PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA: Ecumenismo
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A SALVAÇÃO CHEGOU PARA TODOS

É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas que as crianças deixam cair (Mc 7, 28)


13 de fevereiro de 2020.



Não foi uma coisa fácil as primeiras comunidades cristãs se abrirem para os pagãos. Jesus era judeu. Maria era judia. Os apóstolos, todos judeus. Aquela gente tinha consciência clara de ser o povo de Deus, o povo com quem Deus vivia em uma sagrada aliança. O Senhor Deus mesmo o tinha escolhido como seu povo, libertando-o da dominação dos pagãos no Egito e em Canaã. A orientação sempre foi tomar distância dessas nações idólatras. Então, os pagãos estavam fora do horizonte dos judeus piedosos do tempo de Jesus. Certo, os que queriam viver a fé no Deus vivo podiam se aproximar das comunidades judaicas como prosélitos, mas não com os mesmos direitos. Todo homem judeu estava circuncidado, sinal de sua aliança com Deus. E todo judeu marcava bem sua condição de membro do povo da aliança pelo cumprimento do sábado, da páscoa, das peregrinações e festas anuais e por tudo o que a Lei de Moisés prescrevia.

Na verdade, essa ideia de separação e exclusão dos outros povos cresceu muito com o exílio da Babilônia. Foi quase uma forma de sobrevivência de uma comunidade muito machucada e humilhada pelos grandes impérios que se sucederam. O ambiente em que Jesus nasceu e cresceu era esse. Aliás, tinha um novo complicador: a dominação dos pagãos romanos. Mas, nem sempre se pensou assim em Israel. Quando o povo começou a se formar, Abraão foi chamado por Deus para ser uma bênção para todas as nações da terra. E mesmo nos momentos mais dramáticos da história deles, havia quem pensasse diferente. Vários profetas, como Isaías do tempo do exílio, sonharam com um mundo em que todas as nações conheceriam o Deus verdadeiro e se encontrariam numa grande peregrinação à cidade santa de Jerusalém.

Depois que Jesus voltou para o Pai, as comunidades cristãs foram se espalhando e, aos poucos, foram integrando também pagãos convertidos. Foi uma mudança muito grande, assimilada com dificuldade pelos cristãos que vinham da prática da Lei de Moisés. Chegou-se a uma tensão tão grande, que precisou haver uma reunião em Jerusalém com Paulo, Pedro e todos os apóstolos e lideranças para resolver isso. Afinal, a comunidade se abriu ao Espírito Santo e foi vendo com clareza, que chegara o tempo em que Deus queria que todos conhecessem, amassem e seguissem a Cristo, fossem judeus ou não. E pra seguir Jesus não era preciso ter os mesmos costumes que os judeus (como por exemplo a circuncisão, o sábado, etc.). O cristianismo era um novo momento do povo de Deus, aberto a todas as nações e povos do mundo.

Assim, quando os evangelistas e suas comunidades contaram a história de Jesus, se lembraram desse passo tão sério que foi deixar de discriminar os pagãos para integrá-los na comunidade, como irmãos. Foi assim que Marcos contou que Jesus estava visitando um território pagão e veio uma mulher daquela região pedir-lhe para libertar a filha da dominação do demônio. A resposta de Jesus foi como o seu povo pensava, a resposta de uma comunidade que ainda não tinha acolhido os pagãos como irmãos: “Deixa primeiro que os filhos fiquem saciados, porque não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos”. Os filhos, claros, são os judeus. Os cachorros são os pagãos. Essa era a mentalidade. A resposta da mulher representa bem toda a humildade e o espírito penitente com que os pagãos se aproximaram da fé em Jesus Cristo: “É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas que as crianças deixam cair”. Diante dessa condição necessitada, penitente e humilde dos pagãos, as comunidades abriram os braços para acolhê-los. A resposta de Jesus é o retrato disso: “Por causa do que acabas de dizer, podes voltar para casa. O demônio já saiu de tua filha”. A salvação em Cristo veio para todos.

Guardando a mensagem

O episódio da mulher pagã que foi pedir a Jesus para libertar sua filha do demônio representa bem as pessoas de outros povos e religiões que procuraram a comunidade cristã para participar também da salvação em Cristo. Os seguidores de Jesus tiveram muita dificuldade para integrar os pagãos na comunidade, porque viviam dentro de uma mentalidade de discriminação dos não-judeus. Contando essa história, os evangelistas mostravam como Jesus, dentro daquele contexto de exclusão dos pagãos, rompeu com esse esquema e alargou a sua missão também para os pagãos. Hoje, padecemos também de uma mentalidade que separa claramente o religioso do profano, as coisas de Deus das coisas do mundo. Jesus veio para salvar o mundo. E nos mandou anunciar a salvação a todos. A comunidade cristã tem a vocação de ser uma comunidade em diálogo com o mundo, com as outras religiões, com todos. A Igreja é o fermento na massa, o fermento de Deus no mundo.

