Diante disso, o
patrão teve compaixão, soltou o empregado e perdoou-lhe a dívida (Mt 18, 27)
Domingo, 17 de setembro de 2017
Há muita
injustiça nesse mundo, muita maldade. Você, com certeza, já foi vítima de muita
humilhação, de sofrimento gerado pelo egoísmo de alguém, pela difamação de uma
pessoa amiga, pela traição no casamento. Há pessoas que convivem com grandes
chagas abertas em sua memória ou mesmo no seu inconsciente. Profissionais que
foram perseguidos por colegas que chegaram a perder seus postos de trabalho.
Pais que tiveram um filho assassinado. Pessoas que foram violentadas, abusadas
quando mais jovens. Um mar de sofrimento causado por pessoas próximas e
distantes.
Diante do
mal que nos fazem, a primeira reação é a indignação. A pessoa não se conforma,
reage percebendo o mal que estão lhe fazendo. Não aceita, sente-se prejudicada,
traída, humilhada. É uma atitude aceitável, a indignação. Uma reação justa. Não
se acomodar diante da agressão, não permitir a continuação da ofensa, não ficar
passiva diante do mal.
Agora,
essa indignação pode virar ódio, desejo de vingança, revanche. Aí, vamos com
calma. Você não pode permitir que o mal que lhe fizeram crie raízes em você, se
reproduza no seu ódio, em projetos de vingança e de revanche. O mal se perpetua
no mal. É uma onda de violência que puxa outra, não para mais. Você já ouviu
falar daquelas cidades, no interior de Pernambuco, em que uma família matava a
outra... ‘Mataram o meu filho... vou matar o filho dele também!’ ‘Mataram
meu primo, vou me vingar!”. A vida daquelas pessoas virou um inferno, uma
insegurança total, a cólera fervendo no coração daquele gente antes tão
pacata... Só uma coisa estancou aquela tragédia que parecia sem fim: o
perdão.
Só há um
remédio para se reconstruir a vida: o perdão. O ódio e a vingança não resolvem,
não curam a mágoa, nem o sofrimento causado pela difamação, pela traição, pela
injustiça. Só o perdão pode trazer paz ao seu coração.
Claro,
perdão não quer dizer que abro mão do direito de reparação, que não recorro à
Justiça. Você se lembra do Papa João Paulo II, que levou um tiro de um jovem
turco, muçulmano, que foi assassiná-lo na Praça de São Pedro, no Vaticano?! O
santo Papa ficou entre a vida e a morte, coitado, e passou o resto da vida
sentindo as consequências daquela agressão. Mas, aquele homem santo foi várias
vezes visitar o seu agressor na Penitenciária, para oferecer-lhe o perdão e
acompanha-lo no seu caminho de conversão. Não deixou que o ódio tomasse conta
do seu coração. A cadeia é a oportunidade do agressor se redimir, se
reencontrar, se reabilitar. Se o tratamento que o agressor receber, dentro ou
fora da cadeia, for de violência e crueldade, não resultará redimido, só
embrutecido.
Claro que
perdoar não é fácil. Mas, um cristão tem o exemplo e os ensinamentos de Cristo.
Ele sofreu uma morte muito cruel, mas morreu perdoando. Aliás, por sua paixão e
morte oferecidas a Deus como sacrifício voluntário em nosso favor, fomos
perdoados de nossos pecados. Nosso débito com Deus é impagável. E
ele perdoou nossa dívida. À sua imitação, não podemos ter outro comportamento,
senão perdoar as dívidas dos nossos semelhantes. E perdoar sempre. Não apenas
quatro vezes, como ensinavam os rabinos e mestres da Lei. Nem só as generosas
sete vezes que Pedro sugeriu. Sempre, perfeitamente. Setenta vezes sete.