Mas não era só por medo de se
perder que usavam bandeiras. A bandeira também identificava o grupo, quer dizer
mostrava a identidade do grupo, sua pertença a um país, ou a um movimento ou
pastoral. Somos maristas, somos salesianos, somos PJ, somos Mãe Rainha, somos
de Manaus, somos de Boston, nós aqui somos da Coréia... é o que as bandeiras
falavam. Temos o maior orgulho de ser brasileiros, argentinos, uruguaios,
alemães, franceses... as bandeiras falavam da identidade nacional de cada
grupo. Não era só para não se perder.
Para não se perder, além da
bandeira, os jovens do grupo ficavam de mãos dadas, nos deslocamentos.
Deslocamentos de 4 a 9 km, por avenidas lotadas, túneis e mesmo no meio da
multidão em Copacabana. Aliás, nos túneis é que a festa ficava ainda melhor, os
cantos, os gritos de “Essa es la juventude del Papa”... no túnel, o barulho
ficava mais encorpado. Um grupo de 8 até 30 pessoas circulava de mãos dadas, um
segurando o outro, no ritmo que fosse possível andar. Segurando firme, porque
se se soltasse, sabe Deus como iriam se reencontrar na multidão, em que uns vão
e outros vêm. E neste ponto pode-se aprender uma grande lição. Isolando-se, o
jovem se perde. O isolamento revela autossuficiência, que é uma coisa desastrosa
para si e para o grupo. Vou por minha conta, quer dizer, não preciso de vocês,
dispenso o apoio de vocês e, mais do que isso, me nego a ajudar os outros, me
omito a contribuir para a segurança de outra pessoa. Um jovem que se isola, se
perde e desgraça o grupo. O grupo fica louco procurando quem se perdeu, perde o
ritmo, atrasa-se nos deslocamentos, se desorganiza. Um jovem que se isola, se
perde e desgraça o grupo. Aplique isso para a vida na Igreja: um jovem que não
se integra no grupo, corre o risco de se perder e, igualmente ou ainda mais
grave, omite-se na contribuição de integrar e salvar outro jovem.
Uma coisa curiosa: ninguém vai
sozinho a um evento como esse, realmente não vi ninguém sozinho por lá, sempre
em grupos. A pessoa sozinha fica deslocada, precisa encontrar um grupo com quem
faça amizade, colegas com quem se integre, do contrário fica sobrando, se sente
deslocada, aborrece-se e vai embora. Um jovem sozinho, sem referências, sem
amigos, no meio daquela massa é impensável. Transponha isso para a vida da
Igreja: uma pessoa sozinha, isolada, sem grupo, sem comunidade, tem pouca
chance de perseverar, de caminhar na fé. A experiência básica, humana e cristã,
é ser membro, ser parte de uma família, um grupo ou uma comunidade. É no grupo
que a pessoa é alguma coisa, é ali que pode dar e receber. Fora do grupo, o
jovem fica um estranho, um sobrante. Fora da comunidade, na ausência de laços
reais de amizade e comunhão, o cristão não experimenta o que é a Igreja, não
expressa sua pertença à Igreja, que é finalmente comunhão, comunhão com Deus e
com os irmãos.
Por um instante, pensei que o
Papa fosse uma bandeira. É, talvez o Papa seja mesmo uma bandeira. Uma bandeira
branca, na qual toda aquela massa de jovens reconhecia sua identidade. Por que
tanta gente corria, disputando espaços ao longo de toda a Avenida Atlântica
para ver o Papa passar, e entre fotos e filmagens, se emocionava ao ver o
Pontífice? E olha que o Papa circulou por várias vezes naquela avenida: na
cerimônia de boas vindas, na via sacra, na vigília e na Missa de envio. Ainda
assim, toda vez era uma correria, com jovens apinhados ao longo da avenida, já duas
horas antes da passagem do papamóvel. Eu só encontro uma resposta: o Papa é uma
bandeira, a bandeira na qual todos os grupos, todas as tribos, todos os jovens reconhecem
sua identidade. Naquela bandeira branca, um senhor idoso e gentil, o bispo de
Roma, identificavam algo de muito profundo: a fé que vem lá do tempo dos
apóstolos, a fé católica que todos professamos. Mesmo se o Papa não fosse tão
simpático como esse, ele continuaria a ser uma bandeira branca, falando da
unidade em torno da fé, seria reconhecido como o guia desse grupão de três milhões
e meio de cristãos jovens. Quando ele falava, o silêncio era grande; quando
sugeriu um momento de oração silenciosa, só se ouviu as ondas quebrando na
praia, só as ondas teimosas. Quando ele perguntava – si ou no? - a resposta era de um grande coro; quando acenava,
era a bandeira branca tremulando. É a experiência de ser Igreja, ser um povo em
comunhão, gente de mãos dadas, de olho na bandeira... pra não se perder.
P João Carlos Ribeiro – 30 de
julho de 2013
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