É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas que as crianças deixam cair (Mc 7, 28)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,

Tu és o salvador da humanidade. Venceste o pecado e o mal que mandavam no mundo. É assim que lemos no evangelho tantas histórias em que libertaste pessoas do teu povo da dominação do demônio, até mesmo dentro da sinagoga. Nessa história da mulher pagã que foi te pedir para tu libertares sua filha, vemos como tua ação redentora abriu-se também para as pessoas pagãs. Tu te colocaste como missionário do Pai a serviço do bem de todos, sem discriminação. Tua atitude ajudou as primeiras comunidades cristãs a compreenderem que a salvação chegara para todos. Senhor, ajuda-nos a vencer também a estreiteza de nossos pensamentos que nos fecham em nossos templos e não nos permitem ver a missão na sua abrangência no mundo, como bênção que deve chegar a todos, transformando toda a realidade com a tua graça. Nós te agradecemos, Senhor, pela Exortação Apostólica Querida Amazônia, que o Papa Francisco acabou de enviar a todo o povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade. Acolhemos, de coração, o compromisso da evangelização do povo daquela região, sobretudo dos mais pobres, e do vigilante cuidado com a casa comum. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Será que você poderia comentar a passagem de hoje com alguém? Seria um bom exercício de compreensão do evangelho e de compromisso com a missão. O texto de hoje é Marcos 7,24-30.

13 de fevereiro de 2020
Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

QUE TODOS SEJAM UM

Eu lhes dei a glória que tu me deste, para que eles sejam um, como nós somos um (Jo 17,22)
17 de maio de 2018.
Ao aproximar-se a festa de Pentecostes, quando celebramos a vinda do Santo Espírito, a Igreja nos lê a oração sacerdotal de Jesus, em João capítulo 17. Na última ceia, com os discípulos, Jesus ora por nós. Ontem, ficamos encantados como ele pediu ao Pai que não nos tirasse do mundo, mas nos livrasse do mal. Hoje, ele fez um pedido ainda mais especial: ‘que todos sejamos um’, isto é, que vivamos em perfeita unidade.
O que será essa ‘unidade’ que Jesus está pedindo ao Pai para nós? O que podemos pensar de ‘unidade’, nós um povo marcado por tanta divisão, nós mesmos tão egoístas e interesseiros, com tanta gente desencantada pelo desamor e até pela traição. A gente fala de unidade, mas nem sabe mesmo o que realmente seja, nem acredita que realmente ela possa existir entre nós.
Jesus pediu ao Pai que nós sejamos um, como ele e o Pai são um, isto é,  como eles estão identificados no amor. Olha como ele disse: “para que todos sejam um como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste”.
Então, entre Jesus e o Pai existe essa unidade perfeita. A unidade é uma expressão do amor. Jesus, entre nós, manifestou o amor do Pai. Ele nos deu a conhecer quem é o Pai. O Pai amou o mundo e enviou Jesus. O que é de um é do outro. “O que é meu é teu e o que é teu é meu”. No dizer de Jesus, o Pai lhe deu suas palavras e a sua glória.  Jesus ama o Pai e realiza com todo amor a sua vontade. Nada do que Jesus diz ou faz, o faz por sua conta, mas porque o Pai mandou fazer ou dizer. É tanta identificação, que, mesmo sendo duas pessoas, os dois são um, estão em perfeita unidade.
Essa unidade entre o Pai e Jesus é o modelo de unidade que ele está nos apresentando. É assim que devemos viver na comunidade, em unidade, como Jesus e o Pai. O mandamento que ele nos deu foi o amor fraterno - ‘amem-se uns aos outros’ - com um finalzinho muito, muito sério: ‘como eu amei vocês’. E como foi que Jesus nos amou? Dando-se por nós, entregando-se em nosso favor, tomando o nosso lugar na morte. Esse é o amor com que ele nos amou: ‘morrendo por nós’. Então, esse é o amor que devemos aos irmãos: acolher, ser solidário, compreender, perdoar, sacrificar-se pelos outros,... A unidade é uma expressão do nosso amor.
O que Jesus pediu ao Pai, então? Que ele nos ajude a amar; a permanecer em Jesus, nos identificando com ele; a amar os irmãos, como ele nos amou. Jesus nos deu a glória do Pai, que é o seu amor, cuja máxima expressão é o dom do seu Espírito. É o Espírito Santo que nos faz filhos de Deus, que nos forma como discípulos, com os mesmos sentimentos de Jesus. É o Espírito da verdade que nos conduz para a unidade perfeita entre nós e com o Pai e o Filho.
Vamos guardar a mensagem
Jesus pediu para os crerem nele o dom da unidade, sermos um, vivermos em perfeita unidade entre nós e com Deus. Não somente imitemos o Pai e o Filho, mas estejamos neles, na sua própria unidade. Isso é possível, particularmente, pelo grande dom do Espírito Santo, que nos faz filhos, unidos a Cristo. A unidade é possível, porque ela já existe entre Jesus e o Pai, no Espírito Santo. E nós, fomos alcançados pelo amor de Deus manifestado em Jesus, por suas palavras e suas obras e, sobretudo, pelo dom de sua vida em nosso favor.
Eu lhes dei a glória que tu me deste, para que eles sejam um, como nós somos um (Jo 17,22)
Vamos rezar a palavra
Senhor Jesus,
Nós estamos na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Tu disseste, Senhor,  que a unidade é a condição para que o mundo creia. Perdoa, Senhor, nossas faltas contra a unidade do teu rebanho, pelo pouco amor que demonstramos por tua Igreja e pela distância que alimentamos dos que creem em ti, mas pertencem a outras tradições cristãs. Pelo dom do teu Espírito, estamos unidos a ti, que nos amas de verdade. Por este mesmo dom, estamos unidos a todos os que creem em ti. Que o nosso amor, vivido nas comunidades cristãs e espalhado na sociedade, seja motivo de alegria e glória para o Pai. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.
Vamos viver a palavra
Se se apresentar, hoje, uma ocasião, fale com respeito e amor de sua comunidade cristã. Com igual afeto, faça referências a outras denominações cristãs. A unidade começa no coração.

