PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA

O ENCONTRO COM O LEPROSO

  


25 de junho de 2021

EVANGELHO


Mt 8,1-4

1Tendo Jesus descido do monte, numerosas multidões o seguiam. 2Eis que um leproso se aproximou e se ajoelhou diante dele, dizendo: “Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar”. 3Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero, fica limpo”. No mesmo instante, o homem ficou curado da lepra.

4Então Jesus lhe disse: “Olha, não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote, e faze a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho para eles”.



MEDITAÇÃO



Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero, fica limpo” (Mt 8, 3)


Podemos olhar a história do leproso de muitos pontos de vista. Hoje, eu quero convidar você a pensar que você é o leproso da história do Evangelho. Então, você é o leproso dessa história, combinado? Então, vamos lá. O leproso se aproximou de Jesus, se ajoelhou aos seus pés e pediu para ser purificado. Três gestos simbólicos importantes: aproximar-se, ajoelhar-se e implorar o favor de Deus. Muita gente quer uma graça, mas não se aproxima de Deus, não se ajoelha e não pede a sua graça. Vou me explicar. 


Você aproximou-se de Jesus. Aproximar-se é buscar Deus. Diz lá o texto da Escritura: “Buscai o Senhor enquanto se deixa encontrar”. Buscar a Deus é procurar encontrá-lo na oração, na meditação, na audição de sua palavra. Lê-se assim no livro do Deuteronômio: “Quando então buscares o Senhor teu Deus, o encontrarás, se o buscares de todo o teu coração e com toda a tua alma” (Dt 4, 29). Então, sua primeira atitude, como o leproso, foi aproximar-se. Vou lhe dizer uma coisa. Foi muita coragem de sua parte, porque, por causa de sua doença, não lhe era permitido aproximar-se de pessoas sadias como você fez. Você passou por cima dessa norma social, você ultrapassou a faixa amarela e foi ao encontro de Jesus. Sim, é verdade, Jesus vinha passando com a multidão. Na verdade, é ele que vem ao seu encontro. Mas, é preciso a gente se aproximar, vencendo as barreiras que pretendem impedir esse encontro. 


Você aproximou-se e ajoelhou-se diante de Jesus. Ajoelhar-se é um ato de adoração, em todas as religiões. Ajoelhar-se, prostrar-se é o reconhecimento da grandeza de Deus presente em Jesus, é um reconhecimento de sua divindade. Buscar a Deus não para que Deus faça a nossa vontade, mas que a vontade de Deus se cumpra em nossa vida. Maria expressou esse sentimento ao dizer: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”. Ajoelhar-se é um gesto de adoração, de humildade, de reconhecimento da grandeza de Deus e da disposição de estar a seu serviço.


Você aproximou-se, ajoelhou-se e fez um pedido a Jesus: “Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar”. Foi um pedido feito num contexto de quem se aproximou, de quem o está buscando; de quem se ajoelhou, isto é de quem presta ao Senhor um culto de adoração, reconhecendo-o seu Senhor. E o seu pedido foi humilde, “se queres”, se for da sua vontade. É, muita gente pede coisas importantes a Deus, mas não o busca para andar em seus caminhos, nem é um adorador desse Deus fiel que vem ao nosso encontro. Você pediu bem. E Jesus atendeu você. Ele estendeu a mão, tocou em você e disse: “Eu quero, fica limpo”. E, no mesmo instante, você ficou livre da lepra.

Guardando a mensagem


Jesus vinha com a multidão. Deus toma sempre a dianteira, dá sempre o primeiro passo. E você, superando as barreiras que o mundo criou para nos manter à distância de Deus, aproximou-se de Jesus. Com espírito de fé e de adoração, reconhecendo em Jesus o salvador que o Pai nos enviou, pediu-lhe uma coisa importante. Pediu que se realizasse, antes de tudo, a vontade dele em sua vida. Bom, se não pediu, já sabe como fazê-lo. E você sabe como terminou a história.


Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero, fica limpo” (Mt 8, 3)


Rezando a palavra


Senhor Jesus,

O leproso somos nós. A lepra é um sinal de nossa condição de pecadores. E é do pecado que nos purificas com tua vinda e com o teu amor. Dá-nos, Senhor, a graça de não esquecermos que a ti e à tua cruz devemos a vida nova e a comunhão que hoje temos com Deus nosso Pai. Que em todas as nossas necessidades, nós nos aproximemos de ti com espírito de fé, e peçamos o teu favor, desejosos de realizar, antes de tudo, a vontade de Deus. Seja o teu santo nome bendito, hoje e sempre. Amém.


Vivendo a palavra


No seu diário espiritual (no seu caderno de anotações), lembrando que você é o leproso, escreva uma breve oração a Jesus.


Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

O NOME DA CRIANÇA


 
24 de junho de 2021,
Solenidade da Natividade de São João Batista

EVANGELHO


Lc 1,57-66.80

57Completou-se o tempo da gravidez de Isabel, e ela deu à luz um filho. 58Os vizinhos e parentes ouviram dizer como o Senhor tinha sido misericordioso para com Isabel, e alegraram-se com ela. 59No oitavo dia, foram circuncidar o menino, e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. 60A mãe, porém disse: “Não! Ele vai chamar-se João”.
61Os outros disseram: “Não existe nenhum parente teu com esse nome!” 62Então fizeram sinais ao pai, perguntando como ele queria que o menino se chamasse. 63Zacarias pediu uma tabuinha, e escreveu: “João é o seu nome”. E todos ficaram admirados. 64No mesmo instante, a boca de Zacarias se abriu, sua língua se soltou, e ele começou a louvar a Deus. 65Todos os vizinhos ficaram com medo, e a notícia espalhou-se por toda a região montanhosa da Judeia. 66E todos os que ouviam a notícia ficavam pensando: “O que virá a ser este menino?” De fato, a mão do Senhor estava com ele. 80E o menino crescia e se fortalecia em espírito. Ele vivia nos lugares desertos, até o dia em que se apresentou publicamente a Israel.

