PADRE JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO DA PALAVRA: Pastoral
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Chega de divisão

Tanta coisa divide o nosso povo... A política distingue candidatos de situação ou de oposição, de direita ou de esquerda.  O dinheiro divide e separa ricos e pobres, patrões e empregados. Gente bem situada morando em privès e gente faminta segregada em favelas. No banco, uns são os de cheque-especial e outros são os de magros contra-cheques. Uns levantando as mãos para os céus por terem  contra-cheque e outros nem ganho possuem. E o povo vai sendo dividido: entre  letrados e  analfabetos. Os brancos e os pretos. Os homens e as mulheres. As casadas e as mães solteiras. Tantas divisões dilaceram a nossa gente... A religião não podia ser geradora de novas fraturas em nossa convivência social.

Mas, infelizmente a religião também tem sido fator de divisão. Católicos de um lado. Crentes de outro. Sem qualquer chance de encontro. Pentecostais de um lado. Umbandistas de outro. Uns apontando para os outros como perversos inimigos. Árabes muçulmanos versus americanos mais ou menos cristãos. A guerra entre católicos e protestantes arrastou-se por tantos anos na Irlanda. Palestinos da religião do Islã todo dia se confrontam com Israelitas da religião judaica. No mais das vezes, a religião é apenas um pretexto para disputas de poder, jogo de interesses não declarados.

Escândalo maior é a separação e a guerra não declarada de católicos e evangélicos entre nós. Todas as igrejas cristãs confessam o único salvador Jesus Cristo, cujo mandamento é o amor a Deus e ao próximo. E no entanto, ao próximo de outra denominação ou Igreja  reserva-se apenas suspeita, desconhecimento, indiferença e até agressão. Sinal de infidelidade ao Mestre e de desconsideração por seu ministério de reconciliação.

A nossa desculpa é sempre que  os outros é que são culpados. El es é que são sectários, agressivos, desrespeitosos. Mas poderíamos pensar também que quem tem mais caminhada e compreensão tem também obrigação de dar o primeiro passo, de ser mais paciente, de ser mais perseverante na busca da unidade.  Afinal, ecumenismo não é um apêndice pra ser realizado quando for possível.

Ecumenismo, escreveu o Papa João Paulo II na sua Encíclica sobre o Ecumenismo, é uma questão vital. É uma questão de base.  Ser uma Igreja em comunhão com as demais igrejas cristãs, disse ele, é uma condição constitutiva da Igreja de Cristo. Não sê-lo é desmentir o evangelho. É desmerecer o pedido de Cristo ao Pai na última ceia: "Pai, que todos sejam um, para que o mundo creia". Não viver o ecumenismo é negar ao mundo o testemunho sobre Jesus Cristo. Sem este testemunho, o mundo dá por mentira o que anunciamos. Como disse Jesus: "Para que o mundo reconheça que me enviaste e que os amaste, como amaste a mim" (Jo 17, 23).

Tanta coisa divide o povo... as igrejas cristãs não podem continuar copiando este espírito mundano de competição, divisão, separação. Para serem fiéis a Jesus Cristo, precisam dar ao mundo o testemunho de que se amam e se reconhecem como membros do único corpo de Cristo. Como agentes de unidade no meio do povo, nós cristãos de diversas denominações precisamos nos unir, nos respeitar e procurarmos agir juntos em vista da justiça no mundo. Precisamos dar ouvidos à prece do Senhor: "Pai, que todos sejam um, com tu e eu somos um" (Jo 17,21). Chega de separações!

Santa Semana

Estamos na Semana Santa. Santa porque celebra o que há de mais central e precioso na nossa fé: a paixão, morte e ressurreição do Senhor. Este é o centro da fé. Ele morreu por nós. Sua morte nos reconciliou com o Pai. Na morte e ressurreição de Jesus, nasce uma humanidade nova, restaurada.

Fazendo a Semana Santa revivemos os passos de Jesus, sua fidelidade incondicional ao Pai, seu amor sem medida por nós. É assim que podemos fortalecer nossa fé, nossa adesão ao Evangelho, nossa vida na comunhão com Deus. É assim que no sábado santo, renovamos as promessas do Batismo na vigília da páscoa. Nosso batismo é nossa adesão a Jesus Cristo Salvador. Nele, vivemos como novas criaturas.

