PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA

QUANDO O BEM ENCONTRA SEUS INIMIGOS

Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor fez por ti, em sua misericórdia (Mc 5, 19)
03 de fevereiro de 2020.
Eu vou tentar lhe explicar essa história dos porcos que se afogaram no mar. Uma manada de porcos se perdeu. A economia daquelas famílias ficou arruinada. Resultado: o povo daquela região mandou Jesus embora. E o que tinha acontecido? Jesus chegou a uma região já fora do seu país, uma região de pagãos. Era do outro lado do mar da Galileia. Jesus e os discípulos chegaram lá de barco. Veio ao encontro deles um homem possuído por um espírito impuro, que vivia no cemitério apavorando o povo do lugar. Ele se incomodou com a presença de Jesus. E Jesus deu ordens para que saísse daquele homem. Na verdade, eram muitos demônios e se chamavam Legião e pediram para entrar nos porcos. Havia muitos porcos por ali. Jesus libertou o homem e os porcos desceram de ladeira abaixo e se jogaram no mar. O povo do lugar não gostou do resultado e expulsou Jesus de suas terras.
Jesus está numa região de pagãos, logo tem porco por ali, na imaginação do povo da Bíblia. Você lembra que os hebreus não comiam porco e não criavam porco de jeito nenhum. Porco, para eles, era um sinal de coisa ruim, de gente que vivia longe da fé no Deus vivo.  Era símbolo dos pagãos, uma fonte de impureza. Lembra a parábola do filho pródigo? O jovem judeu que terminou no fundo do poço, empregou-se como cuidador de porcos. Foi a máxima humilhação.
Mais do que uma história, a narração quer mostrar o significado da ação libertadora de Jesus também fora do povo de Deus. Para isso, os dados da narração podem ter ficado um tanto inflacionados. Quem conta um conto, sempre aumenta um ponto. Nessa narração de São Marcos, a manada de porcos tinha mais ou menos uns dois mil porcos. A quantidade de porcos e o tanto de demônios – Legião – são elementos para sublinhar como o estrangeiro está possuído pelo mal, na mentalidade dos hebreus e seguidores de Jesus.
A primeira coisa que o texto está anunciando é que a ação salvadora de Jesus vai além do povo de Israel, atravessa as suas fronteiras e chega ao estrangeiro, aos pagãos.  A segunda coisa é que a ação de Jesus que liberta o homem de todas as amarras e opressões não é bem recebida por todo mundo. Uma sociedade má reage contra Jesus, expulsa-o.  Por exemplo, libertar pessoas das drogas. Os narcotraficantes ficam furiosos, é uma ameaça à sua economia. Libertar pessoas do analfabetismo político, tem gente que desaprova, porque se beneficia da desinformação das pessoas.  Denunciar a prostituição de meninas e meninos: a rede que se beneficia desse tipo de exploração reage, fica no prejuízo. Apoiar a luta do povo sem teto ou sem terra, motivo de suspeita por parte de quem se faz de surdo à gritante desigualdade social do país.  É o que está dito no texto de hoje. A população pagã daquela região viu-se prejudicada no triste fim da manada de porcos. Preferia que os demônios continuassem oprimindo aquele homem que morava no cemitério, que continuassem mandando naquela terra. ‘Educadamente’, pediram para Jesus se retirar de suas terras.
A terceira lição do texto de hoje é maravilhosa. Aquele homem liberto tornou-se um discípulo, uma testemunha do amor de Deus em sua região. Ele começou a pregar na Decápole, em toda aquela região pagã, sobre o que Jesus tinha feito por ele.
Guardando a mensagem
Jesus foi a uma região pagã e ali encontrou um homem possuído pelo demônio. Ele o libertou. Os espíritos maus se apossaram dos porcos e a manada se jogou no mar e se afogou. A ida de Jesus àquela região estrangeira demonstra o seu compromisso missionário com todos, não somente com o seu povo. Para o povo hebreu, porco era uma marca das regiões pagãs, consideradas impuras. Contando esse fato sobre a ida de Jesus a uma terra estrangeira, era natural que aparecesse porco na história. É claro que essa não é uma narração jornalística. O sentido é o que importa. Os pormenores podem não ser exatos. A reação das pessoas daquele lugar à ação de Jesus é a reação ao bem que se faz. Quem faz o bem, quase sempre encontra resistência. E a atitude do homem liberto é uma grande lição para nós. Ele tornou-se uma testemunha viva da obra redentora de Jesus, na sua própria região.
Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor fez por ti, em sua misericórdia (Mc 5, 19).
Rezando a palavra
Senhor Jesus,
Nós nos entristecemos quando procuramos fazer o bem e encontramos má vontade, resistência, oposição. Foi assim naquela região pagã que visitaste. Fizeste o bem, libertando aquele homem possuído pelo mal e liberando a estrada para o povo passar sem medo. Mas, o povo, invocando prejuízos na economia, acabou te afastando dali. Essa desculpa da economia, do dinheiro, do administrativo é motivo para muita gente resistir à tua Palavra, esquivar-se da conversão e da mudança de vida. Concede-nos, Senhor, acolher a tua santa Palavra com abertura de coração e espírito de obediência. E não desistir, quando trabalhando pelo bem dos outros, encontrarmos incompreensão, oposição, perseguição. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.
Vamos viver a palavra
Você foi libertado por Jesus de muita coisa, especialmente do pecado que o afastava de Deus e dos seus semelhantes. Hoje, fale do que Jesus tem feito por você, com outras pessoas.
Amanhã, Dia Mundial de Combate ao Câncer, vamos rezar por quem está na luta contra este mal. Desejando, nos mande o seu pedido de oração.
03 de fevereiro de 2020.
Pe. João Carlos Ribeiro, sdb



