Não és tu, também, um
dos discípulos dele? (Jo 18, 25)
30 de março de 2018.
Estamos na sexta-feira da paixão. Hoje, fazemos memória do julgamento,
condenação, execução e sepultamento de Jesus. Estamos celebrando o Tríduo
Pascal. O Tríduo é como um único dia, com três momentos: a entrega que Jesus
fez de sua vida ao Pai e aos seus (a última ceia com o lava-pés da quinta-feira
santa), sua paixão e morte na cruz (a celebração da Paixão do Senhor no dia de
hoje) e sua ressurreição dos mortos (a Vigília Pascal do sábado santo). A alegria da vitória de Cristo, e de nossa
vitória com ele, proclamada na Vigília continua no domingo da páscoa e em todos
os domingos do ano.
Para meditação do grande mistério da paixão, nesta sexta-feira, além da
solene celebração das três da tarde, hora da morte do redentor, as comunidades
realizam também vias sacras, procissão do Senhor Morto, sermão das sete
palavras, encenações da paixão de Cristo, sermão do descimento e várias outras
práticas piedosas.
Na narração da paixão, lendo João capítulos 18 e 19, há muita coisa a
meditar. Tomemos um único elemento. Jesus assumiu sua identidade. Pedro
escondeu sua identidade. Talvez você esteja fazendo como Pedro. Todos já
fizemos.
Depois da ceia de páscoa com os discípulos, o que chamamos de última
ceia, Jesus foi para o Jardim das Oliveiras, com os discípulos. Como estava
sendo perseguido e sob ameaça de prisão, ele se refugiava fora da cidade, em
lugares como aquele. Judas tinha saído da ceia e não voltara mais. Mas, já
tarde da noite, reapareceu ali no Jardim com soldados e guardas do Templo para
prendê-lo. Jesus já estava esperando e foi ao encontro deles. ‘Quem é que vocês
estão procurando?. ‘Jesus, o nazareno’. Jesus se identificou: ‘Sou eu’. Esse ‘sou
eu’ deu um susto neles, que recuaram e caíram por terra. Jesus voltou a
perguntar quem estavam procurando e a afirmar: ‘Sou eu’.
Jesus não esconde sua identidade. Não se esconde. Pede para não fazerem
nada com os discípulos. Mas, se apresenta: ‘Sou eu’. O susto deles certamente
se refere ao conteúdo bíblico dessa afirmação de Jesus. ‘Sou eu’ é a forma como
Deus se apresentou a Moisés no Monte Sinai. ‘Diga ao Faraó que ‘Eu sou’ mandou
libertar o seu povo’. Essa é a identidade de Deus. Ele é. E ponto. Jesus já
tinha se apresentado assim muitas vezes: Eu sou a luz do mundo; eu sou o pão descido
do céu; eu sou a ressurreição e a vida; eu sou a porta das ovelhas; eu sou o
bom pastor. Esse ‘eu sou’ ressoa como manifestação do próprio Deus. Certamente,
por isso, a tropa recua e cai. Diante de Pilatos, Jesus também disse: ‘Eu sou’-
‘Eu sou rei’. Não se esconde, nem
camufla sua identidade. Assume quem ele é, identifica-se aos soldados e à tropa
do Templo: ‘Sou eu’. Enfrenta a traição e a injustiça da prisão com sua própria
verdade: ‘Sou eu’. E o afirma por três vezes.
Pedro também teve sua chance de assumir sua identidade. E, mesmo que
ficasse exposto à perseguição, poderia ter confirmado: “Sou eu”. Primeiro, foi
na porta do palacete de Anás. A empregada o reconheceu e perguntou se ele não
era um discípulo do homem que chegara preso. Pedro respondeu: “Não sou”.
Enquanto Jesus estava sendo interrogado e maltratado na mansão de Anás, Pedro,
meio por fora, se esquentava na fogueira com guardas e criados. Fizeram-lhe a mesma pergunta. E ele, quase fazendo
eco à bofetada que Jesus recebera dentro da mansão naquele momento, respondeu: “Sou
não”. E Pedro ainda teve uma terceira chance. Um parente daquele que ele tinha
cortado a orelha, lá no Jardim das Oliveiras, o identificou. ‘Eu vi você lá no Jardim”.
‘Eu? De jeito nenhum”. Por medo, para fugir da perseguição, Pedro negou sua
identidade. Era discípulo. Mas, disse que não era. Andava com Jesus. Mas, disse que não o
conhecia. Pedro o negou por três vezes.
Vamos guardar a mensagem
Neste dia de jejum e oração, acompanhamos a paixão do nosso Redentor. Na
narração da paixão, podemos contemplar a sua fidelidade, a sua obediência ao
Pai, o seu amor misericordioso pelos pecadores pelos quais está entregando a
vida. Não fugiu, não jogou culpa nos outros, não desconversou. Ele assumiu
corajosamente a sua identidade: “Sou eu”. Disse isso por três vezes. Nesta
sexta-feira da paixão, contemplemo-nos também nesse drama que marcou a história
e deve marcar nossa vida igualmente. Nós somos Pedro. Na hora da provação, escondemos
nossa identidade. Quando surgem críticas e oposições, tiramos o time de campo. Imitamos
Pedro. “Sou não”.
Não és tu, também, um
dos discípulos dele? (Jo 18, 25)
Vamos rezar a Palavra
Senhor Jesus,
O galo da madrugada alertou Pedro
de sua infidelidade, de sua traição. Essa sua falta lhe trouxe um grande sofrimento,
um grande arrependimento. Caiu num choro de dias. Chorava pela humilhação que tu
estavas padecendo, chorava pela infidelidade do seu “Sou não”. Nesta
sexta-feira da paixão, dá-nos, Senhor, verdadeira contrição dos nossos pecados,
de nossas infidelidades. Dá-nos a conversão de Pedro. Queremos imitar-te em tua
fidelidade, na firmeza de tua entrega à vontade de Deus. E assumir com destemor
nossa identidade de discípulos teus. E sustentá-la abertamente nas horas
difíceis, na hora da provação. Nós te adoramos, Senhor Jesus Cristo, e te
bendizemos, porque pela vossa santa cruz, remiste o mundo. Amém.
Vamos viver a Palavra
Caso você não tenha oportunidade de participar, hoje, da “Celebração da
Paixão” às 15 horas, em sua comunidade, ou de uma via sacra ou outra prática de
piedade cristã no dia de hoje, sugiro que, pelo menos, reze o terço,
contemplando os mistérios dolorosos.
Pe. João Carlos Ribeiro – 29.03.2018
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