O segredo do missionário

Se entrasse na sua cabeça que você é um missionário, uma missionária, aposto que muita coisa iria mudar na sua vida. E na vida de sua família e de seus amigos e conhecidos. E o que é que falta? Falta você ter mais amor a Jesus Cristo e compreender melhor qual é a  missão que ele lhe confiou.

A segurança da fé

A força que nos sustenta na vida é a fé. A fé em Deus. Mas não é qualquer fezinha não. Fé naquele que verdadeiramente nos ama e pôs Jesus Cristo no nosso caminho. E uma fé esclarecida. É o que a Igreja nos tenta passar nos cursos, encontros, jornadas, na catequese.  "Fé cega, faca amolada" – diz a música. Fé cega é uma arma perigosa, pode machucar. Fé esclarecida  é a fé inteligente, de quem conhece o que ama. E que ama o que conhece.

O diabo anda solto

Fico pensando que nos dias de hoje está havendo uma inflação de "demônios" nas igrejas. O tal do "demônio" é uma explicação fácil pra tudo quanto é problema: doenças, traições, desemprego. É tudo culpa do diabo. Será!? Em proporção semelhante, estão também aparecendo pregadores que em grandes teatralizações expulsam os ditos demônios. O negócio chega a ser meio folclórico e primitivo. A ação do demônio vira explicação para todas as desordens, assim ninguém precisa mais assumir a responsabilidade de suas ações, ou mesmo conviver com a flagrante fragilidade da natureza humana à mostra na doença e no sofrimento. Já temos um culpado: o demônio. É só aparecer quem o enfrente, quem o desbanque, sem necessidade de nos darmos ao trabalho de discutir as causas dos problemas ou o doloroso ônus do compromisso com a mudança de vida pessoal e social.

As crianças estão se vendendo

O que leva uma criança de 7, 9 ou 12 anos a se oferecer por alguns reais? Qual é o futuro desses milhares de crianças e adolescentes que estão se prostituindo hoje nas ruas, nos postos de combustível, nas estradas? Como podemos permitir esse tipo de coisa que continua crescendo de maneira assustadora? Temos que fazer alguma coisa. E logo.

Criança se perde e chora

Por que será que Jesus nos disse para nos tornarmos como crianças?  Olha a catequese dele: chamou uma criança para o meio da roda e a apontou como exemplo. Se vocês não se converterem e não se tornarem como crianças não vão entrar no Reino de Deus! O que será que Jesus queria dizer com isso?

Amigo da verdade

Nós vivemos em um mundo marcado pela aparência. É a cultura do simulacro. Aparência é o que conta. Fachada bonita, propaganda de primeira...  às vezes escondendo uma instituição falida. É a cultura da aparência. Sorriso escancarado, carro do ano, roupa de grife... e muito débito, muita conta protestada, e por aí vai. É o mundo da aparência. O mundo em que vivemos.

As três qualidades do cristão

Jesus entrou na cidade de Naim. Chegou acompanhado dos discípulos e de muita gente que o seguia. Encontrou um enterro saindo da cidade. Uma situação de dor e sofrimento: uma viúva que perdera seu único filho, um jovem. Consolou a pobre senhora. Parou o enterro, mandou o moço levantar-se. Comoção, júbilo, festa. Deus visitou o seu povo: concluiu o povo. E a voz espalhou a alegria do Reino que estava chegando como saúde, inclusão, solidariedade, vida.

O grito do Brasil

O Grito dos Excluídos se propõe a superar um patriotismo passivo em vista de uma cidadania ativa e de participação, colaborando na construção de uma nova sociedade, justa, solidária, plural e fraterna. 


A solução passa pelo "nós"

A gente vive no meio de tantas dificuldades... a vida é feita de atropelos e problemas, ao lado de alegrias e coisas boas também. Mas, há sempre alguma coisa para atrapalhar.

