PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA: amor aos irmãos
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ENTRAMOS NA SALA ERRADA


Nisto todos conhecerão que vocês são meus discípulos, se tiverem amor uns aos outros (Jo 13, 35

19 de maio de 2019.

O amor de uns pelos outros. O amor na comunidade, amor que se espalha no mundo. Coisa difícil. Amar como Jesus amou. Esse é o diferencial no grupo dos discípulos dos seus discípulos. E não é para quando for possível. Amar também no meio dos problemas e das adversidades. Um mandamento novo. O novo mandamento.

Eu tinha chamado um grupo de amigos para ir à Última Ceia, aquela ceia de Jesus com os discípulos, em Jerusalém. E fomos. Só que nos demos mal. Entramos na sala errada. A gente estava procurando a cena da última ceia. Jesus e os discípulos sentados à mesa, conversando, quem sabe cantando os salmos, na maior união. Bom, entramos na sala errada.

Quando entramos, ainda vimos Judas saindo meio apressado e o clima de desconfiança que ficou no ar. Jesus ficou só com os onze. É aqui mesmo, pensamos. Aí, nos encostamos pela parede, meio de longe, na penumbra e nos preparamos para curtir o clima da Última Ceia. Aos poucos, fomos nos envolvendo na cena. O grupo estava exaltado. Ouvimos claramente um deles dizer: ”eu nunca confiei nesse cara... um desonesto, um descontente, sempre com o pé atrás”. O mais novo, bem ao lado de Jesus, estava avisando: Jesus confirmou: Judas é um traidor”. Aí o negócio pegou fogo: “Desgraçado! Eu bem que estava desconfiado dele. Se eu pegar esse cara, eu acabo com ele”. Esse Jesus da cena estava com a cara triste, sisuda e lamentou-se: “A gente faz o melhor, se doa, se sacrifica, olha o resultado!.... Será que vale a pena?”. O outro ao lado de Jesus, talvez fosse Pedro, falou em tom raivoso: “Agora, vou lhe dizer uma coisa, Senhor. Eu já o tinha alertado. Esse Sinédrio de Jerusalém é uma desgraça. Desde que nós chegamos, eles estão viajando os seus passos: é escriba fazendo perguntas capciosas, é olheiro por todo canto, é soldado atrás de lhe prender. Eu bem que lhe disse: não vamos pra festa desse ano, que o negócio está feio pro seu lado. O senhor não quis me ouvir!”. E eu vou dizer mais uma coisa: “Aqui tem cabra frouxo... vai correr da parada. Mas, eu lhe garanto:  eu estou do seu lado, eu dou minha vida pra lhe defender”. Aí o tom de voz subiu mesmo, um vozerio forte, um reclama, outro bate na mesa, misturou-se o ódio e o medo, o negócio ficou feio. Aí a gente se deu conta: “estamos na cena errada. Aqui não é a última ceia de Jesus, não”. Vamos embora.

Aí, saímos, de fininho, e nos sentamos na praça. Estava todo mundo impactado por aquele clima de tensão, por aquele discurso de ódio que encontramos naquela ceia... Um dos colegas comentou: “Não estou entendendo... Jesus estava lá, os onze apóstolos, até Judas nós vimos saindo...” E outro: “eu vi logo que tinha alguma coisa errada. Jesus nunca incentivou o ódio... não jogaria um contra o outro. Tinha uma coisa errada, nesse ceia” O outro, em tom mais tranquilo, disse: “Claro que Jesus sabia o que estava acontecendo ao seu redor. Ele vinha avisando os discípulos. Ele também percebeu que Judas estava se afastando do grupo, dando-lhe as costas, prestes a trai-lo abertamente. Mas, não denunciou Judas, não o expôs ao grupo. E o tratou sempre com deferência, inclusive lhe deu o primeiro pedaço de pão molhado no vinho”. E uma colega, que ainda estava tremendo coitada  foi dizendo: “E os discípulos, mesmo inseguros e temerosos, não partiram para malhar Judas... Jesus queria que o amor reinasse no seu grupo. Deu-lhes isso como mandamento. Amarem-se uns aos outros. Como ele os amou. E ele os amou dando a vida por eles, na cruz. O amor leva a gente ser paciente com o outro que está no erro e respeitosos com os que são mais fracos”. Aí ficamos mesmo certos: tínhamos entrado na sala errada.

Guardando a mensagem

Jesus nos amou de verdade. Conviveu com a sua comunidade de discípulos, ensinou-lhes o caminho de Deus, lavou os seus pés. Numa prova única de amor, deu sua vida por eles. Na Ceia, celebrou essa entrega, no sacramento do pão e do vinho. No Apocalipse, a comunidade de Jesus é comparada com a esposa. Ela ama de verdade o seu esposo. Nós amamos Jesus. É esse amor que nos reúne, que nos une ao seu redor. O amor fraterno se alimenta desse amor a Jesus. No Livro dos Atos dos Apóstolos, está que Paulo e Barnabé saíram mundo afora, no meio de muitas dificuldades, edificando comunidades cristãs. É o amor a Jesus que funda a comunidade. É o amor a Jesus e aos irmãos que explica a permanente entrega dos seus missionários. Esse amor vivido na comunidade espalha-se para  o mundo, marca os nossos relacionamentos com os outros. Queremos ser irmãos e irmãs nesse mundo desigual. Defendemos os irmãozinhos que estejam sofrendo pelo desemprego, pela solidão, pela opressão, pela perda de seus direitos. Nosso amor nos leva a querer que todos tenham oportunidade e futuro,  por isso defendemos os estudantes e a educação. Queremos construir fraternidade, num mundo desigual, sem compactuar com a violência e a exploração. Trabalhamos para combater o mal e para que o errado acerte o caminho. Num país marcado, hoje, pela polarização e pelo incitamento ao ódio, queremos amar os outros como Jesus nos amou.

Nisto todos conhecerão que vocês são meus discípulos, se tiverem amor uns aos outros (Jo 13, 35)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
Na tua Ceia, aprendemos a amar como tu nos amaste. Tu nos amaste, entregando-te por nós até a morte de cruz, para o perdão dos nossos pecados. Por tua ressurreição, nos dás vida nova, o dom do teu Espírito. E nos pediste para viver nesse amor. Amor a ti e aos irmãos. Nossas comunidades hão de ser espaços de comunhão e participação, lugar de crescimento do amor, sobretudo nas horas difíceis. Nós somos irmãos, nos reconhecemos filhos amados de um único pai. Assim, rezamos juntos: “Pai nosso”. Queremos que a tua paz esteja na vida de cada um, de cada uma. Assim, em nossas celebrações nos comunicamos a paz com um abraço, antes da comunhão. Esse amor que experimentamos na comunidade dos discípulos, na tua  Igreja, é a energia para nossa luta diária, para nossos compromissos nesta sociedade desigual. Nesse amor, já estamos fazendo esse mundo melhor. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Novos gestos e atitudes surgem do seu renovado amor a Jesus e à sua comunidade, a Igreja. Hoje, convido você a se aproximar de uma pessoa desconhecida. É um irmão, uma irmã. Basta se aproximar com um coração de irmão, no Senhor.

Pe. João Carlos Ribeiro – 19.05.2019

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