PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA: UM ESTRANHO NO CAMINHO

UM ESTRANHO NO CAMINHO

Então Jesus lhe disse: “Vá e faça a mesma coisa” (Lc 10, 37)

05 de outubro de 2020

Hoje, o evangelho nos conta a parábola do Bom Samaritano. Enquanto folheava a nova Encíclica do Papa Francisco (Fratelli Tutti - TODOS IRMÃOS), vi com surpresa que ele dedica um capítulo inteiro a esta parábola. Assim, demos hoje a palavra ao nosso Papa. 

“Conta Jesus que havia um homem ferido, estendido por terra no caminho, que fora assaltado. Passaram vários ao seu lado, mas… foram-se, não pararam. Eram pessoas com funções importantes na sociedade, que não tinham no coração o amor pelo bem comum. Não foram capazes de perder uns minutos para cuidar do ferido ou, pelo menos, procurar ajuda. Um parou, ofereceu-lhe proximidade, curou-o com as próprias mãos, pôs também dinheiro do seu bolso e ocupou-se dele. Sobretudo deu-lhe algo que, neste mundo apressado, regateamos tanto: deu-lhe o seu tempo. Tinha certamente os seus planos para aproveitar aquele dia a bem das suas necessidades, compromissos ou desejos. Mas conseguiu deixar tudo de lado à vista do ferido e, sem o conhecer, considerou-o digno de lhe dedicar o seu tempo.

Com quem te identificas? É uma pergunta sem rodeios, direta e determinante: a qual deles te assemelhas? Precisamos reconhecer a tentação que nos cerca de se desinteressar pelos outros, especialmente dos mais frágeis. Digamos que crescemos em muitos aspectos, mas somos analfabetos no acompanhar, cuidar e sustentar os mais frágeis e vulneráveis das nossas sociedades desenvolvidas. Habituamo-nos a olhar para o outro lado, passar à margem, ignorar as situações até elas nos caírem diretamente em cima.

Assaltam uma pessoa na rua, e muitos fogem como se não tivessem visto nada. Sucede muitas vezes que pessoas atropelam alguém com o seu carro e fogem. Pensam só em evitar problemas; não importa se um ser humano morre por sua culpa. Mas estes são sinais dum estilo de vida generalizado, que se manifesta de várias maneiras, porventura mais sutis. Além disso, como estamos todos muito concentrados nas nossas necessidades, ver alguém que está mal incomoda-nos, perturba-nos, porque não queremos perder tempo por culpa dos problemas alheios. São sintomas duma sociedade enferma, pois procura construir-se de costas para o sofrimento.

É melhor não cair nesta miséria. Fixemos o modelo do bom samaritano. É um texto que nos convida a fazer ressurgir a nossa vocação de cidadãos do próprio país e do mundo inteiro, construtores dum novo vínculo social. Embora esteja inscrito como lei fundamental do nosso ser, é um apelo sempre novo: que a sociedade se oriente para a prossecução do bem comum e, a partir deste objetivo, reconstrua incessantemente a sua ordem política e social, o tecido das suas relações, o seu projeto humano. Com os seus gestos, o bom samaritano fez ver que «a existência de cada um de nós está ligada à dos outros: a vida não é tempo que passa, mas tempo de encontro».[57]

Esta parábola é um ícone iluminador, capaz de manifestar a opção fundamental que precisamos tomar para reconstruir este mundo que nos está a peito. Diante de tanta dor, à vista de tantas feridas, a única via de saída é ser como o bom samaritano. Qualquer outra opção deixa-nos ou com os salteadores ou com os que passam ao largo, sem se compadecer com o sofrimento do ferido na estrada. A parábola mostra-nos as iniciativas com que se pode refazer uma comunidade a partir de homens e mulheres que assumem como própria a fragilidade dos outros, não deixam constituir-se uma sociedade de exclusão, mas fazem-se próximos, levantam e reabilitam o caído, para que o bem seja comum. 

Guardando a mensagem

É ainda a palavra do Papa Francisco: “O samaritano do caminho partiu sem esperar reconhecimentos nem obrigados. A dedicação ao serviço era a grande satisfação diante do seu Deus e na própria vida e, consequentemente, um dever. Todos temos uma responsabilidade pelo ferido que é o nosso povo e todos os povos da terra. Cuidemos da fragilidade de cada homem, cada mulher, cada criança e cada idoso, com a mesma atitude solidária e solícita, a mesma atitude de proximidade do bom samaritano”.