A igreja que nasceu do lado de Cristo

Na criação, Deus tirou a mulher da costela de Adão, ou melhor do seu peito. A mulher é uma representação da Igreja. Nasceu para a comunhão com Deus, como Eva que nasceu para estar em comunhão com o seu esposo.

A limonada

Apresentaram um limão a duas pessoas. O que fazer com um limão? Uma fez cara feia: azedo, nem pensar! O outro abriu um sorriso, teve uma ideia: vai dar uma gostosa limonada. O primeiro teve um olhar negativo, deixou-se levar peloimpacto da ideia que lhe veio em mente: o sabor azedo. O outro teve um olhar positivo, viu possibilidades naquele limão: uma gostosa limonada.

 

O que para um parece uma dificuldade, para outro revela-se uma oportunidade. A dificuldade, o problema pode se tornar em uma oportunidade de crescimento, de uma nova solução, de um salto adiante. É preciso superar obstáculos, superando-se na própria percepção dos problemas. Porque problemas não faltam na vida de ninguém. E é possível que um problema possa gerar novas soluções, novas oportunidades.

 

Fico olhando para Jesus na Última Ceia e me encanto em ver como ele fez da traição de Judas uma oportunidade para sua missão. "Um que come comigo, levantou contra mim o calcanhar". Era Judas, preparando-se para oferecer sua consultoria aos chefes do Templo de Jerusalém. Pelos seus serviços de entrega de Jesus no Horto, receberia 30 moedas de prata. E olha que Judas tinha sido escolhido por Jesus e o tinha acompanhado nos três anos de missão. Vira Jesus preocupado com o povo, defendendo os fracos e curando os doentes. Ainda assim, venceu nele o instinto de busca de interesse pessoal, suas expectativas de se dar bem a qualquer custo. Traiu o Mestre. Entregou-o aos seus inimigos. E Jesus ficou um tanto triste na Ceia, mas logo se recuperou. Aproveitaria da mancada do discípulo para oferecer a sua própria vida em remissão dos pecados do povo. Judas ajudou Jesus a realizar sua tarefa até o fim. De uma dificuldade, Jesus fez uma oportunidade. Da traição de um discípulo, Jesus deu uma finalização redentora à sua paixão e morte. Ninguém tomaria a pulso sua vida, ele a entregaria livremente.

 

E a história dos discípulos Paulo e Barnabé em Antioquia da Pisídia. Paulo pregou na Sinagoga. Os judeus de lá ficaram primeiro curiosos, mas depois sentiram-se ameaçados. E não permitiram mais que falasse. Rejeitaram sua pregação em que anunciava Jesus como o filho de Deus enviado para a salvação do povo. Proibiram que os apóstolos falassem. Paulo deu a volta por cima. "Já que vocês judeus não querem saber dessa boa notícia, vamos anuncia-la aos pagãos". E olha que a acolhida dos pagãos foi entusiasta, muitos se converteram e se batizaram. O cristianismo espalhou-se por todo o mediterrâneo entre uma grande maioria pagã. De uma dificuldade, Paulo fez uma grande oportunidade. De barrada nas sinagogas dos judeus, a Palavra penetrou em amplos ambientes do mundo greco-romano.

 

"Quando se fecha uma porta, Deus abre uma janela", é a sabedoria popular. E São Paulo: "Tudo concorre para o bem daqueles  que amam a Deus" (Rm 8,28). Então, em vez de pensar que tudo está perdido, procure logo onde apoiar os pés para um salto de qualidade. E, afinal, transformar o azedo do limão numa gostosa limonada.

Pe. João Carlos – 20.05.2011

Analfabetismo bíblico

São vários os tipos de analfabetismo. Em matéria de analfabetismo absoluto, o Brasil ainda tem ainda 10% de pessoas nessa faixa. É triste isso. E mais 20% de analfabetos funcionais, os que não conseguem interpretar um texto. Mas, hoje se fala também em analfabetismo digital. E com razão, pois muita gente que sabe ler e escrever ainda não sabe se comunicar com os recursos digitais: computador, internet, ipod, terminais eletrônicos, etc. Outro analfabetismo é o que Bertold Brecht descreveu: o analfabeto político. Mas, está me ocorrendo um outro analfabetismo igualmente grave para os tempos de hoje: o analfabeto bíblico. Alguns nessa área são analfabetos absolutos. E muitos outros, são analfabetos bíblicos funcionais.

