PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA

Precisamos ganhar essa Copa

Mais de 200 milhões: é o tamanho da torcida brasileira.  Preparados ou não, somos os anfitriões dessa Copa. O número de turistas estrangeiros supera os 600 mil previstos. As manifestações e greves nos deixam apreensivos. A CNBB, que congrega os bispos católicos do país, já se pronunciou com preocupação. Copa Mundial num ano eleitoral é uma mistura explosiva.

Qual é a preocupação da Igreja? São várias:  a proteção de vulneráveis contra o turismo sexual e o tráfico de pessoas humanas para a prostituição ou o trabalho escravo; a sorte das famílias que foram removidas para a construção dos estádios e melhorias de acessos. A perda de memória dos superfaturamentos das obras da Copa; a repressão a manifestações legítimas nesses dias.

O santo apóstolo do Brasil

No ano passado, fui ao Estado do Espírito Santo participar da FESTA NACIONAL DO BEATO ANCHIETA. A cidade chama-se hoje ‘Anchieta’. Era o dia 09 de junho, e a praça do Convento dos Jesuítas na cidade fundada por ele mesmo no século XVI estava lotada, com a presença numerosa de fiéis, do Governador do Estado, parlamentares, visitantes e padres jesuítas. Nove de junho, porque morreu em 09 de junho de 1597, com 63 anos. A povoação que nasceu com Anchieta e hoje leva o seu nome chamou-se Reritiba e foi o local escolhido pelo missionário para passar os seus últimos dias de vida. Lá está o seu sepulcro na grande Igreja construída pelos índios dos aldeamentos próximos, uma construção sólida e despojada do século XVI. Naquela noite festiva, houve concelebração da Santa Missa no palco ali montado, discursos das autoridades e depois o nosso Show. Todo mundo só falava da necessidade de se insistir na canonização do apóstolo do Brasil, uma possibilidade que se avizinhava desde a beatificação feita pelo Papa João Paulo II em 1980. Eu mesmo me referi a esse débito que temos com esse grande missionário do Brasil nascente e agradeci aos jesuítas por estarem conservando a sua memória. Ninguém imaginaria que em menos de um ano, Anchieta, cuja processo de reconhecimento de santidade já durava 417 anos, seria canonizado por um novo Papa e um Papa jesuíta. A história nos surpreende.

O Espírito da mudança

“Enviai, Senhor, o vosso Espírito e renovareis a face da terra”. É o que rezamos com o Salmo 103 (104). Pedimos ao Pai que nos envie o seu Espírito para renovar a face da terra. Renovar, transformar, mudar... é tudo com o Espírito Santo. Se o assunto é inovação, busca de novos caminhos e fronteiras aí temos que chamar o Espírito Santo. “Enviai, Senhor, o vosso Espírito e renovareis a face da terra”.

De fato, a continuidade da missão de Jesus é obra do Espírito Santo em nós e conosco. É graças à sua ação na Igreja que a missão pode alcançar os confins da terra, como orientou Jesus. Os confins não são somente os lugares geográficas, mas também as fronteiras existenciais, como gosta de dizer o nosso papa atual. Lá onde é preciso encontrar soluções novas, inéditas, audaciosas, aí a iniciativa é de Deus, por meio do seu Espírito, sempre em parceria conosco.

O povo da Bíblia recebeu a Lei da Aliança. As normas, os ritos, a organização do Templo, tudo estava escrito, definido, claro. Jesus, o Messias prometido, veio por obra do Espírito Santo em sua encarnação e o povo da Lei não conseguiu captar a novidade de sua presença, acolher a boa nova do Reino de Deus. O apóstolo Paulo viu essa mesma tendência no grupo judaico da comunidade cristã que estava começando. E alertou: a Letra mata, o Espírito vivifica (2 Cor 3, 6). Nas igrejas com maior tradição, essa tendência é clara: as normas, os códigos, os ritos, as leis eclesiásticas podem enrijecer a atuação na missão, podem enquadrar demais e gerar apenas uma pastoral de manutenção. A inovação, a abertura para novas soluções é obra do Espírito em nós. Paulo está com a razão: se ficamos apenas com a Lei, não avançamos, não inovamos. A Lei é necessária, mas não pode ser a única força a nos orientar. A força maior a nos conduzir deve ser o Espírito Santo, dando sentido à Lei e eventualmente modificando-a para adequá-la às novas realidades e situações.

Tudo que existe de inovação tem o dedo do Espírito. Ele já estava na criação do mundo, a grande invenção de Deus, pairando sobre as águas. Ele estava no sopro de Deus na criação do homem feito do barro, segundo o poema do Gênesis. Ele levantou profetas pra alertar o povo. Ele ungiu Jesus para ser o evangelizador do Reino. Ele quem fez o tímido grupo dos discípulos lançar-se à missão, após a partida de Jesus. É o Espírito quem gera a Igreja na base, gestando comunidades comprometidas com a promoção da vida. É o Espírito quem suscita os carismas que dão origem a novos movimentos na Igreja, à Vida Consagrada, às novas comunidades. É o Espírito Santo quem orienta a Igreja em grandes momentos de transformação e mudanças, como foi no Concílio Vaticano II, ou na grande assembleia de Aparecida ou no Sínodo da Família que acontecerá ainda este ano. Ele é quem orienta as Igrejas no caminho do ecumenismo, para que se realize o sonho de Jesus: “um só rebanho e um só pastor”. Na carta aos Coríntios, Paulo escreveu: “Pois o Senhor é o Espírito, e onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2 Cor 3, 17).

Se o seu caso for encontrar um caminho de mudança em sua vida, então você precisa do Espírito Santo. É ele quem interiormente nos move à conversão e à vida nova. Se a sua questão é encontrar um novo sentido para a sua existência, então você precisa do auxílio do Espírito do Senhor. É ele quem trabalha em nós para alcançarmos a estatura de Jesus, o filho amado do Pai. Caso esteja pensando em consagrar sua vida a Deus, então encontrou o parceiro certo: o Espírito do Senhor. Ele é quem nos faz ouvir a voz de Deus que nos chama, ele que nos dá o dom da vocação. Se você precisa caminhar na vida cristã com maior fidelidade, peça ao Espírito Santo os seus sete dons: sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus. Ele trabalha em você, na Igreja e na história. Ele é o Espírito de Deus, o Espírito da mudança.

Pe. João Carlos Ribeiro - 07.05.2014

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