Quero a misericórdia e não o sacrifício (Mt 12, 7)
Em caminhada com Jesus, em dia de
sábado, os discípulos com fome, passando no meio de uma plantação, apanharam
espigas para comer. Pronto, isso foi o suficiente para escandalizar os
fariseus. Acusaram os discípulos de estarem profanando o sábado.
Os judeus guardam o sábado,
pensando no descanso de Deus no final da obra da criação. Nós cristãos guardamos o domingo, por causa da
ressurreição de Jesus. Os muçulmanos já guardam a sexta, festejando o dia em
que Deus – Alá – criou o homem. No tempo de Jesus, a interpretação que os hebreus
faziam do sábado era muito rigorosa, cheio de normas e detalhes. Não se podia
trabalhar, de jeito nenhum. Até os passos deviam ser contados para não se
ofender a santidade do sábado, o shabat.
Jesus chamou os seus opositoes à
razão: a necessidade humana está acima de uma norma religiosa. Se eles estavam
com fome, é justo que procurassem conseguir o alimento. Note que a reclamação não
foi porque arrancaram espigas da plantação. Isto era possível. O que não se podia
era fazer isso em dia de sábado. Jesus relembrou que Davi e seus soldados, voltando
de uma campanha, mortos de fome, comeram os pães das oferendas do Templo, o que
não era permitido. E estava tudo certo.
Religião sem caridade vira uma
coisa monstruosa. Jesus recordou um ensinamento escrito no Profeta Oséias, no
Antigo Testamento “Quero a misericórdia e não o sacrifício”. Quando você ouvir
essa palavra “sacrifício” na Bíblia, lembre que ela se refere aos sacrifícios
de animais que se faziam no Templo de Jerusalém (bois, carneiros, aves). O
sacrifício é uma forma de culto muito comum nas religiões antigas. Então, Deus está dizendo nesta palavra do
profeta que prefere a misericórdia ao sacrifício de animais. O verdadeiro culto
é o da misericórdia, do amor, da caridade para com o próximo.
No livro do Profeta Isaías, também
no Antigo Testamento, há uma reclamação de Deus. Deus reclama do culto que está
recebendo: tantos sacrifícios de animais, ofertas, mas tanta injustiça, tanta
violência no meio do povo, e nas mãos e no coração de quem está celebrando o
culto! Isso sim é uma ofensa a Deus. "Meu
sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito, um coração arrependido e
humilhado", rezamos no Salmo 50.
Os fariseus estavam reclamando
porque, em dia de sábado, os discípulos, que estavam com fome, estavam colhendo
espigas para comer, durante o trajeto. O que vai agradar mais a Deus: seguir à
risca a lei do sábado ou dar de comer a quem está com fome? O sacrifício ou a
misericórdia?
Em nossa vida, muitas vezes
deixamos de lado a caridade, a atenção às necessidades do próximo, para
realizar ritos religiosos. Mas, Deus prefere que sejamos caridosos antes de qualquer
coisa, porque essa é a maior homenagem que nós podemos lhe prestar.
Vamos guardar a mensagem de hoje
Os fariseus do tempo de Jesus
faziam uma interpretação muito rígida da lei do sábado, uma norma religiosa que
visava o louvor de Deus, mas também o descanso do tralho nesse dia. Eles viram
os discípulos colhendo espigas no sábado e ficaram revoltados. Para eles, com
esse trabalho, o sábado estava sendo profanado. ‘Misericórdia eu quero, não
sacrifícios’, disse o Senhor pela boca dos profetas. Sacrifícios era o culto
realizado, no Templo, com o oferecimento de animais. Animais eram sacrificados
no Templo em louvor a Deus ou para invocar o seu perdão. Jesus lhes mostrou que
Deus está mais interessado na caridade, na misericórdia do que no cumprimento
de ritos e costumes religiosos.
Vamos acolher a palavra com um momento de prece
Senhor Jesus,
Às vezes, damos mais valor aos
atos religiosos do que à caridade para com o próximo. Mas tu queres a
misericórdia, mais do que o sacrifício, os ritos, o cumprimento de normas
religiosas. Amar os irmãos, sobretudo defendendo, protegendo os doentes, os
presos, os pobres, os mais frágeis, é mais importante do que apenas cumprir obrigações
religiosas. Senhor, ajuda-nos a viver nossa vida cristã e nossas práticas
religiosas em sintonia com o amor ao próximo. Que a nossa devoção e o culto que
te dirigimos tenham sua versão concreta no serviço aos mais pobres, no respeito
aos idosos, na defesa da vida, pois preferes a misericórdia ao sacrifício. Amém.
Pe. João Carlos Ribeiro – 20.07.2017
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