
Preocupados como estavam com o
túmulo, isto é, presos no horizonte da morte, não se dão conta dos sinais que
estão à sua volta que estão apontando para a ressurreição. Dá para perceber
pelo menos quatro sinais, nesse breve
relato de São João, que sinalizam a vitória de Jesus sobre a morte. O primeiro
é a indicação de ser a madrugada do
primeiro dia da semana. É nessa hora, ainda escuro, que Madalena vai ao
túmulo. Com a ressurreição, está começando a nova criação, a nova humanidade
redimida. Foi numa semana que Deus criou o mundo. O povo de Deus da antiga
aliança guardava o sábado, o dia do descanso, o coroamento da obra de Deus. O
povo cristão começou a guardar o domingo, o início da nova criação, o dia em
que Jesus ressuscitou. Com a ressurreição, começou um novo tempo.
O segundo sinal é o túmulo vazio. Madalena viu que a
pedra tinha sido removida. E ela, como os outros discípulos, mergulhados na
lógica da morte, pensam logo que o corpo foi roubado. Não tinham, então,
nenhuma expectativa de ressurreição. O túmulo vazio realiza a palavra da
Escritura, pela qual o seu servo não conheceria a corrupção.
O terceiro sinal são as faixas de linho no chão. O morto
libertou-se das amarras das faixas. Na história de Lázaro, o próprio Senhor
mandou desamarrá-lo, soltar as faixas. A morte já não o prende. O quarto sinal:
o pano que cobria a cabeça do morto
estava dobrado à parte. É o pano chamado “sudário”. Também se menciona esse
pano mortuário na história de Lázaro que saiu do túmulo ainda com esse pano no
rosto. As faixas e o sudário, antes sinais da morte, agora apontam em outra
direção. As faixas não enrolam mais nenhum corpo, estão vazias e o sudário está dobrado num canto. Quatro
sinais que Madalena e Pedro não conseguiram enxergar... mas, um discípulo viu e
creu: João.
A ressurreição é uma mudança radical na história dos homens.
Sem a ressurreição, não haveria cristianismo. Teríamos apenas a memória de um
homem bom, cheio de Deus, com belos ensinamentos e muitos milagres; um
maravilhoso profeta, amoroso com os pobres e fiel a Deus; um judeu perseguido
pelas autoridades do seu povo, com um fim trágico nas mãos dos romanos. Sem
ressurreição, o cristianismo não teria uma novidade radical para anunciar, nem
a força que o levou a expandir-se pelos quatro cantos da terra e a influir na
vida e na cultura de numerosos povos. Como escreveu São Paulo, se não houver
ressurreição, é vã a nossa fé.
Pela ressurreição, os cristãos
anunciam que Deus interferiu no processo que levou Jesus à morte cruel no
madeiro, levantando-o dos mortos ao terceiro dia, dando-lhe razão, confirmando
suas palavras e suas promessas. Pela ressurreição, confirmou-se que o profeta
Jesus, nascido de Maria Virgem, é o filho amado de Deus, o enviado do Pai. Pela
ressurreição, ficou esclarecido que sua vinda ao mundo foi para nos levar a um
novo patamar de relacionamento com Deus, vencendo a distância que o pecado
criou, elevando-nos à condição de filhos de Deus. Pela ressurreição, ficou sua
Igreja autorizada a continuar sua missão de abençoar, de perdoar, de
santificar, de elevar ao Pai o louvor da entrega de sua vida pela salvação dos
seus irmãos.
Jesus tinha ressuscitado o jovem de
Naim, a filha de Jairo e o seu amigo Lázaro. Mas, a sua ressurreição foi de
outra ordem, não foi apenas a reanimação do corpo morto. Foi a entrada de Jesus em outra esfera de existência, inédita, surpreendente, superando
definitivamente a morte e os limites do espaço e do tempo; uma forma tão
surpreendente que os seus discípulos tiveram dificuldade para assimilar, mesmo
vendo-o, tocando-o ou comendo com ele. Pela ressurreição, mesmo estando
permanentemente com os seus, particularmente por sua palavra e pela eucaristia,
participa do senhorio de Deus sobre tudo e sobre todos, sentado à direita de
Deus Pai. Pela ressurreição de Cristo, primogênito de muitos irmãos, ficou assegurada
para nós também esta esfera de superação completa da morte e dos limites de
nossa condição humana. Em Cristo, também nós ressuscitaremos.
Pe. João Carlos Ribeiro, sdb –
15.04.2017
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