PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA: OS CACHORRINHOS DEBAIXO DA MESA

OS CACHORRINHOS DEBAIXO DA MESA

É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas que as crianças deixam cair (Mc 7, 28)
14 de fevereiro de 2019.
Não foi uma coisa fácil as primeiras comunidades cristãs se abrirem para os pagãos. Jesus era judeu. Maria era judia. Os apóstolos, todos judeus. Aquela gente tinha consciência clara de ser o povo de Deus, o povo com quem Deus vivia em uma sagrada aliança. O Senhor Deus mesmo o tinha escolhido como seu povo, libertando-o da dominação dos pagãos no Egito e em Canaã. A orientação sempre foi tomar distância dessas nações idólatras. Então, os pagãos estavam fora do horizonte dos judeus piedosos do tempo de Jesus. Certo, os que queriam viver a fé no Deus vivo podiam se aproximar das comunidades judaicas como prosélitos, mas não com os mesmos direitos. Todo homem judeu estava circuncidado, sinal de sua aliança com Deus. E todo judeu marcava bem sua condição de membro povo da aliança pelo cumprimento do sábado, da páscoa, das peregrinações e festas anuais e por tudo o que a Lei de Moisés prescrevia.
Na verdade, essa ideia de separação e exclusão dos outros povos cresceu muito com o exílio da Babilônia. Foi quase uma forma de sobrevivência de uma comunidade muito machucada e humilhada pelos grandes impérios que se sucederam. O ambiente em que Jesus nasceu e cresceu era esse. Aliás, tinha um novo complicador: a dominação dos pagãos romanos. Mas, nem sempre se pensou assim em Israel. Quando o povo começou a se formar, Abraão foi chamado por Deus para ser uma bênção para todas as nações da terra. E mesmo nos momentos mais dramáticos da história deles, havia quem pensasse diferente. Vários profetas, como Isaías do tempo do exílio, sonharam com um mundo em que todas as nações conheceriam o Deus verdadeiro e se encontrariam numa grande peregrinação à cidade santa de Jerusalém.
Depois que Jesus voltou para o Pai, as comunidades cristãs foram se espalhando e, aos poucos, foram integrando também pagãos convertidos. Foi uma mudança muito grande, assimilada com dificuldade pelos cristãos que vinham da prática da Lei de Moisés. Chegou-se a uma tensão tão grande, que precisou haver uma reunião em Jerusalém com Paulo, Pedro e todos os apóstolos e lideranças para resolver isso. Afinal, a comunidade se abriu ao Espírito Santo e foi vendo com clareza, que chegara o tempo em que Deus queria que todos conhecessem, amassem e seguissem a Cristo, fossem judeus ou não. E pra seguir Jesus não era preciso ter os mesmos costumes que os judeus (como por exemplo a circuncisão, o sábado, etc.). O cristianismo era um novo momento do povo de Deus, aberto a todas as nações e povos do mundo.
Assim, quando os evangelistas e suas comunidades contaram a história de Jesus, se lembraram desse passo tão sério que foi deixar de discriminar os pagãos para integrá-los na comunidade, como irmãos. Foi assim que Marcos contou que Jesus estava visitando um território pagão e veio uma mulher daquela região pedir-lhe para libertar a filha da dominação do demônio. A resposta de Jesus foi como o seu povo pensava, a resposta de uma comunidade que ainda não tinha acolhido os pagãos como irmãos: “Deixa primeiro que os filhos fiquem saciados, porque não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos”. Os filhos, claros, são os judeus. Os cachorros são os pagãos. Essa era a mentalidade. A resposta da mulher representa bem toda a humildade e o espírito penitente com que os pagãos se aproximaram da fé em Jesus Cristo: “É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas que as crianças deixam cair”. Diante dessa condição necessitada, penitente e humilde dos pagãos, as comunidades abriram os braços para acolhê-los. A resposta de Jesus é o retrato disso: “Por causa do que acabas de dizer, podes voltar para casa. O demônio já saiu de tua filha”. A salvação em Cristo veio para todos.
Guardando a mensagem
O episódio da mulher pagã que foi pedir a Jesus para libertar sua filha do demônio representa bem as pessoas de outros povos e religiões que procuraram a comunidade cristã para participar também da salvação em Cristo. Os seguidores de Jesus tiveram muita dificuldade para integrar os pagãos na comunidade, porque viviam dentro de uma mentalidade de discriminação dos não-judeus. Contando essa história, os evangelistas mostravam como Jesus, dentro daquele contexto de exclusão dos pagãos, rompeu com esse esquema e alargou a sua missão também para os pagãos. Hoje, padecemos também de uma mentalidade que separa claramente o religioso do profano, as coisas de Deus das coisas do mundo. Jesus veio para salvar o mundo. E nos mandou anunciar a salvação a todos. A comunidade cristã tem a vocação de ser uma comunidade em diálogo com o mundo, com as outras religiões, com todos. A Igreja é o fermento na massa, o fermento de Deus no mundo.
É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas que as crianças deixam cair (Mc 7, 28)
Rezando a palavra
Senhor Jesus,
Tu és o salvador da humanidade. Venceste o pecado e o mal que mandava no mundo. É assim que lemos no evangelho tantas histórias em que libertaste pessoas de teu povo da dominação do demônio, até mesmo dentro da sinagoga. Nessa história da mulher pagã que foi te pedir para tu libertares sua filha, vemos como tua ação redentora abriu-se também para as pessoas pagãs. E sentimos, contigo e com as primeiras comunidades cristãs,  como colocar-se como missionário do Pai a serviço do bem de todos, sem discriminação, foi um passo muito importante no entendimento de tua missão. Senhor, ajuda-nos a vencer também a estreiteza de nossos pensamentos que nos fecham em nossos templos e não nos permitem ver a missão na sua abrangência no mundo, como bênção que deve chegar a todos, transformando toda a realidade com a tua graça. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.
Vivendo a palavra
Será que você poderia explicar a passagem de hoje a alguém? Seria um bom exercício de compreensão e de compromisso com a missão. O texto de hoje é Marcos 7,24-30.

