
26 de maio de 2019.
Jesus continua à mesa com os discípulos. Estão na ceia de
páscoa. O pano de fundo é a páscoa do povo de Deus, a saída da escravidão do
Egito. Deus manifestou seu amor por aquele povo, resgatando-o daquela situação.
E ficou presente em seu meio, na dura travessia do deserto, na Tenda do
tabernáculo que era armada em cada parada, em cada acampamento. Deus caminhou
com o seu povo. Na vitória daquele gente, Deus manifestou sua glória. E deu a
eles uma Lei, uma forma concreta de viver no seu amor.
O que Jesus está dizendo, ali na mesa, fica bem entendido no
clima da páscoa do seu povo. Passando pela morte, ele vai conduzir o seu povo
para a liberdade. A sua passagem pela morte é a páscoa verdadeira. Nela, nasce
o novo povo de Deus. Nela, o amor do Pai se manifesta completamente em Jesus,
em sua entrega total. E isso muda tudo.
Até agora, procuramos Deus em algum lugar, em algum templo,
para honrá-lo com nossas preces e oferendas. Sabemos que ele mora num lugar
muito santo e separado deste mundo em que vivemos. E nos esforçamos para
cumprir as suas ordens e mandamentos, para agradá-lo e obter dele os favores
que precisamos. Ele nos criou e nós nos sentimos seus servos. Com a páscoa de
Jesus, isso não é mais assim. Ou, ao menos, não deveria ser mais assim.
“Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o
amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14, 23). Jesus fez uma
experiência de Deus muito especial. Ele, sendo humano como nós, sem deixar de
ser Deus, experimentou que o Pai o amava muito. Mas, muito, mesmo. E nos amava,
também. Por isso, O Pai o enviou a nós. Por amor. Por sua morte, Jesus nos
aproximou do Pai, nos reconciliou com ele, nos fez seus filhos. Assim, se
alguém o ama, o Pai o amará. E não só. O Pai e o Filho passam a ficar com essa
pessoa, morar com ela, habitar nela. Quem ama Jesus é um novo tabernáculo, no
acampamento do deserto, no mundo, um lugar onde Deus está. Não sentimos mais
Deus longe de nós, num lugar separado para onde peregrinamos. Ele está em nós
que amamos Jesus.
Na páscoa de Jesus (sua morte e ressurreição),
experimentamos quem é Deus. Ele é amor, é dom total de si. Ele não nos quer
para si, como seus servos. Impressionante. O amor dele não anula você, não o
torna seu servo. O amor dele faz de você um filho, uma filha, objeto do seu
amor imenso. Ele está agora em você que ama Jesus. E você está unido a ele como
filho, como filha. Você é o novo tabernáculo. Por meio de você, Deus está presente
no mundo. O mundo já não é o lugar da
perdição. O mundo é o lugar onde você atualiza a presença de Deus, manifesta o
seu amor. O mundo é de Deus, porque você está nele. Esse amor precisa ser
comunicado: é a mensagem, o seu Evangelho. Esse amor precisa ser vivido como
norma de vida, são os seus Mandamentos. Esse amor tem um dinamismo de
restauração, de renovação de tudo em Cristo, é a presença do Espírito Santo.
“Mas o Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu
nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo
14, 26). Toda essa nova realidade, nascida na páscoa de Jesus (sua morte e
ressurreição), poderia se perder, se essa novidade ficasse parada no tempo.
Poderíamos apenas contemplá-la. Mas, não. Veio o Espírito Santo, enviado pelo
Pai, a pedido do filho. Ele é o próprio dinamismo do amor do Pai pelo Filho e vice-versa.
O Espírito mantém viva a memória de Jesus. Ele nos ajuda a atualizar a boa
notícia de sua vida, morte e ressurreição. Ele nos leva a compreender e
interpretar a boa notícia de Jesus nas novas situações e desafios do mundo. Ele
é grande animador da comunidade dos discípulos, dos filhos e filhos de Deus.
Ele também nos habita. E anima a caminhada de todos os que amam Jesus e guardam
sua palavra.
Guardando a mensagem
Na conversa que Jesus está tendo, ao redor da mesa da última
ceia, ele fala do sentido de sua morte, dentro do contexto da páscoa do povo de
Deus. Como por aquela saída, à noite, o povo foi libertado da escravidão do
Egito, por sua páscoa, rompendo as trevas e a morte, nasceria o novo povo de
Deus. Em sua morte, sua entrega total, ficou manifesto o amor do Pai por nós e
como ele é verdadeiramente amor, entrega total de si. Quem ama Jesus, fica
conhecendo Deus que é amor. O Pai, o Filho e o Espírito estão naquele que ama
Jesus. E ele se torna um novo tabernáculo, lugar onde Deus está e se manifesta.
Vindo o Espírito Santo, essa obra de Jesus não fica no esquecimento. O Espírito
é o dinamismo do amor que atualiza as palavras e a presença de Jesus. Ele nos
leva a realizar bem nossa vocação: sermos discípulos e discípulas de Jesus,
amarmos como ele amou.
Se alguém me ama, guardará a minha
palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada (Jo
14, 23)
Rezando a palavra de
Deus
Senhor Jesus,
Amar-te é amar como tu
amaste. Tu te entregaste por nós, deste a tua vida em nosso favor. Como teus
seguidores, experimentamos que Deus é amor e assim vamos superando o desamor
que há em nós: o individualismo, a indiferença,
o egoísmo, o espírito de vingança, os preconceitos... E formando uma grande
frente de superação do desamor presente em nosso mundo, em nossa cultura: as
relações de injustiça e exploração, a manipulação das pessoas, a opressão dos
mais fracos, a excusão social, a violência de todo tipo. O teu Santo Espírito,
Senhor, mantém viva a tua memória em nós e na grande comunidade dos discípulos,
a Igreja. Ele é o dinamismo do amor de Deus que, em tua pessoa, renova todas as
coisas. Nós te amamos, Jesus, e queremos guardar tua palavra. Seja bendito o
teu santo nome, hoje e sempre. Amém.
Vivendo a palavra
Na Missa, fazemos memória da morte e ressurreição de Jesus,
celebramos a sua páscoa. Participar da Santa Missa não é um simples compromisso
semanal. É um direito sagrado dos que estão unidos a Cristo pela fé e pelo
batismo. É a congregação festiva dos que amam Jesus.
Pe. João Carlos
Ribeiro 26.05.2019