MEDITAÇÃO


Os vizinhos e parentes ouviram dizer como o Senhor tinha sido misericordioso para com Isabel, e alegraram-se com ela (Lc 1, 58).

Por causa da rotação da terra, o sol ilumina mais ou menos tempo, deixando o dia mais curto ou mais comprido. O inverno começa quando a noite fica maior do que o dia. É o solstício de inverno. Essa passagem anual de estação levou as populações nativas do continente americano a comemorarem essa data com muitas festas, segundo suas tradições. Com a chegada do cristianismo, quinhentos anos atrás, esses festejos de mudança de estação se juntaram com a mudança que Deus fez na história da humanidade, preparando a vinda de Jesus. Desse casamento entre tradições nativas do continente e o cristianismo nasceu a festa de São João.

A festa de São João celebra os acontecimentos em torno do nascimento do profeta João Batista, que preparou a chegada do Salvador, dando início a um tempo novo. É por isso que a festa de São João é ligada ao mundo rural, com fogueira, comidas de milho e folguedos tradicionais da roça. Estamos no hemisfério sul. No hemisfério norte, o solstício de inverno é em dezembro, coincidindo com a festa de natal.

O evangelho de Lucas dá notícia da admiração e da alegria que tomaram conta de vizinhos e parentes da família de Izabel e Zacarias pelo que Deus fez em favor deles e do seu povo. Um casal maduro, idosos, sem filhos, ela estéril... de repente, a mulher engravida e, no meio de muitos sinais do poder de Deus, dá à luz um menino que marca o início do novo tempo, o tempo do Messias que estava chegando. O menino, nascido de Izabel, seria o mensageiro que iria preparar a chegada do Salvador.

Os sinais de Deus foram muitos. O anjo anunciou a Zacarias que sua mulher iria engravidar. O pai, sacerdote em função no Templo, achou muito difícil acontecer o que lhe fora anunciado, por isso ficou mudo. Sua mulher Izabel, idosa e estéril, engravidou. A boa notícia se espalhou pelos moradores das montanhas de Judá, onde eles moravam. Alguma coisa muito importante Deus estava preparando. A jovem Maria, prima de Izabel, chegou da Galileia e com ela uma alegria imensa inundou o coração de Izabel. Ela conheceu, pelo Espírito Santo, que Maria, sua parente, também estava grávida e que era ela a mãe do Messias. Foi quando o bebê de Izabel, no sexto mês de gestação, estremeceu de alegria no ventre de sua mãe.

A idosa senhora deu à luz um menino. Que notícia boa para aquele casal sem filhos. Não havia pré-natal naquele tempo, então ninguém sabia se seria menino ou menina. Menino era garantia de continuação da família, segundo a organização do seu povo. Foi uma boa notícia. Deus estava mudando a vida daquela família, assegurando-lhe um futuro. Na hora de circuncidar o menino, aos oito dias, rito pelo qual a criança entrava em aliança com Deus como membro do povo eleito, outra surpresa. A tradição de colocar um nome de um parente foi quebrada. Deu-se um nome diferente, um nome novo. João. Essa criança é algo novo, em ruptura com os velhos tempos. A mãe queria assim. O pai confirmou, escrevendo numa tabuinha. Essa sintonia de Zacarias com o novo de Deus na vida de sua família restaurou sua comunhão com Deus. Voltou a falar. E glorificou a Deus, de uma maneira emocionada e feliz. Disse, com o coração cheio do Espírito Santo, que o seu filho, como profeta do Altíssimo, iria à frente do Messias, o Senhor que estava chegando, como sol nascente.

Tudo isso se espalhou pela vizinhança... Maria, claro, estava presente nesses acontecimentos. Espalhou-se o sentimento que algo novo estava acontecendo, Deus estava cumprindo as promessas feitas ao seu povo. Estava começando um tempo novo. Razão de alegria e contentamento para aquela gente.

Guardando a mensagem

O nascimento de João Batista foi um momento de grande alegria para parentes, vizinhos e amigos de Izabel e Zacarias. Eles entenderam que estava começando um novo tempo, por obra de Deus. Quando os cristãos plantaram a fé católica nas Américas, mesclaram essa alegria da chegada do profeta João Batista com as comemorações que os povos da terra faziam pela passagem do solstício, a mudança na natureza. Assim, na festa de São João temos uma festa com raízes rurais e com um grande sentimento de esperança. Enquanto, no coração do povo houver esperança e a certeza de que Deus está construindo um novo tempo, tem São João.

Os vizinhos e parentes ouviram dizer como o Senhor tinha sido misericordioso para com Isabel, e alegraram-se com ela (Lc 1, 58).

Rezando a palavra

Rezemos com as palavras da oração do sacerdote Zacarias, após a circuncisão do seu filho João:

Serás profeta do Altíssimo, ó menino,
pois irás andando à frente do Senhor
para aplainar e preparar os seus caminhos,
anunciando ao seu povo a salvação,
que está na remissão de seus pecados;
pelo amor do coração de nosso Deus,
sol nascente que nos veio visitar lá do alto
como luz resplandecente a iluminar
a quantos jazem entre as trevas
e na sombra da morte estão sentados
e para dirigir os nossos passos,
guiando-nos no caminho da paz.

Vivendo a palavra

Havendo uma oportunidade, nesta semana, faça um gesto de atenção em relação a uma família pobre e suas crianças.

Hoje é dia da Santa Missa dos Ouvintes e Associados, às 11 horas, com transmissão pelo rádio e pelas redes sociais. Podendo, reserve esta hora para estarmos em oração. 

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

NEM TUDO QUE RELUZ É OURO!



23 de junho de 2021

EVANGELHO


Mt 7,15-20

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 15“Cuidado com os falsos profetas: Eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes. 16Vós os conhecereis pelos seus frutos. Por acaso se colhem uvas de espinheiros ou figos de urtigas? 17Assim, toda árvore boa produz frutos bons, e toda árvore má, produz frutos maus. 18Uma árvore boa não pode dar frutos maus, nem uma árvore má pode produzir frutos bons. 19Toda árvore que não dá bons frutos é cortada e jogada no fogo. 20Portanto, pelos seus frutos vós os conhecereis”.

