Um dia Jerusalém foi tomada pelos
babilônios, um império muito poderoso e cruel. O exército inimigo, depois de um
longo período de cerco à cidade, entrou com tudo. Uma parte da corte e a elite
da capital foram levados como escravos. O exército dos babilônios destruiu tudo
o que podia. Os soldados derrubaram os muros da cidade, roubaram as coisas
preciosas do templo e tocaram fogo no próprio templo, quebraram tudo. A cidade
de Jerusalém, a bela capital da nação judaica, a cidade onde Deus morava no seu
templo foi humilhada, queimada, destruída. O povo se dispersou, o reino de
Israel se acabou. Isso foi por volta do ano 587 a.C.
Todos os anos, mais ou menos no
aniversário daquela desgraça – a destruição da cidade santa de Jerusalém –
muita gente voltava àquelas ruínas para visitá-las, lamentar-se pelo ocorrido e
pedir a Deus que tivesse piedade do seu povo. No fundo, todos sabiam que tudo
aquilo fora consequência dos atos irresponsáveis do próprio povo e de suas
lideranças. O rei, os sacerdotes, a corte, os nobres, a população toda ...
esses eram os verdadeiros culpados, pois distanciaram-se da aliança com Deus,
foram infiéis às orientações dele, traíram sua fé com outros deuses e suas
ideologias. O livro das Lamentações, parte da Bíblia, tem hinos desse tempo.
O povo voltando àquelas ruínas,
no meio da poeira e das cinzas, ficava pensando, chorando... e rezava a Deus
pedindo perdão de seus pecados. Sabia que aquilo tudo era a paga dos seus atos,
a consequência de sua infidelidade a Deus. Por isso, pediam perdão,
reconhecendo suas faltas e confirmando sua fé no Deus que podia salvá-los,
reconstruindo a sua nação e o seu reino. As cinzas lembravam a destruição
produzida pelo pecado e, ao mesmo tempo, a certeza de que Deus, em sua bondade,
iria restaurar a sua cidade, o seu templo, reconstruiria a sua aliança.
O povo da Bíblia, quando queria mostrar
ou cultivar o arrependimento, fazia assim: se sentava nas cinzas, se cobria de
saco. Foi assim na pregação de Jonas em Nínive. O profeta anunciou que Deus,
descontente com o desmantelo da vida daquela gente, iria destruir a cidade. O
rei e todo o povo reconheceram suas faltas, sentaram-se nas cinzas e ficaram
implorando a misericórdia de Deus. A condenação divina foi suspensa. O profeta
é que não ficou muito satisfeito com essa mudança de planos de Deus.
Nas cinzas, o povo de Deus escuta
o apelo à conversão, repensa sua vida, reconhece seus descaminhos. E aguarda a
misericórdia de Deus, que lhes reconduzirá à vida nova, à restauração da
aliança. As cinzas lembram a destruição que o pecado provoca. E, ao mesmo tempo,
a tomada de consciência e a firme decisão de recomeçar. Nas cinzas, a vida
renasce.
O início da quaresma do povo
cristão, especialmente da tradição católica, tem as cinzas. Cinzas para lembrar
que, longe de Deus, os caminhos errados nos levam à destruição. Destruição da
vida, do meio ambiente, da vida em família, da justiça, da paz. O pecado traz
destruição, como disse o apóstolo Paulo: o salário do pecado é a morte. Recebendo
as cinzas, a gente diz que quer dar ouvidos aos apelos de conversão e refazer a
aliança pessoal com Deus. Ao receber as cinzas, ouvimos do ministro essas
palavras de Jesus no início do seu ministério: “Converta-se e creia no
Evangelho”.
Pe. João Carlos Ribeiro – 05.03.2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião.
Desejando comunicar-se em particular com o Pe. João Carlos, use esse email: padrejcarlos@gmail.com ou o whatsapp 81 3224-9284.