AO RETIRAR O VÉU, QUE SURPRESA!

O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele (Lc 2, 33)

02 de fevereiro de 2020

Neste domingo, celebramos a Apresentação do Senhor. Esta é uma festa que vem dos primeiros séculos do cristianismo, celebrada quarenta dias depois do natal. Ela nos recorda a revelação sobre Jesus, quando seus pais o levam ao Templo, para cumprir o que manda a Lei de Moisés: a purificação da mãe e o resgate do primogênito. 

Como o parto envolve sangue, o tempo de purificação da mãe (no caso de um filho homem) era de quarenta dias. Depois disso, ela oferecia um sacrifício no Templo (um cordeiro de um ano ou, sendo pobre, um par de rolinhas ou de pombas). Está tudo bem explicado no Livro do Levítico (Lv 12). Todo primeiro filho, dos humanos ou dos animais, pertencia a Deus. Os primogênitos dos animais eram sacrificados no Templo, como oferta ao Senhor. Os primogênitos dos humanos eram resgatados, substituídos pelo sacrifício de um animal. Tudo explicado no Livro do Êxodo (Ex 13). 

O que temos? Um jovem casal, chegando ao grande Templo, em Jerusalém, com sua criança nos braços, em cumprimento das leis do seu povo. Tudo como outros tantos casais, agradecendo a bênção de terem gerado um filho varão e cumprindo os ritos que a tradição de sua fé mandava. Como tantos, o cansaço da viagem, a alegria de estar chegando à casa do seu Deus, o encontro com parentes e conhecidos, todos felizes pela bênção de um primogênito. Nesta cena, vemos algo da encarnação, como disse São Paulo: “Deus enviou o seu filho, nascido de uma mulher, sujeito à Lei” (Gl 4). Nós o vemos na normalidade da vida, no ritmo normal da existência humana de vinte séculos atrás. Um Deus encarnado. 