Pe. João Carlos Ribeiro – 14.02.2019

28 comentários:

  1. Respostas
    1. Excelente reflexão!

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    2. Todos os dias espero ansiosa por esta reflexão e essa em especial entendi diretinho Deus abençoe padre.

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    3. Obrigafa,Padre.Há muito queria entender este Evan.Agora ,o senhor foi.minha luz.Sua bênçãoPassarei.para.outros irmãos.Amém.Deus seja louvado!

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    4. Obrigado Senhor.Fazei que sejamos cristãos acolhedores e nao juízes dos nossos irmãos. Amém.

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  2. Entendi muito bem sobre crianças, as migalhas, e os cachorrinhos, e digo que esse texto e a passagem foram muito esclarecedores, obrigado. Pois com isso não me sinto tão excluído ou diferente do povo escolhido, pois Jesus veio pra todos de forma magnífica e humilde

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  3. PARABÉNS lindo comentários. Deus queira que vivamos como irmaos sem discriminação.

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  4. Vejo nessa passagem o mesmo que ocorreu em outras da Bíblia com a do sírio Naamã e a viúva de Sarepta no antigo testamento; o centurião romano dizendo que ele não era digno de Jesus entrar na sua morada e bastava dizer uma palavra que seu amigo seria curado, e Jesus diz. Não encontrei tamanho fé no meu povo. Peço a Deus que saiba reconhecer Jesus, pois, na época os igrejas os não reconheceram. Essa é a reflexão que deixo para vocês.

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  5. Se conhecermos os dons de Deus o mundo seriam de ferente. OBRIGADO SENHOR por teus ensinamentos.

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  6. A beleza desta passagem mostra a abertura de Jesus para todos. Basta ter fé e esperança. A mulher mesmo sendo pagã mostrou fé diante de Jesus e disse que mesmo com migalhas ela tinha esperança e fé que sua filha seria salva.

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  7. A mensagem de hoje lida e refletida assim, faz com que a gente se sinta cada vez mais bem próspera de Deus. Parabéns padre João Carlos por fazera reflexão tão esclarecedora dentro de uma simplicidade que quanto mais ouvimos aumenta a vontade de ouvir mais . Pois está em sintonia com a palavra de Deus diariamente para todos os Cristão batizado ou não é um alimento Espiritualmente excencial na vida do serhumano.Que os evangelizadores não se canse de pregar a palavra de Deus e,que os ouvintes de escutar . Jesus nos abençoe.!!

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  8. Quero receber as meditações do Evangelho com o Pe. João Carlos pelo watts App:
    (086) 9499-1049.

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  9. Bom dia. Parabéns pela palavras que passa do evangelho de Jesus, com tanta simplicidade que nós compreendemos com facilidade. E uma felicidade escutar estas palavras.

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  10. Amei e muito esclarecedor.

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  11. Quero a meditação com o padre João Carlos

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  12. Magnifico esclarecimiento! !!!

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  13. Boa tarde padre que Deus o abençoe, muito esclarecedor suas palavras.

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  14. Boa tarde padre !! Deus o abençoe

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  15. Gostaria de recebwr diariamente
    ..

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  16. Grande evangelizador, que Deus o abençoe.

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  17. Esta sendo muito bom essa partilha da palavra estou aprendendo mas..

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  18. Obrigada querido Padre João Carlos suas reflexões são um tesouro que nos ajuda a rezar e enviar outros que precisam deste alimento.
    Agora estou indo para a Adoração do Santíssimo, e Santa Missa.
    O Senhor está sempre presente minhas orações.
    Deus te proteja com Saúde e Paz.

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  19. Que lindo comentário amei! muito esclarecedor parabéns padre João Carlos que Jesus continui te abençoando.

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