Os fariseus saíram e fizeram um
plano para matar Jesus (Mt 12, 14)
21 de julho de 2018.
É triste ler isso no evangelho. “Os fariseus saíram e
fizeram um plano para matar Jesus”. É de não se acreditar. Para chegar a este
ponto, eles deviam estar muito
incomodados com Jesus. Por que eles chegaram a esse ponto? Claro, a explicação
mais simples é que eles fecharam o coração à novidade que era Jesus e sua
pregação. Mas, podemos tentar entender um pouco mais sobre essa rejeição.
Por que os fariseus não gostavam de Jesus? Bom, o povo de
Deus estava vivendo um tempo de muita turbulência. Muita coisa preocupante
estava acontecendo e trazendo mal-estar e insegurança às pessoas. A maior parte
do povo da Galileia era de agricultores. E eles estavam com a corda no pescoço,
por causa dos impostos que deviam entregar para Herodes e os romanos. Os romanos, que dominavam diretamente a Judeia
e a Samaria, eram pagãos e suas legiões esmagavam qualquer manifestação ou
revolta. As elites
da capital e os grandes proprietários de terra controlavam o Templo de
Jerusalém. Tudo isso criava muita insegurança no meio do povo.
Os fariseus, uma espécie de irmandade ou de partido, era o
grupo mais próximo da população. No seu quadro, havia muitos mestres da Lei,
gente que estudava as Escrituras. Eles não eram aliados dos romanos, como os
saduceus do Templo. Eles eram defensores
fervorosos da exata observância da Lei de Moisés. A segurança para eles estava
em praticar fielmente todos os preceitos escritos e orais que regulavam a vida do judeu. É possível que a mensagem de Jesus criasse certa insegurança para
eles, pois Jesus liberava o povo daquele rigorismo que eles pregavam. Jesus
considerava aquele apego à letra da Lei um desvio da religião, acabando por
excluir as pessoas e deixar de lado a caridade e a misericórdia, que é o centro
da Lei. Além disso, Jesus apontava muitas falhas neles: o exibicionismo na
oração, a busca de privilégios e de prestígio, a falta de autenticidade
(ensinavam e não faziam). No fundo, Jesus, como nova liderança ouvida pelo
povo, ameaçava a posição de liderança deles e sua influência nas comunidades. Por
tudo isso, os fariseus viram uma ameaça em Jesus. E decidiram matá-lo.
Claro, não chegaram de repente a essa decisão de eliminar
Jesus. A oposição foi crescendo devagar... vemos isso nas páginas dos
evangelhos. A mensagem de Jesus pedia conversão, mudança de vida. E eles
permaneceram de coração fechado. Aos poucos, a incompreensão, a impaciência, o
mal estar vão se convertendo em rancor, em ódio, e, por fim, em decisão de
eliminação do profeta. Essa é uma coisa pra gente pensar. Se a pregação do
evangelho não encontra um terreno bom no seu coração e você vai se permitindo
que cresça a indiferença, as dúvidas que se transformam em críticas.... afinal,
aos poucos vai se formando um muro, uma barreira entre você e Jesus, entre você
e a Igreja, que finda por afastar você, definitivamente, da novidade do
evangelho.
O resultado dessa decisão tomada de matar Jesus, lemos hoje
no evangelho, é que Jesus retirou-se dali. E podemos ver, examinando os evangelhos,
que, num certo momento da vida pública de Jesus, diminuíram suas aparições
públicas e também o afluxo das grandes
multidões. Ele continua curando muita gente, mas recomenda que não mencione o
seu nome, que não digam quem foi. Procurava ser discreto, nesse clima da
perseguição. Assim, o evangelista aplica-lhe o que o profeta Isaías escrevera
sobre a misteriosa figura do servo de Deus: “Ele não discutirá nem gritará, e
ninguém ouvirá a sua voz nas praças. Não quebrará o caniço rachado, nem apagará
o pavio que ainda fumega”. O servo de Deus descrito é alguém manso, discreto,
humilde. Não enfrenta com violência os seus opositores, não sai ameaçando,
arrebentando, agredindo. Foi essa a atitude de Jesus frente à perseguição
contra sua pessoa. O medo não o paralisou, mas ele agiu sempre com prudência e humildade.
Ele mesmo aconselhou aos seus esse comportamento: “sejam prudentes como as
serpentes e simples como as pombas”.
Vamos guardar a mensagem
O evangelho tem páginas maravilhosas. Todas o são. Mas, em
algumas aparece claramente a oposição e a perseguição contra Jesus. A grande
perseguição dos dias da paixão, as páginas mais dolorosas do evangelho, foi
construída, aos poucos, com atitudes de boicote, críticas, insinuações maldosas
e decisões homicidas como a que lemos hoje neste texto. Sempre que os cristãos
e a Igreja se comportam profeticamente, movidos pela liberdade do Espírito
Santo, colhem sofrimento e perseguição. Não é à toa que vemos hoje tantas profanações
de templos religiosos, críticas na imprensa contra a Igreja, gozações nas redes
sociais à doutrina cristã... Bom, quem vive o evangelho destoa da normalidade,
deslegitima privilégios, suscita oposição. Assim, é bom você se policiar.... o
evangelho é fermento de um mundo novo, não é a cobertura do bolo desse mundo de
mentiras e maldades.
Os fariseus
saíram e fizeram um plano para matar Jesus (Mt 12, 14)
Vamos rezar a palavra
Senhor Jesus,
A oposição dos
fariseus que acabou por decidir a tua morte é um alerta para nós. Quantas
oportunidades eles tiveram, ouvindo a pregação do evangelho, conhecendo-te
pessoalmente, vendo os testemunhos de teus milagres e das pessoas que tiveram
suas vidas transformadas no teu seguimento. Ainda assim, construíram uma
negativa total à revelação de Deus em tua pessoa. Senhor, ajuda-nos a manter o
coração aberto para a tua palavra e a tua presença redentora hoje, na Igreja.
Que a indiferença não enfraqueça a nossa fé. Que as pequenas suspeitas,
insinuações e críticas não acabem por nos separar de ti e de tua Igreja. Seja bendito
o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.
Vamos viver a palavra
No seu diário espiritual (seu caderno de anotações), escreva
uma oração a Jesus sobre a meditação de hoje.
Pe. João Carlos
Ribeiro – 21.07.2018