 

Essa forma de analfabetismo me parece grave nos dias de hoje, especialmente entre os cristãos. O analfabeto bíblico seria alguém que, por desconhecer o livro dos cristãos, não consegue uma compreensão e uma comunicação adequada sobre a sua fé. "E não basta crer?", perguntaria alguém. Não. É preciso mais: é preciso dar as razões da própria fé, como está escrito na Carta de Pedro. E a fé cristã está assentada fundamentalmente nas Escrituras Sagradas e na Tradição que a transmite e explica. Sem um conhecimento bíblico mínimo, não se consegue compreender boa parte do discurso religioso católico, protestante, evangélico ou ortodoxo.

 

É claro que o Novo Testamento é a parte mais conhecida pelas pessoas, onde se encontra a história da vida de Jesus, seus ensinamentos e o desenvolvimento das comunidades cristãs após a sua ressurreição. Mas, o Novo Testamento não se entende sem o Antigo. As raízes da fé cristã estão na história religiosa do povo de Israel, o povo em Aliança com o Deus único. A comunidade dos seguidores de Jesus está em continuidade com a grande tradição religiosa do povo eleito: os seus patriarcas (Abraão, Isac, Jacó), os seus profetas (Amós, Oséias, Isaías, Jeremias, Jonas, Malaquias, Daniel), os seus reis  (Davi, Salomão, Josias), a Torah, a lei de Moisés, suas festas religiosas (páscoa, pentecostes, cabanas), etc. Não dá para compreender o Novo Testamento sem uma referência direta às Escrituras de Israel, os 46 livros do Antigo Testamento.

 

E não se pode achar que está tudo bem assim. Não está. Não é possível, nos dias de hoje, um cristão ser leigo na Bíblia. Leigo aqui, de maneira pejorativa. Estamos em uma sociedade com um leque enorme de modelos, possibilidades e opções. Quem for cristão tem que ser de verdade, e saber bem os fundamentos de sua fé. Em um mundo como o nosso, o cristão tem que fazer a diferença. E atitudes, comportamentos e projetos de vida alinhados com o Evangelho não se sustentam na superficialidade. Eles têm que ter um sólido alicerce. O conhecimento bíblico é uma dessas pedras fundamentais na construção de uma vida marcada pela fé em Cristo.

 

Aliás, devemos estender esse pensamento para todo mundo, mesmo para quem não é membro de nenhuma igreja. Estamos em uma cultura ocidental onde quase tudo continua fazendo referência ao mundo religioso cristão, ancorado na Bíblia. E mais ainda, os valores com que hoje pretendemos pautar nossa vida privada e social, continuam a se alicerçar todos eles nos ensinamentos religiosos do livro dos cristãos.  Assim é a justiça, a equidade social, a tolerância, o respeito à vida, a defesa da família, os direitos humanos, a solidariedade, a fraternidade, a honestidade... Enfim, não conhecer a Bíblia é uma grave lacuna na base cultural da nação. Analfabetismo bíblico, absoluto ou funcional, é um sério problema a ser enfrentado.

 

Pe. João Carlos – 07.07.2011

Águas mais profundas

Avancem para águas mais profundas. Orientação de Jesus a Pedro e aos seus companheiros de pesca. Convite de Jesus a todos nós.

 

Águas mais profundas na convivência. O corre-corre da vida pode ir nos fazendo superficiais nos nossos relacionamentos. Sem verdadeiro encontro de pessoas ninguém se sente integrado, valorizado, feliz. É aí que chega Jesus e nos diz: Avancem para águas mais profundas no relacionamento com os outros. Passar de um relacionamento de frieza, indiferença, desconfiança, superficialidade para um relacionamento de cordialidade, amizade, interesse pelo bem do outro.