Então Jesus lhe disse: “Vá e faça a mesma coisa” (Lc 10, 37)

Rezando a palavra

Rezemos uma das preces com que o Papa encerra a sua bela Encíclica:

Senhor e Pai da humanidade,
que criastes todos os seres humanos com a mesma dignidade,
infundi nos nossos corações um espírito fraterno.
Inspirai-nos o sonho de um novo encontro, de diálogo, 
de justiça e de paz.
Estimulai-nos a criar sociedades mais sadias e um mundo mais digno,
sem fome, sem pobreza, sem violência, sem guerras.

Amém.

Praticando a palavra

Seria muito muito bom você se interessar pelas notícias que estão circulando, hoje, sobre a Encíclica e ler alguma coisa sobre ela. 

Para você que recebe diretamente a Meditação, estou enviando um link para você ler todo o capítulo 02 da nova Encíclica que fala sobre a Parábola do Bom Samaritano.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb


CARTA ENCÍCLICA

FRATELLI TUTTI
DO SANTO PADRE
FRANCISCO
SOBRE A FRATERNIDADE
E A AMIZADE SOCIAL


Capítulo II

UM ESTRANHO NO CAMINHO

56. Tudo o que mencionei no capítulo anterior é mais do que uma asséptica descrição da realidade, pois «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração».[53] Com a intenção de procurar uma luz no meio do que estamos a viver e antes de propor algumas linhas de ação, quero dedicar um capítulo a uma parábola narrada por Jesus Cristo há dois mil anos. Com efeito, apesar desta encíclica se dirigir a todas as pessoas de boa vontade, independentemente das suas convicções religiosas, a parábola em questão é expressa de tal maneira que qualquer um de nós pode deixar-se interpelar por ela:

«Levantou-se, então, um doutor da Lei e perguntou [a Jesus], para O experimentar: “Mestre, que hei de fazer para possuir a vida eterna?” Disse-lhe Jesus: “Que está escrito na Lei? Como lês?” O outro respondeu: “Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo”. Disse-lhe Jesus: “Respondeste bem; faz isso e viverás”. Mas ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?” Tomando a palavra, Jesus respondeu: “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: ‘Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar’. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?” Respondeu: “O que usou de misericórdia para com ele”. Jesus retorquiu: “Vai e faz tu também o mesmo”» (Lc 10, 25-37).

A perspetiva de fundo

57. Esta parábola recolhe uma perspetiva de séculos. Pouco depois da narração da criação do mundo e do ser humano, a Bíblia propõe o desafio das relações entre nós. Caim elimina o seu irmão Abel, e ressoa a pergunta de Deus: «Onde está Abel, teu irmão?» A resposta é a mesma que damos nós muitas vezes: «Sou, porventura, guarda do meu irmão?» (Gn 4, 9). Com a sua pergunta, Deus coloca em questão todo o tipo de determinismo ou fatalismo que pretenda justificar como única resposta possível a indiferença. E, ao invés, habilita-nos a criar uma cultura diferente, que nos conduza a superar as inimizades e cuidar uns dos outros.

58. O livro de Job invoca o facto de ter um mesmo Criador como base para sustentar alguns direitos em comum: «Pois Aquele que me criou no ventre, também o criou a ele; um só nos formou a ambos no seio materno» (31, 15). Muitos séculos depois, Santo Ireneu de Lião expressará o mesmo conceito recorrendo à imagem da melodia: «Assim, quem ama a verdade não deve deixar-se enganar pela diferença entre cada um dos sons, nem imaginar que um músico seja o artífice e o criador deste som, e outro o artífice e o criador do outro (…), mas há de pensar que um único músico os produziu a ambos».[54]

59. Nas tradições judaicas, o dever de amar o outro e cuidar dele parecia limitar-se às relações entre os membros duma mesma nação. O antigo preceito «amarás o teu próximo como a ti mesmo» (Lv 19, 18) geralmente entendia-se como referido aos compatriotas. Todavia, especialmente no judaísmo que se desenvolveu fora da terra de Israel, as fronteiras foram-se ampliando. Aparece o convite a não fazer aos outros o que não queres que te façam a ti (cf. Tob 4, 15). E a propósito dizia, no século I (a.C.), o sábio Hillel: «Isto é a Lei e os Profetas. Todo o resto é comentário».[55] O desejo de imitar o comportamento divino levou a superar aquela tendência de limitar o amor aos mais próximos: «A compaixão do homem tem por objeto o próximo, mas a misericórdia divina estende-se a todo o ser vivo» (Sir 18, 13).

60. O preceito de Hillel recebeu uma formulação positiva no Novo Testamento: «O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas» (Mt 7, 12). Este apelo é universal, tende a abraçar a todos, apenas pela sua condição humana, porque o Altíssimo, o Pai do Céu, «faz com que o Sol se levante sobre os bons e os maus» (Mt 5, 45). Em consequência, exige-se: «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso» (Lc 6, 36).

