Havia um homem rico que se vestia
com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias (Lc
16,19).
29 de setembro de
2019.
Por que o rico se deu mal? Porque não se incomodou com a miséria do seu irmão. Não se
assuste, por favor. É o recado das leituras bíblicas deste domingo. O rico se
deu mal porque não se incomodou com a miséria do seu irmão. Não porque era rico,
mas porque a sua condição social e financeira fechou o seu coração para o
pobre, seu irmão.
Jesus contou uma história chocante. Um rico, elegantemente
vestido e rodeado de amigos do seu nível, vivia de festas e comilanças. Na sua
porta, havia um miserável coberto de feridas, sentado no chão. Da mesa do rico,
nunca chegou uma sobrinha de comida para aquele faminto, de nome Lázaro. A vida
foi assim. O rico em seus banquetes, todo dia. O pobre com seu cachorro, no abandono
da fome e da doença. Morreram os dois. Lázaro foi para o céu. O rico para o
inferno. Das profundezas, o rico avistou Lázaro ao lado de Abraão. E gritou
pedindo ajuda. Queria que Lázaro levasse um pouco d’água para refrescá-lo
naquelas chamas. Queria que Lázaro avisasse seus cinco irmãos para não fazerem
como ele e terminarem naquele lugar tão triste. Os pedidos foram negados. E
Abraão explicou o porquê: o abismo é grande demais, não dá para passar; os seus
irmãos devem escutar a pregação dos profetas.
Esse é o tipo do evangelho que muita gente não quer nem ouvir.
Claro, nele Jesus faz uma denúncia muito séria sobre o perigo da riqueza
seduzir de tal modo uma pessoa ou uma classe social que leve essa pessoa a se esquecer
dos seus irmãos desempregados, subnutridos, enfermos nos corredores dos
hospitais. Muita gente preferia que Jesus não tratasse desses assuntos. Falasse
do Reino dos céus e se esquecesse dos problemas aqui de baixo, ora essa. Mas,
Jesus fez o contrário: desceu do céu e veio para a terra, assumindo nossa
condição humana. É aqui que está faltando fraternidade. É aqui que está
sobrando injustiça. E a sua palavra nos convoca a todos à conversão, à mudança de
vida.
Há uma palavra que define essa situação abordada pelo
evangelho de hoje: i-n-d-i-f-e-r-e-n-ç-a. Pela indiferença, nos acostumamos com
o sofrimento e a miséria da maioria. Não nos preocupam mais a fome, a
violência, a perda de direitos. Quem está numa situação melhor, fecha-se no seu
mundo e se esquece do seu irmão que continua sentado e faminto à sua porta. No
evangelho não se diz que o rico tenha maltratado o pobre ou o enxotado da porta
de casa ou chamado a polícia para tirá-lo dali. Nada disso. Ele simplesmente o
ignorou, não partilhou com ele suas abundantes iguarias, não o incluiu de
alguma forma na sua vida. Indiferença!
A profecia de Amós, lida hoje, vai na mesma linha: ‘Ai dos
que vivem bem e não se preocupam com a miséria dos seus irmãos’. O profeta se
refere às classes dirigentes do seu tempo que, apesar de viverem na abundância,
terminaram na primeira fila dos exilados, quando os assírios impuseram uma
penosa derrota ao país. O Salmo 145, rezado hoje, traça um belo perfil de Deus
que ama os pobres. O Senhor nosso Deus faz justiça aos oprimidos, sacia os famintos, protege o migrante, ampara
a viúva e o órfão. É um convite para honrarmos o Senhor, imitando-o no seu amor
pelos pequenos.
Guardando a mensagem
O rico se deu mal porque ignorou a miséria de Lázaro, porque
viveu em completa indiferença ao sofrimento do seu irmão. Por falar em irmão, ele
disse que tinha cinco irmãos. O número perfeito é sete. Então, para a conta ser
mesmo certa, seu pai não teria tido apenas seis filhos: ele e seus cinco
irmãos. Faltava um, faltava o sétimo. Claro, é o que estava sentado à sua
porta. O irmão que ele não reconheceu, não amou, não acudiu é Lázaro. Todo ser
humano é nosso irmão. Não esqueçamos os pobres. Não deixemos que os bens deste
mundo nos fechem o coração para os desempregados, os doentes, os famintos, os
sem teto.
Havia um homem rico que se vestia
com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias (Lc
16,19).
Rezando a palavra
Senhor Jesus,
Que belas as palavras do
Salmo 145: “O Senhor é fiel para sempre, faz justiça aos oprimidos, dá alimento
aos famintos. É o Senhor quem liberta os cativos. Ele ampara a viúva e o órfão,
mas confunde os caminhos dos maus”. Esse
é o nosso modelo, o Deus que ergue os caídos. Senhor, queremos tomar para nós o
conselho do apóstolo Paulo a Timóteo: “Tu que és um homem de Deus, foge das
coisas perversas, procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a
mansidão”. Esse é o caminho que queremos seguir, Senhor, o da fraternidade e da
justiça. Seja bendito o teu santo nome, hoje e sempre. Amém.
Vivendo a palavra
Hoje, ao ouvir ou ler alguma notícia nos jornais ou em
outros meios de comunicação, tente olhar a mesma notícia do ponto de vista de
quem está à margem, dos excluídos da mesa farta, dos Lázaros de hoje. Jesus nos
pede uma nova atitude, uma nova mentalidade. Não se trata de uma cesta básica,
apenas. Trata-se de vencer a indiferença pela inclusão, pela justiça, pelo
reconhecimento do seu irmão.
Pe. João Carlos
Ribeiro – 29 de setembro de 2019.