MEDITAÇÃO


Cuidado com os falsos profetas: Eles vêm até vocês vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes (Mt 7, 15)

Por que Jesus comparou falsos profetas com lobos vestidos de ovelhas? Vou tentar explicar. O profeta, na Bíblia, é o homem da palavra de Deus, fala em nome de Deus. É o pregador, certo?! Encontramos no Antigo Testamento, a imagem do profeta vestido com um manto de pele de carneiro. A roupa já mostra a vida de austeridade do profeta e a distância que ele toma da corte dos reis. O profeta Elias, por exemplo, vestia um manto de lã de carneiro. João Batista, parecido com Elias, trajava-se de pele de camelo. Uma vez, Jesus perguntou: ‘O que vocês foram ver no deserto? Um homem vestido de roupas finas? Ora, os que usam roupas finas estão nos palácios reais. Afinal, o que foram ver? Um profeta?!” (Mt 11).

Então, a imagem do profeta é do homem de Deus vestido de pele de carneiro ou de ovelha. Assim, já dá para entender melhor o que Jesus disse. “O falso profeta é o lobo vestido de ovelha”. Ele apresenta-se como homem de Deus, como líder no meio do rebanho, mas não é profeta coisa nenhuma, é lobo. Está vestido de ovelha, isto é, traja-se com um manto de lã de carneiro, mas não é um profeta de verdade. Na verdade, esconde sua real identidade e seus verdadeiros interesses. Não é profeta. É lobo.

E, por que será que Jesus estava preocupado com os falsos profetas? Porque o rebanho pode ser enganado facilmente. Porque existem, infelizmente, esses aproveitadores. E, certamente, porque a comunidade deve ficar sempre em atitude de alerta, uma vez que esse perigo é permanente. Cuidado com os falsos profetas! São Paulo, na segunda carta aos Coríntios, falou da existência de operários enganadores no meio da comunidade, disfarçados de apóstolos de Cristo (2 Cor 11).

Que interesses poderiam mover um falso líder religioso, um pseudo-pregador da palavra de Deus? Três interesses movem o mundo. O primeiro é o dinheiro, o enriquecimento. O segundo é o poder, o prestígio. O terceiro interesse é desfrutar de uma vida de prazeres na comida, na cama e nos divertimentos. Esses são os interesses que movem o mundo. Podem mover também um falso líder.

Muita gente se ilude. Pensa: se está falando de Deus, então é coisa boa. Atenção, nem tudo que reluz é ouro. É melhor seguir a dica de Jesus. Pelo fruto se conhece a árvore. Árvore boa dá fruto bom. Árvore má dá fruto ruim. Os bons frutos confirmam que se trata de uma boa árvore, um profeta de verdade. A pregação do Evangelho produz frutos muito claros: o primeiro é a conversão e a santidade de vida; o segundo fruto é o compromisso com a fraternidade e o amor ao próximo. A falsa pregação produz frutos podres: a cristalização do egoísmo e do individualismo; a relação comercial com Deus; a instrumentalização da fé para outros interesses.

Guardando a mensagem

Jesus nos orienta para termos cuidado com os falsos profetas. Profeta é o pregador, é quem fala em nome de Deus. O cuidado é porque o falso profeta é um lobo em pele de ovelha. Ele move-se por interesses não confessos, particularmente o dinheiro e o poder. Como reconhecer o falso profeta? Pelo fruto se conhece a árvore. O fruto da pregação do evangelho é a conversão, a santidade de vida e o compromisso com o bem do próximo, sobretudo dos mais desamparados. Se as pessoas estão ficando mais egoístas e mais interesseiras não é um bom sinal. Se a pregação está servindo a outros interesses que não seja a glória de Deus, tem lobo na história.

Cuidado com os falsos profetas: Eles vêm até vocês vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes (Mt 7, 15)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
Tu és o nosso pastor, nosso profeta, nosso mestre. Tu és o modelo para todos os ministros do teu povo. Tu anunciaste o Reino de Deus entre nós. A tua coerência e a tua fidelidade foram provadas na paixão e na cruz. Os teus profetas trilham o teu caminho, imitam o teu modo de agir na defesa do rebanho. Dá-nos, Senhor, a lucidez necessária para nos precavermos contra lobos travestidos de ovelhas. Eles não são profetas verdadeiros. Que estejamos sempre atentos ao tipo de fruto que produz a pregação, para não sermos enganados por falsos profetas. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

‘Pelos frutos, se conhece a árvore’. Aparecendo uma oportunidade, hoje, comente com alguém essa palavra de Jesus.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

TRATAR BEM OS OUTROS, SEMPRE.


 22 de junho de 2021


EVANGELHO


Mt 7,6.12-14

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 6“Não deis aos cães as coisas santas, nem atireis vossas pérolas aos porcos; para que eles não as pisem com o pés e, voltando-se contra vós, vos despedacem.

12Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. Nisto consiste a Lei e os Profetas. 13Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso é o caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram por ele! 14Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida! E são poucos os que o encontram”!


MEDITAÇÃO


Tudo quanto vocês querem que os outros lhes façam, façam também a eles (Mt 7, 12).

Jesus disse que ‘fazer aos outros aquilo que queremos que nos façam’ realiza o núcleo da Lei e dos Profetas. ‘A Lei e os Profetas’ – é uma forma de falar da própria Palavra de Deus, da Bíblia. Fazer o bem aos outros é uma forma de realizar integralmente a palavra de Deus.

"Faça aos outros aquilo que você deseja que lhe façam" é outra forma de dizer "ame o seu próximo como a si mesmo". Faço ao outro aquilo que eu quero que façam a mim. Como eu acho que sou merecedor de atenção, de respeito, de consideração, assim devo tratar os outros, com atenção, respeito, consideração, em qualquer circunstância.