61. Como motivo para alargar o coração a fim de não excluir o estrangeiro, invoca-se a memória que o povo judeu conserva de ter vivido como estrangeiro no Egito. E tal motivo aparece já nos textos mais antigos da Bíblia: «Não usarás de violência contra o estrangeiro residente nem o oprimirás, porque foste estrangeiro residente na terra do Egito» (Ex 22, 20). «Não oprimirás um estrangeiro residente; vós conheceis a vida do estrangeiro residente, porque fostes estrangeiros residentes na terra do Egito» (Ex 23, 9). «Se um estrangeiro vier residir contigo na tua terra, não o oprimirás. O estrangeiro que reside convosco será tratado como um dos vossos compatriotas e amá-lo-ás como a ti mesmo, porque fostes estrangeiros na terra do Egito» (Lv 19, 33-34). «Quando vindimares a tua vinha, não rebusques o que ficou; deixa-o para o estrangeiro, o órfão e a viúva. Lembra-te que foste escravo na terra do Egito» (Dt 24, 21-22).

No Novo Testamento, ressoa intensamente o apelo ao amor fraterno: «Toda a Lei se cumpre plenamente nesta única palavra: ama o teu próximo como a ti mesmo» (Gl 5, 14). «Quem ama o seu irmão permanece na luz e não corre perigo de tropeçar. Mas quem tem ódio ao seu irmão está nas trevas» (1 Jo 2, 10-11). «Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama, permanece na morte» (1 Jo 3, 14). «Aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê» (1 Jo 4, 20).

62. Mesmo esta proposta de amor podia ser mal compreendida. Foi por alguma razão que, perante a tentação das primeiras comunidades cristãs criarem grupos fechados e isolados, São Paulo exortava os seus discípulos a ter caridade uns para com os outros «e para com todos» (1 Ts 3, 12) e, na comunidade de João, pedia-se que fossem bem recebidos os irmãos, «mesmo sendo estrangeiros» (3 Jo 5). Esse contexto ajuda a entender o valor da parábola do bom samaritano: ao amor não lhe interessa se o irmão ferido vem daqui ou dacolá. Com efeito, é o «amor que rompe as cadeias que nos isolam e separam, lançando pontes; amor que nos permite construir uma grande família onde todos nos podemos sentir em casa (…). Amor que sabe de compaixão e dignidade».[56]

O abandonado

63. Conta Jesus que havia um homem ferido, estendido por terra no caminho, que fora assaltado. Passaram vários ao seu lado, mas… foram-se, não pararam. Eram pessoas com funções importantes na sociedade, que não tinham no coração o amor pelo bem comum. Não foram capazes de perder uns minutos para cuidar do ferido ou, pelo menos, procurar ajuda. Um parou, ofereceu-lhe proximidade, curou-o com as próprias mãos, pôs também dinheiro do seu bolso e ocupou-se dele. Sobretudo deu-lhe algo que, neste mundo apressado, regateamos tanto: deu-lhe o seu tempo. Tinha certamente os seus planos para aproveitar aquele dia a bem das suas necessidades, compromissos ou desejos. Mas conseguiu deixar tudo de lado à vista do ferido e, sem o conhecer, considerou-o digno de lhe dedicar o seu tempo.

64. Com quem te identificas? É uma pergunta sem rodeios, direta e determinante: a qual deles te assemelhas? Precisamos de reconhecer a tentação que nos cerca de se desinteressar dos outros, especialmente dos mais frágeis. Digamos que crescemos em muitos aspetos, mas somos analfabetos no acompanhar, cuidar e sustentar os mais frágeis e vulneráveis das nossas sociedades desenvolvidas. Habituamo-nos a olhar para o outro lado, passar à margem, ignorar as situações até elas nos caírem diretamente em cima.

65. Assaltam uma pessoa na rua, e muitos fogem como se não tivessem visto nada. Sucede muitas vezes que pessoas atropelam alguém com o seu carro e fogem. Pensam só em evitar problemas; não importa se um ser humano morre por sua culpa. Mas estes são sinais dum estilo de vida generalizado, que se manifesta de várias maneiras, porventura mais subtis. Além disso, como estamos todos muito concentrados nas nossas necessidades, ver alguém que está mal incomoda-nos, perturba-nos, porque não queremos perder tempo por culpa dos problemas alheios. São sintomas duma sociedade enferma, pois procura construir-se de costas para o sofrimento.