 

Águas mais profundas na vida de família. O Pe. Zezinho já cantou: "o amor virou consórcio, compromisso de ninguém". Ser família é um dom, um presente de Deus. O nosso amor pela família se mostra no cuidado da casa e das pessoas, na atenção às situações de doença, de solidão, de crise. Família é o contrário de egoísmo, de individualismo, de indiferença. Família tem que ser lugar do respeito, do amor verdadeiro, do diálogo. Passar do eu para o nós, do meu para o nosso. Dar o primeiro passo, perdoar... ir além das aparências, ir além da obrigação... aprofundar mais a vida de família.

 

Águas mais profundas na luta pela sobrevivência.  Está tão difícil ganhar o pão de cada dia com o suor do próprio rosto. É tanto desemprego, tanta exploração... A gente pode sair cada dia para o trabalho ou para procurar um emprego com um sentimento negativo, de quem está fazendo uma coisa aborrecida e dolorosa. É aí que chega Jesus e nos diz: Avancem para águas mais profundas. Passem de um corre-corre mal-humorado, aborrecido, indo em frente por obrigação para um modo de buscar ganhar a vida com otimismo, sentindo-se útil no que faz, servindo com generosidade, realizando bem as próprias tarefas, enfrentando com criatividade e perseverança as dificuldades do mundo do trabalho.

 

Águas mais profundas na sua vida cristã. Não basta ser religioso. É preciso, pela religiosidade, aproximar-se do Deus verdadeiro, para estar em comunhão com ele e realizar a sua vontade. Há muita atitude religiosa superficial, sem profundidade, sem conversão. É aí que chega Jesus e nos diz: Avancem para águas mais profundas na religiosidade. Passem de um estilo interesseiro, supersticioso, movido à obrigação para a gratuidade do louvor e da ação de graças a Deus, o sentimento de reparação pelas próprias faltas e as dos outros, disposição para a conversão, uma religiosidade movida a amor, não à obrigação.

 

Em águas rasas não dá para pescar com abundância. Sem esforço, sem entrega, sem sacrifício não se colhe com fartura. É preciso arriscar mais, engajar-se mais, aderir com maior profundidade. Nos relacionamentos, na vida de família, na luta pela sobrevivência, na vivência da religião. É preciso avançar para águas mais profundas. É hora de escutar o que Jesus está nos dizendo. E levá-lo a sério.

 

Pe. João Carlos

O recado tem pressa

A Conferência de Aparecida falou de discípulos e missionários. Missionário é quem tem um recado para dar. Não é o dono do recado. Mas, tem pressa em desincumbir-se do mandado que recebeu. Foi encarregado de dar o recado. E o recado é importante para o destinatário. E tem pressa de chegar ao conhecimento do interessado.

 

Antigamente, quando se falava de missionário, vinha logo à mente a figura das santas missões que os frades pregavam por toda parte. Missionários eram os frades pregadores. Graças a Deus, hoje, a mentalidade já mudou bastante. Hoje podemos encontrar, em muitos lugares, até crianças que se dizem missionárias. Elas pertencem à Infância Missionária. Elas são muitas e muito animadas e ativas. Desde cedo vão aprendendo que a missão é atributo de todo cristão. Desde pequeno vão crescendo nessa mentalidade e no exercício de um cristianismo ativo, preocupado com os mais pobres e os mais afastados.

 

O fervor missionário foi o segredo da expansão do cristianismo nas suas origens. E o fervor missionário se explica pelo amor a Jesus Cristo. Nos primeiros anos que se passaram após a ressurreição de Jesus, os discípulos movidos em parte pela perseguição, em parte pelo zelo do anúncio, espalharam-se pelo Oriente Médio e depois por todo o Mediterrâneo. Em cada lugar, comunicavam os acontecimentos da vinda salvadora de Jesus e criavam comunidades. Foi uma explosão de testemunho e de fé.

 

Os missionários, além das grandes distâncias que tinham que percorrer, tinham que enfrentar muita resistência dos judeus espalhados pelas cidades do império romano e quase sempre colheram perseguições por conta do governo imperial. Foi um tempo de grande fervor missionário, regado com o sangue de muitos mártires. Não há missão sem uma boa de martírio, de imolação, de sofrimento. Não foi à toa o alerta de Jesus: segui-lo significaria a renúncia de si mesmo e um caminho diário de cruz. É o caminho do missionário.

