PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA: Tomou o nosso lugar

Tomou o nosso lugar

Os evangelhos contam vários encontros de Jesus com leprosos. Quase sempre eles imploram que Jesus purifique-os, que tenha piedade deles. Jesus age sempre com imensa compaixão, aproximando-se deles, tocando neles algumas vezes, curando-os e enviando-os a se apresentarem aos sacerdotes no templo de Jerusalém.

No tempo da Bíblia, lepra era qualquer doença de pele que se apresentasse um tanto repulsiva. Nem tudo era propriamente a hanseníase como nós a conhecemos. Pensava-se que a lepra fosse contagiosa e sem cura, o que, hoje sabemos, não é contagiosa e tem cura. E o leproso era afastado da convivência da família e da sociedade de uma maneira muito dramática. As leis, a um tempo civis e religiosas, estavam codificadas no Livro do Levítico, o terceiro livro da Bíblia. Por essas leis, o leproso tinha que ser banido da sociedade, devia andar com as roupas rasgadas e cabelo desgrenhado, o rosto ou a barba cobertos e permanecer sempre fora das áreas de moradia. Leproso era um condenado. Devia ficar fora, excluído, afastado de todos. E ainda mais, ao se aproximar de qualquer um devia gritar que era impuro, pra ninguém chegar perto.

Impureza era um conceito a um tempo religioso e sanitário. Impuro era quem estivesse no pecado, afastado da bênção de Deus. No tempo de Jesus, impuro, além do leproso, era quem entrasse em contato com estrangeiros, com sangue ou mesmo tivesse tocado em algum morto. A impureza só se resolvia no Templo, oferecendo-se um sacrifício, entre outros. Quem ficasse bom da lepra devia comparecer no grande Santuário, e comprovada a sua cura, oferecer um cordeiro em reparação expiatória para ser declarado puro e retornar ao convívio familiar. Por isso, sempre Jesus manda os leprosos se apresentarem aos sacerdotes, para serem declarados puros. Mas não é o Templo quem os purifica, mas sim o próprio Jesus.

O leproso no fundo é um representante do pecador. O pecador, sim, é esse impuro que se distanciou de Deus e está fora da comunhão com o seu Deus e Criador. O pecador é o Adão que foi expulso do paraíso, ficou fora. Ele e Eva, sua mulher e companheira de desobediência. João Batista identificou Jesus como o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Na verdade, não é o cordeiro sacrificado no Templo que limpa o pecador, é Jesus quem nos liberta do pecado. Ele , sim, é o cordeiro de Deus que tira o pecado. E como o fez? Tomando o nosso lugar, pagando por nós.

São Paulo escreveu com todas as letras: "o salário do pecado é a morte". Essa é a sorte do pecador, sua pena: a morte. Na cruz, Jesus tomou o nosso lugar, morreu por nós, isto é , em nosso lugar. Expiou o nosso pecado. Ele o pode fazer oferecendo-se a si mesmo ao Pai, como humano como nós que era e como Deus verdadeiro que sempre foi. O Pai recebeu essa oferenda expiatória: seu filho, Deus e Homem, apresentou-se morrendo em nosso lugar. Foi expiada nossa culpa. Na santa missa, repetindo os gestos e as palavras de Jesus, ao se oferecer ao Pai por nós, dizemos: "Este é o cálice do meu sangue, sangue que será derramado por vós e por todos para remissão dos pecados". Sua morte - seu sangue derramado como um cordeiro oferecido em sacrifício - expiou nossa culpa, remiu nosso pecado.

Numa das cenas de purificação de leproso, Jesus acaba por ficar fora da cidade. Não lhe foi mais possível entrar nas cidades, possivelmente pela quantidade de gente que acorria a ele. Não podia mais entrar, ficava fora em lugares desertos. Ele assumiu o lugar do leproso. O leproso é quem devia ficar fora, excluído, marginalizado. Jesus tomou o nosso lugar de pecador, de leproso, ficou do lado de fora. Aliás, lembrem, morreu fora da cidade. Tomou o nosso lugar. Foi assim que expiou o nosso pecado.

Pe. João Carlos Ribeiro – 12.02.2012

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