E Jesus admirou-se com a falta de fé
deles (Mc 6, 6)
08 de julho de 2018.
Naquele sábado, Jesus estava em Nazaré, sua terra, com seus discípulos
e foi com eles participar da celebração na sinagoga. Nas sinagogas, não havia sacerdotes,
não se ofereciam sacrifícios. Sacrifícios e sacerdotes só no Templo de
Jerusalém. Na sinagoga, os leigos adultos podiam ler e pregar sobre a palavra
de Deus, sobretudo os mestres da Lei. Foi assim que Jesus se levantou e leu uma
passagem bíblica e falou sobre o Reino de Deus. O povo ali presente na
assembleia, em grande maioria, o conhecia. Nazaré era um lugar pequeno, um
povoado. Todo mundo se conhecia. E Jesus tinha vivido ali desde pequeno. Tinha
saído já rapaz. Agora estava de volta e mostrando muita sabedoria e muita
desenvoltura, como pregador. Além do mais, não paravam de chegar à Nazaré as
histórias de curas e milagres que ele operava por onde passava. Num primeiro
momento, ali na sinagoga, ficou todo mundo admirado com Jesus.
Mas, logo começaram as críticas e resistências, uma má
vontade impressionante. ‘De onde recebeu tudo isso?’ Se viesse da capital, se
fosse uma pessoa das elites de Israel... mas nada, ele era dali mesmo, filho da
viúva Maria, seus primos-irmãos e primas-irmãs eram todos conhecidos da
comunidade. ‘Como conseguiu tanta sabedoria?”. Fosse pelo menos um mestre da
Lei, um judeu estudado, mas nada, tinha estudado apenas na escolinha da
sinagoga quando menino. ‘E esses grandes milagres realizados por sua mãos?”. Um
carpinteiro, é disso que suas mãos entendem. Que conversa de milagres?! Diz o
evangelho: ficaram escandalizados com Jesus, isto é, ficaram irritados, revoltados,
furiosos com ele.
O motivo da rejeição a Jesus, por parte dos seus conterrâneos,
é claro. Eles não quiseram reconhecer que em Jesus agia o próprio Deus. E por
quê? Porque em Jesus, eles viam a própria fraqueza (gente do interior pouco
estudada, à margem do poder, um povoado de trabalhadores). E estavam certos que
a manifestação de Deus não é na fraqueza, na pobreza, na marginalização. O
lugar de Deus é nos centros de poder, nas classes privilegiadas, nas elites letradas.
Deus habita no poder, na riqueza, na ciência. Esse é o pensamento de muita
gente, não é verdade?
Nazaré, como muitos cristãos de hoje, não entende a dinâmica
pela qual Deus está nos salvando. O Pai enviou o filho, em nossa condição
humana. O verbo se fez carne, assumindo nossa vida em sua fragilidade e fraqueza.
A oração da Missa deste domingo diz: “Ó Deus, que pela humilhação do vosso
filho reerguestes o mundo decaído...”. Jesus assumiu nossa fraqueza, nasceu,
viveu e morreu humanamente, andando pelos nossos caminhos e morrendo na nossa
morte. Para vencê-la, é verdade. Para nos conduzir pelos nossos caminhos
humanos. É assim que ele reergueu o mundo decaído: por sua humilhação; por seu
esvaziamento, como diz a carta aos Filipenses. É o mistério da en-car-na-ção. ‘O
Verbo se fez carne e habitou entre nós’.
Vamos guardar a
mensagem
Sem acolhermos o mistério da encarnação - a dinâmica pela
qual Deus está nos salvando em Cristo - nós nos negamos a reconhecer a presença
atual de Jesus na história humana e na sua Igreja. Mesmo ressuscitado, ele continua a ser o
Emanuel, Deus-conosco. Ele mesmo disse que estava no faminto, no sedento, no
maltrapilho, no migrante, no doente, no prisioneiro. Neles, podemos
alimentá-lo, vesti-lo, visitá-lo, defendê-lo, acolhê-lo. Pela atuação do Santo Espírito,
ele nos fala pelas palavras das Escrituras; ele nos alimenta com sua vida no
sinal eucarístico do pão; ele nos pastoreia pelo ministério de pastores marcados
pela fragilidade. É o mistério da encarnação. “É na fraqueza que a força de
Deus se manifesta”, escreveu São Paulo.
E Jesus admirou-se com a falta de fé
deles (Mc 6, 6)
Senhor Jesus,
Os teus conterrâneos agiram
com preconceito. Na verdade, rejeitando-te por seres conhecido ali e membro
daquela comunidade, estavam desprezando a si próprios, ao seu povoado, à sua
história. Certamente, eles tinham introjetado preconceitos de outras regiões
contra sua terra. Teu próprio discípulo Natanael, antes de te conhecer, saiu-se
com essa: “De Nazaré, pode sair algo de bom?”. Sem atenção ao mistério da
encarnação, Senhor, ficamos te procurando nos palácios, quando moras ao nosso
lado; e aguardando o teu glorioso triunfo, quando passas carregando a cruz na
subida do calvário; e preparamo-nos para ouvir a mais erudita pregação
teológica, quando tu vens e nos contas parábolas e historietas populares. Ajuda-nos,
Senhor, a acolher, na fé, o mistério da encarnação. Seja bendito o teu santo
nome, hoje e sempre. Amém.
Vamos viver a palavra
Onde anda a sua Bíblia? Não a deixe escondida. Não tenha
vergonha dela. Leia o evangelho de hoje em sua Bíblia (Marcos 6, 1-6).
Pe. João Carlos Ribeiro
– 08.07.2018
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