66. É melhor não cair nesta miséria. Fixemos o modelo do bom samaritano. É um texto que nos convida a fazer ressurgir a nossa vocação de cidadãos do próprio país e do mundo inteiro, construtores dum novo vínculo social. Embora esteja inscrito como lei fundamental do nosso ser, é um apelo sempre novo: que a sociedade se oriente para a prossecução do bem comum e, a partir deste objetivo, reconstrua incessantemente a sua ordem política e social, o tecido das suas relações, o seu projeto humano. Com os seus gestos, o bom samaritano fez ver que «a existência de cada um de nós está ligada à dos outros: a vida não é tempo que passa, mas tempo de encontro».[57]

67. Esta parábola é um ícone iluminador, capaz de manifestar a opção fundamental que precisamos de tomar para reconstruir este mundo que nos está a peito. Diante de tanta dor, à vista de tantas feridas, a única via de saída é ser como o bom samaritano. Qualquer outra opção deixa-nos ou com os salteadores ou com os que passam ao largo, sem se compadecer com o sofrimento do ferido na estrada. A parábola mostra-nos as iniciativas com que se pode refazer uma comunidade a partir de homens e mulheres que assumem como própria a fragilidade dos outros, não deixam constituir-se uma sociedade de exclusão, mas fazem-se próximos, levantam e reabilitam o caído, para que o bem seja comum. Ao mesmo tempo, a parábola adverte-nos sobre certas atitudes de pessoas que só olham para si mesmas e não atendem às exigências ineludíveis da realidade humana.

68. A narração – digamo-lo claramente – não desenvolve uma doutrina feita de ideais abstratos, nem se limita à funcionalidade duma moral ético-social. Mas revela-nos uma caraterística essencial do ser humano, frequentemente esquecida: fomos criados para a plenitude, que só se alcança no amor. Viver indiferentes à dor não é uma opção possível; não podemos deixar ninguém caído «nas margens da vida». Isto deve indignar-nos de tal maneira que nos faça descer da nossa serenidade alterando-nos com o sofrimento humano. Isto é dignidade.

Uma história que se repete

69. A narração é simples e linear, mas contém toda a dinâmica da luta interior que se verifica na elaboração da nossa identidade, que se verifica em toda a existência projetada na realização da fraternidade humana. Enquanto caminhamos, inevitavelmente embatemos no homem ferido. Hoje, há cada vez mais feridos. A inclusão ou exclusão da pessoa que sofre na margem da estrada define todos os projetos económicos, políticos, sociais e religiosos. Dia a dia enfrentamos a opção de ser bons samaritanos ou viandantes indiferentes que passam ao largo. E se estendermos o olhar à totalidade da nossa história e ao mundo no seu conjunto, reconheceremos que todos somos, ou fomos, como estas personagens: todos temos algo do ferido, do salteador, daqueles que passam ao largo e do bom samaritano.

70. Digno de nota é o facto de as diferenças entre as personagens na parábola ficarem completamente transformadas ao confrontar-se com a dolorosa aparição do caído, do humilhado. Já não há distinção entre habitante da Judeia e habitante da Samaria, não há sacerdote nem comerciante; existem simplesmente dois tipos de pessoas: aquelas que cuidam do sofrimento e aquelas que passam ao largo; aquelas que se debruçam sobre o caído e o reconhecem necessitado de ajuda e aquelas que olham distraídas e aceleram o passo. De facto, caem as nossas múltiplas máscaras, os nossos rótulos e os nossos disfarces: é a hora da verdade. Debruçar-nos-emos para tocar e cuidar das feridas dos outros? Abaixar-nos-emos para levar às costas o outro? Este é o desafio atual, de que não devemos ter medo. Nos momentos de crise, a opção torna-se premente: poderíamos dizer que, neste momento, quem não é salteador e quem não passa ao largo, ou está ferido ou carrega aos ombros algum ferido.

71. A história do bom samaritano repete-se: torna-se cada vez mais evidente que a incúria social e política faz de muitos lugares do mundo estradas desoladas, onde as disputas internas e internacionais e o saque de oportunidades deixam tantos marginalizados, atirados para a margem da estrada. Na sua parábola, Jesus não propõe vias alternativas, como, por exemplo, no caso daquele homem ferido ou de quem o ajudou terem dado espaço nos seus corações ao ódio ou à sede de vingança, que sucederia? Jesus não Se detém nisso. Confia na parte melhor do espírito humano e, com a parábola, anima-o a aderir ao amor, reintegrar o ferido e construir uma sociedade digna de tal nome.

