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Um profeta só não é estimado
em sua pátria, entre seus parentes e familiares (Mc 6, 4)
05 de fevereiro de 2020
Diga-me uma coisa: a sua família é
numerosa ou é bem pequena? ... O pessoal de outra geração tinha família muito
grande, não é verdade? No tempo de Jesus, na Palestina, as famílias eram
numerosas. Todos os aparentados com o chefe da casa ou que morassem juntos
pertenciam à mesma família. Os parentes moravam na mesma casa ou eram vizinhos.
E os filhos, claro, se criavam juntos, convivendo com os parentes da mesma idade.
No hebraico, não há palavras específicas para parentes próximos. Todos são
chamados de irmãos. Irmãos podem ser primos, tios, sobrinhos, etc. Irmãos
são todos os que pertencem à grande família.
No evangelho de hoje, aparece uma lista
de irmãos de Jesus. Seriam irmãos mesmo ou é uma forma de designar os parentes
próximos? Vamos à sinagoga de Nazaré pra ver o que está acontecendo. Jesus está
pregando. É um dia de sábado. As pessoas dali mais ou menos devem ser
conhecidas dele. É verdade que ele ficou um tempo fora, mas foi ali que se
criou. As pessoas estão admiradas com sua pregação. Mas, já começa um
burburinho, gente que está estranhando ou querendo desqualificar a presença de
Jesus. Vamos ouvir... “Oi, este homem não é o carpinteiro? É ele mesmo.
Oi, e ele não é o filho de dona Maria? Não é irmão de Tiago, de José, de Judas
e de Simão? E as irmãs dele não vivem todas por aqui? Onde é que arrumou tanta
sabedoria? E esses milagres que dizem que ele anda fazendo por aí? Como é
isso?”.
Vamos sair um pouquinho da sinagoga,
para eu lhe dar uma explicação. Venha aqui fora... Escute só: “Irmãos” é
uma forma de nomear os parentes próximos, possivelmente seus primos, aqueles
com quem ele tinham se criado. Esses supostos irmãos Tiago, José, Simão e Judas
aparecem em outras partes do evangelho, como filhos de outros pais e outras
mães. A Igreja sempre entendeu, lendo a Bíblia Sagrada e escutando a Tradição
desde o tempo dos apóstolos, que Maria teve apenas Jesus. Ele é o seu primeiro
e único filho. Ser primogênito no povo de Deus era uma coisa muito especial,
porque tinha uma relação especial com Deus, era consagrado ao Senhor. Jesus era
um primogênito. Mas, isso não quer dizer que depois dele, vieram outros filhos.
Tira qualquer dúvida o fato de Jesus, antes de sua morte na cruz, ter entregue
sua mãe aos cuidados do seu discípulo João, este era filho de Zebedeu. Se Maria
não ficou com nenhum filho é porque não os tinha, como não tinha mais o seu
esposo José, àquela altura.
Bom, o importante é notar que ter
conhecido Jesus, tê-lo visto crescer entre os seus muitos parentes, foi uma
razão para muita gente em Nazaré não acolher a sua pregação. Tinham um
conhecimento superficial da pessoa de Jesus. Julgavam conhecê-lo. E isso foi
para eles um motivo para fechar o coração para a mensagem de Deus da qual ele
era portador, para a pessoa divina que ele era e para sua mensagem sobre o
Reino de Deus.
Guardando a mensagem
O povo de Nazaré, por ter acompanhado
superficialmente a infância e a juventude de Jesus, por conhecer seus pais e
seus parentes, negaram-se a crer na sua pregação. Fecharam o coração às
maravilhas de Deus que ele testemunhava com suas palavras, suas atitudes e seus
milagres. Que grande oportunidade eles perderam para reconhecer e acolher a
manifestação de Deus na pessoa do seu filho humanado! Eles fecharam-se no
sentimento mesquinho da inveja e do preconceito. Isso pode acontecer com você,
com todos nós. Podemos permanecer com uma vaga ideia sobre a pessoa de Jesus,
perdendo a chance de nos deixar evangelizar com maior profundidade. Ou nos
deixar iludir por discussões inúteis que nos tiram do foco a pessoa do filho de
Deus e seu anúncio sobre o Reino. Não faça como o povo de Nazaré, pelo amor de
Deus.
Um profeta só não é estimado em sua
pátria, entre seus parentes e familiares (Mc 6, 4)
Rezando a palavra
Senhor Jesus,
Ficaste triste em Nazaré, decepcionado.