Mas, o véu da normalidade encobre uma realidade maravilhosa. Aquele menininho frágil é o prometido de Deus, anunciado pelos profetas. Seus pais - não parece - têm uma história pessoal de colaboração com Deus. A encarnação na história passa por eles: são sua família, estarão ao seu lado no seu desenvolvimento humano, no seu crescimento espiritual, na sua inserção na história do povo eleito. Ele não é só o primogênito de José, ele é o primogênito de Deus. 

Essa verdade profunda escondida sob o véu da normalidade, do habitual, da simplicidade do jovem casal é revelada por dois idosos profetas, como que representando toda a história daquele povo com Deus e sua tradição profética. Simeão, movido pelo Espírito Santo, toma a criança nos braços e revela: ‘Ele é salvação que Deus mandou, luz para iluminar o mundo todo, a glória do seu povo santo’. Simeão abençoa o pai e a mãe do menino e revela que Maria terá parte nas dores do filho: “Uma espada te transpassará a alma”. E Ana, idosa profetiza que vivia no Templo, começa a louvar a Deus e a falar do menino a quem estava passando por ali. 

A liturgia de hoje nos faz viver esse momento em que, como na retirada de um véu, se descobre a normalidade da família de Nazaré na entrada do Templo, revelando a sua profunda verdade. Lemos o profeta Malaquias, falando da chegada do Anjo da Aliança no Templo, aquele que vai purificar o povo para oferecerem a Deus uma oferta agradável. E o Salmo 23, nos fazendo celebrar: “Ó portas, levantai vossos frontões a fim de que o rei da glória possa entrar”. E a carta aos Hebreus nos dizendo: “Ele devia fazer-se em tudo semelhante aos irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e digno de confiança nas coisas referentes a Deus, a fim de expiar os pecados do povo”.

Celebrando esta Missa da Apresentação do Senhor e o Dia Mundial da Vida Consagrada, na Basílica de São Pedro, o Papa Francisco explicou que a vida do cristão, como também a vida dos consagrados na vida religiosa, é também uma realidade marcada pela normalidade, pelo cotidiano, pela Lei. Mas, na verdade, a simples vida do cristão na sua família ou no seu trabalho ou dos consagrados na oração e no serviço, esconde uma grandeza infinita. Numa festa como esta, retiramos o véu e, com os olhos da fé, vemos a manifestação gloriosa do Senhor a quem amamos, a quem oramos, a quem servimos. 

Guardando a mensagem

Celebramos hoje a festa da Apresentação do Senhor. José e Maria e seu primogênito chegam ao Templo para cumprir a Lei de Moisés: a purificação da mãe e a consagração do primogênito. O mistério do filho de Deus, enviado como Messias e Salvador da humanidade, está escondido na normalidade, na simplicidade dos seus piedosos pais e na sua fragilidade de criança de braço. O evangelista nos leva, por um momento, a retirar o véu e descobrir a beleza e a grandeza da presença de Deus no meio do seu povo. Simeão e Ana, profetas idosos, representando a tradição da fé do povo eleito, reconhecem nele o Messias prometido e louvam o Senhor que está cumprindo suas promessas. A liturgia nos ajuda a celebrar essa revelação: ele é o Anjo da Aliança que está chegando no Templo, o Senhor da glória para o qual os portões se abrem, o sumo-sacerdote que expiará o pecado do povo. 

O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele (Lc 2, 33)

Rezando a palavra

Senhor Jesus, 
Escolheste a encarnação, como o jeito pelo qual o teu Filho se aproximou, fez-se um de nós, expiou nossa culpa por sua morte e, ressuscitado, nos conduz na história. Assim, consagraste o nosso dia-a-dia, o nosso cotidiano, como lugar de salvação. Um véu de normalidade cobre a nossa vida, mas, a verdade é mais profunda e luminosa: somos teus filhos, Jesus está conosco, somos o povo santo em páscoa. Só com a luz da fé, podemos perceber a glória de filhos e filhas que nos habita, pelo dom do teu Santo Espírito. Na vida dos consagrados, nossos irmãos e irmãs que vivem em comunidades nos conventos, nos mosteiros, nas casas religiosas ou vivem sua consagração em suas casas, na normalidade de sua vida de oração e serviço, já brilha a radicalidade de nossa fé, no seguimento a Cristo. Neles e nelas, todos suspiramos: “Só Deus nos basta”. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém. 

