Quem não é contra nós é a nosso
favor (Mc 9, 40)
30 de setembro de
2018.
Vivemos numa sociedade pluralista: muitas opiniões, muitas
visões de mundo, muitas escolhas possíveis. Houve um tempo, no Brasil, em que o
pensamento cristão católico era dominante. Todo mundo pensava conforme a tradição
da fé católica. Quem pensasse diferente era repreendido e descriminado. Hoje, a
coisa já não é mais assim. Sentimos que o pensamento cristão é cada vez mais,
na sociedade, um pensamento, ao lado de outros. Sabemos que estamos com a
verdade, mas não somos donos da verdade. Há outros que também expressam essa
mesma verdade, seja porque são cristãos de outras igrejas, seja porque são
pessoas de boa vontade que estão buscando sinceramente o bem.
Essa nova condição que vivemos hoje nos assusta. Pertencemos
a uma instituição bimilenar, que vem guardando fielmente o depósito da fé,
desde o tempo dos apóstolos. Mas, agora convivemos com pessoas e instituições
que expressam sua fé, suas crenças, independentemente de nós. Algumas dessas crenças parecem próximas das
nossas, outras parecem bem diferentes e até opostas às nossas. Não é que tudo
agora seja relativo e esteja todo mundo certo. Isso não. Mas, já não somos os
únicos, nem podemos negar que outros possam estar próximos da verdade.
Em outros tempos, essas divergências podiam se resolver
facilmente pela negação do diferente, por sua proibição ou pela repressão às
novas crenças e atitudes. Hoje, se espera que estejamos em condição de agir de
forma diferente.
O evangelho (de hoje – Marcos 9) vem em nosso auxílio. Os
apóstolos encontraram alguém expulsando demônios em nome de Cristo. Mas, esse
tal não fazia parte do grupo deles. Então, eles o proibiram. “Quem já se viu,
usando o nome de Cristo, expulsando demônios em seu nome e não pertencer ao
nosso grupo!”. Jesus não concordou com essa atitude. “Não façam isso. Não proíbam.
Ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é
contra nós é a nosso favor”.
O que essa cena nos ensina? A missão não estava só no grupo
dos discípulos, mesmo eles tendo a presença de Jesus. A missão também estava
acontecendo fora do grupo deles. Aquela pessoa não era um inimigo, nem estava
usurpando o poder deles. A mão de Deus
operava também lá, mesmo fora do grupo deles. A visão de Jesus é surpreendente:
“Quem não é contra nós é a nosso favor”. Isto é, é alguém que está somando
conosco.
E aquela cena do livro dos Números (Nm 11)? Deus distribuiu
um pouco do espírito de Moisés com 70 anciãos. Dois deles nem estavam na
reunião. Estes, lá no acampamento, começaram a profetizar. O ajudante de Moisés
correu para avisar: “Moisés, meu senhor, manda que eles se calem”. Olha a
resposta de Moisés: “Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o
Senhor lhe concedesse o seu espírito”.
O que essa cena nos ensina? Deus distribui seus dons de
maneira surpreendente. O Espírito sopra onde quer. Cabe-nos, com espírito de fé,
reconhecer a ação de Deus, que age para além dos nossos limites culturais e
religiosos.
Guardando a mensagem
Já no Concílio Vaticano II, a Igreja, examinando sua
presença no mundo, reconheceu que as sementes do Verbo estão em todas as
culturas; e que, mesmo aonde não chegaram os nossos missionários, o Espírito Santo
já chegou e lá vem atuando para que todos cheguem ao conhecimento da
verdade. Mesmo nos reconhecendo
portadores do Evangelho do Senhor ao mundo, nos cabe sempre uma atitude de
humildade, de diálogo, de abertura para com quem não pensa como nós ou que não pertence
ao nosso grupo. Moisés não se deixou levar pelo ciúme: “Quem nos dera que todo
o povo do Senhor profetizasse”. Jesus nos deixou o exemplo maior: “Quem é não é contra nós é a nosso favor”. Humildade,
diálogo, tolerância, para sermos significativos no Brasil de hoje e
contribuirmos na construção de um mundo melhor.
Quem não é contra nós é a nosso
favor (Mc 9, 40)
Rezando a palavra
Senhor Jesus,
Essa tua palavra chega
mesmo numa hora em que estamos, em nosso país, em um momento de extrema polarização
e nenhum diálogo. Queremos aprender contigo: dialogar, não eliminar o adversário; expor a nossa verdade, não impor a
nossa verdade; saber conviver com quem pensa diferente, sem deixarmos de ser fiéis
aos nossos princípios. Senhor, ajuda-nos, com teu Santo Espírito, a aprender também com os outros e nos sentirmos
aliados de quem luta pela vida, pela justiça e pela paz. Seja bendito o teu
santo nome, hoje e sempre. Amém.
Vivendo a palavra
Hoje, sendo o dia da Bíblia, leia Marcos 9, 38-40 e comente
com alguém de sua amizade sobre estes ensinamentos de Jesus tão atuais e
oportunos para os nossos dias.
Pe. João Carlos
Ribeiro – 30.09.2018