Não te acolheram. Então, não acolheram o Pai que te enviou. Deram as costas ao
anúncio do Reino de Deus. Foi quando disseste, com certo amargor: “É, um
profeta só não é estimado em sua própria pátria, entre seus parentes e
familiares”. Senhor, longe de nós, hoje, te decepcionar. Não queremos que
nenhum preconceito ou opiniões duvidosas nos impeçam de acolher o evangelho do
Reino que tu nos trazes. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.
Vivendo a palavra
Sabe quem conhece bem Jesus, em sua
humanidade? A mãe dele. Ela pode lhe dizer muita coisa sobre ele. Faça hoje uma
prece a essa nossa boa mãe: “Mãe, me diz quem é Jesus, me fala sobre ele”.
Vou
deixar, no meu blog, depois do texto da Meditação uma página com mais explicações
sobre essa história dos irmãos de Jesus. É só clicar no link da Meditação ou digitar o endereço www.padrejoaocarlos.com.
05 de fevereiro de 2020
Pe. João Carlos Ribeiro, sdb
OS IRMÃOS DE JESUS - UMA EXPLICAÇÃO
Evangelho (Mc 6,1-6)
Naquele tempo, 1Jesus foi a Nazaré, sua terra, e seus
discípulos o acompanharam. 2Quando chegou o sábado, começou a ensinar na
sinagoga. Muitos que o escutavam ficavam admirados e diziam: “De onde recebeu
ele tudo isto? Como conseguiu tanta sabedoria? E esses grandes milagres que são
realizados por suas mãos? 3Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de
Joset, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?” E
ficaram escandalizados por causa dele. 4Jesus lhes dizia: “Um profeta só
não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares”. 5E ali
não pôde fazer milagre algum. Apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as
mãos. 6E admirou-se com a falta de fé deles. Jesus percorria os povoados
das redondezas, ensinando.
Neste texto, são mencionados os irmãos de Jesus: Tiago, José,
Judas e Simão. E ainda se fala genericamente de suas irmãs. Muita gente fica
confusa com essa informação. No Novo Testamento, há sete lugares onde há referências
assim aos irmãos de Jesus.
A língua falada pelo povo de Jesus era o aramaico. Nesta língua
bastante pobre, a palavra “irmão” servia tanto para irmãos de sangue como para os
parentes mais próximos. Especialmente a palavra ‘irmãos’ referia-se a primos.
No livro das Crônicas, há uma passagem em que se diz que fulano não teve filhos,
só filhas. E as filhas se casaram com os filhos do irmão do seu pai, portanto
com os primos. Lá está escrito: “Elas se casaram com os seus irmãos” (1 Cr 23,22).
É só um exemplo. Temos muitos deles na Bíblia: Tio e sobrinho, como Abraão e
Lot são irmãos (Gn 13,8). Parentes próximos
são irmãos, como se lê abundantemente no livro de Tobias. Então, concluímos Tiago,
José, Judas e Simão podem ser primos de Jesus.
Observando as listas de mulheres que estavam aos pés da cruz
de Jesus, na sua morte, nos quatro evangelhos, encontramos também algumas
pistas (Mt 27, Lc 23, Mc 15, Jo 19). Na
lista do apóstolo João, tem Maria, sua mãe, a irmã de sua mãe e Maria Madalena.
Notou? Aos pés da cruz, tem uma tia de Jesus. Na lista de Mateus, além de Maria
Madalena e a mãe dos filhos de Zebedeu, tem uma Maria, mãe de Tiago e José. Notou?
Tiago e José estão na lista dos irmãos de Jesus. Se essa Maria for irmã da mãe de Jesus, então, eles são seus primos.
Na dúvida, temos uma observação prática muito convincente. Do
alto da cruz, em suas dores de morte, Jesus entregou sua mãe aos cuidados do apóstolo
João, que não era seu irmão. “Mulher,
eis aí o teu filho”. E está escrito que daquela hora em diante Maria foi morar na
casa de João. Tivesse filhos ou filhas, eles não permitiriam isso, nunca. A mãe
ir morar com um estranho, imagine!
Cremos com a Igreja que Maria não teve outros filhos, só Jesus. E ela
o concebeu por obra do Espírito Santo. Ele é o filho único de Deus, o unigênito
do Pai.
05 de fevereiro de 2020
Pe. João Carlos
Ribeiro, sdb