Vivendo a palavra

Peça, hoje, ao Senhor que chame e inspire muitos jovens para o seguimento de Jesus na vida consagrada. 

Recife, 02 de fevereiro de 2020
Pe. João Carlos Ribeiro, sdb



COMO VENCER A TEMPESTADE

Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem? (Mc 4, 41)
01 de fevereiro de 2020

Quem é que não tem problemas na vida? Qual é a vida que não tem sofrimento, crises, desencontros? Pois é, todo mundo tem a sua tempestade. Aliás, muitas tempestades. As coisas vão andando bem, tudo em ordem, de repente, um problema, uma turbulência.

Na história dos discípulos de Jesus, eles estão na barca em pleno mar da Galileia. De repente, vento forte, ondas revoltas, tempestade no mar. E o pessoal ficou com muito medo, porque o barco estava afundando. Era gente experiente no mar, mas a coisa estava ficando feia. Jesus estava dormindo no barco, eles o acordaram pedindo ajuda. Jesus acalmou o vento e o mar. Mas também reclamou que eles tivessem uma fé tão fraca.

Essa história do evangelho pode responder a uma inquietante pergunta: Como é que a gente faz pra vencer uma tempestade? Eles, naquela situação-limite (a tempestade no mar), tiveram uma profunda experiência de Deus. Viram de perto a sua atuação salvadora. Admiraram-se com aquele homem, a quem o vento e o mar obedecem. Em Jesus, eles viram o próprio Deus agindo para salvá-los.

Como é que se faz pra vencer a tempestade? A história dos discípulos dá a resposta em três tempos. Primeiro: Tenha Jesus no seu barco. Tenha Jesus no seu barco. O barco é uma representação de sua vida, de seu casamento, de sua profissão, de sua comunidade. Aliás, no evangelho, a barca de Pedro é a própria Igreja, singrando os mares do mundo. É uma representação da igreja missionária. Se Jesus não estiver no barco, a coisa fica mais difícil ou mesmo sem solução. É preciso que Jesus esteja presente em sua vida, em sua profissão, em sua família. Às vezes, pode até parecer que ele esteja ausente (na história, estava dormindo). Então, tenha Jesus no seu barco.

A segunda pista também está no texto. Os discípulos acordaram Jesus e pediram que os salvasse. A segunda pista é essa: Recorra ao Senhor, pela oração. Deus já sabe de que precisamos, mas precisamos pedir. É uma forma de afirmar nossa dependência dele, nossa confiança. Então, recorra a Jesus, pela oração. Pede quem precisa e confia. É claro que a oração não é só na hora da necessidade, mas também nela. Na tempestade, recorra a Jesus, reze.

A terceira pista é essa: Mantenha uma atitude de fé e de confiança em Deus. Jesus achou que os discípulos, pelo desespero que demonstraram, tinham uma fé ainda fraca. Especialmente nessas horas é preciso ter uma atitude de fé e de confiança em Deus. A fé nos dá serenidade nas horas difíceis, tranquilidade para enfrentar os problemas, sem desespero.

Guardando a mensagem

A cena da tempestade no Mar da Galileia é especialmente uma representação das crises que se abateram na comunidade de Jesus. A primeira grande crise foi, com certeza, a morte dele executado como malfeitor. Talvez seja por isso que nessa cena, ele aparece dormindo na parte de trás da barca. Os discípulos precisam de mais fé, para não deixar que o medo os desoriente e os leve ao desespero. As crises estão sempre presentes em nossa vida. Assim, você pode aprender nessa passagem como enfrentar e vencer uma tempestade. Primeiro: Tenha Jesus no seu barco. Segundo: Recorra ao Senhor, pela oração. Terceiro: Mantenha sempre uma atitude de fé e de confiança em Deus.

