivemos dias turbulentos. O nosso mundo vive uma grande
crise. É um período de mudanças e desencontros. E todos estamos meio atordoados
e temerosos. É assim que nos apresentamos em nossa oração com Cristo, em nossas
celebrações: sonolentos, temerosos, calados. Sonolentos, porque não estamos em estado de vigília como Jesus
pediu, não estamos suficientemente despertos, ativos, informados. Temerosos, porque não sabemos como agir
nesse momento e ficamos com medo do futuro. Calados,
porque não estamos proclamando a mensagem de esperança que vem de nossa fé em
Jesus. No monte, os discípulos fazem uma profunda experiência, em oração.
Jesus, o filho de Deus, o escolhido, vai sofrer um bocado e enfrentar a morte
na cruz, mas esse seu caminho está alicerçado na história de fé do povo
bíblico, por ele alcançará vitória completa. Deus, o Pai, está com ele e confirma
o seu caminho.
Rezando a palavra
Senhor Jesus,
No meio de suas dificuldades,
os três discípulos tocaram de perto o mistério de tua glória, experimentaram um
pedacinho de céu. Aquela experiência, vivida na oração, serviria para animá-los
e confirmá-los no caminho do teu seguimento, carregando também a sua cruz. Senhor,
certamente esse é também o sentido de nossas celebrações. No meio de tantos
problemas, respirarmos o ar da esperança, tocarmos a glória de Deus que é a
realidade última e definitiva. E, assim, descermos a montanha, como testemunhas
de que o caminho dos humildes, dos justos, dos perseguidos é um caminho de
vitória; que Deus não nos abandona; que tu, Senhor Jesus, caminhas à nossa
frente; que a paixão abre caminho para a ressurreição, a vida plena, a
felicidade completa, obra tua, ó Redentor. Nosso encontro semanal contigo,
Senhor Jesus Ressuscitado, na Santa Eucaristia, é o nosso Tabor, o monte da
transfiguração. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.
Enquanto rezava, seu rosto mudou de
aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante (Lc 9, 29)
Vivendo a palavra
Todo dia, a gente toca de perto a perplexidade das pessoas
diante da situação do país e do mundo. Hoje, não engrosse a lamentação. Não
espalhe má notícia. Não diga que está sem jeito. Hoje, acenda a luz da
esperança, da fé em Jesus Cristo Ressuscitado. Ele é a razão de nossa
esperança.
Pe. João Carlos
Ribeiro – 17.03.2019