Na verdade, por trás de uma pessoa que humilha, menospreza ou desdenha do seu semelhante há uma pessoa mal resolvida. Uma pessoa que age com rispidez e ignorância com os outros revela alguém com déficit de humanidade. Sua ação grosseira e ferina reflete seu estado interior depauperado.

Fazer aos outros o que nós queremos que façam conosco. Não é fazer com os outros o que fazem conosco. Fazer o queremos que façam conosco. Isso quer dizer que mesmo que alguém me maltrate, me trate com indiferença, eu preciso tratá-la(lo) como eu gostaria de ser tratado. E isso não é fácil, e nem parece muito natural. Normal seria responder com a mesma moeda, no mesmo tom de voz, jogar com as mesmas armas. Mas não é o que Jesus falou. Ele disse pra gente tratar os outros como nós merecemos ser tratados. Responder a um tratamento ríspido, descortês, grosseiro com um tratamento educado, respeitoso, cordial. É assim que gostaríamos de ser tratados. Então, é assim que temos que responder.

E por que isso? O cristão tem várias motivações para seguir esse conselho de Jesus. Primeiro, porque o outro é uma pessoa humana, merecedora de respeito e consideração em qualquer situação. Pode ser questionado, repreendido, corrigido, mas sempre com educação, com cordialidade, com o respeito que merece uma pessoa humana. Segundo, porque nele eu posso identificar a semelhança de Deus que toda pessoa humana carrega. Ele nos fez à sua imagem e semelhança. Menosprezando um irmão ou uma irmã, eu estou desonrando o próprio Deus criador. Terceiro, porque Jesus se identificou com o outro, especialmente com o mais abandonado e sofrido (o faminto, o doente, o prisioneiro). Ele disse: o que você fez a um desses irmãos fez a mim.

Guardando a mensagem

Fazer aos outros o que nós queremos que façam a nós mesmos é a regra de ouro. Humaniza nossas relações. Estende a boa imagem que faço de mim mesmo, de minha dignidade, de meus direitos aos outros. Faz-me dar o primeiro passo, como construtor de relacionamentos respeitosos e humanizadores. Fazer aos outros o que nós queremos que façam a nós mesmos é uma forma de realizar o mandamento do amor ao próximo. Agindo assim dou testemunho do meu amor a Cristo Jesus que assumiu nossa humanidade e se fez solidário com os últimos e os pecadores.

Tudo quanto vocês querem que os outros lhes façam, façam também a eles (Mt 7, 12).

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
Tratavas todo mundo bem. Não fazias acepção de pessoas. Aliás, aos que a sociedade menos considerava, a eles tu te dirigias com maior deferência e atenção. Dá-nos, Senhor, a graça de tratar a todos com o reconhecimento da grandeza de sua dignidade, vendo em cada um a imagem e semelhante do nosso Criador e Pai e honrando a tua própria presença neles, sobretudo nos mais humildes e discriminados. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Como todos os dias, hoje, você pode encontrar alguém que trate você com indiferença, desatenção ou falta de consideração. Seu esforço vai ser tratar bem, como gostaria de ser tratado.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

A HISTÓRIA DO CISCO NO OLHO



21 de junho de 2021


EVANGELHO


Mt 7,1-5

Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos: 1“Não julgueis e não sereis julgados. 2Pois, vós sereis julgados com o mesmo julgamento com que julgardes; e sereis medidos, com a mesma medida com que medirdes.
3Por que observas o cisco no olho do teu irmão, e não prestas atenção à trave que está no teu próprio olho? 4Ou, como podes dizer a teu irmão: ‘Deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando tu mesmo tens uma trave no teu? 5Hipócrita, tira primeiro a trave do teu próprio olho e então enxergarás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”.

MEDITAÇÃO


Tira primeiro a trave do teu próprio olho (Mt 7, 5)

A sensação de se ter um cisco no olho é uma coisa muito chata. É o tal do argueiro. E a pessoa mesma pode tirar o cisco do seu próprio olho, banhando os olhos com água na torneira, no chuveiro ou derramando água no olho com um copo, por exemplo. Mas, nada de ficar esfregando o olho. E todo cuidado com as mãos sujas: elas podem aumentar o problema, irritando os olhos ou transmitindo doenças. Normalmente, a pessoa precisa da ajuda de alguém para remover o cisco do seu olho. Mas, quem vai ajudar tem que estar com as mãos bem lavadas com sabão, e precisa identificar onde está o cisco, o argueiro. Tem que olhar bem, abaixando a pálpebra do olho e pedindo à pessoa para mover o olho para um lado e para o outro. Identificando o cisco – um cílio, um lixinho ou o que seja – precisa ajudar a pessoa a lavar os olhos com água. Não tendo jeito, tem que levar logo num posto de saúde .

Dessa experiência tão simples, a do argueiro, Jesus tira uma lição muito séria: “Como podes dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu não vês a trave no teu próprio olho?” Achar defeito na vida dos outros, bem que é fácil. Difícil é identificar os próprios erros e querer consertá-los. É claro que os outros precisam de nós, de nossa amizade, de nossa proximidade, de nossa correção também. Por isso, precisamos estar em condições de ajudar. Mas, ajuda a tirar o cisco do olho do outro ou da outra quem está enxergando bem, não é verdade? Você estando com a sua vista prejudicada, como se tivesse uma trave de madeira nela, não vá se meter a tirar o argueiro do olho do seu irmão!

Alguém que chega atrasado todo dia no trabalho não vai poder corrigir um colega que um dia se atrasou. Primeiro, cuide de andar no horário. Um pai que chama palavrão na vista dos filhos não tem moral para reclamar de um filho que soltou um palavrão. Primeiro, tirar a trave do seu olho para ajudar a tirar o cisco do olho do filho. E aquele outro que não pisa na Igreja, mas fica cobrando que os filhos não percam a Missa no domingo. Isso tudo fica bem claro com o que se recomenda no avião. Se houver uma despressurização, cairão as máscaras de oxigênio. Primeiro, você deve colocar a própria máscara. Só depois, ajudar quem estiver ao seu lado. É preciso estar em condições para ajudar os outros.

