Dom Hélder marcou a região
metropolitana do Recife, nos anos em que foi nosso arcebispo. Esteve à frente
do rebanho em momentos sociais muito tensos e difíceis, como foi o tempo da
ditadura militar. O Brasil e o mundo conheceram um Dom Hélder porta-voz dos
injustiçados e dos empobrecidos. Um homem lúcido, profeta segundo o evangelho,
dono de palavras fortes e contundentes. Mas nós conhecemos mais do que esse
profeta respeitado no exterior e temido, em seu país, por suas posições em
favor de um mundo fraterno e solidário e de uma igreja pobre e servidora.
Conhecemos um Dom Hélder respeitoso das pessoas e cheio de amor para com os
sofredores. Um homem simples e ao alcance das pessoas de qualquer classe
social.
Com toda certeza, uma das obras mais
significativas de Dom Hélder foi o Encontro de Irmãos. O Movimento de
Evangelização Encontro de Irmãos nasceu da confiança do Dom no povo pobre da
periferia. Ele acreditou no povo sofredor dos bairros populares e o convocou
para a grande tarefa da evangelização. Começou no rádio, dando dicas sobre o
trabalho com a Bíblia. Passou a reunir as lideranças que foram surgindo. O povo
pegou a Bíblia nas mãos e foi à luta. Formaram-se grupos que passaram a ler e
estudar a Bíblia semanalmente. A meditação dos textos sagrados animou a
participação das pessoas nas lutas dos bairros, reforçou a presença dos
cristãos nas associações de moradores, formou gerações de cristãos de fé e de
compromisso. E continua formando, porque o Encontro de Irmãos continua vivo e
atuante, graças a Deus.
É o Dom Hélder do qual hoje nos
lembramos. Um homem do povo. Um homem de Deus. Como ele falava de Deus... havia
tanto amor nas suas palavras, quando se referia ao Criador e Pai.... havia
tanta emoção nas palavras da consagração que o vimos muitas vezes chorando ao
celebrar a Missa. E sempre repetia com toda convicção que o verdadeiro
celebrante da Missa é Nosso Senhor Jesus Cristo.
Não há quem não se lembre com afeto
da figura de Dom Hélder: a simplicidade de vida que ele abraçou, morando na
sacristia da Igreja das Fronteiras; como ia a pé para a Cúria na Rua do
Giriquiti, mesmo sob ameaça de forças paramilitares ligados ao regime militar;
como abraçava os bêbados, os bêbados que teimavam em pedir-lhe a bênção na rua
ou na porta de sua casa. Como esse homem era respeitoso com as pessoas: a
qualquer um recebia e abraçava, independentemente de quem fosse, com a mesma
alegria e sinceridade.
Celebrar mais um aniversário de Dom
Hélder é mais uma oportunidade para reavirmos em nossa mente e em nosso coração
a imagem desse vulto abençoado e santo. Uma oportunidade a mais para
aprendermos, com ele, o respeito pelos humildes, a confiança nos sofredores, o
amor incondicional ao Pai e Criador e a Jesus Cristo, seu filho.
Pe. João
Carlos Ribeiro