03 de agosto de 2018.
Quando o povo ouvia falar de Jesus, uma das lembranças que lhe vinha era a do profeta Jeremias. Os discípulos mesmos disseram a Jesus: “Uns acham que o senhor é João Batista ou Elias; outros, dizem que o senhor é Jeremias ou um dos profetas” (São Mateus 16, 14). Jesus realmente tinha umas coisas parecidas com Jeremias, profeta que viveu no século VI aC . Jesus e Jeremias - cada um no seu tempo - choraram ao ver a cidade santa de Jerusalém, lamentando a sua destruição. Foi Jeremias quem profetizou que o messias seria entregue por 30 moedas de prata. Jeremias tinha avisado que, se as coisas continuassem como estavam, o Templo seria destruído. Jesus disse o mesmo, na purificação do Templo. “Não vai ficar pedra sobre pedra”, disse ele. Uma das reclamações que Deus mandou Jeremias fazer é que o povo não escutava os profetas que ele enviava. Por falar nisso, quando Jeremias foi ao Templo e acabou de dizer tudo o que Deus lhe mandara, foi preso. Os sacerdotes, os profetas oficiais e o povo, todo mundo ficou contra ele. Foi por uma boca só: “Este homem tem que morrer!”. Está vendo, Jesus tinha muito de Jeremias.
A reação do povo contra Jeremias ou contra os profetas de Deus se repete contra Jesus, particularmente na sua terra, em Nazaré. Ele voltou à sua terra e estava pregando na Sinagoga. No início, todos estavam admirados. Aos poucos, a reação passou da admiração à revolta contra ele. Acharam que como ele era uma pessoa oriunda daquela pequena comunidade, não dava para explicar a sabedoria que demonstrava e os milagres que a ele se atribuía. Assim, Jesus não fez ali muitos milagres, porque eles não tinham fé. Essa visita à Sinagoga, segundo o evangelho de São Lucas, terminou mal. Jesus foi expulso da Sinagoga. A observação de Jesus foi “Um profeta só não é bem estimado em sua própria pátria e em sua família”.
Afinal, não creram em Jesus, por quê? Aparentemente, porque conheciam a sua família. Só por isso? Disseram que ele era o filho do carpinteiro, que a mãe era dona Maria e os primos-irmãos dele eram Tiago, José, Simão e Judas. Não havia essa palavra ‘primo’ na linguagem deles, para eles primos, tios, sobrinhos eram ‘irmãos’. E as irmãs também moravam por ali, casadas com certeza. Primas, claro. Afinal, Jesus era uma pessoa conhecida, de uma família dali, tudo gente da comunidade. É isso que eles não engoliam. Deus agir por meio de uma pessoa assim de origem humilde, de um vilarejo sem importância... esse é o problema! Mas, isso faz parte da dinâmica da encarnação. A encarnação é a modalidade pela qual Deus enviou o seu filho, Deus como ele, em igual majestade, nascido na carne; Como disse Paulo, “nascido de uma mulher”. O povo de Nazaré está reagindo contra a encarnação. Não aceitam uma manifestação de Deus assim tão próxima deles.
Vamos guardar a mensagem
A encarnação do verbo é a verdade que desnorteia, que escandaliza o povo de Nazaré. E o povo de hoje, também. Essa reação não está muito longe de nós. Jesus ressuscitado conferiu a missão aos seus apóstolos e os enviou como seus missionários. Comunicou-lhes o seu Espírito e deu-lhes o seu poder. Assim, sua Igreja continua o seu ministério. Os pastores da Igreja, em nome de Cristo, continuam o seu ministério de perdoar, de ensinar, de conduzir... Os líderes das comunidades e todos os servidores do povo de Deus, homens e mulheres, em nome do Senhor, continuam orientando, evangelizando, abençoando. A atitude do povo de Nazaré se repete. Somos conhecidos, conhecem nossos pais e nossos irmãos, sabem de nossa origem humana e periférica, na maioria. Só na fé podem acolher o ministério de Jesus Salvador que exercitamos. Só na fé podem acolher a palavra que pregamos, em nome do Senhor. Sem a fé, podem fechar as portas para a graça que nós comunicamos.
Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família (Mt 13, 57)
Vamos rezar a palavra
Senhor Jesus,
Não foi fácil para os teus conterrâneos te acolherem como profeta e messias. É que eles estavam aguardando alguém que viesse de fora, dos círculos de poder, alguém que se mostrasse poderoso e superior. Mas, tu, de acordo com o teu Pai, vieste na humildade de um galileu daquele terra esquecida, com a sabedoria da convivência com o povo e com a força da confiança em Deus. Tu, Deus verdadeiro, assumiste a condição humana e te expressaste na cultura do teu povo. Assim, nos ensinas a dar valor ao que somos e a valorizar os outros ao nosso redor. Assim, abriste o caminho para te reconhecermos agindo na Igreja e por meio dela, esta comunidade humana e frágil que carrega a grandeza de tua palavra e a força de tua graça redentora. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.
Vamos viver a palavra
Hoje, o STF está abrindo uma discussão sobre o aborto até a 12ª semana de gestação. Ajude a repercutir a palavra da Igreja em favor da vida. Na Igreja, fala Jesus, o salvador da humanidade.
Pe. João Carlos Ribeiro – 03.08.2018