As personagens

72. A parábola começa com os salteadores. O ponto de partida escolhido por Jesus é um assalto já consumado. Não nos faz deter na lamentação do facto, nem dirige o nosso olhar para os salteadores. São coisas do nosso conhecimento. Vimos avançar no mundo as sombras densas do abandono, da violência usada para mesquinhos interesses de poder, acúmulo e repartição. A questão poderia ser: deixaremos ali estirado por terra o homem maltratado para correr cada qual a esconder-se da violência ou a perseguir os ladrões? Será o ferido a justificação das nossas divisões irreconciliáveis, das nossas cruéis indiferenças, dos nossos confrontos internos?

73. De imediato a parábola faz-nos pousar o olhar claramente naqueles que passam ao largo. Esta perigosa indiferença que leva a não parar, inocente ou não, fruto do desprezo ou duma triste distração, faz das duas personagens – o sacerdote e o levita – um reflexo não menos triste daquela distância menosprezadora que te isola da realidade. Há muitas maneiras de passar ao largo, que são complementares: uma é ensimesmar-se, desinteressar-se dos outros, ficar indiferente; outra seria olhar só para fora. Relativamente a esta última maneira de passar ao largo, nalguns países ou em certos setores deles, verifica-se um desprezo dos pobres e da sua cultura, bem como um viver com o olhar voltado para fora, como se um projeto de país importado procurasse ocupar o seu lugar. Assim se pode justificar a indiferença de alguns, pois aqueles que poderiam tocar os seus corações com as suas reivindicações simplesmente não existem; estão fora do seu horizonte de interesses.

74. Nas pessoas que passam ao largo, há um detalhe que não podemos ignorar: eram pessoas religiosas. Mais ainda, dedicavam-se a dar culto a Deus: um sacerdote e um levita. Isto é uma forte chamada de atenção: indica que o facto de crer em Deus e O adorar não é garantia de viver como agrada a Deus. Uma pessoa de fé pode não ser fiel a tudo o que essa mesma fé exige dela e, no entanto, sentir-se perto de Deus e julgar-se com mais dignidade do que os outros. Mas há maneiras de viver a fé que facilitam a abertura do coração aos irmãos, e esta será a garantia duma autêntica abertura a Deus. São João Crisóstomo expressou, com muita clareza, este desafio que se apresenta aos cristãos: «Queres honrar o Corpo de Cristo? Não permitas que seja desprezado nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir, nem O honres aqui no templo com vestes de seda, enquanto lá fora O abandonas ao frio e à nudez».[58] O paradoxo é que, às vezes, quantos dizem que não acreditam podem viver melhor a vontade de Deus do que os crentes.

75. Habitualmente os «salteadores do caminho» têm, como aliados secretos, aqueles que «passam pelo caminho olhando para o outro lado». O círculo encerra-se entre aqueles que usam e enganam a sociedade para chupá-la, e aqueles que julgam manter a pureza na sua função crítica, mas ao mesmo tempo vivem desse sistema e seus recursos. Verifica-se uma triste hipocrisia, quando a impunidade do delito, o uso das instituições para interesses pessoais ou corporativos e outros males que não conseguimos banir, se associam a uma desqualificação permanente de tudo, à constante sementeira de suspeitas que gera desconfiança e perplexidade. Ao engano de que «tudo está mal» corresponde o dito «ninguém o pode consertar. Sendo assim, que posso fazer eu?» Deste modo, alimenta-se o desencanto e a falta de esperança; e isto não estimula um espírito de solidariedade e generosidade. Fazer um povo precipitar no desânimo é o epílogo dum perfeito círculo vicioso: assim procede a ditadura invisível dos verdadeiros interesses ocultos, que se apoderaram dos recursos e da capacidade de ter opinião e pensamento próprios.

76. Olhemos enfim o ferido. Às vezes sentimo-nos como ele, gravemente feridos e atirados para a margem da estrada. Sentimo-nos também abandonados pelas nossas instituições desguarnecidas e carentes, ou voltadas para servir os interesses de poucos, fora e dentro. Com efeito, «na sociedade globalizada, existe um estilo elegante de olhar para o outro lado, que se pratica de maneira recorrente: sob as aparências do politicamente correto ou das modas ideológicas, olhamos para aquele que sofre mas não o tocamos, transmitimo-lo ao vivo e até proferimos um discurso aparentemente tolerante e cheio de eufemismos».[59]