Rezando a palavra

Senhor Jesus,
Deves ter acordado assustado com aquela gritaria de desespero dos teus discípulos. Tu te levantaste e deste ordem ao mar e ao vento para se acalmarem. Neste teu levantar-se, vemos claramente a imagem de tua ressurreição. Na tua ressurreição, temos a garantia da vitória em nossas lutas e em todas as crises em que vivemos em família, na Igreja ou em sociedade. Aumenta, Senhor, a nossa fé, para enfrentarmos e vencermos contigo todas as tempestades. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Em sua oração pessoal, repasse com o Senhor alguma crise que você passou. 

Amanhã, é o domingo da Apresentação do Senhor, um dia de atenção à vocação dos consagrados. 

01 de fevereiro de 2020

Pe. João Carlos Ribeiro

VENHA A NÓS O VOSSO REINO


O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra (Mc 4, 26)

31 de janeiro de 2020

A gente fica esperando o Reino de Deus como uma intervenção poderosa do Senhor em nosso mundo. Uma coisa forte, visível, que todo mundo reconheça e se submeta. Como falamos de ‘reino’, vêm em nossa imaginação os impérios deste mundo, os reinados de senhores poderosos e violentos de quem a história dá notícia.

Jesus, que tanto falou do Reino de Deus, não deixou uma definição do que é o Reino. Antes, fez comparações que desfazem completamente nossas expectativas farisaicas. O Reino é como a semente plantada na terra que, sem o agricultor saber como, nasce, cresce e produz frutos. O Reino é como uma semente de mostarda que se torna um belo arbusto. É como uma bela plantação, onde o inimigo semeou o joio. Só pra ficar nas comparações na área da agricultura. É melhor a gente desistir de querer definir o que é o Reino de Deus. Parece mais um jeito de Deus agir neste mundo.

Jesus nos conta, hoje, duas pequenas parábolas sobre o Reino de Deus: a semente que germina sozinha e o grão de mostarda que se torna um frondoso arbusto. Estas duas parábolas nos dão novas pistas sobre o Reino de Deus.

Uma primeira indicação é esta: O Reino se constrói com pequenos sinais. O Reino está potencialmente presente no que, hoje, nós estamos semeando, que nos parece tão pouco, tão pequeno. Ele é como a semente plantada que germina ou como o grão de mostarda tão pequenininho que vai se tornar uma grande hortaliça. Quando semeamos, nós mostramos confiança na semente e no futuro dela. Ao realizarmos pequenas ações e nos movermos com pequenos passos, estando na direção certa, estamos semeando o reino. É um conselho que damos, é uma desculpa que aceitamos, é uma pequena decisão que tomamos na direção justa. O Reino se constrói com pequenos sinais. São sementes que plantamos, grãos lançados na terra.

Uma segunda afirmação é a seguinte: O Reino não é obra nossa, é obra de Deus, servindo-se de nossa muito pequena participação. Mesmo que seja o agricultor a plantar a semente, a germinação é um segredo do Criador. É dele o milagre daquela semente tornar-se uma plantinha, crescer, florescer, frutificar. O agricultor colabora, plantando, limpando, irrigando, mas a espiga é obra da natureza e de quem a fez. O mesmo acontece com o grão de mostarda. O arbusto que vai acolher até os passarinhos é fruto de uma dinâmica que não é controlada pelo agricultor. O Reino não é obra nossa. É obra de Deus, com sua lógica, sua dinâmica, sua atuação.

Uma terceira afirmação é esta: o Reino será uma realidade surpreendente. Se plantarmos, colheremos. A semente dará fruto, dela se colherão as espigas, cuja farinha nos fornecerá um delicioso pão. O grão de mostarda será uma linda hortaliça e abrigará os pássaros do céu. O agricultor vai se surpreender com a obra de Deus em seu favor.