 

Mas, não é só de cruz o caminho do cristão que assume a missão. Na verdade, o missionário vive da alegria da entrega de si mesmo em favor da boa nova que vai sendo comunicada. Alegria também. É só lembrar o missionário Jesus naquela prece de ação de graças: Pai, eu te dou graças porque estás revelando o Reino aos pequeninos. As dores do parto não têm nem comparação com a alegria pelo nascimento da criança. É ouvir seu choro, tomá-lo nos braços e todas as dores que o precederam são esquecidas ou ao menos relevadas. As incompreensões, canseiras, dificuldades, perseguições com que os missionários e as missionárias semeiam seu testemunho não têm comparação com a alegria de ver alguém sendo restaurado, encontrando a vida e a felicidade em crer. É como diz o salmo 126: "os que vão semeando entre lágrimas, colherão cantando os seus feixes".

 

O recado é o de Cristo, do amor do Pai revelado nele. O missionário precisa levar esse recado a todo mundo, em todo canto. O missionário, a missionária é você. A única coisa que pode explicar seu zelo missionário é o seu amor a Jesus Cristo. Levar o recado tem seu preço, renúncias, incompreensões... mas, quando contemplamos o rosto de quem recebeu de coração aberto o recado do Mestre, aí sabemos que valeu a pena.

 

Pe. João Carlos – 01.07.2011

 

O Mestre e o discípulo

Por alguma razão, Jesus e os seus seguidores adotaram um relacionamento de tipo discípulos-Mestre. Foi assim desde o começo. Aqueles que se deixavam tocar pelo anúncio do Reino, eram convidados por Jesus a segui-lo. Faziam-se discípulos dele. Para muitos, seguir Jesus era também andar com ele, peregrinar com ele por todo o país, conviver com ele em sua peregrinação apostólica. Para outros, segui-lo era tê-lo como referência, ouvir suas pregações, participar de suas reuniões e voltar pra casa. Mas, no ritmo cotidiano de sua vida, manter-se atentos aos seus ensinamentos, à sua maneira de viver.

 

Certamente esse modelo discípulo-mestre era já conhecido pelo povo de Deus. Alguns profetas tiveram discípulos. E esse modelo era praticado por alguns grupos do tempo de Jesus, por exemplo os fariseus e os essênios. Os mestres tinham seus discípulos, seus alunos. Mas Jesus não era um simples professor, um sábio ou um doutor da Lei. Tinha algo de diferente, uma marca particular que o fazia único e admirado. Seu ensinamento renovava pessoas, revigorava gente cansada do sofrimento. Os prodígios e milagres que aconteciam confirmavam suas sábias palavras. Ele falava do Reino de Deus. E, como dizia o povo, falava com autoridade. Convocava à conversão, como o Batista. Acolhia os pecadores e denunciava a presunção dos que se pensavam santos e justos.

 

Os discípulos acompanhavam o Mestre, aprendiam com ele que estava sempre em movimento. Em particular, ele lhes explicava as parábolas e revelava coisas importantes sobre seu relacionamento com o Pai. A certa altura de sua breve trajetória, começou a antecipar-lhes a rejeição e o sofrimento que enfrentaria até à morte. Mantinha perto de si um grupo mais próximo, a quem chamava de apóstolos. No grande grupo de discípulos, havia mulheres e homens. E com certeza não era um grupo pequeno. Uma vez enviou em missão um grupo de 72 discípulos. Era um grupo considerável, com certeza.

 

E qual era o relacionamento que existia entre Jesus e os seus discípulos? Uma grande afeição, além do sentimento de admiração e confiança. Uma grande afeição, uma amizade profunda. É só pensar no que Jesus disse na última ceia: eu não chamo vocês de servos. Vocês são meus amigos. E aquela outra palavra: ninguém tem maior amor do que aquele dá a vida por seus amigos. Jesus era amigo dos seus discípulos, lhes queria bem, daria a vida por eles. Rezou naquela bela oração: Pai, quero que onde eu estiver, estejam aqueles que me deste. É verdade que os discípulos foram fracos e na hora "h" quase todas ficaram com medo e se acovardaram. As discípulas mostram-se mais fiéis: na hora da cruz elas estavam lá, sem poder fazer nada, mas ao lado do amigo fiel.