Pe. João Carlos Ribeiro – 17.06.2018

Um só Espírito, um só Corpo

E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: Recebam o Espirito Santo (Jo 20, 22)

Comento o evangelho desse domingo de Pentecostes sob o forte impacto da Vigília Ecumênica de Pentecostes da qual tomei parte ontem, aqui em Roma. A Renovação Carismática está celebrando 50 anos de existência e veio a Roma celebrar essa data com o Papa. Ontem, mais de 100 mil pessoas participaram da Vigília, com o Papa Francisco, cardeais, bispos e pastores de outras igrejas cristãs. O local foi o Circo Máximo, um local amplo onde se erguia um local de espetáculos públicos no tempo dos romanos. Além de corridas de bigas e lutas de gladiadores, havia também o espetáculo de cristãos atirados às feras ou queimados vivos. Nessa terra regada a sangue dos mártires cristãos, ouvimos comentários iluminados sobre os textos da liturgia de hoje por parte do Frei Raniero Cantalamessa, do Pastor Giovanni Traettino e do próprio Papa Francisco.

Para o evangelista João, o derramamento do Espírito Santo aconteceu na ressurreição. O evangelho de hoje traduz essa visão: Jesus ressuscitado envia os discípulos em missão e sopra sobre eles, comunicando-lhes o Espírito. “Recebam o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados”. A missão é anunciar a salvação em Cristo, o perdão dos pecados.

Semana da Unidade

Estamos na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. A ocasião é a proximidade da festa de Pentecostes. 

Pentecostes foi o contrário de Babel. Foi e é. Babel foi a torre da discórdia, do desentendimento, da dispersão. O orgulho, os interesses particulares, o individualismo destruíram o projeto coletivo da torre que chegava aos céus. O resultado foi a dispersão por toda a terra. Em Pentecostes aconteceu o contrário. A nova torre elevou finalmente a humanidade aos céus. Na torre do cenáculo, venceu o espírito de humildade, de comunidade, de amor. O amor de Deus se derramou sobre todos, reunindo os dispersos, encorajando os tímidos, fazendo a comunhão dos diferentes. Em Babel, o povo se dispersou por toda a terra. Em Pentecostes, o povo disperso por todo o mundo convergiu para um só lugar, entendeu uma só língua, batizou-se na comunhão. 

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