O Evangelho é a revelação desse evento maravilhoso: o Reino está ao nosso alcance, está batendo à nossa porta, está próximo de nós, está entre nós.

Guardando a mensagem

Mesmo com tanta crise, com tanta coisa ruim acontecendo, com tanto desmantelo no mundo, experimentamos cada dia que o Reino de Deus está entre nós, está acontecendo, está em gestação. Ele é obra de Deus, com nossa pequena colaboração. Por meio do seu filho Jesus, Deus está semeando um mundo novo de comunhão, de paz, de reconciliação. Jesus está conosco até a consumação dos séculos, como prometeu. Não nos abandona. O seu Santo Espírito atualiza a sua presença e a sua ação redentora. O Reino já está entre nós. Enfim, na colheita do que plantarmos, o Reino aparecerá pleno, surpreendente. 

O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra (Mc 4, 26)

Rezando a palavra

Senhor Jesus,

Tu estás entre nós, estás conosco na assembleia que se reúne, na Palavra que é proclamada, no Pão eucarístico que nos alimenta. É isso que experimentamos cada dia e que celebramos na Missa: a tua presença redentora entre nós, nos instruindo, nos abençoando, nos conduzindo. O Reino, de que tanto falaste, é a tua presença salvando esse mundo, reconduzindo o pecador à comunhão com Deus, nos guiando no caminho da justiça e da paz. Tu és o Emanuel, Deus conosco. Sendo hoje o dia de São João Bosco, amigo e educador dos adolescentes, te pedimos que o seu exemplo e o seu carisma continuem fazendo o bem em tua Igreja. Dele queremos aprender o seu grande amor à Eucaristia, a sua confiança ilimitada na Virgem Maria e a sua fidelidade aos pastores da Igreja. Seja o teu santo nome bendito, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

No seu caderno espiritual, escreva uma oração começando com o que rezamos no Pai Nosso: “Venha a nós o vosso reino”. 

31 de janeiro de 2020

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb



O AMOR QUE ENCHE SUA VIDA DE LUZ

Quem é que traz uma lâmpada para colocá-la debaixo de um caixote ou debaixo da cama? (Mc 4, 21).


30 de janeiro de 2020

Gente nova não pode imaginar um tempo em que não havia luz elétrica. Nesse tempo, o candeeiro era uma peça muito importante de uma casa. E andando para trás mais um pouco, nem luz elétrica, nem baterias, pilhas, nem gás butano. E recuando no tempo ainda mais, nem fósforo havia. Eita! Chegamos no tempo de Jesus.

No tempo de Jesus, as casas eram um pouco escuras, com poucas janelas. O que eles chamavam de lâmpada era uma tigelinha de barro com um bico com um pavio de algodão ou de linho. Dentro da lâmpada - a tigelinha de barro -, se colocava azeite. O povo mesmo produzia o azeite de oliva. A lâmpada era colocada numa prateleira que estava na parede, num lugar mais alto, ou mesmo numa lamparina que estivesse pendurada. Com aquele pavio, a lâmpada podia ficar acesa o dia todo, sem gastar muito. E ficava acesa para iluminar a casa que era meio escura e para acender o fogo na hora de cozinhar. Só para lembrar, não havia fósforo. Tinham que manter a luz acesa mesmo. Uma das tarefas da dona de casa era manter a lâmpada acesa.

O evangelho de hoje fala da lâmpada (de azeite, claro). “Quem é que traz uma lâmpada para colocá-la debaixo de um caixote ou debaixo da cama? Ao contrário, não a põe num candeeiro?” Isso quer dizer: uma luz é para ser colocada num lugar em que possa iluminar. Nós somos luz para iluminar, não podemos nos esconder, nos omitir. O que aprendemos com Jesus é uma luz para iluminar a nossa casa. O que temos a dizer com nossas palavras ou com nosso comportamento é uma luz para iluminar a vida dos outros.

