O ano litúrgico se encerra com a aclamação de Cristo Rei do Universo. Celebramos
a realeza de Jesus, o seu senhorio no mundo, ele que veio anunciar o Reino de
Deus.
Falar de Jesus como rei é uma coisa, até certo ponto, perigosa.
Perigosa, porque podemos ser levados a associar a imagem de Jesus aos reis
deste mundo, aos governantes, aos poderosos. E aí seria um desastre... pois, seria
o contrário do que o evangelho testemunha.
A cena do evangelho que melhor descreve a realeza de Jesus é lida nessa
oportunidade, em nossas celebrações. Lucas 23. Jesus é apresentado como rei, na
sua cruz. Na cruz é que ele é verdadeiramente rei. Vamos entender isso...
Quem levou Jesus à cruz? Bom, formalmente foi uma trama humana que
envolveu os chefes do seu povo, os dominadores de plantão e até gente próxima
dele, como o seu apóstolo Judas. Mas, no fundo no fundo, foi o nosso pecado, o
nosso afastamento de Deus que começou no Jardim do Éden, no Paraíso, com o
pecado dos nossos primeiros pais.
Penso que isso esteja demostrado nos que zombavam, insultavam,
blasfemavam contra ele, ali aos pés da cruz: os chefes, os soldados, o estado e
um dos malfeitores. Quatro representações da humanidade pecadora, quatro, para
falar da totalidade. Eu disse “o estado”, para me referir a quem o condenou e
mandou escrever na tabuleta: “Este é o Rei dos Judeus”, o império romano acionado
pelos líderes do Templo.
Jesus estava na cruz e o letreiro dizia que ele era o rei. Se a gente
entender isso, entendeu tudo. Jesus estava na cruz e o letreiro dizia que ele
era o rei. Todos os insultos diziam quase a mesma coisa: “Salve-se a si mesmo”.
Você sabe que nesse breve texto, esse verbo
“salvar”, insistindo em “salvar-se a si mesmo” aparece 4 vezes!? Impressiona, é
um número de totalidade. Todo mundo
cuida de salvar-se a si mesmo. É o óbvio. Cada um trata de resolver primeiro o
seu lado. Salvou a outros, curou tanta gente, libertou a tantos... Por que não
se salva a si mesmo? É assim que se é
rei, diz a nossa experiência. É assim que se governa. É o que vemos todos os
dias nos noticiários: governantes que estão sendo investigados ou presos porque
procuraram no poder “salvar-se a si mesmos”, me entende?
Jesus reina diferente, reina salvando os outros, não “salvando-se a si
mesmo”. Por isso, está na cruz. Porque não reina como os outros. Porque não
pode ser compreendido pelos que estão reinando na base do “salvar-se a si
mesmos”. Os chefes, ao condenar Jesus, estavam procurando salvar o controle que
eles tinham sobre o povo e sua religião. Os romanos, via Pilatos e seus
soldados, estavam salvando-se a si mesmos, defendo o império de rebeldes e insurgentes.
O malfeitor crucificado também estava procurando o seu benefício pessoal,
salvar-se da morte na cruz.
O outro malfeitor, reconhecendo que eles mereciam aquela pena, pediu a
Jesus para que se lembrasse dele quando entrasse no seu reinado. Esse “bom
ladrão” reconhece ser pecador, está num processo de conversão. Reconhece que
Jesus é rei de verdade. E o rei de verdade, que está na cruz salvando os
outros, lhe diz: “ainda hoje estarás comigo no paraíso”. Jesus estava reinando,
na cruz, salvando os outros.
“Ainda hoje estarás comigo no paraíso”. No paraíso? Mas, não foi do
paraíso que o homem foi expulso por causa do pecado? Pois é, na árvore da cruz,
que lembra a árvore do jardim do Éden, onde Adão e Eva caíram, Jesus está
levando de volta o homem para o paraíso, para a comunhão com Deus. “Ainda hoje
estarás comigo no paraíso”.
Jesus estava reinando, na cruz, dando a sua vida, salvando os pecadores,
não salvando-se a si mesmo.
A tabuleta tinha razão: ele é o rei.
Pe. João Carlos Ribeiro, 19.11.2016
" Tu és o Rei dos Reis, o Deus do céu deu-te o Reino , Força e Glória, e entregou em Tuas Mãos a nossa história, Tu és Rei e o Amor é a Tua Lei" ! Como é bom Padre João, ler e escutar seus comentários que me ensinam a compreender e a viver à prática da Palavra de Deus! Obrigada, de coração, muito obrigada! Deus o ilumine sempre mais!
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