 

Tudo isso eu estou lembrando pra dizer que o seu relacionamento com Jesus só pode ser o de discípulo. Você é discípulo dele, discípula dele. E entre o discípulo e o Mestre Jesus, o relacionamento é de amizade, de confiança, de confidência. Ele é o seu amigo fiel. Verdadeiramente ele ama você, tanto que ofereceu sua vida para lhe resgatar, para abrir as portas da felicidade e da comunhão com Deus. Não fale com ele como se ele fosse um desconhecido. Vou lhe dizer uma coisa: o que define o cristão não é ser uma pessoa religiosa. O que define um cristão é ser uma pessoa apaixonada pelo Mestre.

 

Pe. João Carlos – 30.06.2011

Como vencer a tempestade

Quem é que não tem problemas na vida? Qual é a vida que não tem sofrimento, crises, desencontros? Pois é, todo mundo tem a sua tempestade. Aliás, muitas tempestades. As coisas vão andando bem, tudo em ordem, de repente, um problema, uma turbulência.

Na história dos discípulos de Jesus tem uma cena que dá o que pensar. Estão no barco em pleno mar da Galiléia.  De repente, vento forte, ondas revoltas, tempestade no mar. E o pessoal ficou com muito medo, porque o barco estava afundando. Era gente experiente no mar, mas a coisa estava ficando feia. O resto vocês lembram bem: Jesus estava dormindo no barco, eles o acordaram pedindo ajuda, Jesus acalmou o vento e o mar. Mas também reclamou que eles tivessem uma fé tão fraca.

Penso que a história do evangelho responde a uma inquietante pergunta: como é que a gente faz pra vencer uma tempestade? Eles, naquela situação-limite (a tempestade no mar), tiveram uma profunda experiência de Deus. Viram de perto a atuação salvadora de Deus. Admiraram-se com aquele homem, a quem o vento e o mar obedecem. Em Jesus, eles viram o próprio Deus agindo para salvá-los.

Como é que se faz pra vencer a tempestade? A história dos discípulos dá a resposta em três tempos. Primeiro: Tenha Jesus no seu barco. Tenha Jesus no seu barco. O barco é uma representação de sua vida, de seu casamento, de sua profissão, de sua comunidade. Aliás, no evangelho, a barca de Pedro é a própria Igreja, singrando os mares do mundo. É uma representação da igreja missionária. Se Jesus não estiver no barco, a coisa fica mais difícil ou mesmo sem solução. É preciso que Jesus esteja presente em sua vida, em sua profissão, em sua família. Mesmo que ele pareça ausente (na história, estava dormindo). Então, tenha Jesus no seu barco.

A segunda pista também está no texto. Os discípulos acordaram Jesus e pediram que os salvasse. A segunda pista é essa: Recorra ao Senhor, pela oração. Deus já sabe de que precisamos, mas precisamos pedir. É uma forma de afirmar nossa dependência de Deus, nossa confiança nele. Então, recorra a Jesus, pela oração. Pede quem precisa e confia. É claro que a oração não é só na hora da necessidade, mas também nela. Na tempestade, recorra a Jesus, reze.

A terceira pista é essa: tenha uma atitude de fé e de confiança em Deus. Jesus achou que os discípulos, pelo desespero que demonstraram, tinham uma fé ainda fraca. Especialmente nessas horas é preciso ter uma atitude de fé e de confiança em Deus. A fé nos dá serenidade nas horas difíceis, tranqüilidade para enfrentar os problemas, sem desespero e sem angústias.

Na canção "Tempestade", que compus e gravei no Cd Profetas expliquei o porquê vou ficar tranqüilo no meio da tempestade. "Porque quem manda o vento serenar e diz pro mar revolto se aquietar é o Senhor, o Senhor que acalma o mar".

Pe. João Carlos – 29. 06.2011

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