Guardando a mensagem

Facilmente, percebemos os erros alheios. E os repreendemos. Ajudar os outros a se consertar é uma coisa importante e necessária. Somos responsáveis uns pelos outros. Mas, para tirar o cisco do olho de alguém, preciso estar vendo bem. Acontece que, muitas vezes estamos com uma falha pior do que a que queremos consertar na vida de outrem. A hipocrisia é justamente estranhar o malfeito do outro, quando a nossa vida não é nada exemplar. Realmente, precisamos ajudar quem está ao nosso lado. Mas, primeiro consertemos a nossa vida.

Tira primeiro a trave do teu próprio olho (Mt 7, 5)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
Com certeza, em nossa vida há muito a corrigir, por isso nos convidas à conversão todos os dias. Não podemos ensinar sem viver. Não podemos cobrar dos outros o que nós mesmos não fazemos. Ajuda-nos, Senhor, a reconhecer a trave, que talvez tenhamos em nossos olhos, que nos impede de estar em condições de ajudar os outros. Como estás ensinando, um cego não pode guiar outro cego. Dá-nos, especialmente, pela presença do teu Santo Espírito, que não nos arvoremos em juízes de ninguém, que não julguemos para não sermos julgados com a mesma medida. Dá-nos, Senhor, um coração generoso e bom como o teu, para respeitar, amar e perdoar os nossos irmãos em suas faltas e em suas fraquezas. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Você se lembra do que é o Exame de Consciência? É examinar a própria vida, pra ver onde está acertando e onde está desviando-se do caminho de Deus. Hoje, arrume um tempinho pra fazer o seu Exame de Consciência.

Pe. João Carlos Ribeiro , sdb

A NOSSA TEMPESTADE



20 de junho de 2020,
12º Domingo do Tempo Comum 

EVANGELHO


Mc 4,35-41

35Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse a seus discípulos: “Vamos para a outra margem!”
36Eles despediram a multidão e levaram Jesus consigo, assim como estava, na barca. Havia ainda outras barcas com ele.
37Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já começava a se encher. 38Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?”
39Ele se levantou e ordenou ao vento e ao mar: “Silêncio! Cala-te!” O vento cessou e houve uma grande calmaria. 40Então Jesus perguntou aos discípulos: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”
41Eles sentiram um grande medo e diziam uns aos outros: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?”

MEDITAÇÃO


Mestre, estamos perecendo e tu não te importas? (Mc 4, 38)

Os discípulos estão numa travessia difícil. Estão navegando em direção da outra margem, como Jesus lhes indicara. E são surpreendidos por uma tempestade no mar, um furacão, coisa que acontecia e acontece no Mar da Galileia. É uma cena cheia de significados, indicando mais que a tempestade de ventania forte e ondas enfurecidas. Vento forte e mar bravio são representações das forças do mal, hostis ao projeto de Deus, ao seu Reino. A barca está já se enchendo de água e os discípulos se desesperam. Acordam Jesus que dormia na popa da barca: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?”. Jesus se levanta e ordena ao mar que se cale. É como um exorcismo. “Silêncio. Cala-te”. O mar se aquieta. E ele reclama com os discípulos por serem tão medrosos, parecendo que não têm fé.

Nós, como humanidade, estamos no meio de uma grande tempestade, a pandemia do novo coronavírus. Caminhamos para um ano e meio de sofrimento. E hoje, tristemente, o contador ultrapassou a marca de 500 mil perdas humanas para a Covid-19, em nosso país. Estamos no meio de uma tremenda tempestade. E, como os discípulos da Galileia, nos dirigimos a Jesus, desesperados: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?”.

Em março do ano passado, numa sexta-feira da quaresma, num entardecer chuvoso, vimos o Papa Francisco sozinho, atravessando a praça de São Pedro vazia, para iniciar um momento de oração. Foi uma cena impressionante que encheu de lágrimas muitos corações. Ele subiu as escadas da Basílica de São Pedro mancando e conduziu uma hora de oração inspirada neste evangelho da tempestade. As ruas de Roma estavam vazias pelo rigoroso lockdown e o vírus varria o mundo fazendo vítimas em todos os países. A barca afundando. Ele leu no evangelho: “Por que vocês são tão medrosos? Vocês ainda não tem fé?”.

No meio dos seus comentários e orações daquele entardecer chuvoso e triste, colho sete ensinamentos para este nosso domingo:

1. A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e nossas falsas seguranças. No meio desse vendaval, caiu a nossa maquiagem de autossuficientes, nossa pose de poderosos e senhores da terra. Um vírus desconhecido mostrou nossa fraqueza e a vaidade de nossa correria.

2. A tempestade provoca o reconhecimento de nossa pertença comum. Somos uma única humanidade. Não há solução fora do apoio mútuo, da ajuda recíproca. Remamos juntos ou não vencemos.

3. A tempestade revela corações generosos que se empenham em salvar vidas, por um lado, e por outro, corações egoístas que se empenham em salvar-se a si mesmos.

4. A tempestade é o tempo da solidariedade, da sensibilidade para com o luto, a fome, o desemprego, a desorientação. Tempo de fazer-se próximo do irmão caído à margem da estrada, tempo de sermos bons samaritanos.

5. A tempestade é o tempo da fé, da oração, da volta ao Senhor, da confiança em Deus. É dele que vem a nossa força. Em sua sabedoria, ele transforma em bem o que nos acontece de mal.

6. A tempestade reavia a nossa fé pascal. Ressuscitado, Jesus vive conosco. Está no nosso barco. Sua ressurreição é penhor de vitória em todas as nossas lutas. Crendo, renovamos a nossa vida: morremos com ele e vivemos para ele.