Jesus nos disse que somos uma lamparina no lugar alto da casa. Em nós, a sua graça e o seu amor resplendem, nos fazendo luz para os outros, luz de Deus para a vida dos outros. Outros podem encontrar sentido para suas vidas, à luz do nosso testemunho. Minha família não vai ficar na escuridão, porque a luz de Deus que preenche a minha vida pode iluminá-la como uma lamparina pendurada no teto ou como uma lâmpada na prateleirinha da parede, no candeeiro. Por nossas boas obras que testemunham o amor de Deus pelos seus filhos, muita gente pode encontrá-lo e bendizê-lo.

Na verdade, você não é luz porque é um exemplo de vida, uma pessoa sem defeitos, um anjo de criatura. Não, você torna-se uma luz para o mundo, porque Deus enche de luz a sua vida. É isso que você testemunha, é disso que você fala, é esse brilho que está em seu sorriso e em suas obras: a luz de Deus que inunda a sua vida.

Então, não se esconda. Não se camufle. Hoje, mostre a sua cara. Fale, sorria, aconselhe, testemunhe. Seja hoje um canal da luz de Deus para a vida de sua família, de seus amigos, dos que hoje encontrarem você.

Guardando a mensagem

O Senhor, com a sua graça e com sua palavra, enche nossa vida de luz. Somos chamados a difundir essa luz para iluminar os ambientes humanos em que vivemos: nossa casa, nossa vizinhança, nosso local de trabalho. Seus ensinamentos, as verdades que proclamou, ditos ontem e hoje em ambientes reservados, precisam ser proclamados e difundidos abertamente. Ele é a luz do mundo. Nós, iluminados por ele, temos a vocação de lâmpada acesa no lugar alto da sala. Estamos aí para iluminar a vida dos outros.

Quem é que traz uma lâmpada para colocá-la debaixo de um caixote ou debaixo da cama? (Mc 4, 21).

Rezando a palavra

Senhor Jesus,

Tu que és a luz do mundo, nos disseste para ser luz para os outros. Nós reconhecemos, não temos luz própria. Nós recebemos a tua luz e é com ela que procuramos iluminar nossa casa, nossos ambientes de trabalho, de convivência, de lazer. É muito bonita a imagem da luz do candeeiro dentro de casa, que falaste no evangelho. Mesmo durante o dia, ela precisa ser mantida acesa. E é isso que precisa acontecer: não podemos deixar a tua luz em nós se apagar. Bem que São Paulo disse que não deixássemos o fogo do Espírito se extinguir. Ajuda-nos, Senhor, a manter a luz acesa em nós e onde vivemos e atuamos. A oração, a tua Palavra, a fé hão de ser o azeite que não faltará em nossa lâmpada. Nossa vida, nosso testemunho, nossas palavras hão de refletir a tua luz para que todos, ao nosso redor, vivam iluminados pelo amor de Deus. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém. 

Vivendo a palavra

Hoje, faça um momento de oração pedindo ao Senhor que você possa fazer bem a tarefa que ele lhe deu: ser a lâmpada de azeite acesa e posta num lugar alto de sua casa, para iluminá-la.

30 de janeiro de 2020

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb



A SEMENTE QUE CAIU NO MEIO DOS ESPINHOS



Outra parte da semente caiu no meio dos espinhos (Mc 4, 7).

29 de janeiro de 2020

Aquele povo todo estava ouvindo Jesus. Ele, na barca, sentado. Era nessa posição que os mestres ensinavam. O povo à beira mar, ouvindo. E Jesus contando a parábola dos terrenos. O semeador saiu semeando a sua semente. E ela caiu em quatro terrenos diferentes. Quatro, claro, para falar de todos os terrenos que recebem a semente. Quatro é um número de totalidade. Uma parte caiu à beira do caminho. Outra, num terreno pedregoso. Outra, no meio de espinhos. E o quarto terreno foi uma terra boa.