Recomeçar

77. Cada dia é-nos oferecida uma nova oportunidade, uma etapa nova. Não devemos esperar tudo daqueles que nos governam; seria infantil. Gozamos dum espaço de corresponsabilidade capaz de iniciar e gerar novos processos e transformações. Sejamos parte ativa na reabilitação e apoio das sociedades feridas. Hoje temos à nossa frente a grande ocasião de expressar o nosso ser irmãos, de ser outros bons samaritanos que tomam sobre si a dor dos fracassos, em vez de fomentar ódios e ressentimentos. Como o viandante ocasional da nossa história, é preciso apenas o desejo gratuito, puro e simples de ser povo, de ser constantes e incansáveis no compromisso de incluir, integrar, levantar quem está caído; embora muitas vezes nos vejamos imersos e condenados a repetir a lógica dos violentos, de quantos nutrem ambições só para si mesmos, espalhando confusão e mentira. Deixemos que outros continuem a pensar na política ou na economia para os seus jogos de poder. Alimentemos o que é bom, e coloquemo-nos ao serviço do bem.

78. É possível começar por baixo e caso a caso, lutar pelo mais concreto e local, até ao último ângulo da pátria e do mundo, com o mesmo cuidado que o viandante da Samaria teve por cada chaga do ferido. Procuremos os outros e ocupemo-nos da realidade que nos compete, sem temer a dor nem a impotência, porque naquela está todo o bem que Deus semeou no coração do ser humano. As dificuldades que parecem enormes são a oportunidade para crescer, e não a desculpa para a tristeza inerte que favorece a sujeição. Mas não o façamos sozinhos, individualmente. O samaritano procurou um estalajadeiro que pudesse cuidar daquele homem, como nós estamos chamados a convidar outros e a encontrar-nos num «nós» mais forte do que a soma de pequenas individualidades; lembremo-nos de que «o todo é mais do que a parte, sendo também mais do que a simples soma delas».[60] Renunciemos à mesquinhez e ao ressentimento de particularismos estéreis, de contraposições sem fim. Deixemos de ocultar a dor das perdas e assumamos os nossos delitos, desmazelos e mentiras. A reconciliação reparadora ressuscitar-nos-á, fazendo perder o medo a nós mesmos e aos outros.

79. O samaritano do caminho partiu sem esperar reconhecimentos nem obrigados. A dedicação ao serviço era a grande satisfação diante do seu Deus e na própria vida e, consequentemente, um dever. Todos temos uma responsabilidade pelo ferido que é o nosso povo e todos os povos da terra. Cuidemos da fragilidade de cada homem, cada mulher, cada criança e cada idoso, com a mesma atitude solidária e solícita, a mesma atitude de proximidade do bom samaritano.

O próximo sem fronteiras

80. Jesus propôs esta parábola para responder a uma pergunta: «Quem é o meu próximo?» (Lc 10, 29). A palavra «próximo» na sociedade do tempo de Jesus costumava indicar a pessoa que está mais vizinha, mais próxima. Pensava-se que a ajuda devia encaminhar-se em primeiro lugar para aqueles que pertencem ao próprio grupo, à própria raça. Para alguns judeus de então, um samaritano era considerado um ser desprezível, impuro, e, por conseguinte, não estava incluído entre o próximo a quem se deveria ajudar. O judeu Jesus transforma completamente esta impostação: não nos convida a interrogar-nos quem é vizinho a nós, mas a tornar-nos nós mesmos vizinhos, próximos.

81. A proposta é fazer-se presente a quem precisa de ajuda, independentemente de fazer parte ou não do próprio círculo de pertença. Neste caso, o samaritano foi quem se fez próximo do judeu ferido. Para se tornar próximo e presente, ultrapassou todas as barreiras culturais e históricas. A conclusão de Jesus é um pedido: «Vai e faz tu também o mesmo» (Lc 10, 37). Por outras palavras, desafia-nos a deixar de lado toda a diferença e, em presença do sofrimento, fazer-nos vizinhos a quem quer que seja. Assim, já não digo que tenho «próximos» a quem devo ajudar, mas que me sinto chamado a tornar-me eu um próximo dos outros.

82. O problema é que Jesus destaca explicitamente que o homem ferido era um judeu – habitante da Judeia –, enquanto aquele que se deteve e o ajudou era um samaritano – habitante da Samaria –. Este detalhe reveste-se duma importância excecional ao refletirmos sobre um amor que se abre a todos. Os samaritanos habitavam numa região que fora contagiada por ritos pagãos, o que – aos olhos dos judeus – os tornava impuros, detestáveis, perigosos. De facto, um antigo texto hebraico, que menciona as nações odiadas, refere-se à Samaria afirmando até que «nem sequer é um povo», e acrescenta que é «o povo insensato que habita em Siquém» (Sir 50, 25.26).