7. A tempestade é o tempo da Esperança, o tempo do Espírito Santo, energia divina que nos faz criativos e comprometidos com a gestação de um futuro melhor.

Rezando a palavra

Rezemos com as palavras do Papa naquela tarde chuvosa:

Senhor Jesus,
Tu estás nos dizendo: «Porque vocês são tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?» A tua Palavra, Senhor, atinge e nos toca a todos. Neste nosso mundo, que Tu amas mais do que nós, avançamos a toda velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora nós, sentindo-nos em mar agitado, recorremos a ti. Senhor, abençoa o mundo, dá saúde aos corpos e conforto aos corações! Tu nos pedes para não ter medo; a nossa fé, porém, é fraca e nos sentimos temerosos. Não nos deixes, Senhor,  à mercê da tempestade. Continua a nos repetir: “Não tenham medo”. “Não tenham medo”. Amém.

Vivendo a palavra

Em sintonia com a Santa Missa deste domingo que você vai participar presencial ou remotamente, reze esta Oração que estou lhe enviando: é a oração da Igreja no Brasil neste momento em que ultrapassamos a marca de 500 mil óbitos, irmãos e irmãs vítimas desta pandemia.

Outra sugestão é você ler a Homilia do Papa Francisco da qual lhe falei há pouco. Ela está junto com o texto da Meditação. É só clicar no link que estou lhe enviando.

Desejando, me acompanhe na Santa Missa, às 17 horas, pela Rádio Tempo de Paz. É só baixar o aplicativo no seu celular.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb





EM TEMPO DE EPIDEMIA

PRESIDIDO PELO PAPA FRANCISCO

Adro da Basílica de São Pedro
Sexta-feira, 27 de março de 2020




«Ao entardecer…» (Mc 4, 35): assim começa o Evangelho, que ouvimos. Desde há semanas que parece o entardecer, parece cair a noite. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos. À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados «vamos perecer» (cf. 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos.

Rever-nos nesta narrativa, é fácil; difícil é entender o comportamento de Jesus. Enquanto os discípulos naturalmente se sentem alarmados e desesperados, Ele está na popa, na parte do barco que se afunda primeiro... E que faz? Não obstante a tempestade, dorme tranquilamente, confiado no Pai (é a única vez no Evangelho que vemos Jesus a dormir). Acordam-No; mas, depois de acalmar o vento e as águas, Ele volta-Se para os discípulos em tom de censura: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» (4, 40).

Procuremos compreender. Em que consiste esta falta de fé dos discípulos, que se contrapõe à confiança de Jesus? Não é que deixaram de crer N’Ele, pois invocam-No; mas vejamos como O invocam: «Mestre, não Te importas que pereçamos?» (4, 38) Não Te importas: pensam que Jesus Se tenha desinteressado deles, não cuide deles. Entre nós, nas nossas famílias, uma das coisas que mais dói é ouvirmos dizer: «Não te importas de mim». É uma frase que fere e desencadeia turbulência no coração. Terá abalado também Jesus, pois não há ninguém que se importe mais de nós do que Ele. De facto, uma vez invocado, salva os seus discípulos desalentados.

A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade. A tempestade põe a descoberto todos os propósitos de «empacotar» e esquecer o que alimentou a alma dos nossos povos; todas as tentativas de anestesiar com hábitos aparentemente «salvadores», incapazes de fazer apelo às nossas raízes e evocar a memória dos nossos idosos, privando-nos assim da imunidade necessária para enfrentar as adversidades.

Com a tempestade, caiu a maquilhagem dos estereótipos com que mascaramos o nosso «eu» sempre preocupado com a própria imagem; e ficou a descoberto, uma vez mais, aquela (abençoada) pertença comum a que não nos podemos subtrair: a pertença como irmãos.

«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Nesta tarde, Senhor, a tua Palavra atinge e toca-nos a todos. Neste nosso mundo, que Tu amas mais do que nós, avançamos a toda velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora nós, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: «Acorda, Senhor!»

«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Senhor, lanças-nos um apelo, um apelo à fé. Esta não é tanto acreditar que Tu existes, como sobretudo vir a Ti e fiar-se de Ti. Nesta Quaresma, ressoa o teu apelo urgente: «Convertei-vos…». «Convertei-Vos a Mim de todo o vosso coração» (Jl 2, 12). Chamas-nos a aproveitar este tempo de prova como um tempo de decisão. Não é o tempo do teu juízo, mas do nosso juízo: o tempo de decidir o que conta e o que passa, de separar o que é necessário daquilo que não o é. É o tempo de reajustar a rota da vida rumo a Ti, Senhor, e aos outros. E podemos ver tantos companheiros de viagem exemplares, que, no medo, reagiram oferecendo a própria vida. É a força operante do Espírito derramada e plasmada em entregas corajosas e generosas. É a vida do Espírito, capaz de resgatar, valorizar e mostrar como as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo, mas que hoje estão, sem dúvida, a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiros e enfermeiras, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho. Perante o sofrimento, onde se mede o verdadeiro desenvolvimento dos nossos povos, descobrimos e experimentamos a oração sacerdotal de Jesus: «Que todos sejam um só» (Jo 17, 21). Quantas pessoas dia a dia exercitam a paciência e infundem esperança, tendo a peito não semear pânico, mas corresponsabilidade! Quantos pais, mães, avôs e avós, professores mostram às nossas crianças, com pequenos gestos do dia a dia, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração! Quantas pessoas rezam, se imolam e intercedem pelo bem de todos! A oração e o serviço silencioso: são as nossas armas vencedoras.

«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» O início da fé é reconhecer-se necessitado de salvação. Não somos autossuficientes, sozinhos afundamos: precisamos do Senhor como os antigos navegadores, das estrelas. Convidemos Jesus a subir para o barco da nossa vida. Confiemos-Lhe os nossos medos, para que Ele os vença. Com Ele a bordo, experimentaremos – como os discípulos – que não há naufrágio. Porque esta é a força de Deus: fazer resultar em bem tudo o que nos acontece, mesmo as coisas ruins. Ele serena as nossas tempestades, porque, com Deus, a vida não morre jamais.