Uma história como essa, todo mundo ali podia entender. Grande parte dos seus ouvintes eram agricultores. E plantar era com eles. Será que eles entendiam o significado da parábola? Com certeza, alguma coisa, entendiam. Mas, depois, conversando entre eles, certamente vinham muitas ideias. E parábola é assim. Não tem um único significado. Não é um enunciado de uma verdade arrumadinha. É uma chave para o entendimento de uma alguma coisa que está acontecendo.

E o que está acontecendo? Bem, a pregação do evangelho. Ontem e hoje, a palavra está sendo semeada. E as pessoas, como você, recebem a palavra em situações diferentes. Umas como um terreno à beira do caminho. Outras, como um terreno pedregoso. Alguém como um terreno de espinhos. Por sorte, tem também quem a receba como um terreno bom. Só aí vai prosperar a palavra semeada.

Podemos imaginar essa parte do terreno de espinhos. Que plantas estariam nesse terreno? Pensa aí: Cactos, cardos, maliça, esporão, unha de gato... bom, já tem bastante. Coitada da semente que cair num terreno desse! Não vai pra frente. Pode até nascer e crescer, mesmo fraquinha, mas será sufocada pelos espinhos. Não dá fruto nenhum.

Olha o que Jesus explicou: “Outros recebem a semente entre os espinhos: são aqueles que ouvem a Palavra; mas quando surgem as preocupações do mundo, a ilusão da riqueza e todos os outros desejos, sufocam a Palavra, e ela não produz fruto”. Então, esses espinhos têm nome: preocupações do mundo, ilusão da riqueza, outros desejos. O que poderiam ser preocupações do mundo? Bom, eu fico pensando na vaidade, na ostentação, na ditadura da opinião formulada pela mídia... E o que seria ilusão da riqueza? Aqui é mais fácil: a ganância, o apego ao dinheiro, a tentação do luxo, a discriminação dos pobres... E os outros desejos? É o que não falta. Na primeira carta de São João tem uma passagem que pode nos ajudar: “Porque tudo o que há no mundo - a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida - não procede do Pai, mas do mundo” (1 Jo 2 16).

Guardando a mensagem

A palavra é como a semente que o agricultor espalha pelos terrenos. A parte que caiu no terreno cheio de espinhos não deu fruto nenhum. A plantinha até cresceu, mas foi sufocada pelos espinhos. Espinhos pode ser o modo de pensar do mundo (que privilegia a aparência, que nos estimula à vaidade e ao orgulho, ...). Espinhos pode ser também a ilusão da riqueza (o apego aos bens materiais, o desprezo pelos humildes, a ganância). Espinhos são também desejos que fujam do nosso controle (na sexualidade desregrada, na dependência do álcool, por exemplo). O que você pode fazer para receber melhor a semente da palavra de Deus, no caso de seu terreno estar cheio de espinhos? Vou lhe dar algumas sugestões: Limpe o terreno. Dê importância à semente e a proteja dos espinhos. Deixe que a semente, a palavra, reoriente a sua vida. Dê ao Reino de Deus o primeiro lugar. Não deixe ninguém sufocar essa semente. Ela está destinada a dar muitos frutos.

Outra parte da semente caiu no meio dos espinhos (Mc 4, 7).

Rezando a palavra

Senhor Jesus,

No meu terreno, tem uns espinhozinhos, não vou negar. Mas, sei que a tua própria palavra é uma força para me ajudar a removê-los. Conto com a tua graça. Quero que a tua palavra, que recebo cada dia com grande alegria, seja a luz a orientar a minha vida. Dá-me, Senhor, a paciência do agricultor que prepara o terreno, rega a plantinha, limpa o mato e espera pacientemente que ela cresça e produza frutos. Que a tua palavra cresça, dia após dia, em minha vida e dela possas colher muitos frutos. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.

Vivendo a palavra

Lendo o texto de hoje em sua Bíblia (Mc 4, 1-20), escolha uma palavra ou uma pequena frase e marque-a em sua própria bíblia. Podendo, transcreva-a no seu caderno espiritual.

29 de janeiro de 200

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb



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