Ao desembarcar, Jesus viu uma
numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor (Mc 6,
34)
22 de julho de 2018.
Por graça de Deus, estou, neste domingo, em Óbidos, no oeste
do Pará. Ontem à noite, eu e minha banda fizemos aqui um bonito show, dentro
dos festejos da padroeira Senhora Sant’Ana. Óbidos é sede de uma diocese missionária
no coração da Amazônia. Visitando ontem a Catedral, o bispo diocesano Dom
Bernardo, me explicou alguns detalhes de sua histórica Catedral do século
XVIII. Mesmo com a atual obra de reforma ainda não concluída, vê-se ali elementos
arquitetônicos surpreendentes. Ao entrar na Igreja, o piso de cerâmica do hall
de entrada veio de Jerusalém, da Terra Santa. No corpo da Igreja, vai-se
pisando pelo corredor central em cerâmica que leva ao altar assentado sobre
cerâmica vinda de Belém, tendo ao seu lado o ambão, também chamado de mesa da
palavra. E por que trouxeram essas peças de um país tão distante? O bispo
explicou direitinho. O piso da entrada, com cerâmica proveniente de Israel, de
Jerusalém, lembra o Antigo Testamento. O piso do corredor central e do presbitério,
onde estão o altar e o ambão, com cerâmica vinda de Belém, lembra o Novo
Testamento. E a parede central do presbitério, ainda não concluída, terá
simbolismos do lugar para onde caminha este povo que nasce no Antigo Testamento,
e caminha pelo Novo Testamento: a glória de Deus, o céu... é pra lá que se vai.
Entre outros símbolos, haverá uma linda árvore da vida, representação de
Cristo.
O piso da Catedral de Óbidos é uma bela explicação da
liturgia da palavra deste domingo. A obra de Jesus foi congregar as ovelhas
dispersas do rebanho de Deus. Quando ele e os seus missionários apóstolos
desembarcaram, encontraram uma multidão que tinha corrido a pé de todas as
cidades para encontrá-lo. É o evangelho de hoje. E eu não posso deixar de
pensar no que eu vi ontem, aqui em Óbidos. Mais de 100 peregrinos chegaram a pé
à Catedral, para participar do novenário. Chegaram cedinho, depois de uma
caminhada exaustiva. A cidade de onde eles vieram fica a 84 km. É a multidão do
evangelho, acorrendo a pé a Jesus.
Jesus estava indo descansar com os seus missionários. Eles
estavam voltando da missão em que tinham visitado vilas, sítios e cidades.
Estavam fugindo do afluxo de gente que não lhes permitia nem tempo para comer. A
numerosa multidão que chegou a pé para encontrá-lo os surpreendeu. Jesus ficou tomado
de compaixão e os sentiu como ovelhas sem pastor. Cancelou-se o descanso e
Jesus começou a ensinar muitas coisas ao povo, diz o evangelho.
Lendo o livro do Profeta Jeremias, nos damos conta da
grandeza da ação de Jesus, nesta passagem e em todo o seu ministério. Em
Jeremias 23, temos uma foto da situação do povo em certo momento, no Antigo
Testamento. A descrição mostra a condição que levou o Pai a enviar Jesus. O
rebanho está disperso. Deus se queixa dos pastores que ele colocou para cuidar
do seu rebanho: descuidaram-se, afugentaram as ovelhas, dispersaram o rebanho. O
que ele fará? Pela boca do profeta, o Senhor Deus disse: “Eu reunirei o resto das
minhas ovelhas de todos os países para onde foram expulsas e as farei voltar
aos seus campos. Suscitarei para elas novos pastores. Farei nascer um
descendente de Davi, ele reinará como rei, ele será sábio”. Davi foi o rei que
começou como pastor de ovelhas. Jesus é o pastor sábio, o novo Davi que Deus
enviou para cuidar do seu rebanho. Ele é o bom pastor que dá a vida por suas
ovelhas. É o que está acontecendo nesta cena do evangelho. Ele e os apóstolos,
os novos pastores que Deus estava suscitando, sacrificaram seu justo descanso
para cuidar do rebanho disperso.
A obra de Jesus foi, então, congregar as ovelhas dispersas. O
altar e o ambão, sobre a cerâmica de Belém, terra de Davi e de Jesus, é a representação
do próprio Cristo. Pastoreando o seu povo, ele ensina-lhes muitas coisas e
oferece a sua própria vida pela salvação de todos. Não somente congrega as
ovelhas de Israel, mas congrega também as ovelhas de todas as nações, de todas
as cidades, quem não pertenciam a Israel. A Carta de São Paulo aos Efésios, cap
2, explica ainda melhor isso. “Ele quis,
a partir do judeu e do pagão, criar em si um só homem novo, estabelecendo a
paz. Quis reconciliá-los com Deus, ambos em um só corpo, por meio da cruz.
Assim ele destruiu em si mesmo a inimizade”. Ao redor da mesa da palavra e da mesa do
sacrifício eucarístico, somos todos um só rebanho congregados por um só pastor.
Vamos guardar a mensagem
Esse rebanho que caminha desde o Antigo Testamento, congregado
por Cristo, ao qual foram incorporados os pagãos, pastoreado por ele e por seus
apóstolos missionários, é a Igreja. Igreja que caminha para a glória de Deus,
para sua casa, para o céu. É o que nos diz, sem palavras, a cerâmica do piso da
Catedral de Óbidos. Esse é um domingo para aumentar o seu amor e a sua comunhão
com o pastor, os pastores e o rebanho. Somos a Igreja de Cristo. Ele nos
conduz, nos resgatando da dispersão, da exploração, da inimizade, do pecado.
Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão,
porque eram como ovelhas sem pastor (Mc 6, 34)
Vamos rezar a palavra
Salmo 22
— O Senhor é o pastor que me conduz; felicidade e todo bem
hão de seguir-me!
— O Senhor é o pastor que me conduz;/ não me falta coisa
alguma./ Pelos prados e campinas verdejantes/ ele me leva a descansar./ Para as
águas repousantes me encaminha,/ e restaura as minhas forças.
— Felicidade e todo bem hão de seguir-me/ por toda a minha
vida;/ e na casa do Senhor habitarei/ pelos tempos infinitos.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no
princípio, agora e sempre. Amém.
Vamos viver a palavra
Não deixe de pegar sua Bíblia hoje e ler, com toda atenção,
Marcos 6, 30-34. É o evangelho de hoje. Quem sabe, você possa conversar com
alguém sobre essa bela passagem! É que a boca fala do que o coração está cheio.
Pe. João Carlos
Ribeiro – 22.07.2018