O Senhor interpela-nos e, no meio da nossa tempestade, convida-nos a despertar e ativar a solidariedade e a esperança, capazes de dar solidez, apoio e significado a estas horas em que tudo parece naufragar. O Senhor desperta, para acordar e reanimar a nossa fé pascal. Temos uma âncora: na sua cruz, fomos salvos. Temos um leme: na sua cruz, fomos resgatados. Temos uma esperança: na sua cruz, fomos curados e abraçados, para que nada e ninguém nos separe do seu amor redentor. No meio deste isolamento que nos faz padecer a limitação de afetos e encontros e experimentar a falta de tantas coisas, ouçamos mais uma vez o anúncio que nos salva: Ele ressuscitou e vive ao nosso lado. Da sua cruz, o Senhor desafia-nos a encontrar a vida que nos espera, a olhar para aqueles que nos reclamam, a reforçar, reconhecer e incentivar a graça que mora em nós. Não apaguemos a mecha que ainda fumega (cf. Is 42, 3), que nunca adoece, e deixemos que reacenda a esperança.

Abraçar a sua cruz significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora atual, abandonando por um momento a nossa ânsia de omnipotência e possessão, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar. Significa encontrar a coragem de abrir espaços onde todos possam sentir-se chamados e permitir novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade. Na sua cruz, fomos salvos para acolher a esperança e deixar que seja ela a fortalecer e sustentar todas as medidas e estradas que nos possam ajudar a salvaguardar-nos e a salvaguardar. Abraçar o Senhor, para abraçar a esperança. Aqui está a força da fé, que liberta do medo e dá esperança.

«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Queridos irmãos e irmãs, deste lugar que atesta a fé rochosa de Pedro, gostaria nesta tarde de vos confiar a todos ao Senhor, pela intercessão de Nossa Senhora, saúde do seu povo, estrela do mar em tempestade. Desta colunata que abraça Roma e o mundo desça sobre vós, como um abraço consolador, a bênção de Deus. Senhor, abençoa o mundo, dá saúde aos corpos e conforto aos corações! Pedes-nos para não ter medo; a nossa fé, porém, é fraca e sentimo-nos temerosos. Mas Tu, Senhor, não nos deixes à mercê da tempestade. Continua a repetir-nos: «Não tenhais medo!» (Mt 14, 27). E nós, juntamente com Pedro, «confiamos-Te todas as nossas preocupações, porque Tu tens cuidado de nós» (cf. 1 Ped 5, 7).

CARREGUE SÓ O PESO DE HOJE



19 de junho de 2021

EVANGELHO


Mt 6,24-34

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 24“Ninguém pode servir a dois senhores: pois, ou odiará um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro.
25Por isso eu vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida, com o que havereis de comer ou beber; nem com vosso corpo, com o que havereis de vestir. Afinal a vida não vale mais do que o alimento, e o corpo, mais do que a roupa? 26Olhai os pássaros dos céus: eles não semeiam, não colhem, nem ajuntam em armazéns. No entanto, vosso Pai que está nos céus os alimenta. Vós não valeis mais do que os pássaros?
27Quem de vós pode prolongar a duração da própria vida, só pelo fato de se preocupar com isso? 28E por que ficais preocupados com a roupa? Olhai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. 29Porém, eu vos digo: nem o rei Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles. 30Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é queimada no forno, não fará ele muito mais por vós, gente de pouca fé?
31Portanto, não vos preocupeis, dizendo: Que vamos comer? Que vamos beber? Como vamos nos vestir? 32Os pagãos é que procuram essas coisas. Vosso Pai, que está nos céus, sabe que precisais de tudo isso. 33Pelo contrário, buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo. 34Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações! Para cada dia, bastam seus próprios problemas”.

MEDITAÇÃO


Não se preocupem com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas próprias preocupações (Mt 6,34)

Não se preocupem com o dia de amanhã”. Como assim não se preocupar com o dia de amanhã? Foi o que Jesus disse? Foi. E ele foi uma pessoa despreocupada com o dia de amanhã? Bom, ele era conhecido por sua profissão, carpinteiro. Portanto, reconhecido por seu compromisso com o trabalho, com a sobrevivência. Não era um malandro. Nem foi um hippie. E por que ele recomendou aos discípulos que não se preocupassem com o dia de amanhã?

Bom, primeiro vamos ver o que ele disse certinho. Ele estava falando sobre o perigo de se servir a dois senhores, a Deus e às riquezas. Tendo dois senhores, você acabará sendo fiel a um e faltando com o outro, não é verdade? Se nós confiamos em Deus, então vivemos menos estressados com o futuro. Confiamos em Deus. Confiamos que é ele quem nos sustenta e garante a nossa vida. Se nós confiamos é no dinheiro, então lutamos com todas as forças para garantir o amanhã, porque ele depende só de nós. No final, Jesus disse: “Não se preocupem com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas próprias preocupações. Para cada dia, bastam seus próprios problemas”.

Nossa confiança em Deus não nos tira a responsabilidade com o presente e com o futuro. Mas, nos tira o peso e a sensação de estarmos sozinhos, lançados à própria sorte. Jesus nos mandou observar o que acontece com os pássaros e os lírios do campo. Nosso Deus e Pai os alimenta. Ele os veste de maneira maravilhosa. Jesus disse: “Olhem os pássaros do céu”. Ele nos mandou olhar, não imitar os pássaros do céu que não trabalham, nem poupam. Olhar e ver como Deus os alimenta, apesar de não plantarem, nem colherem. “Olhem como crescem os lírios do campo”. Não mandou imitar os lírios do campo que não trabalham, nem fiam. Olhar e se dar conta que Deus os veste, que a força de seu crescimento e de sua beleza vêm da força divina. Assim, sossegue o seu coração, é Deus quem providencia o seu alimento, a sua roupa, o seu sustento. Não viva numa aflição sem fim, num estresse doentio, com a preocupação do que vai ser amanhã, de como vai ser o futuro. Confia em Deus ou não confia?