83. Isto explica por que uma mulher samaritana, quando Jesus lhe pediu de beber, tenha observado: «Como é que Tu, sendo judeu, me pedes de beber a mim que sou samaritana?» (Jo 4, 9). E noutra ocasião, ao procurar acusações que pudessem desacreditar Jesus, a coisa mais ofensiva que encontraram foi dizer-Lhe: «tens um demónio» e «és um samaritano» (Jo 8, 48). Portanto, este encontro misericordioso entre um samaritano e um judeu é uma forte provocação, que desmente toda a manipulação ideológica, desafiando-nos a ampliar o nosso círculo, a dar à nossa capacidade de amar uma dimensão universal capaz de ultrapassar todos os preconceitos, todas as barreiras históricas ou culturais, todos os interesses mesquinhos.

A provocação do forasteiro

84. Por fim, lembro que Jesus diz noutra parte do Evangelho: «Era forasteiro e recolheste-me» (Mt 25, 35). Jesus podia dizer estas palavras, porque tinha um coração aberto que assumia os dramas dos outros. São Paulo exortava: «Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram» (Rm 12, 15). Quando o coração assume esta atitude, é capaz de se identificar com o outro sem se importar com o lugar onde nasceu nem donde vem. Entrando nesta dinâmica, em última análise, experimenta que os outros são «a sua carne» (Is 58, 7).

85. Para os cristãos, as palavras de Jesus têm ainda outra dimensão, transcendente. Implicam reconhecer o próprio Cristo em cada irmão abandonado ou excluído (cf. Mt 25, 40.45). Na realidade, a fé cumula de motivações inauditas o reconhecimento do outro, pois quem acredita pode chegar a reconhecer que Deus ama cada ser humano com um amor infinito e que «assim lhe confere uma dignidade infinita».[61] Além disso, acreditamos que Cristo derramou o seu sangue por todos e cada um, pelo que ninguém fica fora do seu amor universal. E, se formos à fonte suprema que é a vida íntima de Deus, encontramo-nos com uma comunidade de três Pessoas, origem e modelo perfeito de toda a vida em comum. A teologia continua a enriquecer-se graças à reflexão sobre esta grande verdade.

86. Às vezes deixa-me triste o facto de, apesar de estar dotada de tais motivações, a Igreja ter demorado tanto tempo a condenar energicamente a escravatura e várias formas de violência. Hoje, com o desenvolvimento da espiritualidade e da teologia, não temos desculpas. Todavia, ainda há aqueles que parecem sentir-se encorajados ou pelo menos autorizados pela sua fé a defender várias formas de nacionalismo fechado e violento, atitudes xenófobas, desprezo e até maus-tratos àqueles que são diferentes. A fé, com o humanismo que inspira, deve manter vivo um sentido crítico perante estas tendências e ajudar a reagir rapidamente quando começam a insinuar-se. Para isso, é importante que a catequese e a pregação incluam, de forma mais direta e clara, o sentido social da existência, a dimensão fraterna da espiritualidade, a convicção sobre a dignidade inalienável de cada pessoa e as motivações para amar e acolher a todos.

13 comentários:

  1. Senhor,
    Que possamos ser o bom samaritano em nossas ações diárias a todas as pessoas vulneráveis ...
    Que estejamos atentos à necessidade dos problemas alheios através da: Misericórdia ...
    Amor no coração...
    Práticar o bem...
    Acolher ...
    Aproximar...
    Amparar...
    Incluir...
    Reabilitar....
    Dar o nosso tempo.para o próximo...
    Ser caridoso e cuidadoso...
    Responsável...
    Solidário...
    Cidadãos de um novo elo social no bem comum frente à fragilidade de cada um...
    Que nossa existência se faça no encontro ...
    Um novo encontro de diálogo , e paz...
    Esperança da semeadura do amor!!!!
    Assim seja!!
    Bom dia!!!!

    ResponderExcluir
  2. Bom dia padre João Carlos que o senhor tenha um ótimo começo de semana abençoada e iluminada que papai do céu te proteja e nossa senhora auxiliadora envolve o senhor no seu caminho 🙌😇🌟🌟🌹
    Deus é poderoso para acrescentar a você graça, que em todas as coisas,em todo o tempo, tendo tudo o que é necessário vocês transborde em boa obras.
    Senhor Jesus, passaste a vida na terra cuidado dos outros.
    Que eu do mesmo modo possa ir até os desesperados,e feridos com compaixão.
    Quero ajudar os corações cansados a encontrar descanso em ti.
    Acolhe me te amo.🙌👏🌹🐑💕

    ResponderExcluir
  3. Padre João Carlos, uma segunda feira de muitas bênçãos, que este Santo Evangelho que o sr. nos explica tão bem, sirva para cada vez mais nos conscientizar, que temos o dever de cuidar daqueles mais necessitados, e excluídos, Muito obrigada. sua bênção.