Cada dia tem o seu peso pra gente carregar. Não nos sobrecarreguemos do peso do dia de amanhã. Vamos carregar o peso de hoje. Foi o que Jesus disse: “Para cada dia, bastam os seus próprios problemas”.

Guardando a mensagem

O jeito estressado, a excessiva preocupação com o amanhã, observou Jesus, é coisa de pagãos. Eles não conhecem o Deus vivo e verdadeiro. Eles não têm em quem confiar, a não ser em si mesmos e no seu dinheiro. Então, não se trata de você despreocupar-se, de viver irresponsavelmente. Trata-se de fazer bem a sua parte, levar o peso do dia de hoje com toda a responsabilidade e viver com a confiança de que nossa vida está nas mãos de Deus; que o nosso Deus e Pai é a nossa única segurança. Ele cuida de nós. Sabe do que nós precisamos. Estamos em suas mãos.

Não se preocupem com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas próprias preocupações (Mt 6,34)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
Que diferença faz vivermos na fé, colocarmos o Reino de Deus em primeiro lugar em nossas vidas! Estamos na luta, trabalhando, estudando, planejando, pensando no dia de amanhã. Mas, não fazemos as contas só com nossas poucas forças ou com os nossos minguados recursos. Temos um pai, temos um Deus que nos sustenta, nos fortalece e garante o nosso amanhã. Podemos, então, viver tranquilos e dormir sossegados. Muito obrigado, Jesus, por nos recordares isso. Não nos deixes por nossa confiança no dinheiro, na riqueza. Não nos permitas que ponhamos nossa segurança nos bens deste mundo. Confiamos em Deus. Confiamos em ti. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Dom Bosco dava um conselho. Vou dar também. Antes de dormir, escreva num papelzinho sua maior preocupação e ponha o papelzinho debaixo do travesseiro. Na sua oração, diga ao Senhor o que você escreveu. E vá dormir tranquilo, tranquila. Não é mágica. É só um exercício de confiança em Deus.

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

ONDE ESTÁ O SEU TESOURO?



18 de junho de 2021

EVANGELHO


Mt 6,19-23

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 19“Não junteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e os ladrões assaltam e roubam. 20Ao contrário, juntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça e a ferrugem destroem, nem os ladrões assaltam e roubam. 21Porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.
22O olho é a lâmpada do corpo. Se o teu olho é sadio, todo o teu corpo ficará iluminado. 23Se o teu olho está doente, todo o corpo ficará na escuridão. Ora, se a luz que existe em ti é escuridão, como será grande a escuridão.

MEDITAÇÃO


Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração (Mt 6, 21)

Depois de ter ensinado o Pai Nosso, como um modelo de oração, Jesus deu outro ensinamento importante, desenvolvendo um tema já presente no Pai Nosso. Toda atenção para não se enganar com a riqueza.

Ajuntar tesouros é uma tentação permanente. No ‘Pai Nosso’, Jesus nos ensinou a pedir ao Pai “o pão nosso de cada dia”, o necessário para a nossa sobrevivência, não riqueza, fortuna. Nossa confiança está em Deus, não no dinheiro. É o Senhor quem nos sustenta, quem nos guarda. Como disse Jesus, é só olhar como ele alimenta os pardais e veste belamente as flores do mato. Com maior empenho, ele cuida dos seus filhos e de suas filhas, de sua comida, de sua roupa, de suas contas. Nossa confiança não pode estar no dinheiro, na segurança econômica. Nossa confiança só pode estar em Deus, em nosso Pai providente.

Jesus sentenciou: “Mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”. Não é ter muita coisa, muito dinheiro, muitos bens que resolve. A felicidade não está em ter bens. Precisamos, é certo, ter o suficiente para viver com dignidade. Mas, o acúmulo de coisas, de dinheiro, de valores pode nos dar a falsa impressão de segurança, de independência, de autonomia, de felicidade. De falsa felicidade. O coração humano não se contenta com coisas. Pode-se até ter a impressão que ao se ter a posse daquele bem, ou chegar àquele status, vai-se encontrar um grau de satisfação que vai ser a própria felicidade. Não é verdade. A felicidade não está em ter coisas, Jesus está nos lembrando.

Toda atenção: “Onde está o teu tesouro, aí estará o teu coração”. Se nos deixamos seduzir pelas coisas, pelo dinheiro, pela riqueza... nosso coração fica preso a esses bens. É a eles que amamos, é por eles que nos sacrificamos. Assim, desviamos o amor que devemos a Deus e ao próximo para o amor às coisas. E nos tornamos idólatras. No lugar do Deus vivo e verdadeiro, em quem devemos confiar, coloca-se a reserva que se tem no banco ou os imóveis que parecem conferir segurança. Logo, logo aparecem justificativas para o seu próprio egoísmo, para o isolamento e a insensibilidade para com a penúria do próximo.

Guardando a mensagem

A nossa escolha de vida é o trabalho honesto, no qual, com a providência de Deus, garantimos a sobrevivência de nossa casa, vivendo com sobriedade e essencialidade. Nosso ideal não é a riqueza e o luxo. Amamos o trabalho e valorizamos a partilha. Confiamos em Deus.

Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração (Mt 6, 21)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
A traça, a ferrugem e os ladrões destroem o tesouro que juntamos aqui na terra. O tesouro de boas obras, do amor a Deus, da nossa comunhão contigo, esse sim, ninguém destrói. Esse permanece. Continua, Senhor, nos ensinando a não servirmos às riquezas, nem nos sacrificarmos a elas, como novos ídolos. Baste-nos o pão de cada dia, com confiança na providência divina e compromisso com o trabalho honesto. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a Palavra

Que tal, hoje, oferecer uma ajuda mais substancial a alguém que lhe pede ou mesmo a alguém que precisa, mas não lhe estendeu ainda a mão?

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

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