    ResponderExcluir
  4. Bom dia a todos a sua bênção Pe João Carlos que sejamos mais misericordioso mais amor menos julgamentos ótima semana Deus abençoe

    ResponderExcluir
  5. Bom dia Padre João Carlos. Que o DEUS TODO PODEROSO lhe dê: fé, paz,amor alegria, saúde e sabedoria.
    Que possamos cuidar da fragilidade do ser humano com a mesma atitude do bom samaritano.
    Senhor e pai humanidade, estimulai-nos a criar sociedades mais sadias e um mundo mais dígno, sem fome,sem pobreza,
    sem violência, sem guerras.
    À padre João Carlos e toda equipe da AMA, desejo uma excelente e abençoada semana.
    Ester de Campinas São Paulo.

    ResponderExcluir
  6. Sério?Sim, será?Com certeza,hoje após alguns centenários, precisamente século XXI,praticar,acolher,respeitar,cuidar ainda não está acessível todos,pois pôr questão de escolha mantendo-se naquele lugar deserto (comodidade),medo, tristeza,fragilidades que todos somos vítimas que consequentemente vitimamos outros.Porque? Somos conservadores tradicionais vivemos em alguns aspectos na idade da pedra, camuflados de Cristã!Cheios de rituais sem nenhum intedimento do amor que Deus espera pacientemente.Ser ou ser Cristão?Que quando o bem cobtaminar os imunes, mistério inexplicável descritos encontrado em pessaos fortes, humildes, pecadores... Porém humanizados.

    ResponderExcluir
  7. Boa tarde Padre João Carlos, obrigado pelas palavras do Evangelho e também pelas recebidas da Encíclica, todas maravilhosas e de profundidade no Amor. Estaremos em Oração e que o Espírito de Luz nos Fortaleça Sempre ao Amor sem fronteiras. Salve Maria.

    ResponderExcluir
  8. A palavra de Deus nos ensina o amor, atençao,humildade, coragem,paciencia,tristeza,alegrias pois passamos por todos estes problemos para sermos obedientes ao Pai ,e aprendermos o que é a vida.

    ResponderExcluir
  9. Boa tarde Padre João Carlos a sua benção e que possamos ser o bom samaritano, para acolher os mais fracos, hoje e sempre amém

    ResponderExcluir
  10. Que bom Pé. João Carlos, estás reflexão sobre a encíclica do papa Francisco e mais ainda, da parábola do bom samaritano, que parece esquecida na humanidade. Sedes misericordiosos com nossos irmãos sem distinção. Somente isto séria bastante para viver num mundo melhor. Ana Braga de São Luís MA.

    ResponderExcluir
  11. Senhor Deus, grande e poderoso, eu LHE agradeço por mais um dia de vida. Entretanto, me conceda a graça de pregar o evangelho conforme a VOSSA vontade. Me conceda a graça de buscar a VOSSA aprovação. Me conceda a graça de servi-Lo com seriedade. Me conceda a graça de alcançar a vida eterna. Me conceda a graça de amá-Lo de todo o meu coração e com toda a minha alma, com toda a minha força e com toda a minha inteligência; e ao meu próximo como a mim mesmo. Me conceda a graça de ter compaixão dos sofredores. Me conceda a graça de ser misericordioso cuidando dos necessitados. Isso eu LHE peço pela intercessão de Jesus Cristo, VOSSO querido filho e meu amado SALVADOR. Amém.

    ResponderExcluir
  12. Boa noite padre João Carlos é muito bom essa reflexão sobre o samaritano com a boa bondade de ajudar o ferido também a encíclica do Papa Francisco seu bênção paz e bem amém

    ResponderExcluir
  13. Boa noite Padre João Carlos e obrigado pelas meditações e reflexões, que Deus abençoe sempre o Sr. Meu Jesus que eu esteja sempre pronta para servir, igreja esse Samaritano que cuidou dás feridas do homem sofredor. sua benção Padre.🙌🙌❤️🙋

    ResponderExcluir

Deixe sua opinião.
Desejando comunicar-se em particular com o Pe. João Carlos, use esse email: padrejcarlos@gmail.com ou o whatsapp 81 3224-9284.

Postagem em destaque

Casamento santo.

    06 de outubro de 2024.   27º Domingo do Tempo Comum   Evangelho   Mc 10,2-16 Naquele tempo, 2alguns fariseus se aproximaram de Jesus. Pa...

POSTAGENS MAIS VISTAS